Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Pinheiros/Turma D
A área do distrito de Pinheiros tem 8,20 Km2, incluindo os seguintes bairros: Vila Madalena, Jardim Europa, Sumarezinho, Pinheiros, Jardim América (parte), Jardim Paulistano, Cerqueira César e Jardim das Bandeiras. Essa informação foi retirada da Subprefeitura de Pinheiros em abril de 2004.
A região do distrito de Pinheiros tem o maior IDH da zona Oeste de São Paulo, de 0,960, índice que também representa o segundo maior da cidade. A qualidade de vida é maior que a dos países com maior IDH do mundo. No Mapa de Vulnerabilidade da região, predominaram as situações de nenhuma ou muito baixa privação, com exceção de algumas áreas de baixa privação, e uma favela indicada no documento. Outro ponto a ser considerado é a renda média da população do distrito, já que, das 102.445 pessoas que lá viviam no Censo de 2000, 83.608 tinham renda familiar na faixa de mais de 10 salários mínimos, a maior da pesquisa.
Em conversa com uma antiga moradora do bairro, ela demonstrou incômodo quanto ao barulho causado pelos bares e restaurantes que foram implementados nos últimos anos. Reclamou do trânsito que impede a circulação na região da Vila Madalena nas sextas-feiras e sábados à noite, e eventos pontuais, como o carnaval de rua da região. Outro lugar citado com bastante circulação é a rua dos Pinheiros, repleta de restaurantes e que, agora, recebe mais pessoas devido à inauguração da estação de metrô Fradique Coutinho.
Em uma reportagem da CBN, foi destacado como principal reclamação, a incidência dos moradores de rua na região. Pretendemos entender esse problema e verificar - através da pesquisa - se ele realmente é relevante na região, e como ele é visto. Como o distrito é repleto de frequentadores de bares e restaurantes, e é perto de onde está localizada a praça Benedito Calixto (o local encontra-se a uma quadra do distrito), é imprescindível tentar compreender como os habitantes enxergam esses diferentes tipos de ocupação e como reagem a esses, considerados, problemas. Dessa forma, será possível tentar compreender os diferentes perfis políticos dos moradores da região.
Por meio da arte, tentaremos abordar a questão do grafite e do pixo, já que também está localizado no distrito o Beco do Batman, ponto bastante conhecido da cidade. Os bairros em questão são conhecidos por abrigarem alguns museus famosos de São Paulo, além de cultivarem uma importante permanência da arte de rua. Como de praxe, a arte não toma forma sozinha, depende do olhar, não só de quem a faz, mas também do observador, e isso acaba transparecendo no olhar político da região. Com base nessas afirmativas, será possível pesquisar as opiniões de seus habitantes sobre as obras e seus artistas, que espalham-se cada vez mais na rua. Além de sabermos como essa difusão alterou a sociedade e suas intervenções no local. Esse detalhe é conhecido devido a ação tomada pelo Catraca Livre, que "cuidou" da imagem de um dos bairros já citados acima, a Vila Madalena, inserindo, segundo eles, o respeito pelas ruas e por onde as pessoas moram através de vasinhos de flor e muita tinta colorida nas paredes em lugar de frequência em comum.
Em 2008, a Folha de São Paulo publicou um especial sobre a região Oeste de São Paulo, chamado DNA PAULISTANO. Foram entrevistados 4.375 pessoas com 16 anos ou mais, contando com mais de 300 entrevistas por distrito. As informações serão tratadas no presente fazendo alusão a pesquisa feita em 2008. A zona abriga uma grande concentração de moradores que completaram o ensino superior (38% contra 15% do município). A principal qualidade do distrito, de acordo com os residentes, é o comércio (48%) e a vizinhança (8%). Vale ressaltar que o grupo entende o intervalo de tempo ocorrido desde a data da publicação, no caso, oito anos, contudo, achamos que os valores podem ser uma base para a pré apuração.
A quantidade de queixas sobre o grande número de carros é a principal queixa de Jardim Paulista (17%), Perdizes (13%) e Pinheiros (12%). Nos bairros de classes altas, a queixa é a quantidade de carros/trânsito e nos mais pobres é a falta de sinalização e fiscalização. Naquele ano, em Pinheiros (14%), Itaim Bibi (18%) e Jardim Paulista (19%) que se concentrou o maior número de pessoas que ganham entre 20 e 50 salários mínimos. Outro problemas relatado pelos moradores de Pinheiros é o barulho, a média dos moradores da zona oeste equivale 11%, enquanto nesse distrito mais que dobra para 24%. De acordo com o ranking do Psiu - serviço da prefeitura para reclamações sobre barulho -, Pinheiros está em segundo lugar com 2.537 notificações, perdendo para a Mooca. Somente no mês de em novembro de 2015, o Psiu lacrou 13 bares e multou outros 22 na Vila Madalena. Na última pesquisa feita pelo serviço, entre 2015 e 2016, Pinheiros ocupa a primeira posição com 3.666 reclamações.
De acordo com a pesquisa da Folha de São Paulo, o barulho (24%) e o trânsito se confirmam como o principal problema do distrito de Pinheiros. O perfil dos moradores é o seguinte: a maioria é do sexo feminino (56%) - 44% são homens. Mais que a metade tem o ensino superior completa, 54%. A média de idade é 44,9 anos. Consideram-se da classe B cerca de 57%. 70% dos moradores são brancos. 49% solteiro. Em vez de lugares famosos do distrito, em que há pessoas de diversos bairros, escolhemos pontos em que esperamos encontrar moradores da região. Por isso, a dupla Luísa e Cecília vão ao SESC Pinheiros, onde há cursos, esportes, shows, exposições, etc. Julia e Tainá irão aplicar questionários na rua Fradique Coutinho com a Aspicuelta, onde há feira aos sábados de manhã. Karoline e Felipe irão ao Parque Trianon, que fica próximo a Alameda Casa Branca, onde existem vários edifícios residenciais.
RESPONSABILIDADES GERAIS:
[editar | editar código-fonte]Agenda: Karoline Alves
Site: Julia de Camillo
Grupo focal: Tainá Costa
Questionário: Felipe Sakamoto
Textos: Luísa Cortés
Entrevistas de profundidade: Cecilia Marins
PLANEJAMENTO: todos os integrantes
Cronograma:
[editar | editar código-fonte]Vamos aplicar os questionários no dia 27 de agosto, um sábado. Dois grupos pela manhã (Karol e Felipe, Julia e Tainá) e um à tarde (Luísa e Cecília). A partir dos temas “arte”, “comércio” e “direitos humanos”, tentaremos entender as visões políticas presentes no bairro, o que é feito e o que é defendido pela população. Isso é explicado melhor no texto acima, onde há toda a contextualização da apuração.
Referências bibliográficas:
[editar | editar código-fonte]Site da Subprefeitura de Pinheiros http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/pinheiros/ Mapa Vulnerabilidade Social, do Centro de Estudos da Metrópole http://www.fflch.usp.br/centrodametropole/cemsas/1.3.11.Pinheiros.pdf PNUD - ONU Reportagens CBN: http://m.cbn.globoradio.globo.com/grandescoberturas/seu-bairro-nossa-cidade-sp/2016/05/18/MORADORES-ALERTAM-PARA-AUMENTO-DA-POPULACAO-DE-RUA-EM-PINHEIROS.htm
Folha de São Paulo http://m.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/02/1739393-haddad-aperta-cerco-a-bares-e-multa-por-barulho-dispara-em-sao-paulo.shtml
Veja http://vejasp.abril.com.br/materia/psiu-prefeitura-fiscalizacao-multa
Psiu - serviço da prefeitura de São Paulo http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/zeladoria/psiu/index.php?p=8831
DNA PAULISTANO - ZONA OESTE - Folha de São Paulo/2008 http://www.nossasaopaulo.org.br/observatorio/biblioteca/DnaPaulistanoOeste.pdf
HISTÓRIA DA SUBPREFEITURA DE PINHEIROS http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/upload/pinheiros/pinheiros.pdf
Questionário
[editar | editar código-fonte]1) Qual é o seu gênero?
- Masculino
- Feminino
- Outro
2) Você mora no distrito de Pinheiros? (Vila Madalena, Jardim Europa, Sumarezinho, Pinheiros, Jardim América (parte), Jardim Paulistano, Cerqueira César e Jardim das Bandeiras)
- Sim
- Não
3) Se não, por qual motivo você visita esse bairro/distrito?
- Lazer
- Trabalho
- Trajeto
- Outro:_____________________________
4) Qual é o seu estado civil?
- Solteiro (a)
- Casado (a)
- Divorciado (a)
- Viúvo (a)
5) Você é….
- Estudante
- Empregado
- Desempregado
- Aposentado
6) Qual a sua idade?
- Até 20 anos
- 21-30
- 31-40
- 41-50
- 51-60
- 61-70
- 70 ou mais
7) Como é a sua moradia?
- Apartamento
- Casa
- Condomínio
- Rua
8) Qual a “condição” da sua moradia?
- Alugada
- Própria e quitada
- Própria e pagando
- Outro
9) Você divide a casa com:
- Família
- Amigos
- Parceiro (a)
- Sozinho
10) Qual foi o principal para você ter escolhido sua moradia?
- Localização
- Vista
- Área por metros quadrados
- Infraestrutura
- Preço
- Outros:
11) Você recebe benefícios de programas sociais (MCMV, Bolsa Família, etc.)?
- Sim
- Não
12) Que tipo de transporte você utiliza no cotidiano?
- Carro
- Moto
- Transporte público
- Bicicleta
- A pé
- Uber/taxi
- Caronas
13) Como você classifica o trânsito do bairro?
- Péssimo
- Muito ruim
- Ruim
- Mediano
- Bom
- Muito bom
- Excelente
14) Como você classifica o transporte público do bairro?
- Péssimo
- Muito ruim
- Ruim
- Mediano
- Bom
- Muito Bom
- Excelente
15) Como você classifica as ciclofaixas no seu bairro?
- Péssimo
- Muito ruim
- Ruim
- Mediano
- Bom
- Muito Bom
- Excelente
16) Como você classifica a saúde pública no seu bairro?
- Péssimo
- Muito ruim
- Ruim
- Mediano
- Bom
- Muito Bom
- Excelente
- Não utilizo
17) Você já foi abordado na rua do bairro de forma indesejada?
- Sim
- Não
18) Qual você considera o maior problema do bairro?
- Barulho
- Moradores de rua
- Gentrificação*
- Segurança
- Trânsito
- Outro:_____________________________
19) Há quanto tempo você mora no bairro?
- Mais de 20 anos
- 10 anos
- 5 anos
- 1 ano
- Menos de 1 ano
20) O seu bairro vem crescendo o número de prédios?
- Sim
- Não
21) Como você se sentiria se tivesse um grande número de prédios no seu bairro?
- Não ligo
- Péssimo
- Bom
- Outro
22) Que tipo de arte você consome no seu cotidiano?
- Cinema
- Museu
- Teatro
- Shows
- Grafite
23) Você aceita ser entrevistado posteriormente? Nome, telefone.
Resultados
[editar | editar código-fonte]a | % | b | % | c | % | d | % | e | % | f | % | g | % | h | % | TOTAL | |
1 | 23 | 40% | 35 | 60% | 0 | 0% | 0 | 0% | 0 | 0% | 0 | 0% | 0 | 0% | 0 | 0% | 58 |
2 | 24 | 41% | 35 | 59% | 0 | 0% | 0 | 0% | 0 | 0% | 0 | 0% | 0 | 0% | 0 | 0% | 59 |
3 | 12 | 41% | 11 | 38% | 0 | 0% | 6 | 21% | 0 | 0% | 0 | 0% | 0 | 0% | 0 | 0% | 29 |
4 | 32 | 54% | 20 | 34% | 6 | 10% | 1 | 2% | 0 | 0% | 0 | 0% | 0 | 0% | 0 | 0% | 59 |
5 | 12 | 22% | 32 | 59% | 5 | 9% | 5 | 9% | 0 | 0% | 0 | 0% | 0 | 0% | 0 | 0% | 54 |
6 | 10 | 17% | 17 | 28% | 13 | 22% | 6 | 10% | 5 | 8% | 8 | 13% | 1 | 2% | 0 | 0% | 60 |
7 | 26 | 45% | 30 | 52% | 2 | 3% | 0 | 0% | 0 | 0% | 0 | 0% | 0 | 0% | 0 | 0% | 58 |
8 | 24 | 40% | 26 | 43% | 4 | 7% | 6 | 10% | 0 | 0% | 0 | 0% | 0 | 0% | 0 | 0% | 60 |
9 | 37 | 64% | 8 | 14% | 5 | 9% | 7 | 12% | 0 | 0% | 1 | 2% | 0 | 0% | 0 | 0% | 58 |
10 | 19 | 39% | 3 | 6% | 1 | 2% | 0 | 0% | 6 | 12% | 20 | 41% | 0 | 0% | 0 | 0% | 49 |
11 | 8 | 14% | 47 | 81% | 1 | 2% | 0 | 0% | 0 | 0% | 2 | 3% | 0 | 0% | 0 | 0% | 58 |
12 | 10 | 20% | 5 | 10% | 31 | 62% | 1 | 2% | 3 | 6% | 0 | 0% | 0 | 0% | 0 | 0% | 50 |
13 | 12 | 21% | 5 | 9% | 12 | 21% | 14 | 24% | 13 | 22% | 0 | 0% | 2 | 3% | 0 | 0% | 58 |
14 | 7 | 12% | 2 | 4% | 9 | 16% | 13 | 23% | 18 | 32% | 2 | 4% | 5 | 9% | 1 | 2% | 57 |
15 | 6 | 12% | 1 | 2% | 6 | 12% | 13 | 25% | 16 | 31% | 1 | 2% | 3 | 6% | 5 | 10% | 51 |
16 | 10 | 17% | 4 | 7% | 5 | 9% | 8 | 14% | 16 | 28% | 1 | 2% | 1 | 2% | 13 | 22% | 58 |
17 | 20 | 34% | 33 | 57% | 2 | 3% | 1 | 2% | 1 | 2% | 0 | 0% | 1 | 2% | 0 | 0% | 58 |
18 | 13 | 26% | 4 | 8% | 3 | 6% | 9 | 18% | 6 | 12% | 11 | 22% | 4 | 8% | 0 | 0% | 50 |
19 | 27 | 50% | 9 | 17% | 8 | 15% | 5 | 9% | 4 | 7% | 1 | 2% | 0 | 0% | 0 | 0% | 54 |
20 | 42 | 75% | 14 | 25% | 0 | 0% | 0 | 0% | 0 | 0% | 0 | 0% | 0 | 0% | 0 | 0% | 56 |
21 | 13 | 24% | 25 | 45% | 13 | 24% | 4 | 7% | 0 | 0% | 0 | 0% | 0 | 0% | 0 | 0% | 55 |
22 | 9 | 50% | 2 | 11% | 2 | 11% | 5 | 28% | 0 | 0% | 0 | 0% | 0 | 0% | 0 | 0% | 18 |
Consulte os dados detalhadamente na planilha, aqui.
Radiojornalismo
[editar | editar código-fonte][[File:A verticalização na região de Pinheiros incomoda os moradores do distrito.ogg|thumb|A verticalização na região de Pinheiros incomoda os moradores do distrito]]
Áudio do grupo focal com moradores de Pinheiros: https://m.soundcloud.com/heartbeattt/grupo-focal-pinheiros
Matéria de Radiojornalismo sobre o distrito de Pinheiros: https://soundcloud.com/heartbeattt/materia-de-radiojornalismo-pinheiros
Conteúdo bruto
[editar | editar código-fonte]Áudio do grupo focal realizado com moradoras do distrito de Pinheiros.
Reportagem
[editar | editar código-fonte]Do alto de Pinheiros
[editar | editar código-fonte]A nova lei de zoneamento de São Paulo é uma questão no cotidiano de moradores de bairros tradicionalmente residenciais
[editar | editar código-fonte]Um portão azul de madeira compensada, número 578. Rua Harmonia. Ao alto, uma placa branca com um logotipo azul, escrito Alufer - empresa especializada em edificações. Em frente ao terreno encontra-se a caçamba de lixo onde pedaços de madeira e restos de materiais são empilhados pouco a pouco. Suas torres são ainda acinzentadas, cerca de 8 andares desnudos e incompletos, dois para o estacionamento e o resto para uso comercial. Não é considerada uma grande edificação, sua entrada é estreita em comparação à do seu vizinho, o edifício Harmonia, três vezes maior. Os dois prédios não são exclusivos na área, em toda rua encontram-se diversos edifícios e comércios, restaurantes, lojas e livrarias. As árvores que ficam à margem das calçadas fazem sombra aos pedestres, já acostumados com a grande altura dos aspirantes a arranha-céu.
Antes daquela construção, havia um sobrado grande, que funcionava como estúdio de música. Entre a casa e o prédio, o muro era baixo, “coisa de vizinho”, como descreve a publicitária Luiza Helena Martins, de 56 anos. Devido a problemas de inventário, a casa acabou ficando vazia e o estúdio mudou-se para a rua Fradique Coutinho. A pequena divisão, que antes era um charme a mais na vizinhança, foi utilizada para invadir o prédio que mora e assaltá-lo em 2011. As árvores começaram a se aglomerar na entrada, escondendo o imóvel. Os vizinhos pediam para a Prefeitura de São Paulo limpar o terreno, por conta de ratos que ali habitavam, mas o pedido nunca foi atendido. Uma vez, conta Luiza Helena, entraram na casa e viram que, por dentro, estava bem conservada. Por fora, as telhas imundas davam um ar sombrio ao imóvel. Assim se manteve a casa por aproximadamente 15 anos, quando os problemas de inventário foram resolvidos e a construção atual teve início.
Luiza Helena diz que o novo edifício, de cor azulada e que já está completando seus três anos de maturação, estava precisando trocar sua película de proteção - uma espécie de tecido branco que encobre a construção - que estava sujo e esburacado. A distância entre os prédios é pequena, a torre do comercial é rente ao muro do residencial Harmonia. Moradora há mais de 20 anos do distrito de Pinheiros e síndica, Luiza comenta que a vinda do edifício comercial tirou todo sol que pairava em sua casa “por uma obra que é um corredor, pode-se dizer que é uma obra que nem tem função, muito menos estética”.
A relação entre a moradora e o prédio, a partir deste ano, é oficializada pela criação da Zona Mista, destinada tanto para o uso da terra para o comércio ou residência, sendo que ambos podem estar presentes na mesma edificação. A nova lei de zoneamento, sancionada em março deste ano pelo prefeito Haddad, regula o que pode ser construído em cada região da cidade de São Paulo nos próximos 13 anos. Isto é, ela específica onde poderão ser construídas lojas, pizzarias e outros estabelecimentos comerciais, assim como residências, prédios industriais, áreas verdes e praças.
O zoneamento é um instrumento importante para a formalização do Plano Diretor, documento que consiste em um conjunto de princípios e regras para orientar a ação dos agentes que constroem e utilizam os espaços urbanos do Município. Essa diretriz é definida a partir de quando é traçado um plano pela câmara. O objetivo é dispor a cidade de maneira que fique cada vez mais organizada em seus espaços, de modo a melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.
A região da Vila Madalena, Sumarezinho e Pinheiros eram bairros conhecidos pelos sobrados e casas. Com a expansão imobiliária na cidade, a região perdeu o caráter residencial: de acordo com o levantamento da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), entre junho de 2015 e de 2016, o número de lançamento em toda a cidade de São Paulo subiu 92,5%. Sobre as mudanças recentes do distrito, a publicitária lembra que, uma década atrás, era comum ver aqueles condomínios exagerados, “de 300 m², com cinco vagas e depósito na garagem”. A publicitária percebe que os novos empreendimentos estão oferecendo apartamentos menores, kitnets, de metragem reduzida, perto de corredores de ônibus e metrô, com garagem compartilhada, bicicletário e comércio embaixo. De acordo com ela, essa é uma mudança recente que se assemelha ao que acontece em cidades como Buenos Aires.
A arquiteta e urbanista Regina Monteiro mora no bairro do Brooklyn Velho, em São Paulo. A região em que reside é uma Zona Exclusivamente Residencial (ZER), por isso, ela conta que a pressão imobiliária é forte no local, já que a vista para as áreas verdes interessa às construtoras. Na década de 1990, ela criou uma associação do seu bairro e depois se uniu a outras entidades para adquirirem maior força. Assim nasceu o Movimento Defenda SP, que no início engajou-se em denunciar a corrupção e a falta de investimento nas subprefeituras da cidade.
Também criadora da Lei Cidade Limpa, que visa tornar o espaço público com menos poluição urbana e manter a integridade dos patrimônios históricos e das edificações, critica o planejamento do Plano Diretor. “Em teoria não está errado, fizeram um Plano Diretor. Eles pintaram o mapa e não viram o que tinha embaixo”, referindo-se à extinção dos planos regionais, que contemplavam cada rua, esquina de cada bairro. A lei de zoneamento mais recente determinou diferentes zonas dentro de cada distrito (podem ser consultadas aqui). Os tipos de demarcação mais predominantes no distrito de Pinheiros são: Zona Mista, Zona de Eixo de Estruturação Urbana de Transformação Urbana (locais perto de transportes públicos em que serão permitidos construir prédios maiores em cada lote) e a Zona Corredor (próximos de corredores de ônibus destinados a comércios e serviços).
A segurança
Dolores Gómez vive no bairro há mais de cinquenta anos, quando se casou e deixou a sua antiga residência no Jardim Paulistano. “Eu morava lá no Jardins, mudei para cá. Quando eu vim, eu detestava Pinheiros, mas atualmente adoro”. O olhar nostálgico sobre os primeiros anos de residência na região recorda também os primeiros de casamento, em sua juventude.
“O bairro é um pouco perigoso, mas não tanto quanto outros bairros. eu acredito que não tenha acontecido tanta coisa como a gente ouve falar em outras zonas", comenta a aposentada. Quanto a segurança da região, a mulher opta por morar em seu apartamento. “Casa é legal, é muito bom, mas eu não moraria em casa. Eu tenho muito medo. Não que em apartamento não aconteça, também, mas apesar de tudo, me sinto mais segura".
A percepção da moradora do Jardim Paulistano não é única. O mal-estar que sente na sua vivência em sociedade é percebido desde 1920, e foi, inclusive, teorizado por Sigmund Freud. As pessoas que vivem em um mesmo espaço têm de escolher entre liberdade e segurança, e as medidas nunca parecem estar equilibradas. Na época, chegou a dizer que se dava atenção demais à segurança, abrindo-se mão da liberdade. As construtoras sabem disso, e procuram promover quase-bairros dentro de condomínios, aumentando a sensação de segurança do consumidor moderno.
Enquanto Luiza Helena acredita que São Paulo também não é a cidade ideal, e a verticalização teve influência direta nisso. “Acho que quem mora por aqui tem que ter uma função. Você deve ter um trabalho e um porquê de morar aqui. Se não, por exemplo, quando você tem uma aposentadoria, uma outra opção, não é uma cidade para se morar. Se você não trabalha ou estuda, existem lugares melhores para se viver”. Dolores discorda da conterrânea de distrito, acredita que no bairro que mora tem acesso a maioria dos serviços. Aquele amor pela cidade.
A nostalgia que Dolores sentia por seus primeiros anos em Pinheiros, Luiza Helena relata dos tempos em que vivia na Lapa. Habitou casas grandes por toda a sua vida, antes de mudar-se ao bairro. A sensação era de vizinhança próxima, grandes quintais, praças, crianças brincando na rua. Mas não era prático: “para ir na padaria, tinha que pegar o carro”. Quando mudou-se para a Vila Madalena, abriu um comércio, ao lado da irmã, que durou três anos. Tratava-se uma uma loja de confecção e café, que mais tarde acabaria se tornando quase exclusivamente bar e local de evento. Antigamente, eram poucos os bares na Vila Madalena, enquanto hoje em dia são inúmeros. A chance, porém, de um novo comércio dar certo é pouca: “aqui é muito caro [o aluguel] e poucas coisas têm vida longa”. No entanto, o comércio no geral funciona bem na Vila Madalena, tanto o diário - supermercado, farmácia, padaria, etc - quanto as lojas - grandes marcas têm se estabelecido na região, como Osklen, Hering e Track & Field.
Os parques
O Jardim da Previdência é uma das poucas regiões que possuem função ambiental na cidade, uma delas a redução das ilhas de calor na urbe. Com característica de bairro residencial, sua altura limite para construção é de dez metros. O bairro também abriga o Parque da Previdência, que contém uma reserva da Mata Atlântica. Todas essas especificidades são parte de um percentual de 4% do território urbano de São Paulo.
Com voz rouca, o membro da diretoria do Movimento Defenda SP, Sérgio Reze, é morador dessa região desde 2005. “Quando mudei para a Previdência, comecei a ter noção de como é a dinâmica do setor imobiliário e das forças que lutam pelos interesses da população”, esse foi um dos motivos que o fez ingressar no movimento. Um dos principais pontos para a defesa da região é a proteção do parque e de suas nascentes, que contemplam não só a preservação do meio ambiente, como também um pouco da história da cidade, que se encontra saturada na região central.
Mas ao mesmo tempo que há divergências por parte da população, os processos são instáveis por conta dos processos de disputa em uma democracia considerada recente. Sérgio encontrou pessoas com as mesmas reivindicações nos encontros do Defenda SP, o que demonstra que o problema não é só enfrentado no bairro em que mora, mas também em outras regiões da cidade.
Ao ser questionado sobre a nova lei de zoneamento, Reze argumenta que a anterior se preocupou em realizar uma pesquisa por bairros, através dos planos regionais, e só então foi instaurado o plano diretor da época. Isto é, os critérios para formulação da lei foram regionalizados. No atual, o plano regional está sendo criado depois de aprovado o zoneamento, isso quer dizer que as características regionais foram ignoradas. E o resultado do que antes já era cheio de implicâncias, tende a piorar. “ Uma cidade que contém várias cidades dentro de si, não pode ter uma única legislação para prover todas as regiões. O corpo de fiscalização deveria ser instrumentalizado, ter seus recursos próprios, necessários para atuar localmente”, conclui.
Sérgio acredita que deve-se investir na questão hidráulica e ambiental na cidade. E enxerga que o Plano Diretor foi feito às pressas por conta das eleições municipais que acontecerão em outubro, em que o então prefeito Fernando Haddad pretende se reeleger. O ideal, na visão do morador, seria 8 anos de estudo da cidade para formular uma boa legislação. Na visão da arquiteta Regina Monteiro, é necessário diagnosticar todos os problemas de cada subprefeitura da cidade para depois determinar o melhor plano. Ela ainda enfatiza a necessidade do acesso ao transporte público em toda São Paulo. Luiza Helena concorda que é necessário um conjunto de leis para dar ordem à cidade, mas acha excessiva a existência dos planos regionais. A publicitária afirma que os bairros mudam com o tempo, porque ele é feito pelas pessoas que os frequentam, trafegam e compõem os seus espaços.