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Trabalho memória: Giovana Astolfi Moura

Fonte: Wikiversidade


Giovana Astolfi Moura

Prof. Paulo Eduardo Teixeira


HISTÓRIA DO BRASIL II: pé-de-veludo - memória de um imaginário popular mariliense

Introdução

Guaracy Marques Pinto, mais conhecido como pé-de-veludo, foi um popular criminoso atuante em Marília entre 1958 e 1964, ano de sua morte, ganhando seu apelido popular, pela habilidade de invadir propriedades sem fazer barulho.

este trabalho tem como finalidade, entender como este imaginário coletivo foi construído no município de Marília a respeito do dessa figura, e como o cometa e jornais fizeram parte e _ainda o fazem_ da construção coletiva dessa memória. para isso, é essencial explorar a memória coletiva dos marilienses, relatos fotográficos, cinema e noticiários a respeito desse personagem, que,  até a atualidade[1] é lembrado pelos marilienses.


Marília e Cinema


Nas últimas décadas, a historiografia especializada nos temas que envolvem a relação entre história e cinema tem ampliado a discussão sobre a reconstituição histórica através da narrativa cinematográfica. Ao tratar o audiovisual como documento histórico, Mônica Almeida Kornis afirma ser:


[...] uma de suas mais importantes características a identificação de novos objetos e novos métodos, contribuindo para uma ampliação quantitativa e qualitativa dos domínios já tradicionais da história. Foi no âmbito da Nova História que a história das mentalidades ganhou um impulso maior — apesar de já enunciada desde a École des Annales enriquecendo o estudo e a explicação das sociedades através das representações feitas pelos homens em determinados momentos históricos. Foi essa mesma concepção que impulsionou um campo ainda mais vasto de reflexão, o da história do imaginário (Kornis, 1992, p. 238).


Desde sua primeira edição em 1960, o Festival de Cinema em Marília _que foi um dos Primeiros Festivais de Cinema no Brasil sendo organizado no município de Marília_ tem desempenhado um papel importante na promoção da cultura cinematográfica, principalmente na região.


Anexo I – Divulgação Jornal do primeiro festival de cinema de Marília em 1960


Anexo II - Cartaz do primeiro festival de cinema de Marília


Por volta dos anos 70, o cinema já estava consolidado como uma arte de massa e influenciava significativamente a forma como as pessoas percebiam e estruturavam o mundo (KORNIS, 1992, p. 1), o que acontece com município de Marília e sua história com o cinema.

Em 2018, foi produzido um documentário experimental, de 51 minutos, pelo diretor Marcelo Colaiacovo e Nilson Primitivo. O filme circulou pelo Brasil na Mostra do Filme Livre 2018, via CCBBs, exibido dia 18/06/2018 no Cine Vila Rica, durante a Mostra Contemporânea do Festival Cine OP[2] em Ouro Preto – MG.

Em 2024 foi produzido o curta, pelo cineasta brasileiro, tambem mariliense, Rodrigo Grota, intitulado: O Assassinato de Pé de Veludo e terá sua pré-estreia no dia 07/12/2024 nos cinemas de Marília, revivendo novamente a história desta figura mariense.

Anexo III - O cartaz de “Pé de Veludo” segue a estética de divulgação cinematográfica dos 1950. (Imagem: IMDb/Reprodução)


Pé-de-Veludo


Guaracy Marques Pinto, conhecido como Pé-de-Veludo na cidade de Marília, que além de realizar assaltos de forma silenciosa, era considerado uma espécie de Robin Hood pela população. Sua Morte ocorreu em 9 de dezembro de 1964, com a chegada de um novo delegado em Marília. Aos 21 anos, foi morto por uma bomba de gás cloro, cujo uso militar já tinha sido proibido após a Segunda Guerra. Sua morte foi divulgada nos jornais do estado de São Paulo:

Anexo IV - O Diário SP - 1939 a 1967 - Santos, 11 de Dezembro de 1964.


A forma com que Guaracy Marques Pinto morreu, despertou na sociedade uma simpatia por ele, e ao longo do tempo, foi transformando suas ações em algo benéfico para a sociedade local. Para Durkheim o crime é considerando-o um fato social normal e essencial. Segundo ele, o crime faz parte da natureza humana e está presente em todas as épocas e classes sociais. Segundo o autor “o crime é normal porque uma sociedade isenta dele é completamente impossível". (DURKHEIM, Émile 1966, pp. 83.)

A performance de Pé-de-Veludo, a forma de sua morte aliada aos valores da sociedade construídas de forma coletiva na cidade de Marília, pelo cinema e noticiários, reforçou, em alguns aspectos, o seu significado para a população, tanto em vida quanto após a sua morte.


CONCLUSÃO


Todos esses fatores, como construção de uma memória coletiva, e formação do imaginário popular por meio da contínua reprodução, como vemos em filmes produzidos no município, reportagens anuais com divulgação de números recordes de visitação ao túmulo, jornais, artigos e também na reordenação dos significados sobre Pé-de-Veludo, foi criado um universo de ideias, sentimentos e imagens que integram as relações entre o homem e os significados construídos sobre essa figura, Pé-de-Veludo. Esta memória coletiva, de um herói estilo Robin Hood[3], também reflete uma demanda popular ou justiça social explicada pelo fato social de Durkheim, este personagem que supostamente faz uma justiça social, é uma consequência desse desejo da população.


REFEÊNCIA:


DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. SP: Nacional, 1966, pp. 83.

SOUTO, Ariovaldo Nesso. Marília, do passado ao novo milênio Tomo I 1905 – 1949. 2003.

VERDI, A. M. Deus e diabo nas pontas de um Pé-de-Veludo: estudo de uma personagem contraditória no imaginário popular mariliense. 2009. 127f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2009.

Thiago Henrique de Almeida Bispo: O CINEMA NA CIDADE: DO MUNICIPAL AO PEDUTI MARÍLIA-SP (1927-2000)

Jornal, O Diário SP - 1939 a 1967 - Santos, 11 de dezembro de 1964. Disponível em: https://memoria.bn.gov.br/DocReader

Alves, Giovanni. Tela CRÍTICA. Disponível em: http://telacritica.blogspot.com/ Acesso em: 11 nov. 2024.

Programação de Agenda exibição: 13ª CINEOP -MOSTRA DE CINEMA DE OURO PRETO E O PROGRAMA CINEMA SEM FRONTEIRAS 2018. Disponível em: https://universoproducao.com.br/source/13_CineOP/COMPLETO_FolderProg_13CineOP.pdf. Acesso em: 11 nov. 2024.

KORNIS, Mônica Almeida. História e Cinema - Um Debate Metodológico. Revista Estudos Históricos. Vol 5, no 10. 1992. Disponível para consulta em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/1940

KORNIS, Mônica Almeida. História e Cinema: um debate metodológico. Estudos históricos, Rio de Janeiro, vol.5, n.10, 1992, p.237-250.







[1] Entendemos por atualidade o ano de 2024.

[2]  A Mostra Contemporânea é uma das atrações da CineOP, a Mostra de Cinema de Ouro Preto, que ocorre anualmente na cidade de Ouro Preto, Patrimônio Histórico da Humanidade: A Mostra Contemporânea apresenta filmes que abordam o Brasil a partir de diferentes abordagens, leituras e sistemas estéticos. Os filmes dialogam com o passado e a produção de memórias, e servem como um convite à memória e um modelo de ação para o futuro.

[3] O mito de “Robin Hood” caracteriza-se pela figura do bandido social, ou, criminoso que transgride a lei, a fim de representar o povo em suas reivindicações e ser legitimado por este mesmo povo. Sobre o bandido, social, ver HOBSBAWN, E. J. Bandidos. RJ: Forense, 1975.