Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Lajeado/Turma D

Fonte: Wikiversidade

Distrito Lajeado[editar | editar código-fonte]

História[editar | editar código-fonte]

O distrito paulistano de Lajeado está localizado na Zona Leste de São Paulo. Comparando com Grajaú, o distrito mais populoso do estado - este conta com 378.370 habitantes - Lajeado tem 170.274 mil habitantes, segundo projeção populacional da Fundação Seade em 2016. A maior parcela da população é adulta, visto que 23% tem menos de 15 anos e apenas 9% 60 anos ou mais. A taxa de mortalidade da população de 15 a 34 anos (por cem mil habitantes nessa faixa etária) é superior à municipal e estatal. A renda per capita da população - considerando o valor do salário mínimo de 2010, R$510 - é de R$412. Domicílios particulares (permanentes ou improvisados) com renda per Capita de até um quarto do salário mínimo em relação ao total de domicílios particulares é de 13,12% e 32,93% viviam com renda até meio salário mínimo.

Lajeado foi uma rota que os portugueses usaram para chegar em São Paulo, antes lá habitava a tribo dos Guaianás que acabou se miscigenando com os brancos que chegaram. A região passou a ser então um ponto de passagem do Imperador. Ele dormia lá para depois seguir direto às minas de ouro. No Vale do Ribeirão Lajeado, foi edificada uma pousada para recepção dos viajantes que cruzavam a região, atualmente o Cemitério Lajeado. O caminho, conhecido como a estrada do Imperador, ficou conhecido também como Estrada dos Guaianases, atual Estrada do Lajeado Velho. Com a catequização dos índios veio a primeira missa que deu origem a primeira capela de Lajeado, chamada atualmente de Santa Quitéria. A igreja deve ter aproximadamente 130 anos e é a mais antiga da região. O povoado então começou a crescer no entorno dela, seu crescimento se deu por conta principalmente com a imigração - a estrada de ferro que chegou em 1875 aumentou ainda mais a vinda de imigrantes. Pelos trilhos vieram os imigrantes italianos estabelecendo-se como comerciantes, fabricantes de vinho, fabricantes de tachos de cobre, ferreiros e carpinteiros. Os espanhóis também se fariam presentes a partir de 1912 para dedicar-se à extração de pedras através das Pedreiras Lajeado e São Matheus. Em 30 de dezembro de 1929, Lajeado era elevado à condição de distrito.

No Mapa de Vulnerabilidade Social produzido pelo Centro de Estudos da Metrópole é possível ver que existem duas pequenas aéreas com baixa privação. Ou seja, melhores condições de escolaridade e renda do município; a área é demarcada pela cor lilás. No entanto, a maioria do mapa mostra que o distrito tem uma alta privação, baixa renda e baixa escolaridade, e a maioria da população é adulta. Na lista dos distritos de São Paulo por índice de Desenvolvimento Humano, Lajeado ficou em 3º lugar no ranking dos piores IDHs da cidade, ocupando a 94ª posição na classificação geral, com 0,748.

Mídia[editar | editar código-fonte]

Ao pesquisar sobre o distrito de Lajeado no Google, encontramos manchetes como “Região líder de dengue em SP, Lajeado tem 7 casos em rua de 150m”; “Prefeitura na Zona Leste 2 primeiras tendas de dengue”; “Perseguido pela PM, suspeito sofre infarto e morre na Zona Leste de SP”. As notícias datam deste ano e a partir delas podemos mapear poucas informações a respeito do distrito. Até janeiro de 2016, Lajeado teve o maior número de casos de dengue na capital: 68 em um total de 827, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde. Outras notícias mostram casos violentos da região.

O Mapa da Violência em São Paulo produzido pela Rede Globo a partir de uma análise de boletins de ocorrência, de janeiro a novembro de 2015, revela onde morreram e qual o perfil de 1.335 vítimas de homicídio, latrocínio e violência policial. Na região de Lajeado, ocorreram 24 casos (2 latrocínios, 5 violências policiais e 17 homicídios); maioria das vítimas são negros, jovens – embora algumas ocorrências revelam vítimas de 40, 55 e até 85 anos. Todos do sexo masculino.

Sob o olhar pouco meticuloso da mídia tradicional, é difícil ter um visão complexa e profunda sobre a região de Lajeado. É possível supor superficialmente que trata-se de uma área violenta e de risco sob a perspectiva dos casos de dengue. Outra busca online, desta vez no Facebook, também fornece poucas informações sobre o distrito, mas é fonte de um contato importante. Vimos muitas fotos da página do CEU Lajeado e ligamos para tirar informações. Hedy, um dos funcionários da administração concede contatos, locais fundamentais para conhecer e entender Lajeado, além de nos munir de confiança para explorar uma região distante e desconhecida para o grupo. De acordo com Hedy, Lajeado é uma área carente e extremamente pobre (o que justifica como destino para a construção do CEU). Recomendou que o grupo de estudo visitasse o distrito de dia e voltasse antes do anoitecer, e tomar cuidado para não dar “pinta de turista perdido”.

Hedy também designou o distrito como uma “cidade dormitório”, uma vez que trata-se de uma região de “trabalhadores que acordam muito cedo para pegar ônibus para o trabalho”. O termo usado por Hedy está largamente associado às regiões nas quais parte da sua população trabalha ou estuda em áreas próximas, como também apresentam economia pouco dinâmica e atraente para os moradores. É uma região, como o próprio nome sugere, residencial.

Aplicação dos questionários[editar | editar código-fonte]

CEU Lajeado[editar | editar código-fonte]

O Centro Educacional Unificado de Lajeado, situado na Rua Manuel da Mota Coutinho, 293, conta com biblioteca, telecentro, piscinas, quadras e salas de ginástica. Entre as atividades oferecidas estão aulas de dança, shows, uso da quadra interna e externa com agendamento prévio, projetos que envolvem moda e dança, dinâmicas e oficinas práticas de cinema. Grupos como Ilú Oba De Min, um coletivo de arte e cultura negra com tambores e corpo de baile com a participação exclusiva de mulheres e a DJ Luana Hansen participaram de eventos culturais do CEU. Pelas fotos da página do Facebook, um evento recente foi focado na beleza natural das mulheres com recorte especial às mulheres negras de cabelos cacheados.

Critério de escolha: espaço conhecido e procurado pela população de Lajeado.

Mercadão[editar | editar código-fonte]

A Prefeitura no governo de Jânio Quadros construiu o Mercado Leonor Quadros para abastecer a região de Guaianases, Lajeado e a cidade de Tiradentes,  inaugurado 5 de maio de 1989. Até hoje o mercado é um ponto de referencia na região, já que é muito bem localizado ao lado da estação de trem de Guaianases. O mercado fica na rua Belmiro Valverde, número 13.

Critério de escolha: indicação de Hedy, funcionário do CEU Lajeado; ponto de grande movimentação de moradores da região.

Praça Buraco de Sapo[editar | editar código-fonte]

Critério de escolha: indicação de Hedy, funcionário do CEU Lajeado. De acordo com ele, a praça fica no “coração” de Lajeado e é uma região que concentra moradores antigos. Não encontramos informações sobre o espaço além do endereço.

Mapa: https://drive.google.com/open?id=1wck3XwTb7SPGVNfT7gTczu3khyc&usp=sharing

Temas à serem abordados[editar | editar código-fonte]

Pensando que, de acordo com o Mapa da Vulnerabilidade Social, a maior parte do distrito apresenta alta privação, baixa renda e baixa escolaridade, o grupo pretende explorar como o déficit na estrutura econômica e/ou comercial (oferta de trabalhos e empregos) afeta o baixo desenvolvimento da região e, consequentemente, seus moradores. Portanto, explorar como a precariedade da estrutura de Lajeado faz com que ele seja caracterizado como um “bairro dormitório” e quais as alternativas que os moradores precisam encontrar para conseguirem uma renda, em sua maioria, abaixo de um salário mínimo. Assim como levantar dados sobre as ações públicas pretendidas ou colocadas em prática na região para sua valorização e desenvolvimento.

Assim como outras regiões periféricas de São Paulo, Lajeado apresenta um índice de violência muito elevado. Como citado anteriormente, a maioria das vítimas são jovens pardos do sexo masculino. Por isso, o trabalho também pretende investigar, segundo seu histórico e estrutura econômica, quais grupos raciais são predominantes no distrito e como e por que foram morar ali. Dessa forma, as perguntas focadas neste tema terão o objetivo de pautar a opinião e a vivência dos moradores em relação à violência em Lajeado, dando visibilidade para fatos pouco expostos à população. E ainda buscar sobre as medidas pretendidas ou implementadas pelo governo para promover uma maior inserção social e sua eficácia.

Atribuição de responsabilidades[editar | editar código-fonte]

Administradora da página: Mariana Marvão

Aplicação dos questionários in loco: todas integrantes

Publicação dos resultados do questionário na planilha: Marcela Palhão

Entrevistas de profundidade/grupo focal: todas integrantes

Elaboração da pauta da reportagem final + foto + áudio/vídeo: todas integrantes

Cronograma[editar | editar código-fonte]

19/8 - Elaboração do questionário

21/8 - Aplicação do questionário

30/8 - Publicação dos resultados do questionário

6/9 - Elaboração da pauta da reportagem

20/9 - Publicação da reportagem

Resultados do questionário[editar | editar código-fonte]

Foram aplicados 33 questionários nos lugares indicados acima.

Idade
Respostas Porcentagem
Menos de 20 anos 3 9,09%
Entre 20 e 29 anos 8 24,24%
Entre 30 e 39 anos 6 18,18%
Entre 40 e 49 anos 4 12,12%
Entre 50 e 59 anos 8 24,24%
Entre 60 e 69 anos 3 9,09%
Entre 70 e 79 anos 1 3,04%
Sexo
Respostas Porcentagem
Feminino 19 57,57%
Masculino 14 42,43%
Você se considera...
Respostas Porcentagem
Branco 7 21,21%
Pardo 13 39,39%
Preto 5 15,15%
Amarelo 1 3,03%
Indígena 3 9,09%
Outro, negro 4 12,13%
Qual o seu nível de escolaridade?
Respostas Porcentagem
Não Estudou 1 3,03%
Ensino Fundamental Incompleto 6 18,18%
Ensino Fundamental Completo 2 6,06%
Ensino Médio Incompleto 3 9,09%
Ensino Médio Completo 10 30,30%
Ensino Superior Incompleto 3 9,09%
Ensino Superior Completo 5 15,15%
Pós Graduação Incompleta 0 0
Pós Graduação Completa 3 9,10%
Doutorado / Mestrado 0
Há quanto tempo você mora em Lajeado?
Respostas Porcentagem
Há menos de 1 ano 1 3,03%
Entre 1 e 10 anos 7 21,21%
Entre 11 e 20 anos 6 18,18%
Entre 21 e 30 anos 7 21,21%
Entre 31 e 40 anos 6 18,18%
Entre 41 e 50 anos 5 15,15%
Entre 61 e 70 anos 1 3,03%
Em qual bairro de Lajeado você mora?
Respostas Porcentagem
Jardim Fanganiello 1 3,03%
Jardim Gianetti 1 3,03%
Jardim Guaianases 2 6,06%
Jardim São Paulo 1 3,03%
Lajeado 18 54,54%
Parque Guaianases 1 3,03%
Vila Chabilândia 2 6,06%
Vila Iolanda 3 9,09%
Vila Minerva 1 3,03%
Outro, Guaianases 1 3,03%
Outro, Vila Princesa Isabel 1 3,03%
Outro, Vila Solange 1 3,03%
Sua casa é...
Respostas Porcentagem
Alugada 6 18,18%
Própria e ainda pagando 3 9,09%
Própria e quitada 24 72,73%
Quais destes serviços atendem a sua moradia?
Respostas Porcentagem
Telefone fixo 21 63,64%
Rede pública de água 33 100%
Rede de Esgoto 32 96,97%
Transporte público 29 87,88%
Guias e sarjetas 29 87,88%
Internet 26 78,79%
Rede pública de energia elétrica 31 93,94%
Coleta de lixo 32 96,97%
Iluminação pública 32 96,97%
Pavimentação 33 100%
Qual é a sua situação profissional?
Respostas Porcentagem
Desempregado 11 33,33%
Aposentado 1 3,03%
Assalariado com carteira assinada 13 39,39%
Assalariado sem carteira assinada 2 6,06%
Profissional Liberal 6 18,18%
Qual é a sua profissão?
Respostas Porcentagem
Ajudante de Produção 1 4,76%
Ajudante Geral 1 4,76%
Artesã 1 4,76%
Auxiliar de Limpeza 1 4,76%
Balconista 1 4,76%
Cabeleireira 1 4,76%
Costureiro 1 4,76%
Educador 4 19,04%
Empregada Doméstica 1 4,76%
Empresário 1 4,76%
Gerente de Vendas 1 4,76%
Promotor de Vendas 1 4,76%
Vendedor 5 23,80%
Outro 1 4,76%
Onde fica em seu trabalho?
Respostas Porcentagem
Berrini 1 4,76%
Bom Retiro 1 4,76%
Brás 1 4,76%
Bresser 1 4,76%
Centro 1 4,76%
Itaquera 1 4,76%
Lajeado 13 61,90%
Penha 1 4,76%
Suzano 1 4,76%
O que te levou a trabalhar neste local?
Respostas Porcentagem
Proximidade com casa/local de estudo 3 14,28%
Oportunidade 7 33,33%
Indicação 2 9,52%
Necessidade 6 28,57%
Outro, comércio de família 1 4,76%
Outro, identificação com a região 2 9,52%
Você está estudando?
Respostas Porcentagem
Sim 8 24,24%
Não 25 75,76%
Onde fica sua escola/faculdade?
Respostas Porcentagem
Lajeado 6 75%
Vila Miguel 1 12,50%
Vila Solange 1 12,50%
O que te levou a estudar neste local?
Respostas Porcentagem
Proximidade com casa/local de trabalho 4 50%
Oportunidade 2 25%
Qualidade 2 25%
Dentre esses locais, quais estão perto da sua casa?
Respostas Porcentagem
Açougue 30 90,91%
Agências Bancárias 20 60,61%
Bares 31 93,94%
Centro Comunitário 21 63,64%
CEU 27 81,82%
Clube 7 21,21%
Comércios em geral 26 78,79%
Correios 19 57,58%
Creche 33 100%
Escolas de ensino fundamental/médio 33 100%
Farmácia 28 84,85%
Hospital/Pronto Socorro 15 45,45%
Igrejas 31 93,94%
Padaria 33 100%
Posto policial/Delegacias 23 69,69%
Praça 20 60,61%
Quadra de esportes 20 60,61%
Quitanda/Mercearia 28 84,85%
Supermercado 26 78,79%
Unidade Básica de Saúde 29 87,88%
Em média, quanto tempo você demora da sua casa para o trabalho/local de estudo?
Respostas Porcentagem
Menos de 1 hora 20 76,92%
Entre 1 hora e 2 horas 4 15,38%
Mais de 2 horas 2 7,69%
Quais meios de transporte você utiliza para ir ao trabalho/local de estudo?
Respostas Porcentagem
Carro 4 15,38%
Ônibus 9 34,61%
A pé 7 26,92%
A pé e de metro 1 3,84%
Skate 1 3,84%
Ônibus e trem 3 11,53%
Ônibus e carro 1 3,84%
Você percebeu alguma melhoria no distrito ao longo dos anos que você mora aqui?
Respostas Porcentagem
Não 5 15,15%
Sim, no acesso ao distrito 1 3,03%
Sim, no comércio 2 6,06%
Sim, na educação 14 42,42%
Sim, na iluminação 7 21,21%
Sim, no lazer 1 3,03%
Sim, na pavimentação 11 33,33%
Sim, na qualidade de vida 1 3,03%
Sim, na saúde 1 3,03%
Sim, no transporte 3 9,09%
Identifique, por prioridade, qual aspecto de Lajeado deve melhorar na sua opinião?
Respostas Porcentagem
Educação 3 9,09%
Transporte 2 6,06%
Segurança 13 39,39%
Sistema de Saúde 10 30,30%
Áreas de Lazer 4 12,12%
Moradia 1 3,03%
Você se sente seguro em Lajeado?
Respostas Porcentagem
Sim 14 42,42%
Não 19 57,58%
Você já vivenciou ou testemunhou algum tipo de violência nas ruas do bairro?
Respostas Porcentagem
Não 4 12,12%
Sim, assalto. 22 66,67%
Sim, assassinato 6 18,18%
Sim, situações de violência física 4 12,12%
Sim, tráfico 2 6,06%
Avalie sua satisfação com seu bairro, de acordo com as características a seguir:
Muito satisfeito Satisfeito Indiferente Pouco satisfeito Nada satisfeito
Educação 0 12 4 12 5
Transporte 1 12 2 11 7
Segurança 0 0 1 14 18
Sistema de Saúde 0 3 2 11 17
Lazer 0 14 2 8 9
Saneamento básico 2 19 4 5 3
Moradia 2 21 0 8 2
Vizinhança 8 20 2 2 3
Comércio 4 25 1 2 2
Serviços públicos 0 10 3 10 9
Avalie sua satisfação com seu bairro, de acordo com as características a seguir (em porcentagem):
Muito satisfeito Satisfeito Indiferente Pouco satisfeito Nada satisfeito
Educação 0 36,36% 12,12% 36,36% 15,15%
Transporte 3,03% 36,36% 6,06% 33,33% 21,21%
Segurança 0 0 3,03% 42,42% 54,55%
Sistema de Saúde 0 9,09% 6,06% 33,33% 51,51%
Lazer 0 42,42% 6,06% 24,24% 27,27%
Saneamento básico 6,06% 57,57% 12,12% 15,15% 9,09%
Moradia 6,06% 63,63% 0 24,24% 6,06%
Vizinhança 24,24% 60,60% 6,06% 6,06% 9,09%
Comércio 12,12% 75,75% 3,03% 6,06% 6,06%
Serviços públicos 0 30,30% 9,09% 30,30% 27,27%
Você participaria de uma segunda fase deste projeto de pesquisa?
Respostas Porcentagem
Sim 27 81,82%
Não 6 18,18%

Análise dos dados[editar | editar código-fonte]

Após aplicado o questionário, chegamos à conclusão que a maioria dos entrevistados tem entre 20 e 29 anos ou entre 50 e 59 anos, se identificam com o sexo feminino, se consideram pardos, tem o Ensino Médio completo e casa própria e quitada. Foram entrevistadas 33 pessoas, sendo que a maioria é assalariado com carteira assinada (13 pessoas), mas muitos estão desempregados (11 pessoas). A maioria trabalha no próprio distrito, na área do comércio e escolheram esse emprego por necessidade. Para termos noção da qualidade de vida daquelas pessoas, perguntamos se alguns serviços e estabelecimentos atendiam as residências dos entrevistados. Todos disseram que são atendidos pela rede pública de água e que tem pavimentação em suas ruas, além de terem creches, escolas de ensino fundamental/médio e padarias próximas a suas casas (distâncias que podem ser percorridas a pé). Todos se mostraram muito solícitos e interessados em contar seus pontos de vista e 81,82% dos entrevistados disse que topariam participar de uma segunda fase.

O que mais nos chamou a atenção foi o fato de, apesar de uma grande parte dos entrevistados se sentirem seguros em Lajeado (42,42%), apenas 4 pessoas (o que equivale a 12,12%) nunca vivenciaram ou testemunharam algum tipo de violência no bairro. Além disso, muitos se sentem muito satisfeitos (24,24%) ou satisfeitos (60,60%) com sua vizinhança, além de muitas pessoas comentarem em off que não se mudariam do distrito, o que pode ser visto como um certo sentimento de proteção ao lugar que mora, já que sua infraestrutura não é perfeita. A maior parte das reclamações foram em relação a segurança e a saúde (que tiveram 54,55% e 51,51% de respostas “nada satisfeito” na pesquisa, respectivamente) e a maioria dos entrevistados percebem que houve uma melhoria na educação (42,42%) e na pavimentação (33,33%) do distrito. 

A partir dos questionários aplicados no distrito de Lajeado, percebemos um alto índice de violência em suas mais variadas formas. A maioria das pessoas já vivenciaram situações como assaltos, invasões à domicílio e assassinatos de conhecidos e familiares. Além disso, em entrevistas, descobrimos que no bairro não existem muitas opções de lazer, enquanto há inúmeros bares, sinalizando um dos fatores que justificam casos de violência doméstica, relatados pela coordenadora do CEU Lajeado. 

Mesmo com esses relatos alarmantes, foi uma minoria dentre os entrevistados que desejavam sair do bairro algum dia. Diante disso, pretendemos analisar a aparente banalização da violência, pois apesar dos moradores admitirem que não se sentem seguros em seus respectivos bairros, há certo apego talvez devido a familiaridade. Para abordar o tema “violência”, vamos nos basear em alguns fatores de interferência, como instalação de postes com luzes de LED, quantidade de bares e também o tráfico de drogas; alguns moradores relataram que os usuários são mais violentos e agressivos com as pessoas da própria comunidade.

Pauta[editar | editar código-fonte]

A partir dos questionários aplicados no distrito de Lajeado, percebemos um alto índice de violência em suas mais variadas formas. A maioria das pessoas já vivenciaram situações como assaltos, invasões à domicílio e assassinatos de conhecidos e familiares. Além disso, em entrevistas, descobrimos que no bairro não existem muitas opções de lazer, enquanto há inúmeros bares, sinalizando um dos fatores que justificam casos de violência doméstica, relatados pela coordenadora do CEU Lajeado.

Mesmo com esses relatos alarmantes, foi uma minoria dentre os entrevistados que desejavam sair do bairro algum dia. Diante disso, pretendemos analisar a aparente banalização da violência, pois apesar dos moradores admitirem que não se sentem seguros em seus respectivos bairros, há certo apego talvez devido a familiaridade. Para abordar o tema “violência”, vamos nos basear em alguns fatores de interferência, como instalação de postes com luzes de LED, quantidade de bares e também o tráfico de drogas; alguns moradores relataram que os usuários são mais violentos e agressivos com as pessoas da própria comunidade.

Reportagem[editar | editar código-fonte]

Eles não ligam para Lajeado[editar | editar código-fonte]

Entre CEU e assaltos: um distrito no extremo leste de São Paulo

Fachada do CEU Lajeado

São quase onze horas da manhã de um domingo. No Mercadão Leonor Quadros, entre quitandas e açougues, três pessoas estão com um litro de cerveja gelada na mesa. Um dos rapazes do grupo tem dificuldade para manter os olhos abertos e, mesmo sentado, cambaleia — quando tenta falar, acaba cuspindo na moça que está ao seu lado. Ela, por sua vez, apenas gargalha e tira selfies um tanto tortas. O mais magrinho deles, Bruno da Silva, quando questionado sobre se sentir seguro em Lajeado, responde:

— Ah, daquele jeito né, porque nóis conhece. Mas assim, seguro nóis não tá, nem da polícia (sic).

— Você já perdeu algum familiar ou conhecido por causa da violência?

— Meu pai foi assassinado quando eu tinha seis anos.

Na lista dos distritos de São Paulo por Índice de Desenvolvimento Humano, Lajeado fica em 3º lugar no ranking dos piores IDHs da cidade. A taxa de mortalidade da população de 15 a 34 anos, por 100 mil habitantes nessa faixa etária, é superior à municipal e estatal. Ainda assim, os números e as pesquisas não se igualam a ouvir certas histórias. Localizado na Zona Leste de São Paulo, o distrito que está à 26 km do marco zero da capital paulista abrange bairros como Jardim Aurora, Jardim Etelvina e Parque Guaianases e representa 1,5% dos moradores paulistanos.

Fora do mercadão, uma banda formada por adolescentes toca música em som alto e tom desafinado. Em meio ao barulho, uma mulher que está ao redor conta algo que não escapa aos ouvidos: “Perdi meu filho para violência. Não me sinto segura no bairro, mas não tenho para onde ir”. Sua filha, ao seu lado, canta: “Jesus és meu salvador...”. A banda é de uma igreja evangélica, entre várias que estão no distrito. Paradoxalmente, há tantas igrejas quanto bares. Talvez em ambos, o objetivo seja encontrar certo tipo de acalento.

Segundo o questionário aplicado com moradores, há dados que se contrapõem: 42% dos entrevistados sentem-se seguros, mas apenas 12,2% nunca vivenciaram ou testemunharam algum tipo de violência, sendo assaltos e assassinatos os mais citados entre os outros 87,8%. Falas como as do Bruno mostram certa conformidade com a violência por parte dos moradores.

O Mapa de Vulnerabilidade Social, produzido pelo Centro de Estudos da Metrópole, evidencia a alta privação da região; a maioria dos moradores tem baixo nível de rendimento e escolaridade. E a análise de boletins de ocorrência no Mapa da Violência em São Paulo¹ revela que, em 2015, ocorreram 2 latrocínios, 5 violências policiais e 17 homicídios. O perfil das vítimas é um retrato das desigualdades sociais do nosso país e, em especial, de espaços urbanos periféricos como Lajeado: homens, negros e jovens.

Os números, no entanto, não aportam a dimensão exata da realidade, uma vez que os moradores raramente recorrem à polícia. Ao contrário, preferem relatar as ocorrências ao PCC (Primeiro Comando da Capital), que comanda a Zona Leste. Quem nos conta isto é Antônio², antigo morador da região: "Aqui a polícia mata. Se acontecer alguma coisa agora, até a polícia chegar haja tempo! Até a polícia aparecer, cada um já vai ter tomado seu destino. Ninguém gosta de polícia, nem acredita nela". Sem este braço do Estado, lamenta Antônio: "É cada um por si, essa é a versão deles".

O PCC, organização criminosa do Brasil que ficou conhecida pelos atentados em São Paulo há dez anos, atua mais próximo aos moradores e "agiliza mais as coisas", como conta Antônio. Há, ainda, uma hierarquia entre os grupos criminosos da região, e o PCC ocupa o posto mais alto. Os grupos menores costumam praticar assaltos pelo distrito, principalmente no período da manhã. "As pessoas que saem pra trabalhar cedo são os mais afetados, pois andam separadas e não em grupos, como no período da tarde, quando voltam", alerta Antônio.

Relatos de violência são os que mais permeiam a fala cotidiana. Em frente à vendinha de pastel do Mercadão, por volta do meio dia, um morador de rua cochila esparramado sobre a mesa, dividindo espaço com seu pastel, mordido uma única vez e fornecido por duas assistentes sociais. Era mais uma visita corriqueira na região para dar conta do número elevado de pessoas em situação de rua e dependentes químicos. Para muitos moradores, a região serve como dormitório, por ser mais afastada do centro da cidade e das oportunidades de emprego. Assim, quem trabalha longe encara, diariamente, longas horas dentro dos ônibus e metrôs que dependem para chegar aos seus destinos.

Grafite na parede interior do CEU Lajeado

Em contraponto, na porta de entrada do mercadão, José goza dos quinze minutos que leva no caminho, que faz a pé, até seu local de trabalho: uma mesinha em que ele expõe algumas bijuterias. O comerciante passa o tempo aguardando, sentado, a chegada de visitantes que tenham interesse em comprar algum de seus produtos. Quando indagado sobre a feirinha que acontece numa praça logo ao lado, dá risada e adianta o alerta: “É a famosa feira do rodo”. No diálogo com os moradores, o aparente aproveitamento da área verde rapidamente dá lugar ao ponto de drogas.

Mesmo com o pastel a cinco reais, sem deixar a desejar no gosto, a vendinha que atrai gente de toda a vizinhança também é vítima dos furtos recorrentes. No dia anterior, enquanto trabalhava, José viu um assalto à mão armada acontecer na frente do seu comércio. O comerciante já perdeu amigos e familiares devido à criminalidade. Eventos como esse são responsáveis por realçar seu desejo de se mudar para o litoral.

O mercadão fica bem próximo da estação Guaianases, da CPTM. Basta atravessar a passarela para chegar lá. Mas, no geral, os bairros do distrito encontram-se mais afastados da estação e muitos moradores precisam tomar algum ônibus para chegar até suas casas. Dona Maria, de 63 anos, conta que para poder comprar qualquer coisa que estiver faltando na dispensa, depende de ônibus. “E ele demora pra passar, viu fia!”. Ela prefere fazer compras em São Caetano, e se pudesse mudaria-se para lá. O que a impede é o fato do imóvel em Lajeado ser mais barato, em média 500 reais o metro quadrado³. Sua casa já foi assaltada 7 vezes, e, por isso, construiu um muro com 3 metros de altura.

Maria mora no distrito há 50 anos e, entre as melhorias do bairro, não só ela, mas grande parte dos 33 entrevistados, citam a instalação de luzes de LED e a pavimentação. Esta primeira tem contribuído, em partes, para melhorar a sensação de segurança. Apesar disso, sente falta de mais farmácias, mercados e bancos. Os bares, a cada esquina, são considerados um fator crucial para a violência na região. A coordenadora do CEU Lajeado, Maria Andrade de Lacerda, conta que o número de botecos aumenta, de forma brutal, o número de casos de violência doméstica. E, ainda, não são raros os desentendimentos entre os frequentadores do local. Alguns, inclusive, terminam em tiroteio.

William da Silva, 18 anos, por outro lado, se diverte com os barracos da vizinhança: “Sempre tem mulher jogando as roupas do marido pela janela, expulsando-os de casa. Eu dou é risada”. Quando questionado sobre pensar em sair de Lajeado, a resposta foi bem lúcida e afirmativa: “Eu quero sair do país!”. Certamente os amigos sentirão sua falta, já que ele costuma ser o conciliador do grupo, em casos de rixas. Dentre as coisas que mais gosta, está o esporte - ele pratica uma ampla variedade de lutas e se afasta ao máximo “das encrencas do bairro”.

Aos sábados, de quando em quando, o estudante passa um tempo no CEU assistindo os habituais jogos de futebol. Localizado a 2 km de distância do mercadão, no curto trajeto até o CEU Lajeado, passando por ruas estreitas e casas simples, é possível ver um, dois, três… quase cinco bares. Apertam-se entre as casas, mas não cedem seu espaço. Na rua Manuel da Mota Coutinho, em frente ao Centro Educacional Unificado, nos deparamos com um triângulo amoroso: um boteco divide parede com a Igreja Evangélica e o CEU fica a olhar os dois - a disputa de quem conseguirá atrair mais pessoas.

Um morador, da mesma rua que o CEU, prende a atenção, não só com sua história no bairro, mas também de vida. Luis da Silva mora em Lajeado há 40 anos, veio de Pernambuco para São Paulo em busca de uma vida melhor, assim como a maioria dos nordestinos. Atualmente, é um dos líderes do Centro de Cultura Nordestina, onde seus conterrâneos vão matar a saudade de suas casas e do famoso tempero nordestino - enfatiza como “forró é bom demais!”. Luis sempre foi muito engajado a projetos sociais, fez parte do sindicato dos eletricistas e da Frente Estudantil na época da ditadura, quando foi preso e torturado durante três meses. “Esperava que, quando Lula fosse presidente, a mortalidade do nosso país diminuísse. Pensava que as pessoas que cometeram aqueles crimes seriam punidas, mas isso não aconteceu”, diz sobre a gestão do ex-presidente.

Na mesma rua do CEU, outra moradora: "Mataram meu marido. Ele saiu para sacar dinheiro e não voltou mais, apareceu morto no carro dias depois. A polícia não fez nada até hoje, já faz dois anos." Hortência² desvia o olhar, lágrimas nos olhos. O neto, um garoto negro que aparenta entre sete a dez anos, ouve o relato impassível, indiferente e inquieto. Ele cresce em um país onde há cada 23 minutos um jovem negro, de 15 a 29 anos, são assassinados.4

Lajeado é apenas mais uma das áreas periféricas da cidade de São Paulo, com alto índice de violência. Ao mesmo tempo, é lar de mais de 170 mil pessoas e relatos excruciantes como os apresentados nesta reportagem. Extremo leste da capital, onde os olhares do paulistano apressado e da mídia não alcançam. Lajeado, assim como o neto de Hortência: vivem à margem, esquecidos. Por nós.

¹Mapa da Violência em São Paulo, produzido pela Rede Globo a partir da análise de boletins de ocorrência, de janeiro a novembro de 2015.

²Nome fictício atribuído por questão de segurança

³Dados do mapa sobre o valor médio do metro quadrado em Lajeado, realizado pelo Estadão no dia 16 de agosto de 2016.

4Dados do relatório final da CPI do Senado sobre o Assassinato de Jovens. Todo ano, 23.100 jovens negros de 15 a 29 anos são assassinados. São 63 por dia. Um a cada 23 minutos. Fonte: BBC Brasil

Áudio: Entrevista com Luís Silva[editar | editar código-fonte]

Link para download do áudio: https://www.icloud.com/attachment/?u=https%3A%2F%2Fcvws.icloud-content.com%2FB%2FAR7Eq_0WDCMZtx1BtbGpaPh94WOWASPDvolKZCmVbnJg060btqQxpFXM%2F%24%7Bf%7D%3Fo%3DApNgfCIsd8HaCxpIesAdd27YADHbvy8VQwRCY4BS8auA%26v%3D1%26x%3D3%26a%3DBdxPXj5bjnmXAziKNgEA_wHIAP9iPxlO%26e%3D1476763632%26k%3D%24%7Buk%7D%26fl%3D%26r%3DBECA6554-1254-45E2-836E-BE909C3A9C74-1%26ckc%3Dcom.apple.largeattachment%26ckz%3D8F100F29-5DCC-49E3-8E3B-0826504B1596%26p%3D46%26s%3DJmvVmRckd8FjG3t1ORywnqSgfWs&uk=CuqqlN-NFkU7dhVO1vqxTw&f=Lui%CC%81s.m4a&sz=59109381

Referências bibliográficas.[editar | editar código-fonte]

CEM - CENTRO DE ESTUDOS DA METRÓPOLE. Disponível em: http://www.fflch.usp.br/centrodametropole/584

Wikipédia, Lista dos Distritos de São Paulo por Índice de Desenvolvimento Humano.

Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_dos_distritos_de_S%C3%A3o_Paulo_por_%C3%8Dndice_de_Desenvolvimento_Humano

Folha Noroeste, IDH: Os 20 melhores e os 20 piores distritos de São Paulo.

Disponível em: http://www.folhanoroeste.com.br/noticia/detalhe/11736/idh:-os-20-melhores-e-os-20-piores-distritos-de-sao-paulo.html

Observatório Cidadão Nossa São Paulo, Mapa das regiões. Disponível em: https://www.nossasaopaulo.org.br/observatorio/regioes.php?regiao=17&distrito=47

Paula Paiva Paulo, Região líder de dengue em SP, Lajeado tem mais 7 casos em rua de 150 m. Disponível em: