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Sociologia e Comunicação USCS 2022/Linguagem e Sociedade

Fonte: Wikiversidade
Representações da Sociedade (linguagem, narrativa, memória)

Temas trabalhados nesta unidade

  • O mundo como construção social
  • Desnaturalização/Estranhamento
  • Narrativas/Elementos das representações
  • Linguagem e Memória


Em primeiro lugar, vamos refletir sobre a relação entre Natureza e Cultura e descobrir que a experiência humana envolve a nossa capacidade de produzir e reconhecer padrões simbólicos. Trata-se, também, da capacidade que temos de construir o mundo em que vivemos.

O homem é um animal 'alienado' (verfremdet) e vê-se obrigado a criar símbolos e a ordená-los em códigos, caso queira transpor o abismo que há entre ele e o 'mundo'. Ele precisa 'mediar' (vermitteln), precisa dar um sentido ao 'mundo'” (FLUSSER, 2017 p. 126)

O mundo humano é, portanto, uma construção social.

E o que isso significa?

Que consequências tiramos dessa ideia?

Para responder a essas perguntas, precisamos produzir uma relação de desnaturalização e estranhamento com relação ao mundo social.

Linguagem e Sociedade
George Steiner

George Steiner, crítico literário e escritor faz um série de observações sobre a importância da linguagem para o entendimento da experiência humana, pois é através dela que os seres humanos declaram a sua humanidade.

Alguns animais são capazes de utilizar códigos sofisticados, mas é através da capacidade simbólica humana que o tempo aparece e o passado, o presente e o futuro podem ser pensados e vividos de uma forma muito específica. (ver meme)

Uma observação polêmicaː Não existiria um ser humano anterior à linguagem? Se os tabus, as proibições, os interditos passam pela linguagem, eu não poderia proibir aquilo que não posso nomear?(ver meme)

O zoon phonanta (um animal que fala) anda lado a lado com definição aristotélica do homem como um zoon politikon(um animal social/político). É a linguagem que permite a produção do discurso, das narrativas que nos formam. É ela que me permite delimitar quem eu sou e quem é o outro. Por isso, o diálogo é sempre uma troca que envolve re-conhecimento e estranhamento mútuos.

Além disso, em Anthony Giddens, a linguagem e a memória integram-se. A lembrança em sua forma individual não pode estar separada de um quadro coletivo da memória. Aquilo que Maurice Halbwachs, antes dele, chamava de quadros sociais da memória.

Quatro Elementos das Representações
Howard S. Becker

Quando lemos um romance, um livro de histórias, relatos etnográficos, tabelas estatísticas, filmes ou fotografias, estamos diante de certos tipos de representações do mundo em que vivemos ou imaginamos viver.

Sabemos que qualquer representação é sempre parcial, ou seja, é sempre “menor” do que aquilo que aconteceu. Algo sempre fica “de fora” no ato de descrever ou narrar.

A questão que nos colocamos, então, é a seguinte: que critérios devemos usar nas nossas escolhas e decisões a respeito do que pode ou não pode entrar em nossas histórias?

Precisamos saber, também, para que tipo de comunidade pretendemos compartilhar nossas representações. Com quem, em que meio e a partir de qual critério consideramos nossas escolhas e decisões boas o suficiente para aquele propósito.

Para o sociólogo Howard S. Becker, vamos verificar que a produção de representações (narrativas) sobre a sociedade envolve quatro elementos fundamentais sobre os quais precisamos pensar.

O primeiro deles é (1) o processo de SELEÇÃO: produzir uma representação sobre alguma coisa significa, necessariamente, excluir determinados elementos. Sendo assim, a primeira questão que aparece é: o que poderia ou deveria ser excluído? quem definiria isso?

Dando continuidade às nossas reflexões, nos deparamos, agora, com um novo desafio. Precisamos adequar nossas representações a determinados meios, ou seja, entramos no (2) processo de TRADUÇÃO daquilo que estamos vendo, ouvindo, sentindo ou imaginando.

Traduzir significa transpor um conjunto de elementos para outro conjunto de elementos. Por exemplo: as minhas observações sobre o cotidiano viram poemas ou romances ou música. Por isso, somos obrigados a identificar, produzir, inventar uma “linguagem” para os meios que temos à nossa disposição (escrita, audiovisual, hipertextual etc.).

O (3) ARRANJO é outro elemento fundamental presente em uma representação da realidade, uma vez que é necessário “organizar” de algum modo a narrativa. É preciso começar de algum lugar, seguir para algum lugar, dar início à história de algum modo. É interessante observar como o hipertexto (a capacidade de produzir diversos textos interligados por links) abre um conjunto de novas possibilidades de arranjo às narrativas (escritas e audiovisuais).

Na maioria das vezes, todos aqueles que trabalham com representações do nosso cotidiano (romancistas, jornalistas, compositores, roteiristas, poetas etc.) precisam tomar decisões relacionadas aos elementos acima. No entanto, há um elemento nesse processo que não pode ser esquecido.

Um livro, um programa de rádio, um filme ou um jogo só ganha existência diante de uma pessoa que o utiliza dentro de algumas expectativas e experiências particulares. Ou seja, é preciso que alguém (que pertence a diversos grupos), de algum modo, faça uso desses bens e se aproprie deles de alguma forma. O usuário vai construir suas representações do mundo a partir das representações propostas pelos produtores (de notícias, novelas, filmes, jogos etc). Do ponto de vista sociológico, o sentido de um bem cultual é um processo de negociação complexo e bem interessante.

Chamamos esse momento de(4) PROCESSO INTERPRETATIVO.

Obras Indicadas

Obras Indicadas

(*) BECKER, Howard S. Falando da Sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009 (cap. 1 e 2)

BERGER, Peter; LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade: tratado de sociologia do conhecimento. Petrópolis, RJ: Vozes, 1985

BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

FERREIRA, Gil António F. LINGUAGEM E MODERNIDADE - Comunicabilidade da experiência e convenções de representação nas sociedades mediatizadas - (Tese de Mestrado em Ciências da Comunicação) - Universidade da Beira Interior

FLUSSER, V. – O mundo codificado: por uma filosofia do design e da comunicação. São Paulo: Ubu Editora, 2017

FÜRSICH, Fürsich. O problema em representar o outro: mídia e diversidade cultural PARÁGRAFO. V. 4, N. 1 p.51-61 JAN/JUN.2016

GIDDENS, Anthony. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002

GONZALEZ, Lélia. A categoria político-cultural de amefricanidade. In: Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro, Nº. 92/93 (jan./jun.). 1988b, p. 69-82

(*) MEAD, G. H. A brincadeira, o jogo e o outro generalizado. Pesquisas e Práticas Psicossociais 5(1), São João del-Rei, janeiro/julho 2010 (Traduzido de Mead, G. H. (1967). Mind, self, and society (pp. 152-164). Chicago: The Chicago University Press)

(*) STEINER, George. Extraterritorial: a literatura e a revolução da linguagem'. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. (Animal com Linguagem)

WHITE, Leslie A. O conceito de sistemas culturais: como compreender Tribos e Nações. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1978

Filmes e Séries

Filmes e Séries

Werner Herzog. O Enigma de Kasper Hauser

François Truffaut. O garoto selvagem

Hal Ashby . Muito Além do Jardim

Eliane Café. Narradores de Javé

Fernando Frias. YA NO ESTOY AQUÍ (2020, México/EUA)

Anne with an E (Série)

Outras Referências

EKO – multiverse storytelling (Possibilia)

Molleindustria – Radical Games

Manual da Diversidade no Jornalismo

Produção cultural evangélica | Elisa Hoerlle – Itaú Cultural. 07/11/2017

Influencers de Cristo – Evangélicos da nova geração mostram na internet um novo comportamento religioso- UOL (TAB), 18/09/2017

Católicos em rede: de ouvintes a produtores da palavra de fé – IHU Online – Edição 491 | 22 Agosto 2016

Leia a matéria completa em: “A cultura negra é popular, pessoas negras não são” As festas “neotropicalistas” e a apropriação cultural indevida – Geledés

Um papo com Oz Guarani, o primeiro grupo indígena de rap de São Paulo -Weslei Barba – Noisey Apr 19 2017]

Este coletivo quer acabar com o preconceito contra gays, negros e mulheres no futebol – André Cabette Fábio -9 Abr 2016

Jogos de empatia ajudam a entender ‘a dor do outro’ – Caderno Link – Estadão – BRUNO CAPELAS, 21 de março de 2016

O teste de Bechdel – Por: Por Helena Dutt-Ross

Novos feminismos e a luta pelos direitos das mulheres – Nexo Jornal

Teste de Bechdel: 12 filmes em que as conversas entre mulheres não são sobre homens - Yasmin Abdalla, Claudia - HuffPost 10/09/2014