Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Tatuapé/Turma A
Planejamento
[editar | editar código-fonte]1. Breve texto que explique a região (para isso, você precisa, obrigatoriamente, consultar o Mapa vulnerabilidade social produzido pelo Centro de Estudos da Metrópole e o IDH, conversar informalmente com alguém que conheça bem região e possa dar dicas e informações sobre ela; além de pesquisar em outros livros, reportagens, indicadores sociais, pesquisas acadêmicas etc. É uma pré-apuração ;)
O Tatuapé é um distrito da Zona Leste de São Paulo, localizado na subprefeitura da Mooca. O local se destaca na região, por ter índices de desenvolvimento social e econômico elevados em comparação com bairros próximos. De acordo com o Mapa da Vulnerabilidade Social, predominam no Tatuapé os grupos de "Baixa Privação e Idosos" e "Privação Muito Baixa", que indicam boas condições socioeconômicas da população. O distrito está em um processo de verticalização, e a demanda por moradias no local aumenta progressivamente, desde o início dos anos 2000. Segundo a reportagem do site Exame, o Tatuapé registrou um aumento de 21% de procura por imóveis. Perto da estação de metrô, existem dois shoppings famosos na região: o Metrô Tatuapé e o Metrô Boulevard Tatuapé. Embora próximos na localização, eles atraem públicos diferentes, pois o Metrô Tatuapé é mais voltado para classes mais baixas. Além disso, há diversos estabelecimentos pelo distrito que atraem moradores de outras localidades. Conversando com moradores do Tatuapé, concluímos que há uma distinção socioeconômica explícita no local, pois em meio a pontos comerciais sofisticados, o fluxo de pessoas por lá é intenso (considerando a proximidade com duas estações de metrô, Tatuapé e Carrão), e o medo de assaltos é constante. Apesar do que nos foi relatado, o infográfico de criminalidade do Estadão indica que o distrito está entre os menos violentos de São Paulo, sendo que o maior índice é o de tráfico de drogas - no qual o Tatuapé é o oitavo distrito com mais casos registrados na polícia. Para desvendar tamanho contraste, o grupo pretende entrevistar moradores de locais com índices socioeconômicos distintos, investigando quem são e o que pensam os habitantes do Tatuapé.
2. Escolha justificada dos pontos específicos onde serão aplicados os questionários; (P.S: os questionários devem ser aplicados in loco)
Para aplicar os questionários, escolhemos o bairro “Cidade Mãe do Céu” e as redondezas do Parque São Jorge, lugares mais “simples” do distrito; e o Shopping Metrô Tatuapé e Shopping Metrô Boulevard, que são voltados para pessoas com um poder de compra relativamente superior às outras vizinhanças. Desta forma, poderemos conversar com pessoas de níveis sociais diferentes e abordar seus respectivos pontos de vista sobre o bairro. O Parque do Piqueri, área verde e de lazer da vizinhança, e o Cereja Flor Café Bistrô restaurante bastante conhecido e frequentado por uma classe social mais privilegiada, também serão visitados pelo grupo, preferencialmente em fins de semana, para que possamos falar com moradores do Tatuapé em seus momentos de lazer e descanso.
3. Atribuição de responsabilidades entre os membros do grupo e cronograma;
Cronograma:
Terça-feira, 16 de agosto - Cereja Flor Café Bistrô e bairro Cidade Mãe do Céu
Sábado, 20 de agosto - Shopping Metrô Tatuapé e Shopping Metrô Boulevard
Domingo, 21 de agosto - Parque do Piqueri
Atribuição de responsabilidades:
Todos os integrantes do grupo pretendem comparecer ao distrito para aplicar o questionário, reunir informações e definir a pauta da reportagem. No desenvolvimento do trabalho final, a ideia é cada um focar nos seguintes itens:
Áudio: Camila Junqueira
Foto: Giullia Gusman
Edição: Guilherme Peternelli
Texto: Laís Fernandes
Vídeo: Tainá Freitas
4. Pré-roteiro dos temas a serem abordados na pesquisa. Neste tópico, considerem muitos das outra disciplinar, especialmente as políticas sociais trabalhadas em Realidade Socioeconômica e Política Brasileira e História do Brasil Contemporâneo;
Pretendemos abordar temas como segurança - e como ela afeta o dia-a-dia dos moradores e trabalhadores da região -, mobilidade, lazer e infraestrutura. Como sentimos um contraste socioeconômico prévio, queremos saber se os moradores se preocupam com a violência, se ela existe na prática e como vivem os moradores de classes diferentes no mesmo distrito. A verticalização também será um tema abordado, devido ao grande número de prédios e condomínios e a ascensão da compra de imóveis na região. Temos a intenção de, ainda, avaliar se as ruas e estabelecimentos pelos quais passamos são acessíveis a deficientes físicos e visuais.
5. Referências bibliográficas.
http://cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?lang=&codmun=355030&search=%7Csao-paulo acesso em 14 de agosto de 2016.
http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,o-que-fazer-no-tatuape,1767020 acesso em 14 de agosto de 2016.
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/bibliotecas/bibliotecas_bairro/bibliotecas_a_l/cassianoricardo/index.php?p=135 acesso em 14 de agosto de 2016.
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/subprefeituras/dados_demograficos/index.php?p=12758 acesso em 14 de agosto de 2016.
http://infograficos.estadao.com.br/cidades/criminalidade-bairro-a-bairro/ acesso em 14 de agosto de 2016.
http://exame.abril.com.br/negocios/dino/noticias/paulistanos-buscam-qualidade-de-vida-em-bairros-mais-calmos.shtml acesso em 14 de agosto de 2016.
http://www.fflch.usp.br/centrodametropole/cemsas/1.3.25.Mooca.pdf acesso em 14 de agosto de 2016.
Conversas informais com moradores do distrito: Emerson Paliuco e Valeria Serra Augusto
ABARCA, Pedro. "Tatuapé Ontem e Hoje", ed. Rumo, São Paulo, 1997
Perguntas e resultados do questionário
[editar | editar código-fonte]1. Faixa etária:
a. Até 20 anos
b. 21 - 30 anos
c. 31 - 40 anos
d. 41 - 50 anos
e. 51 ou mais
2. Qual seu gênero?
a. Masculino
b. Feminino
c. Outro
3. Escolaridade:
a. Não estudei
b. Ensino fundamental incompleto
c. Ensino fundamental completo
d. Ensino médio incompleto
e. Ensino médio completo
f. Ensino superior incompleto
g. Ensino superior completo
f. Pós-graduação ou mais incompleto
g. Pós-graduação ou mais completo
4. Você trabalha atualmente?
a. Sim
b. Não
5. Com quantos anos você começou a trabalhar? ______
6. Com o que você trabalha? ______________
7. Qual é o tipo de sua residência:
a) Casa
b) Apartamento
c) Outro
8. Você pesquisa sobre os candidatos antes de alguma eleição?
a. Sim
b. Não
c. Não me interesso
9. Você é a favor do voto obrigatório?
a. Sim
b. Não
c. Não sei responder
10. Você já foi assaltado no bairro?
a. Sim
b. Não
c. Já sofri tentativa
d. Não, mas conheço pessoas que foram
11. Há quanto tempo reside no bairro?
a. Menos de um ano
b. De um a cinco anos
c. De seis a dez anos
d. Mais de dez anos
12. Você considera o bairro como acessível para deficientes físicos?
a. Sim
b. Não
c. Apenas alguns lugares
13. Você costuma fazer compras pessoais em lojas do bairro (mercados, farmácias)?
a. Sempre
b. Frequentemente
c. Às vezes
d. Raramente
e. Nunca
14. Como você define o preço em supermercados e padarias?
a. Mais caro do que outros bairros
b. Mais barato do que outros bairros
c. Semelhante ao de outros bairros
d. Não sei
15. Qual meio de transporte você costuma utilizar?
a. Metrô - Ônibus
b. Carro
c. Bicicleta
d. Outros
16. Quanto tempo do seu dia útil você costuma passar no bairro?
a. De uma a três horas
b. De quatro a seis horas
c. De sete a nove horas
d. Mais de dez horas
e. Não sei
17. O quão seguro você se sente usando os transportes públicos no bairro a noite?
a. De 0 a 3
b. De 4 a 6
c. De 7 a 10
d. Não uso transporte público
18. O Tatuapé é um bairro mais seguro do que os demais.
a. Concordo fortemente
b. Concordo
c. Nem concorda, nem discorda
d. Discorda fortemente
e. Discordo
19. Com que frequência você evita sair de casa à noite, por medo de assaltos?
a. Sempre
b. Frequentemente
c. Às vezes
d. Raramente
e. Nunca
20. Como você avalia o policiamento no Tatuapé?
a. Ótimo
b. Bom
c. Regular
d. Ruim
e. Péssimo
21. Você acha que o bairro precisa de melhorias em quais setores?
a. Infraestrutura
b. Saúde
c. Educação
d. Segurança
e. Mobilidade
f. Outros: ______________
Análise das respostas
[editar | editar código-fonte]A maioria dos entrevistados no distrito do Tatuapé são homens, com 21-30 anos, e que possuem ensino superior completo. O fato de que a maior parte dos entrevistados possui ensino superior completo sugere que, como imaginávamos, o distrito não é carente. O expressivo número de pessoas morando em apartamentos reforça esse argumento e ainda ilustra que a verticalização realmente vêm acontecendo neste distrito. A maioria dos moradores estão lá há mais de 10 anos. Essas pessoas provavelmente cresceram no bairro e ali permaneceram, presenciando e abraçando todas as suas mudanças.
Foram entrevistados moradores e pessoas que trabalham no distrito (e que, por isso, passam a maior parte do dia ali), e os trabalhadores tendem a ter um menor nível de escolaridade e acreditar que os preços do bairro são mais caros dos que os praticados por outros bairros semelhantes. A maioria dos moradores acredita que os preços são semelhantes a outros distritos, e em segundo estão os moradores que também acreditam que os preços praticados no distrito são superiores. Porém, mais de 50% dos entrevistados fazem compras pessoais no distrito.
Os moradores do distrito do Tatuapé costumam passar de sete a nove horas (ou até mais de dez horas) de um dia útil em suas casas, o que significa que não é perdida uma grande quantidade de tempo nos trajetos realizados – o transporte mais utilizado é o público (metrô e ônibus). O distrito está localizado na linha 3 – Vermelha do Metrô, e na linha 12 – Safira da CPTM. Portanto, há a disposição eficaz de ônibus, metrô e trem. Os usuários sentem-se razoavelmente seguros utilizando estes meios de transporte. O segundo meio de transporte mais utilizado é o carro, seguido pela bicicleta, que é pouco utilizada.
Quando pedimos para responder a afirmação “O Tatuapé é um bairro mais seguro do que os demais.”, a opção mais escolhida é “Nem concordo, nem discordo”. Os frequentadores do distrito não têm muitas reclamações quanto à segurança (esta parece ser semelhante aos demais), mas a maior parte dos entrevistados deixa de sair de suas casas “às vezes” pois sentem-se inseguros. Acreditamos que este seja um problema da cidade de São Paulo e não do distrito especificamente.
A maioria de nossos entrevistados é politizada e pesquisa sobre os candidatos antes de alguma eleição. Mas esta mesma maioria acredita que o voto não deveria ser obrigatório.
Além disso, foi possível encontrar pessoas de perfis diferentes: conversamos com comunicadores, empresários, odontologistas, veterinários, despachantes, manobristas e funcionários públicos, que iniciaram suas trajetórias profissionais por volta dos 20 anos.
Pauta da reportagem
[editar | editar código-fonte]"A bolha da Zona Leste"
O Tatuapé é o distrito com maior IDH da Zona Leste de São Paulo, e possui tanto moradores de classe média como de classes mais baixas. Isso se reflete no comércio, no transporte e até nas ruas, algumas com condomínios privados, outras cheias de casas. A reportagem busca investigar se essa bolha realmente se sustenta, se os moradores se consideram da ZL e como eles enxergam essa distinção no local onde moram. Além disso, queremos saber até que ponto essa desigualdade afeta a vida de quem mora ou trabalha no Tatuapé.
Reportagem
[editar | editar código-fonte]Paraíso da Zona Leste
[editar | editar código-fonte]Como o distrito do Tatuapé simboliza uma bolha de benefícios na região
[editar | editar código-fonte]“Seria mais fácil eu mudar de país do que sair do Tatuapé.”
Foi assim que Emerson Paliuco, morador do bairro, começou a falar do lugar onde nasceu e reside atualmente. Com uma nostalgia no olhar e carinho na voz – sentimentos palpáveis em cada esquina do Tatuapé.
É um lugar com ares de interior devido às praças com idosos lendo jornais e jogando xadrez, e ao canto dos pássaros que pode ser ouvido onde há áreas verdes. Possui ruas tranquilas, que pouco se parecem com o caos urbano de São Paulo. O caminho do tatu percorreu montanhas, cruzou a Mata Atlântica e subiu o Rio Tietê, terminando em uma área agradável e de fácil acesso. Foi lá que os imigrantes italianos se instalaram, no fim do século XIX, contribuindo para acentuar o sentimento familiar e bairrista que tem o local.
Na estação Tatuapé de metrô, dois shoppings recebem os pedestres, um de cada lado. Por ali, passam pessoas de vários lugares diferentes, sempre com pressa. O que faz parecer que o restante do bairro também seja assim, mas não: os metrôs são só o caminho que levam os moradores para o resto da cidade - e trazem estrangeiros para dentro do bairro.
Sim, estrangeiros, pois adentrar ao Tatuapé é quase como conhecer outra cidade, outro país. Passando o shopping, as primeiras ruas misturam prédios altos com casinhas de tijolos, comércios simples e jardins floridos. A Praça Silvio Romero, no coração do bairro, reúne os moradores entre padarias e bancas de jornal, com uma Igreja tradicional bem ao centro, além de oferecer um ambiente tranquilo e familiar. É o típico clima das praças das cidades do interior, onde a população costuma se encontrar. Emerson, hoje um homem de negócios de 47 anos, lembra das tardes que passava lá quando ainda era um menino, e na época em que a Sílvio Romero era o lugar das paqueras do Tatuapé. “Tomei muitos foras por aqui”, relembra ele, dando risada.
É possível entender um pouco desse amor que os moradores sentem pelo local só de conversar com eles. Além do acolhimento, a facilidade de serviços também é um atrativo para não querer sair de lá. Emerson, por exemplo, afirma sair do bairro apenas para trabalhar, porque de resto, não sente necessidade.
O que difere o Tatuapé de bairros mais desenvolvidos, como Moema e Vila Olímpia, é que, no bairro, não há uma presença forte de empresas, o que faz com que os moradores tenham que sair de sua região para trabalhar em outros locais. Esta é a única questão que os obriga a sair do distrito, no geral.
As altas árvores da Silvio Romero se refletem no olhar esverdeado de Beatriz, de apenas 16 anos, mas que enxerga o local onde mora como se tivesse o dobro da idade. Também com carinho na voz, ela fala do Tatuapé como se estivesse protegendo alguma coisa, e diz não ligar para o caráter residencial do lugar. “Os bairros que têm esse centro comercial não tem o que temos aqui, essa familiaridade, a liberdade de sair na rua de dia ou de noite que o Tatuapé disponibiliza pra gente. Se o Tatuapé tivesse o comércio que os outros bairros têm, seria totalmente diferente”.
Os anos de consolidação da comunidade italiana ali fizeram do distrito um dos mais completos de São Paulo. De herança, além de padarias e adegas conceituadas, ficou o sentimento de familiaridade no local, em que é possível andar à pé sem se cansar, parando vez ou outra para bater papo no portão das casas.
A chegada dos imigrantes também ajudou a desenvolver indústrias, embora hoje em dia o bairro seja menos industrial e mais residencial. Um dos mais bem conceituados da Zona Leste da cidade, o Tatuapé se destaca, por ter índices de desenvolvimento social e econômico elevados em comparação aos distritos próximos. Para Emerson, “é o melhor e mais completo bairro da Zona Leste. O Tatuapé é a Moema da região”.
A vizinhança conta tanto com moradores de classe média, quanto de classes mais baixas. Isso se reflete no comércio, no transporte e até nas ruas: algumas com condomínios privados; outras cheias de casas. O “baixo” Tatuapé, como é considerada uma parte da vizinhança, por exemplo, era a área mais desenvolvida do bairro nos anos 40 e hoje em dia está cheia de cortiços. Mesmo assim, o local vem se desenvolvendo com o passar dos anos. Maria Eloíse, de 18 anos, reside há 11 na vizinhança e conta que a infraestrutura vem se desenvolvendo, o policiamento melhorando e prédios e casas sendo construídos.
O bairro é considerado de classe média, portanto, os moradores sabem que é necessário fazer uma pesquisa antes de ir às compras, ou no mínimo, saber onde se encontra determinados produtos por um preço mais barato. A padaria e adega Lisboa fica na Silvio Romero desde 1913, e viu todo o distrito crescer ao seu redor. A fachada escura quase a torna invisível na calçada, mas o alto movimento de público não deixa disfarçar o que as pesadas portas de metal escondem. “Ela é um pouco cara, mas tem o melhor pão italiano por aqui”, Emerson conta. “Infelizmente, não é um lugar no qual a maioria das pessoas que moram no ‘baixo’ Tatuapé pode ir”, completa Maria Eloíse.
Sem ter muito do que reclamar, os moradores sentem falta de algumas coisas específicas, como área verde - o distrito tem um baixo índice destes espaços por habitante, estimado em 3,86 metros quadrados, muito abaixo dos doze metros quadrados recomendados pela Organização Mundial de Saúde; organização das vias de trânsito, que já não sustentam o crescimento do bairro e acabam influenciando um congestionamento desnecessário nos horários de pico; e mais manutenção do que já existe, para que não se perca, principalmente, áreas historicamente importantes para a cultura do bairro.
Quanto à violência, preocupação constante em centros urbanos, os moradores parecem não lidar. Os olhares se cruzam na hora da resposta, como se um estivesse tentando prever a resposta do outro, como se viesse algum relato de tragédia. Felizmente, o caráter bairrista do Tatuapé deixa a violência mais distante, e guarda o crime apenas ao furto de carros.
Beatriz diz andar mais tranquilamente nas ruas da região do que em qualquer outro lugar da cidade, onde não se sente segura. Ela afirma que já sente a diferença no bairro ao lado, o Carrão. Por outro lado, eles alegam que a vida noturna agitada do Tatuapé aumentou o número de furtos de carros. Emerson, inclusive, já teve seu veículo furtado.
O bairro é, em sua maioria, corinthiano. O clube se instalou no Tatuapé em 1926, quase junto dos pães italianos, e montou a sede no Parque São Jorge. A Silvio Romero, além de ter sido ponto de paquera, caminhada, encontros e despedidas, é também o local de comemoração dos torcedores do time, o ‘bando de loucos’ que carregam suas camisas com orgulho. Emerson e Maria Eloíse relembram que o título mundial do clube em 2012 parou o trânsito nas redondezas da praça, e o feito foi comemorado como se fosse final de Copa do Mundo.
Tantos benefícios fazem do Tatuapé uma espécie de “bolha” na Zona Leste. Ninguém quer sair de lá, e quem vai para o bairro, custa a entrar na tradição local, de enxergar as ruas vizinhas como quem vê e preserva o quintal de casa. Poucos sabem a dura realidade que existe além das estações de metrô Carrão e Tatuapé, onde a miséria e a violência tomam o lugar do amor pelo bairro. Por vezes, se referem à ZL como se fosse outro canto da cidade. Para eles, essa diferença social e econômica tão grande entre distritos vizinhos se dá no fato de que, no início de desenvolvimento da área, a prefeitura tenha impedido a criação de uma favela e transformado o espaço em um clube, que hoje é um dos principais parques do distrito - o CERET (Centro Esportivo, Recreativo e Educativo do Trabalhador).
“Quando pensam em Zona Leste, não pensam no Tatuapé. Pensam em Itaquera, Guaianazes... As pessoas pensam que é um bairro ruim, que só tem gente pobre, que todo mundo rouba todo mundo, que ninguém se respeita, e não é assim, né”, diz Beatriz. A moradora, ao falar sobre as diferenças dos bairros, talvez não tenha notado, mas revelou o que ela mesma pensa sobre as regiões vizinhas. A bolha existe, e é possível senti-la do lado de dentro e fora. “Quando se fala em Zona Leste, já vem na cabeça o lado mais pobre, violento, ela carrega esse estigma ainda. Mas como o Tatuapé e Mooca ficaram mais conhecidos nos últimos tempos, as pessoas já reconhecem mais. Se fala Tatuapé, as pessoas já sabem que é um bairro bom. (...) Mas, quando falamos na Zona Leste no geral, as pessoas até hoje faz bullying: é ‘Zona Lost’, ‘Indiaquera’, ‘Baianazes’...”, diz Emerson.
Os próprios moradores do alto e baixo Tatuapé contribuem para essa distinção. O metrô Tatuapé dá acesso à dois shoppings: o Tatuapé e o Boulevard Tatuapé. O Shopping Tatuapé foi construído antes, é mais movimentado, possui lojas mais populares e, talvez por conta disso, atraia mais as pessoas de menor renda no bairro. Já o Boulevard Tatuapé, mais novo e com lojas menos acessíveis, foi feito pensando no outro público. As pessoas que frequentam o shopping Tatuapé, não frequentam o Boulevard - e o que separa os dois são metros de distância.
É comum encontrar pessoas em situação de rua em diversas partes da cidade, e no Tatuapé não é exceção. Algumas ficam localizadas na conhecida praça Silvio Romero,e convivem pacificamente com os moradores que frequentam ali. Outros, criam pequenos conflitos. “Tem um morador de rua que aborda quem está nas filas dos ônibus. Ele se joga no chão, pede ‘Pelo amor de Deus’, diz que está passando fome, e as pessoas dão dinheiro. Ele ganhou vinte reais só em uma fila. Eu fiquei olhando ele fazer cara de coitadinho e quando ele levantou, começou a olhar pra mim e me xingar, falar ‘Você tá olhando o quê? Não vai me dar dinheiro? Então vai se f****’”, diz Beatriz. Já Maria Eloíse vê os moradores de rua todos os dias e os têm como vizinhos. Tal quais, eles até se conhecem: “Na minha rua tem um albergue, então todos os dias de manhã eu vejo os mesmos mendigos lá. Eles quase sabem meu nome, provavelmente devem saber.”
O Tatuapé é um bairro acolhedor, residencial e, ao mesmo tempo que nos leva para o interior - há famílias que moram por gerações ali e se conhecem a vida inteira -, nos traz para a cidade. Talvez seja seu aspecto interiorano que traz sensação de maior segurança para os moradores. É um distrito democrático, pois abriga diferentes classes econômicas e possui produtos acessíveis a todas as classes; tem lugar para casas, prédios e condomínios; e tem espaço para todos os tipos de pessoas, cada um na sua bolha.