Trabalho memória
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS
CIÊNCIAS SOCIAIS
MEMÓRIAS INDÍGENAS NO BRASIL: FALAS DA TERRA E A LUTA PELA IDENTIDADE.
Beatriz dos Santos
Marília, Novembro de 2024
INTRODUÇÃO
Quando entramos no assunto memória, constatamos um elemento central na construção da identidade de qualquer povo. No caso dos povos indígenas no Brasil, a memória age como uma ferramenta de resistência, ainda mais após séculos de violência e tentativa de apagamento cultural. Considerando isso, vemos uma necessidade de relatos orais e práticas de memória para uma manutenção da identidade indígena(que é tão importante), podendo proporcionar a união de gerações e lembranças compartilhadas. O documentário que irei focar, "Falas da Terra", fornece um retrato único da memória de várias comunidades indígenas do Brasil. Através de relatos diretos de membros dessas comunidades, não é apenas narrado as lutas diárias pela preservação de suas terras e culturas, mas também revelado como essas memórias contribuem para a construção de uma identidade indígena nos dias de hoje, que resiste à opressão histórica e à exclusão social. Este projeto propõe-se a discutir esta memória apresentada no documentário e a chance que ele oferece aos brasileiros de formar uma identidade nacional.
OBJETIVO
O objetivo principal do projeto, vem como uma proposta para analisar as memórias pessoais e coletivas dos povos indígenas através do documentário e compreender sua contribuição para a construção de uma identidade nacional, além também da resistência cultural e territorial. Outros aspectos importantes de ressaltar: investigação das estratégias e formas de resistência utilizadas, reflexão da importância da preservação da memória para as futuras gerações.
DESENVOLVIMENTO
A memória indígena, como mostrada no documentário, não é apenas uma forma de manter a sabedoria ancestral, mas também um elemento eficaz na luta contra forças que procuram diminuir seus conhecimentos. Ao longo do tempo, os povos indígenas passaram por diversas tentativas de apagamento cultural no Brasil. O genocídio físico e cultural, por meio da colonização, interculturalidade e racismo estrutural foi responsável por tornar estas populações invisíveis e marginalizadas. No entanto, por meio da memória, os indígenas são capazes de resistir a este apagamento e reescrever a história de suas vidas. No documentário "Falas da Terra" que estamos nos baseando, essa resistência é mostrada de forma dolorida, enquanto nós, espectadores, vemos como a memória desempenha um papel em suas lutas diárias pela terra, identidade e preservação da cultura. Cultura essa que é de extrema importância para a forma de vida dentro das comunidades. As línguas, rituais, agricultura e sistemas espirituais e a maneira como são mostrados e descritos, são a manifestação de uma cultura que resiste à homogeneização, que ocorre no Brasil. Assim, a resistência ocorre não só na luta pela terra, mas também na luta pela cultura das comunidades. A memória dos povos indígenas, é vital na narrativa da identidade nacional brasileira. De fato, a história do Brasil é impossível de contar sem levar em consideração o papel preponderante das culturas indígenas na constituição do país. O documentário “Falas da Terra”, portanto, dá a oportunidade de recontar a história de seus habitantes originais, permitindo que seus representantes falem, proporcionando à população geral a oportunidade de entender as lutas, resistência e contribuições.
ENTREVISTA
O documentário já se inicia relatando a falácia de que o Brasil começa sua história a partir do evento tão conhecido “descobrimento do Brasil” , em seguida, uma frase dita pela indígena Lian Gaia, já causa um questionamento “como podem os portugueses marcarem o início da nossa história?”. Ailton Krenak, de Minas Gerais, expõe que a verdadeira história se dá pelos indígenas, mas mesmo sendo os primeiros habitantes do país, seus direitos continuam por serem descredibilizados e a resistência de seu povo, é contínua.
Myrian Krexu, cirurgiã cardiovascular, fala de sua trajetória e decisão em ser médica, a fim de mostrar para o mundo que o indígena também é cientista e seu conhecimento é importante. O documentário vai mostrando a pluralidade desse povo e como eles podem ocupar lugares diversos. Alessandra Korap Munduruku, inicia falando do quão simbólica é a natureza para eles e como ela não é respeitada, mostrando que os indígenas prezam pela preservação de nosso Brasil. Telma Taurepang, foca na resistência, cita um símbolo importante para os participantes da organização do conselho indígena de Roraima: o feixe de vara, pois 1, 2 ou 3 varas são fáceis de serem quebradas, agora 4.000 não. Fernanda Kaingang, Advogada e mestre em direito público, fala do uso da terminologia “povos indígenas” e sua luta, que continua crescendo cada dia mais. Ela cita que a violência contra seu povo é contínua, porém não mostrada. O documentário vai mostrar também Mapulu Kamaiurá, a primeira mulher pajé do Xingu, e como esse cargo que ela ocupa é difícil e espiritual. A mulher vai falando como os símbolos são necessários para eles, o rio, a saúde e a floresta são as coisas mais importantes para ela.
A morte também é retratada no documentário como algo muito doloroso, Valdelice Verón traz o assasinato de seu pai, líder guarani-kaiowá, de forma triste, mas como depois ela ficou com o legado de luta, resistência e sabedoria, onde ela continua batalhando para seu povo existir. Uma parte marcante do relato é o fato dela sentir uma necessidade de não cantar mais o canto da morte e sim da alegria. Fêtxawewe Tapuya Guajajara(liderança e estudante de ciências sociais) inicia seu relato falando sobre a família e seus ensinamentos, em como o espiritual tem que ser cuidado, como a terra mãe precisa ser olhada para que um dia ela possa olhar também. Daniel Munduruku, professor e escritor conhecidíssimo, cita que escreve para as crianças perceberem que essas populações foram importantes para a construção da identidade nacional. Davi Kopenawa novamente traz o tópico, talvez mais falado no documentário, que é a necessidade da preservação das florestas e como o desmatamento feito pelo homem branco é prejudicial para o futuro próximo. Quem cuidou e está cuidando, são os indígenas.
Na sequência, acontece um ensinamento bem interessante pela estudante Maial Kayapú, de como a natureza oferece recursos para o povo fazer suas tintas para pintura. Pintura essa que, no seu povo, é uma tradição de arte feminina suprema, onde é retratada como vestimenta, até mesmo uma armadura. O documentário segue mostrando a pluralidade e os diversos cargos e lugares que os indígenas estão conquistando, mas todos continuam mostrando a mesma coisa: sua luta pela conquista de espaço, sua resistência e seu anseio pela preservação e reconhecimento.
MÉTODOS DE PESQUISA
Análise documental: O primeiro método que irei destacar é a análise do documentário de forma detalhada, destacando os principais temas, relatos e depoimentos apresentados pelos participantes. Através da observação dos aspectos, identificamos os elementos que constituem a memória indígena, como a preservação das tradições, os relatos de resistência e as lutas pelos direitos territoriais.
Pesquisa bibliográfica: Pesquisa realizada em artigo, a fim de situar os relatos do documentário em um contexto mais amplo de discussões.
CONCLUSÃO
Em suma, "Falas da Terra" nos lembra que a memória indígena é um patrimônio cultural e ambiental essencial para todos nós, e que a luta pela preservação de suas terras e culturas não é apenas uma luta deles, mas uma luta que envolve todos aqueles que acreditam na pluralidade cultural e na importância de um futuro sustentável para o Brasil. Ao compreender e respeitar a memória indígena, podemos não apenas apoiar suas causas, mas também enriquecer nossa própria visão de mundo e nosso compromisso com a preservação do que é genuinamente humano.
BIBLIOGRAFIA
REDE GLOBO. Falas da Terra. Rio de Janeiro: Rede Globo, 2021. 1h.
SILVA, E. C. de A. Povos indígenas e o direito à terra na realidade brasileira. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, v. 134, p. 145-162, jan./mar. 2018.