Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Santana/Turma B

Fonte: Wikiversidade

GRUPO: Ana Luiza Couto, Laura Leite Pacheco, Thais May, Victória Pegorara

  • Breve texto explicando a região:

O distrito de Santana, localizado na Zona Norte da cidade de São Paulo, juntamente com os distritos de Tucuruvi e Mandaqui, compõe a Subprefeitura de Santana/Tucuruvi. Permaneceu durante muito tempo isolado do restante da capital devido a barreiras naturais como o Rio Tietê e a Serra da Cantareira, adquirindo características rurais. O isolamento durou até o início do século XX, quando houve a construção da Ponte das Bandeiras e do Tramway Cantareira. A partir de então, seguindo os passos de outras regiões da cidades, Santana se desenvolveu rapidamente devido ao processo de industrialização e à riqueza gerada através do ciclo do café em todo o estado.

Atualmente é um centro socioeconômico regional, funcionando como polo de comércio e serviços. Santana possui o maior IDH (correspondente a 0,925) da Zona Norte da cidade e o décimo nono maior dentre todos os 96 distritos, o que acaba refletindo no nível de satisfação dos moradores, que chega a uma nota média de 6,3, empatado em 12º lugar no ranking dos distritos, sendo o primeiro da região norte de São Paulo. Também está entre os dez com menor taxa de homicídios da cidade. A média de idade dos seus habitantes é de 40,7 anos, 43% tem ensino médio completo, 56% pertencem a classe A e B (melhor índice da Zona Norte), 38% a classe C e somente 5% a classe D e E (esses dois últimos são os menores índices da região norte da cidade). Essa situação é ilustrada pelos números, pois 17% dos moradores ganham mais de 10 salários mínimos, 31% ganham de 5 a 10 (o que representa o segundo e o primeiro resultados da Zona Norte respectivamente), 17% ganham de 3 a 5 e 15% ganham até 2 salários mínimos (ambos representam a porcentagem mais baixa da região). Segundo pesquisas da Datafolha, as maiores reclamações sobre o distrito são o trânsito e a escuridão. Já os pontos fortes do distrito destacados na pesquisa feita com os moradores são o comércio/ serviços, a vizinhança e a segurança da região. Ainda segundo o Datafolha, as principais fontes de lazer correspondem a ir ao parque (34%), seguido pelos shoppings (29%) e bares (21%).

O distrito de Santana já abrigou a antiga sede da Casa de Detenção de São Paulo, que depois foi transformada no que é hoje o Parque da Juventude. Possui também um dos maiores centros de feiras e exposições paulistanos, o Pavilhão do Anhembi; o Terminal Rodoviário do Tietê, o mais movimentado do país; e o Aeroporto Campo de Marte, o primeiro da cidade. Destacam-se ao longo de sua extensão as regiões nobre de Alto de Santana e o Jardim São Paulo.

Sua área total é de 1309,02 hectares (dado de 2016), divididos em 19 bairros: Água Fria, Chora Menino, parte de Imirim, Jardim Carmem Verônica, Jardim do Colégio, Jardim São Paulo, Santa Teresinha, Santana, Vila Benevolente, Vila José Casa Grande, Viva Marisa Mazzei, Vila Matias, Vila Paulicéia, Vila Rebelo, Vila Santa Luzia, Vila Santana, Vila Siciliano, Vila Vitório e Vila Zélia.

Em conversa informal com moradores da região, o grupo percebeu que, diferente do que foi apontado anteriormente, eles indicaram não haver muitas opções de lazer mais voltado para a população jovem (bares, casas noturnas, etc.), fato, que junto da procura de emprego, leva a deixar o distrito.

  • Pontos específicos onde serão aplicados os questionários:

Pontos de ônibus (algum perto de escolas e faculdades)

Parques

Praças

Escolhemos esses locais porque é onde há, sempre, bastante jovens e por serem locais onde as pessoas estão mais tranquilas, não estão tão ocupadas ou em grande correria.

  • Atribuição de responsabilidades entre os membros do grupo e cronograma:

Os questionários serão feitos durante reuniões do grupo, em datas ainda a combinar.

As integrantes se dividirão em duplas para aplicar os questionários nos dias de visita ao bairro de Santana.

Entrevista em profundidade ou grupo focal.

  • Temas a serem abordados na pesquisa:

A falta de opções de lazer para os jovens (faixa etária considerada: de 15 a 34 anos) moradores da região, que sentem necessidade de sair do distrito para tanto. Opções de locomoção. O que acham do trânsito. A questão da segurança no dia-a-dia. A satisfação com o região. O que acham das opções de comércio e de shopping. Qual a opinião sobre a iluminação nos bairros.

  • Referências bibliográficas:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Santana_(distrito_de_S%C3%A3o_Paulo) - Acesso em 10/08/2016.

http://infocidade.prefeitura.sp.gov.br/htmls/3_regioes_subprefeituras_e_distritos_munic_2016_10710.html - Acesso em 10/08/2016.

http://www.nossasaopaulo.org.br/observatorio/biblioteca/DnaPaulistanoNorte.pdf - Acesso em 10/08/2016.

http://folhaspdados.blogfolha.uol.com.br/2012/09/14/dna-paulistano-navegue-pelos-dados-em-mapa-interativo/ - Acesso em 13/08/2016.

  • Perguntas do questionário:

Nome do entrevistado: ________________________________________________________

Idade:

1.Você está satisfeito com as opções de parques em Santana?

SIM: NÃO:

SE NÃO, PORQUE?

2. Você está satisfeito com as opções de shoppings em Santana?

SIM: NÃO:

SE NÃO, PORQUE?

3. Você está satisfeito com as opções de consumo/ serviço em Santana?

SIM: NÃO:

SE NÃO, PORQUE?

4. Você está satisfeito com as opções de lazer em geral em Santana?

SIM: NÃO:

SE NÃO, PORQUE?

5. Você sai muito de Santana em busca de opções de lazer?

SIM: NÃO:

SE SIM, PORQUE?

6. Você está satisfeito com as opções de ônibus em Santana?

SIM: NÃO:

SE NÃO, PORQUE?

7. Você está satisfeito com a qualidade dos ônibus em Santana?

SIM: NÃO:

SE NÃO, PORQUE?

8. Você está satisfeito com as opções de metrô em Santana?

SIM: NÃO:

SE NÃO, PORQUE?

9. Você está satisfeito com a qualidade do metrô em Santana?

SIM: NÃO:

SE NÃO, PORQUE?

10. Você está satisfeito com o trânsito em Santana?

SIM: NÃO:

SE NÃO, PORQUE?

11. Qual o meio de transporte que você mais utiliza?

RESPOSTA:

12. Você está satisfeito com a segurança em Santana?

SIM: NÃO:

SE NÃO, PORQUE?

13. Você se sente seguro em Santana?

SIM: NÃO:

SE NÃO, PORQUE?

14. Você está satisfeito com a iluminação em Santana?

SIM: NÃO:

SE NÃO, PORQUE?

15. Você está satisfeito com a limpeza/coleta de lixo em Santana?

SIM: NÃO:

SE NÃO, PORQUE?

16. Você está satisfeito com as instituições de ensino em Santana?

SIM: NÃO:

SE NÃO, PORQUE?

17. Você está satisfeito com a conservação do distrito de Santana?

SIM: NÃO:

SE NÃO, PORQUE?

18. Você está satisfeito com o distrito de Santana no geral?

SIM: NÃO:

SE NÃO, PORQUE?

Tem algum tema ou pergunta que você considere importante e eu não fiz?

VOCÊ ESTARIA DISPOSTO A CONCEDER UMA ENTREVISTA EM UM MOMENTO POSTERIOR?

CONTATO:

  • Resultados do questionário:

Para conferir os resultados dos questionários, veja a tabela abaixo:


Ou acesse o link no Google Drive: https://drive.google.com/drive/folders/0B0blG4xMtL1_aTVLNnh5czhEMVU?usp=sharing

  • Palavras mais frequentes que ouvimos ao aplicar o questionário:

1- Você está satisfeito com as opções de parques em Santana?

Ruins; pouco

2- Você está satisfeito com as opções de shoppings em Santana?

Pouca variedade; ruins

3- Você está  satisfeito com as opções de consumo/ serviço em Santana?

Pouca variedade; bastante lugar

4- Você está  satisfeito com opções de lazer em geral em Santana?

Poucas opções; poderia ter mais

5- Você sai muito de Santana em busca de opções de lazer?

Melhor; mais opções

6- Você está satisfeito com as opções de ônibus em Santana?

Tem bastante; bom

7- Você está satisfeito com a qualidade de ônibus em Santana?

Cheios; demoram

8- Você está satisfeito com as opções de metrô em Santana?

Bom

9- Você está satisfeito com a qualidade do metrô em Santana?

Lotado

10- Você está satisfeito com o trânsito em Santana?

Ruim; cheio; mal planejado

11- Qual meio de transporte você mais utiliza?

-

12- Você está satisfeito com a segurança em Santana?

Perigoso; muitos assaltos, pouco policiamento

13- Você se sente seguro em Santana?

Pouca segurança; muitos assaltos

14- Você está satisfeito com a iluminação em Santana?

Pouca; poderia melhorar; pior em bairros pobres/afastados do centro

15- Você está satisfeito com a limpeza/ coleta de lixo em Santana?

Sujo; lixo nas ruas; mendigos

16- Você está satisfeito com as instituições de ensino em Santana?

Ruim nas públicas; tem bons lugares

17- Você está satisfeito com a conservação do distrito de Santana?

Depredação; sujo

18- Você está satisfeito com com o distrito de Santana no geral?

Falta; gosto

  • Gráficos:

Clique nos gráficos abaixo para ver algumas informações (PDF em duas páginas) que segundo o grupo merecem destaque nos resultados do questionário, para fins comparativos:

Gráficos questionários santana 2job

Ou acesse o link no Google Drive: https://drive.google.com/drive/folders/0B0blG4xMtL1_aTVLNnh5czhEMVU?usp=sharing

  • Análise dos resultados dos questionários

Conforme será explicado a seguir, o grupo percebeu que as respostas, obtidas a partir dos questionários aplicados em Santana no dia 26/08/2016, em alguns temas acabaram coincidido com as informações previamente obtidas na pesquisa sobre a região, mas, em outros, os resultados foram opostos.

Na questão sobre lazer, por exemplo, o grupo havia pesquisado que, segundo dados do Datafolha, as principais atividades em Santana correspondem a ir ao parque (34%), seguido pelos shoppings (29%) e bares (21%). No entanto, não foi isso que o grupo constatou ao ir a campo aplicar os questionários. Uma quantidade significativa de entrevistados afirmou não ser capaz de se posicionar com relação aos parques, pois não os conheciam (afinal, na região inteira, só há um parque, que é o da Juventude). Além disso, existiram algumas reclamações quanto à variedade de lojas (tanto dentro dos shoppings, quanto nas ruas). Já com relação às opções de consumo/serviço, as respostas batem com as pesquisas da primeira etapa do trabalho. A maioria dos entrevistados (67%) demonstrou insatisfação com as opções de lazer em geral do distrito, e afirmou que tende a deixar a região (69%) quando sente necessidade de mais opções de lugares e variedade de serviços nessa área.

Quanto ao assunto dos meios de transporte mais utilizados, apesar de Santana ser um dos distritos da cidade com maior quantidade de estações de metrô (sendo que as quatro são da linha azul,  principal da cidade), poucos entrevistados usam esse meio de transporte como primeira escolha. A maioria deles afirmou andar de ônibus, apesar de não aprovarem a qualidade e a superlotação desse meio de transporte. O grupo pôde perceber que essa superlotação se deve realmente à grande quantidade de pessoas que afirmaram utilizá-los, e não por falta de ônibus nos pontos, pois a maior parte dos entrevistados afirmou estar satisfeita nesse quesito.

Ainda no tema de transporte, quando o trânsito foi mencionado, a maior parte dos entrevistados (praticamente 64%) reclamou e nenhum deixou de opinar sobre a questão. O grupo já tinha conhecimento de que, segundo o Datafolha, essa é uma das duas maiores reclamações sobre o distrito, apesar de tratar-se de uma região da cidade com várias opções de transporte público, conforme já mencionado. Portanto as respostas negativas já eram esperadas.

Já com relação à segurança no distrito, os dados obtidos através da aplicação dos questionários diferem das informações previamente pesquisadas, que segundo o Datafolha indicavam esse sendo um dos pontos que os moradores da região consideravam positivos do distrito de Santana. Um fato que o grupo acha que vale a pena destacar é que a maioria tanto do público masculino (80%), quanto do feminino (71%) afirmou não sentir-se segura em Santana. No entanto, percentualmente falando, mais mulheres (os mesmos 71%) do que homens (53%) mostraram se sentirem inseguras no distrito, além disso, esses últimos dados mostram que as pessoas do sexo masculino tendem a se descrever mais como pessoas seguras, já as mulheres, talvez por conta da sociedade e ideias machistas da realidade brasileira, se sentem mais vulneráveis à violência. Outro ponto que merece atenção quanto à segurança é que algumas pessoas responderam as questões 12 (você está satisfeito/a com a segurança em Santana?) e 13 (você se sente seguro/a em Santana?) com respostas opostas, fato o qual mostra que, para algumas pessoas, a segurança não é o único fator que interfere na noção própria de “sentir-se seguro”.

No quesito da iluminação pública, os números de satisfeitos e insatisfeitos ficaram bem próximos. O que indica que, segundo a amostra de entrevistados abordada para este trabalho, a questão da iluminação não é um problema tão grande na região, conforme indicam os dados do Datafolha apresentados na primeira etapa, que apontavam a questão também como uma das duas com maiores reclamações sobre o distrito. Algo que pode explicar essa divisão, segundo os apontamentos feitos durante a aplicação dos questionários, é a falta de luz nas regiões mais pobres do distrito e a boa qualidade na iluminação das melhores áreas.

As questões sobre limpeza/coleta de lixo e conservação também obtiveram respostas negativas por parte dos entrevistados, sedo que entre as reclamações havia a sujeira na rua e pessoas chegaram a justificar a resposta com a presença das pessoas em situação de rua. Esse fato surpreendeu o grupo, que não esperava esses resultados de um distrito considerado mais desenvolvido e que tem um dos melhores IDHs da cidade.

Quanto à educação, o número de pessoas que não se consideraram capazes de opinar sobre o assunto (na maior parte dos casos, porque apenas frequentavam a região para trabalhar) foi relativamente alto. Mas a maioria dos demais entrevistados mostrou-se satisfeita com a qualidade do ensino das escolas da região.

Ao fim do questionário, ao avaliar o distrito de Santana de uma forma geral, obviamente houveram divergências de opinião, mas a maior parcela dos entrevistados (58%) mostrou-se satisfeita, considerando tanto os pontos negativos quanto os positivos que todos eles já haviam apontado nas questões anteriores.

  • Entrevistas em profundidade

Para ouvir os áudios brutos das entrevistas em profundidade feitas pelo grupo, acesse o link: https://drive.google.com/drive/folders/0B0blG4xMtL1_d3B1NnFEVU5MODg?usp=sharing

  • Reportagem final em áudio

Clique abaixo para ouvir a matéria em áudio (arquivo .ogg) sobre a segurança no distrito de Santana, preparada pelo grupo para a disciplina de Radiojornalismo:

SANTANA FINAL

Ou acesse o arquivo de áudio (MP3) no link: https://drive.google.com/drive/folders/0B0blG4xMtL1_MVBRcTdxNFJUdUE?usp=sharing

  • Reportagem final em texto e imagem

Uma história de violência

Carandiru, um dos principais bairros do distrito de Santana, tem seu nome originário da língua tupi-guarani e consiste na combinação das palavras Carandá e Iru, cujo significado é “abelha de carnaúba”. A Carnaúba é uma árvore endêmica do semiárido nordestino, também conhecida como a “Árvore da Vida”, afinal dela pode-se aproveitar quase todas as partes.  Apesar disso, através dos anos, não se sabe muito bem como, essa palavra passou a ser utilizada no sentido de uma prisão indígena similar à senzala.

O nome ainda mantém uma forte carga de violência até os dias de hoje, e está presente no imaginário popular com significado semelhante à “inferno”, devido, em especial, à história da penitenciária Carandiru, considerada na época de seu funcionamento, entre as décadas de 1910 e 1990, o maior presídio da América Latina. A prisão ficou conhecida pela sua superlotação, má administração e revoltas violentas, contrastando com a imagem de presídio-modelo que tinha ao ser inaugurada. Ela ficou mundialmente conhecida em 1992, devido ao massacre de 111 detentos pela Polícia Militar de São Paulo, durante uma rebelião. Desativada e parcialmente demolida em 2002, em seu lugar foi construído o Parque da Juventude, que possui um complexo cultural, recreativo e esportivo dedicado principalmente aos jovens (como aponta o próprio nome do parque), e conta também com uma Escola Técnica Estadual (ETEC), cujo o prédio possui a mesma estrutura dos antigos pavilhões 4 e 7 da prisão, além da Biblioteca de São Paulo.

Em 2006, houve um projeto de lei do vereador Palmiro Mennucci para mudar o nome da estação de metrô Carandiru para estação Parque da Juventude. Esse projeto pode ser interpretado como uma possível tentativa de apagar o passado doloroso e as cicatrizes violentas do local. O novo nome, escolhido através de um concurso público pela prefeitura da cidade, indica essa vontade de não se querer olhar mais para o que já aconteceu. A sensação geral é de que o passado deve ficar para trás e que o futuro pertence aos jovens.

O distrito de Santana se esforça de várias formas para superar sua história truculenta. Já houve um tempo em que o local teve a reputação de ser uma das regiões mais seguras da Zona Norte. Em uma pesquisa realizada em 2008 pelo instituto Datafolha, os moradores apontaram que uma das maiores qualidades do distrito era a segurança, sendo que a nota para esse quesito foi de 5,6 (a maior da Zona Norte, e superior à média 5 que a cidade de São Paulo recebeu). Theo Santos, que com 18 anos é um aspirante a estudante de teologia e pregador de uma igreja evangélica, e Felipe Kengo, um autodeclarado empreendedor iniciante no ramo de cosméticos de 19, afirmaram que se sentem seguros em Santana. Theo justificou-se dizendo que: “No tempo em que ando nessa região, nunca aconteceu nada, nunca vi acontecer nada, nunca presenciei (algum tipo de violência).”. Assim como ele, em um questionário feito com 36 pessoas que vivem e/ou trabalham no distrito, 47% dos homens afirmaram sentirem-se seguros na região. De acordo com uma pesquisa de 2009 do IBGE, os homens (além dos jovens e daqueles que possuem um alto nível aquisitivo), em geral, tendem a se declarar mais seguros que os demais cidadãos das cidades.

Mesmo assim, o que se percebe ao ouvir a maioria das pessoas, é que a sensação de tempos mais violentos parece estar retornando. Nesse mesmo questionário, 71% das mulheres e os outros 53% dos homens declararam não se sentirem seguros no distrito. As principais reclamações são relacionadas com a questão de roubos e furtos. Esse sentimento é reforçado pelos dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública de São Paulo, que mostram que em 2011 (dados mais antigos disponíveis no site da SSP) foram registradas 1341 ocorrências de roubo no 9º DP do Carandiru. Em compensação, até o mês de julho de 2016, 1039 ocorrências foram feitas. “Já fui roubada umas quatro vezes aqui em Santana em menos de um mês, e os ladrões vieram com armas e canivetes em plena luz do dia. Também já faz cinco anos que seis bandidos abordaram meu irmão na porta da nossa casa e quando entraram, roubaram quase tudo.”, afirmou Cíntia Cristina, de 26 anos. Thaysha, que tem 16, também compartilhou detalhes de uma tentativa de assalto que sofreu: “Eu estava no ponto de ônibus com o meu amigo e só tinha a gente, quando vieram dois caras para nos roubar. Começaram a puxar as nossas bolsas, mas quando se distraíram, eu corri para um lado e meu amigo para o outro. Depois disso fomos falar com a polícia e os policiais falaram: ‘Ah, então tá, a gente vai ver o que a gente pode fazer depois’.”.

Não são todas as pessoas que já sofreram alguma tentativa de roubo, porém, a maioria conhece alguém que já foi vítima desse tipo de delito. Hélio, de 24 anos, por exemplo, contou que nunca foi assaltado, mas já ouviu relatos de duas pessoas sendo abordadas por ladrões ao mesmo tempo no Parque da Juventude.

Outra questão que causa essa sensação de insegurança para as mulheres é o machismo. “Eu tenho medo principalmente porque eu sou mulher e as pessoas veem mulher como alguém muito frágil.”, declarou Ana Beatriz Campaner, uma estudante de 16 anos da ETEC do PJ, que já foi assaltada no estacionamento do próprio parque, a poucos passos do lugar onde estuda. A jovem afirmou ainda que o que mais a faz sentir-se insegura diariamente são as incessantes cantadas vindas de homens. “Um cara uma vez me falou uma coisa muito absurda no pé do ouvido e na hora eu não acreditei. Quando virei para olhar, ele saiu andando. Fiquei com aquilo martelando na minha cabeça, sem reação: ‘isso realmente está acontecendo comigo?’”, contou.

Larissa Espada, uma estudante universitária e professora de yoga de 19 anos, afirmou também que o maior tipo de violência enfrentada por ela diariamente é o assédio. “Sempre tem os machos olhando a bunda das minhas alunas”, desabafou. Larissa se denomina feminista radical e explicou a razão de ser muito difícil mudar a misoginia estrutural da sociedade brasileira: “Nós, feministas, não somos sequer ouvidas, e há uma resistência gigantesca de mudar certos tipos de parâmetro sob os quais a mulher é vista.”.

Apesar dessa sensação de insegurança constante, saindo de qualquer uma das quatro estações de metrô que existem no distrito, uma das primeiras coisas que se vê é a presença de policiais, seja a pé, de moto, dentro de viaturas ou até mesmo em cavalos. O barulho constante de sirenes pode incomodar um pedestre de passagem, mas já é um som corriqueiro para os passantes habituais da região.

Foto Cavalos

Esse policiamento, segundo as pessoas que circulam pelo distrito, não é nada incomum, mas depende da hora e do local em que se está. As principais reclamações feitas são com relação ao período da noite e lugares mais próximos do centro de Santana, que é menos desenvolvido social e economicamente. O Parque da Juventude é um dos locais em que as pessoas mais se queixam sobre a falta de segurança. Algumas delas inclusive recomendam tomar muito cuidado e evitar o local. Durante as três tardes em que a reportagem permaneceu lá, nenhum ato criminoso foi observado e o que mais foi visto foram seguranças privados e carros da polícia. De acordo com dados obtidos em julho deste ano pelo Estadão, no 9º Batalhão da Polícia Militar do Estado de São Paulo, que cobre também a região de Santana, cada policial é responsável por 9 a 10 crimes ocorridos, o que está na média da cidade.

No entanto, o que não falta são questionamentos sobre a eficiência desse patrulhamento. Larissa Espada, que se declara simpatizante da ideologia anarquista, acredita que a Polícia Militar não acaba com a violência, pelo contrário, ela acaba gerando ainda mais problema. Já a jovem Stephanie, de 15 anos, afirmou que quando um roubo é relatado, os PMs não tomam atitude alguma. “Eu não gosto da polícia militar porque eu acho que além dela não fazer algo para resolver esses delitos, os policiais são muito agressivos com a população, dando mais medo do que propriamente defendendo”, declarou Luana, de 20 anos. Segundo uma pesquisa do IBGE, mais da metade dos cidadãos que são vítimas de roubo optam por não fazer a denúncia, isso ocorre porque a maioria apontou não acreditar na polícia.

Outros entrevistados também reclamaram sobre a atitude dos policiais, afirmando que ao invés de direcionarem a sua atuação contra praticantes de roubos e furtos, como é esperado pela população, os mesmos se preocupam mais em prender quem fuma maconha, por exemplo.

Quando questionados sobre quais seriam as possíveis soluções para esse problema da segurança, praticamente todos os entrevistados, independentemente do direcionamento ideológico, apontaram a educação como um dos principais caminhos. Felipe Kengo disse que “A raiz dos assaltos e roubos é a educação. A longo prazo, se diminuirmos a desigualdade social, o problema vai diminuindo”. Apesar da maioria das pessoas desconfiarem da PM, como foi apontado anteriormente, a solução imediata mais ressaltada foi ter um policiamento mais intenso. Cintia, que disse ter conhecidos que são policiais e que os mesmos “não prestam” e ainda influenciam a questão da violência, também afirmou que o governo deveria colocar mais câmeras e policiais nas ruas, pois não consegue enxergar nenhuma outra alternativa.

Mas segundo apontam especialistas da área de segurança no Brasil, as medidas citadas anteriormente não são a única maneira eficiente de sanar o problema da violência. Para eles, as principais medidas que devem ser tomadas para enfrentar essa questão são: o mapeamento da violência, a reforma da PM e do sistema integrado de cadastros e informações sobre crimes (como o Infocrim e o Infoseg) e o uso de mais tecnologia. A parceria e participação da sociedade com os órgãos administrativos também são essenciais para combater esse problema.  Mas para além dessas medidas, é preciso manter as cicatrizes do Carandiru vivas. A história de violência em Santana não pode ser apagada, mas pode servir como lição.