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Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Tatuapé/Turma C

Fonte: Wikiversidade

Texto de Planejamento

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Analisando o Mapa da Vulnerabilidade Social, o Tatuapé apresenta não apresenta privações (identificado pela cor roxa) no centro do distrito, privações muito baixas (rosa) espalhadas por toda a região e baixas privações e idosos (azul claro) na maioria do distrito. Apenas no norte da região é encontrada uma localidade com média privação e adultos (verde) e poucos pontos de média baixa privação e idosos (azul escuro) espalhados pela área estudada.

Segundo o Atlas do Desenvolvimento da Cidade de São Paulo, o Tatuapé apresenta IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de 0,936, em uma área de 8,20 km², o que o coloca na categoria “Desenvolvimento Humano Elevado”. Além disso, Tatuapé é um distrito da Subprefeitura da Mooca, situado na zona leste de São Paulo. O desenvolvimento da região aconteceu de maneira desigual.

A vinda da ferrovia, que hoje serve ao metrô, e a chegada de grandes prédios, fez com que ocorresse uma divisão. O distrito, loteado de condomínios, atraiu famílias com maior poder aquisitivo, motivando o surgimento de estabelecimentos comerciais e de lazer, destinados a atender o novo público da região.

A nova população estimulou cada vez mais o processo de verticalização do bairro, mas em contra partida, não readequou a região às novas mudanças. O trânsito, como foi relatado na primeira visita de campo, piorou desde que os prédios surgiram, pois a concentração de pessoas aumentou, mas o espaço não foi modificado para atendê-las.

Conhecendo o bairro pela primeira vez, nos concentramos na Vila Azevedo, com ênfase na Avenida Apucarana, na Praça Silvio Romero e na Rua Monte Serrat, onde ocorre a predominância da privação muito baixa (rosa) e baixa privação e idosos (azul claro). Nessas localidades, percebemos que há um contraste muito grande entre casas e prédios, contrastando também a população entre jovens e idosos, que desencadeia nas estruturas usadas entre os diferentes grupos.

É por isso que decidimos aplicar nossos questionários nessa região, onde poderemos estudar e entender os motivos da falta de planejamento do bairro, o choque entre gerações dessas localidades, e a popularização dos comércios, que nos últimos anos tiveram um pico de crescimento muito elevado, fazendo com que a variedade de restaurantes e lojas encontradas ali aumentasse.

Além disso, vamos buscar entender também o motivo da mudança de hábitos na Praça Silvio Romero, pois, como foi relatado durante a primeira apuração em campo, antigamente muitas pessoas frequentavam o local para passear com a família, mas agora há muitos moradores de rua e usuários de drogas. Dessa maneira, vamos usar alguns critérios das demais disciplinadas estudadas neste ano. De Realidades Políticas e Socioeconômicas, por exemplo, iremos falar sobre o processo de verticalização e sobre o crescimento desordenado que causa o trânsito.

Para isso, iremos utilizar os estudos de Nadia Somekh e Guilherme Gagliotti que escreveram sobre o crescimento vertical no texto Metrópole e Verticalização em São Paulo: Exclusão e Dispersão. Nesse estudo, os autores explicam como São Paulo é vertical, mas não é densa, os marcos significativos da verticalização e os motivos dos apartamentos de alto padrão no Tatuapé.

Além disso, explicam que a “verticalização de São Paulo expandiu-se pela região metropolitana sem produzir uma cidade compacta, pois a reversão histórica dos investimentos públicos em transporte coletivo produziu uma cidade vertical, mas não densa. E o histórico processo de elitização do crescimento vertical não contribuiu para a redução das desigualdades”. É por isso que estudaremos esses dois autores, para tentar entender a história do crescimento vertical, os fatores das mudanças no local.

Também usaremos a matéria de Economia, para explicar os custos da região. Vamos entender como a concentração de pessoas e comércios afetam a oferta e a demanda dos produtos e preços da região. Segundo os estudos de Mankiw, o preço e a demanda são negativamente relacionados e o preço e a oferta são positivamente relacionados, ou seja, se o preço diminui, a quantidade demandada aumenta, mas se o preço aumenta, a quantidade ofertada aumenta.

Essa última situação fica evidente no custo de um suco que compramos na região, durante a primeira visita de campo. Dez reais foi o preço do produto. Com uma grande variedade de comércios, e, consequentemente, grande quantidade ofertada, o preço subiu e é considerado mais caro se comparado com outras regiões.

Por fim, para exemplificar a nossa rotina de planejamento sobre o Tatuapé, montamos um simples cronograma de atividades:

11/08 – Primeira visita ao bairro

11/08 – Texto de planejamento

30/08 – Submissão do texto de planejamento no site

23/08 – Montagem dos questionários

27/08 – Aplicação dos questionários

30/08 – Entrega dos resultados dos questionários

Para deixar mais organizado nossa rotina para o trabalho dividimos também as responsabilidades de cada participante do grupo. Fernanda Baccaro ficará responsável pelas postagens do texto na Wikiversidade e também pela montagem e aplicação dos questionários. Bianca Sandrine também auxiliará nos questionários e será responsável pela organização do conteúdo. Já as participantes Brida Rodrigues, Mayara Rozário e Denise Kanda farão a pesquisa de campo.

Referências Bibliográficas:

1. Mapa da Vulnerabilidade Social (Centro de Estudos da Metrópole)

2. Atlas do Desenvolvimento da Cidade de São Paulo, 2007

3. Portal da Prefeitura de São Paulo

4. ABARCA, Pedro. "Tatuapé Ontem e Hoje", ed. Rumo, São Paulo, 1997

5. Metrópole e Verticalização em São Paulo: Exclusão e Dispersão - Nadia Somekh e Guilherme Gagliotti

6. As forças de mercado da oferta e da demanda - Mankiw

QUESTIONÁRIO

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1) Qual a sua idade?

  • Até 15
  • De 16 a 25
  • De 26 a 35
  • De 36 a 46
  • Mais que 47

2) Por que frequenta o bairro?

  • Morador
  • Estudo
  • Lazer
  • Comércio
  • Trabalho

3) De que forma se locomove pela região?

  • Metrô
  • Carro
  • Ônibus
  • Trem
  • A pé
  • Bicicleta

4) O que acha da mobilidade da região?

  • Péssimo
  • Ruim
  • Regular
  • Bom
  • Excelente

Por que? _________________________________________________________________

5) O comércio da região atende às suas necessidades?

  • Não atende
  • Razoável
  • Sim, parcialmente
  • Sim, totalmente

6) Você trabalha? Qual profissão?

7) Você considera o trânsito congestionado na região?

8) Você considera os produtos da região caros?

  • Sim, mas caros que outras regiões
  • Igual
  • Não, mais baratos que outras regiões

9) Para você, qual o nível de segurança no bairro?

  • Bom
  • Muito bom
  • Excelente
  • Regular
  • Ruim
  • Muito ruim

Por que? _____________________________________________________________

10) Quais estruturas de lazer o bairro oferece?

  • Bar
  • Balada
  • Shopping
  • Praça
  • Parques
  • Outros:

11) A estrutura das vias públicas permitem acessibilidade dos deficientes? (rampas, elevadores e piso tátil…)

  • Sim
  • Não

12) O bairro possui boa sinalização de trânsito?

  • Sim
  • Não

13) Para você, o bairro possui problemas de iluminação?

  • Sim
  • Não
  • Às vezes

Como considera a qualidade da iluminação?

  • Bom
  • Muito bom
  • Excelente
  • Regular
  • Ruim
  • Muito ruim

14) Como considera a infraestrutura da região?

  • Bom
  • Muito bom
  • Excelente
  • Regular
  • Ruim
  • Muito ruim

15) Você considera que existam muitas ofertas de trabalho no trabalho?

  • Sim
  • Não

16) O que mudou no bairro nos últimos anos?

17) Dê uma nota para o bairro de 0 a 10: ___

Da periferia a bairro de classe média

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Descubra o que a verticalização trouxe ao antigo bairro do Tatuapé

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Seu Manoel espera pacientemente seus colegas. Sentado no singelo banco de pedra da praça Silvio Romero, cartão postal do bairro do Tatuapé, o português está com esperança de se divertir jogando uma partida de dominó. A falta de pressa e a simplicidade na fala de Manoel combina com o endereço em que estamos: uma área verde que cerca a antiga Igreja Nossa Senhora da Conceição. Caminhos de pedras bem feitinhos, árvores e bancos clássicos de praças nos convidam a ficar ali conversando, lendo algum livro e descansando. Essa realidade destoa completamente do resto do Tatuapé. Logo nas ruas adjacentes à Silvio Romero é possível perceber a pressa com que o bairro funciona.

Um jogo de dominó requer paciência. Uma a uma, com muita organização, as peças são colocadas e para que consiga vencer, seu Manoel precisará ser muito cauteloso e calculista. Os prédios são construídos dessa forma: depois de muitas operações matemáticas e estudos, começam a ser erguidos de bloco em bloco e vão alterando a paisagem e a vida local. No entanto, no Tatuapé o crescimento e aparecimento de novos imóveis foi desenfreado e pouco organizado.

Como indica o Censo demográfico do IBGE, entre os anos de 2000 e 2010, o bairro sofreu um aumento significativo do número de domicílios na modalidade de apartamentos e do percentual dessa categoria no total de moradias. Na virada do milênio a quantidade de edifícios era de 11.400, cerca de 44,20% do percentual, entretanto esse número quase dobrou. Em 2010 foram registradas 20.328 unidades e os apartamentos passaram a ser 62,10% do número de moradias da região. Essa mudança de quantidades e o fenômeno da verticalização foram reconhecidos pelos próprios moradores do local. Em pesquisa aplicada no bairro entre os dias 25 e 27 de agosto, os entrevistados apontaram o aumento significativo da quantidade de edifícios.

Saímos em direção à Rua Serra de Bragança, uma das maiores e mais famosas do bairro. No caminho diversos imóveis: dos mais luxuosos - um por andar, com varanda gourmet - até os mais simples e antigos – apenas 3 andares, sem elevadores e nada gourmet. Havia muita complicação para quem transitava de carro já que nossos cansados passos muitas vezes superava a velocidade dos automóveis. “Chegamos!”. Rua Serra de Bragança, 1363, lar do dedicado escritor, historiador e como ele mesmo se denomina “tatuapesista” Pedro Abarca.

Era uma construção antiga denominada Edifício Samambaia, mais tarde descobrimos ser do ano de 1975. Esperamos por cerca de três minutos num sofá nostálgico, semelhante ao de casa de nossas avós. O piso era todo de azulejo bege e cinza, difíceis de ser encontrados ultimamente. Uma mesa de centro feita de mogno e vidro e o teto antigo passando por manutenções formavam toda a viagem no tempo.

Com uma lucidez extraordinária e muita calma, Pedro Abarca, membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e da União Brasileira de Escritores, nos recebeu e contou como as moradias foram aparecendo no bairro desde que ele se mudou para lá no ano de 1939, aos oito anos: “Inicialmente eram chácaras que abriram espaço para as casinhas simples, em terrenos pequenos, feitas pelos operários que vinham trabalhar nas novas indústrias locais”. Com um olhar brilhante e um sorriso nostálgico no rosto ele se recorda: “Na década de cinquenta o padrão de vida era simples. Era tudo meio rústico e bruto, a gente comprava a galinha viva para levar para casa”.

O historiador explica que devido ao crescimento industrial tardio do bairro as empresas tiveram mais tempo e espaço para construir fábricas modernas. O Tatuapé ia crescendo gradativamente e muita gente se mudava para lá; inclusive os donos das fábricas. Havia muito espaço, e os mais ricos investiram em sobrados e em pequenas vilas no local sofisticando e encarecendo o comércio.  “As imobiliárias começaram a perceber que o nível estava mudando e fizeram os primeiros prédios e apartamentos de 3 andares. Isso mais ou menos na década de sessenta”.

A partir desse momento o Tatuapé começou a viver um crescimento demográfico verticalizado que perdura até hoje. O problema, explica Pedro Abarca, é que a estrutura do bairro não acompanhou o movimento. “As vias públicas são antigas. Fiações, calçadas, tubulações de água e esgoto também. São as mesmas ruas da década de trinta. Frequentemente a fiação elétrica é sobrecarregada pelo excesso de apartamentos”.

A verticalização pouco organizada do Tatuapé resultou também em acúmulo de poluição devido à falta de ventilação ocasionada pelos edifícios. Paula Bregiatto e Roberta Astigarraga - tecnólogas formadas pela FATEC Tatuapé - sob orientação de Gilder Nader - físico e pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - organizaram um trabalho que comparava, com o auxílio de maquetes, os prédios localizados na região entre os anos de 2002, 2014 e um futuro de acordo com o plano diretor do bairro. Foi espalhada areia nas miniaturas e incidido sobre elas ventos gerados a partir de um túnel.

O resultado mostra que a verticalização piorou e, se continuar acontecendo, deve atrapalhar mais ainda a circulação de ventos na região, acarretando em ilhas de calor e problemas respiratórios para a população. Mas não só a qualidade de vida foi afetada pelas novas construções. A relação entre as pessoas tornou-se mais fria e distante, como conta o porteiro José Pereira dos Santos. “Na época da Copa do Mundo todos saiam e desenhavam a bandeira do Brasil no chão da rua. Hoje, o bairro é comercial e tudo funciona até nos finais de semana”. Segundo o funcionário, mesmo que existam muitos moradores nos prédios, a estrutura do bairro não permite que eles interajam entre si, usando o espaço.

Foto: Brida Rodrigues

Em uma pequena sala com dois interfones e várias televisões é feito o monitoramento das câmeras e da circulação de pessoas dentro e fora do prédio. A constante passagem de moradores torna o dia mais agitado e o porteiro José precisa ficar atento a entrada e saída de cada pessoa para liberar o portão.

Sendo também zelador do condomínio Villagio, ele atende o tempo todo o telefone para auxiliar os moradores no que for necessário. Com a fala mansa, José mostra-se muito simpático com todos, fazendo questão de cumprimentar as pessoas que passam pela  portaria. Muitos param sobre a janela da pequena cabine onde ele fica para bater papo e conversar sobre os pequenos acontecimentos do dia a dia.

Durante toda a conversa José mostra-se muito articulado com as palavras. Conta que acompanhou de perto as transformações do bairro Tatuapé durante os 19 anos que morou na região. O aumento na demanda de transportes públicos resultou na criação de uma estação de micro ônibus na praça ao lado do prédio onde ele mora. “Antigamente, a praça era um espaço de lazer e convívio social. Hoje, é muito movimentada porque as pessoas que vem pra cá por causa do comércio, por exemplo, circulam na região e ficam ali pra pegar ônibus.”

O lugar é tomado por pessoas apressadas, que precisam pegar o ônibus, o trem ou o metrô para trabalhar. Além da falta de fiscalização e segurança, as ruas não comportam a demanda dos moradores. “A maioria dos prédios possuem duas garagens, o que dá em torno de 200 carros, por condomínio. Cada rua tem aproximadamente três ou quatro condomínios, com duas ou três torres”, conta José.

O telefone da portaria tocou. José, sempre muito simpático, pediu para que retornasse em outro momento, pois estava resolvendo algo importante. Assim, com um sorrisão no rosto, ele prosseguiu a comentar sobre a estrutura do bairro. Para o morador, a Prefeitura não dá assistência nenhuma para a região.  “Essa rua aqui, em todos esses anos nunca pintaram as faixas no chão. Muitas pessoas se confundem e causa maior tumulto porque não sabem que ela é duas mãos”, comenta o porteiro. Para exemplificar a dificuldade de obter um retorno das autoridades, José conta que uma vez uma árvore grande que ficava na frente do prédio caiu, chegando a estragar a calçada e quebrando o muro do prédio. Os moradores fizeram reclamações e solicitações de conserto à prefeitura, mas, mesmo assim, demorou dois anos para o órgão público dar um retorno e resolver o problema.

Em dias de chuva, a situação se agrava. A água que desce do céu custa aos moradores os anos de falta de assistência e de preparo das autoridades em cuidar das redes de captação de esgoto e águas fluviais. No terreno que aloca o prédio em que José trabalha e mora, existiam quatro casas e rede de esgoto suficientes para abastecer essas moradias. Com a demolição dessas construções surgiram 74 apartamentos, mas não houve nenhuma adequação para receber essas novas famílias.

Não muito longe do prédio Villagio, trabalha o taxista Eduardo Silva, que estacionava seu veículo no ponto de táxi localizado na praça Silvio Romero. O homem de 40 anos, enquanto limpa cuidadosamente o retrovisor do carro, relata que os primeiros membros de sua família a residirem no bairro foram seus avós imigrantes, e que se mudaram para lá quando ainda era predominantemente composto por chácaras. Eduardo, também ex-morador do Tatuapé, revela que deixou a região onde viveu toda a sua infância devido ao grande aumento no custo de vida, além da superlotação da região e do trânsito caótico.

Para o taxista, o trânsito, principalmente no período da manhã é muito congestionado, pois a maioria das pessoas costumam sair de suas casas para iniciarem seus afazeres do dia. Observador, seus óculos de sol não deram conta de esconder o olhar inquieto e atento, que se fazia notar a cada movimento a sua volta e a cada manchinha teimosa que insistia em permanecer no retrovisor. Olhando para o local como se buscasse uma imagem passada, diz que percebeu uma mudança constante na região nos últimos quinze anos, afinal, suas lembranças mais antigas do distrito apenas o remetem a casas e pequenas fábricas, o que para ele era muito similar a uma pequena cidade do interior.

Nos dias de hoje, o número de prédios e comércios cresceu amplamente, caracterizando o bairro antigo da zona leste como parte de uma metrópole. Pessoas de diferentes lugares visitam o distrito na maioria das vezes, por conta de sua comercialização, o que teria influenciado diretamente no aumento de preços da região, juntamente com o fácil acesso a diferentes tipos de transportes e a localização de dois shoppings nas proximidades. Com a voz baixa e rouca, o taxista explica que devido a esse fato, o aluguel de uma casa no bairro não sai por menos de mil reais.

A caracterização do Tatuapé à uma zona de comércio trouxe nos últimos anos uma vasta rede de lojas e uma boa mobilidade para que a mesma fosse de fácil acesso. A concorrência, embora em certos momentos bagunçada, satisfaz boa parte da população regional que não vê motivos para ir a outro bairro comprar suprimentos. Porém, para os vendedores, essa grandiosa rede de comércio – legalizada ou não – traz não só benefícios, mas também alguns conflitos e dificuldades que adentram suas lojas e bancas improvisadas.

Cida Pereira é comerciante no bairro há doze anos e enxerga como desleal a concorrência com os ambulantes: "O aluguel de um ponto no Tatuapé é caríssimo, o preço é praticamente igual ao da cidade (centro)", compara a vendedora. Porém mesmo com a ausência do aluguel, alguns fatores como a apreensão de mercadorias, podem custar caro aos camelôs. É o que relata a vendedora ambulante Edinalva Freitas, que já perdeu muito de seu material de trabalho devido às rondas contínuas da polícia por todo o bairro.

A vendedora de falas rápidas e estruturadas parece manter a mesma organização com que se expressa, no modo como cuida das peças de roupa que vende, simetricamente dobradinhas e alinhadas em uma pequena tábua apoiada por duas estruturas de madeira. Trabalhando com o comércio há dezesseis anos, relata que antes de ter um espaço nas calçadas do Tatuapé, costumava vender sua mercadoria na região da Sé, mas que a distância excessiva de sua casa em Itaquera dificultava a rotina, optando por onde está atualmente, próximo a saída do metrô, sentido a Rua Tuiuti.

Foto: Brida Rodrigues

Ao contrário da colega de profissão, Nildo Silva, morador da região de Guarulhos, alega nunca ter tido qualquer problema com os policiais da região, bem diferente do Largo da Concórdia, onde trabalhou anteriormente, tendo prejuízos de mais de mil reais com a apreensão de mercadorias. Um pouco incomodado e agitado, o senhor de cabelos grisalhos e estatura baixa, relata que já sofreu uma ameaça, mas que de qualquer forma, acha muito tranquilo vender seus bonés expostos em uma grande lona azul.

Em meio a muitas lojas e prédios, o bairro ganhou características modernas que atraem pessoas de todos os lugares, seja para dar uma volta pelos shoppings ou para tomar uma cerveja e conversar com os amigos em um dos diversos bares de esquina da região. A paisagem antes ruralizada e tranquila, ainda dá o ar de sua graça quando ruas estreitas são adentradas, se misturando com o concreto, com os altos prédios e com os sons das buzinas que compõem a atual Tatuapé.

Áudio - Entrevistas:

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Áudio com o porteiro José
Entrevista com o taxista
Entrevista com Nildo
Entrevista com Edinalva Freita
Entrevista Pedro Abarca