Utilizador:Fernanda Zucki/Compreendendo a Audiometria tonal liminar/Realização e aplicações clínicas
Realização e Aplicações Clínicas
[editar | editar código-fonte]A Audiometria Tonal Liminar (ATL) é um teste subjetivo, considerado o padrão ouro da avaliação audiológica. A ATL integra a avaliação audiológica que tem como objetivo principal determinar a integridade do sistema auditivo, além de identificar tipo, grau e configuração da perda auditiva em cada orelha.[1]
Assim, a ATL é realizada com diferentes objetivos que vão desde:
- Detectar a existência de perda auditiva em crianças, adultos e idosos;
- Auxiliar o topodiagnóstico das lesões auditivas que possam atingir estruturas das orelhas externa média ou interna;
- Determinar e acompanhar a audição de trabalhadores expostos a ruído e demais agentes otoagressores ao sistema auditivo;
- Definir o tipo de perda auditiva – comparação limiares tonais VA - VO;
- Determinar o grau da perda auditiva;
- Monitorar a efetividade da intervenção médica pré e pós tratamento;
- Fornecer dados para a indicação de AASI;
- Avaliar a necessidade e o benefício com o uso de AASI.
Seu resultado é considerado compatível a partir da análise da história clínica do indivíduo e das avaliações com ele realizadas.
Limiar auditivo
[editar | editar código-fonte]A base da ATL é a determinação dos limiares auditivos, que consiste em uma energia acústica audível (nível mínimo de pressão sonora que gera uma sensação auditiva).[2] O limiar auditivo corresponde, então, à menor intensidade sonora em que o indivíduo é capaz de detectar 50% do sinal acústico apresentado. Observe o esquema na figura 1. Ele representa as vias em que os limiares auditivos são pesquisados, bem como as frequências que as compõem.
Conforme já apresentado nesse módulo tem-se como padrão de normalidade para limiares auditivos por condução aérea, para adultos, 25 dB e para crianças até 7 anos, 15 dB. Já para os limiares obtidos por condução óssea, o padrão de normalidade é de 15 dB, independente da faixa etária.
Técnicas para a determinação dos limiares auditivos por condução aérea e óssea
[editar | editar código-fonte]Atenção especial deve ser dada ao momento chamado pré-teste, para os seguintes aspectos:
- Realizar uma boa Instrução ao paciente
- Definir com o paciente como deverá responder para os estímulos apresentados
- Colocação / ajuste dos fones (visando evitar o colabamento do meato acústico externo)
- Acessórios utilizados pelo paciente (brincos, óculos, piercings, entre outros) que possam interferir na realização dos procedimentos
- Orelha de início do teste (optar pela orelha de melhor audição reportada pelo paciente)
- Interação / observação da resposta pelo fonoaudiólogo.
Com o momento pré-teste finalizado, inicia-se efetivamente a pesquisa dos limiares auditivos por condução aérea e, se necessário, por condução óssea. Existem diferentes técnicas possíveis de serem utilizadas para a obtenção dos limiares auditivos, conforme apresentado na próxima figura 2:
Método descendente
[editar | editar código-fonte]Este método pode ser considerado o mais comumente utilizado na prática clínica. O fonoaudiólogo deverá:
- Iniciar o teste numa intensidade audível;
- A cada resposta positiva, diminuir a intensidade em 10 dB, repetindo esse procedimento até que o paciente não responda mais;
- Aumentar a intensidade de 5 em 5 dB até o paciente voltar a responder;
- A partir desse momento, apresentar 4 estímulos em cada intensidade até encontrar a menor intensidade na qual o paciente responda a 50% dos estímulos, ou seja, o limiar auditivo.
Deve-se ainda, levar em conta, durante a pesquisa dos limiares auditivos, os seguintes aspectos:
- Intensidade inicial da pesquisa do limiar: deve ser audível para o paciente → indivíduos sem queixa ou queixa discreta iniciar em torno de 50 dBNA;
- Duração do estímulo → em torno de 2 a 3 segundos;
- Tipo de estímulo: contínuo, pulsátil ou modulado (warble) → esse último recomendado para pacientes com queixa de zumbido;
- Sequência de apresentação: 1000, 2000, 3000, 4000, 6000, 8000, 500 e 250 Hz (perdas auditivas de grau severo a profundo → iniciar a pesquisa de limiar pelas frequências de 250 ou 500Hz);
- Frequências intermediárias: 750 e 1500 Hz → devem ser pesquisados os limiares auditivos destas frequências quando houver uma diferença de pelo menos 20 dB entre as frequências subsequentes);
- Não realizar apresentação ritmada do estímulo;
- Não fornecer para o paciente pistas durante a apresentação do estímulo (ex: movimento dos olhos a cada apresentação; movimentos de mãos e ombros que possam ser vistos pelo paciente).
Audiograma e simbologia
[editar | editar código-fonte]Os limiares auditivos obtidos devem ser representados graficamente no audiograma, que utiliza um sistema de símbolos padronizados. O audiograma é construído como uma grade, na qual as frequências, em Hertz (Hz), estão representadas em escala logarítmica no eixo da abscissa, e o nível de audição (NA), em decibel (dB), no eixo da ordenada. Para garantir dimensão padronizada do audiograma, cada oitava na escala de frequências deve ser equivalente ao espaço correspondente a 20 dB na escala do nível de audição. O eixo da abscissa inclui as frequências de 125 Hz a 8.000 Hz, com a legenda de “Frequência em Hertz (Hz)”. Já o eixo da ordenada inclui níveis de audição de -10 dB a 120 dB NA com a legenda de “Nível de Audição em Decibel (dB NA)”.
O audiograma e o sistema de símbolos recomendados pela ASHA (1990)[3] encontram-se, a seguir, na Figura 3 e Quadro 1.
Os símbolos audiométricos foram estabelecidos para diferenciar, independentemente das cores:
a) orelha direita da orelha esquerda;
b) condução aérea de condução óssea;
c) limiares mascarados de limiares não mascarados;
d) presença de resposta e ausência de resposta;
e) tipo de transdutores (fone supra aural ou de inserção, vibrador e alto-falante) utilizado para a apresentação do estímulo.
Parecer audiológico
[editar | editar código-fonte]Conforme estabelecido pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia, o fonoaudiólogo é o profissional capacitado para avaliar a audição, emitindo o parecer audiológico. Este parecer consiste em determinar o tipo, o grau e a configuração da perda auditiva, de acordo com a literatura adotada.
Classificação quanto ao tipo de perda auditiva
[editar | editar código-fonte]A classificação do tipo de perda auditiva tem por objetivo realizar o topodiagnóstico da alteração, ou seja, o local do sistema auditivo acometido. Com base na classificação de Silman e Silverman (1997)[4], são três os tipos de perda auditiva:
- Perda auditiva condutiva: limiares auditivos por condução óssea menores ou iguais a 15 dB NA e limiares auditivos por condução aérea maiores que 25 dB NA, com gap aéreo-ósseo maior ou igual a 15 dB;
- Perda auditiva sensorioneural: limiares auditivos por condução óssea maiores do que 15 dB NA e limiares auditivos por condução aérea maiores que 25 dB NA, com diferença aéreo-ósseo de até 10 dB;
- Perda auditiva mista: limiares auditivos por condução óssea maiores do que 15 dB NA e limiares auditivos por condução aérea maiores que 25 dB NA, com gap aéreo-ósseo maior ou igual a 15 dB.
Classificação quanto ao grau de perda auditiva
[editar | editar código-fonte]Diferentes são as referências que podem ser utilizadas para estabelecer a classificação do grau da perda auditiva. Basicamente, a classificação do grau é realizada pela definição da média tritonal das frequências de 500, 1000 e 2000 Hz, Lloyd e Kaplan[5] e Davis[6][7] ou a partir do estabelecimento da média quadritonal das frequências de 500, 1000, 2000 e 4000 Hz, como a Bureau International d’AudioPhonologie (BIAP)[8] ou a Organização Mundial da Saúde[9].
O fonoaudiólogo tem autonomia para escolher a classificação do grau da perda auditiva a ser utilizada, sendo necessário, porém, indicar a classificação adotada.
Os quadro 2 e 3 apresentam duas das classificações mais frequentemente utilizadas:
Classificação quanto à configuração da perda auditiva
[editar | editar código-fonte]Para se determinar a configuração da perda auditiva é necessário verificar o “traçado” dos limiares auditivos obtidos por condução aérea de cada orelha, ou seja, como eles estão dispostos no audiograma.
Uma vez finalizada a determinação do tipo, grau e configuração da perda auditiva, inicia-se efetivamente a elaboração do parecer audiológico.
Deve constar no parecer audiológico, seja em forma de relatório ou ficha audiológica, os autores que embasaram a construção do parecer. Sendo assim, três são as possibilidades de parecer audiológico:
Em caso de limiares auditivos normais:
[editar | editar código-fonte]Limiares auditivos dentro do padrão da normalidade (Referência, Ano).
Em caso de perda auditiva com mesmo grau, tipo e configuração:
[editar | editar código-fonte]Perda auditiva do tipo XXX, de grau XXX e configuração XXX bilateralmente (Referências, Anos).
Em caso de perda auditiva com tipo e/ou grau e/ou configuração diferentes:
[editar | editar código-fonte]Perda auditiva do tipo XXX, de grau XXX e configuração XXX à direita (Referências, Anos)
Perda auditiva do tipo XXX, de grau XXX e configuração XXX à esquerda (Referências, Anos)
Em casos onde não é possível determinar o tipo de perda auditiva:
[editar | editar código-fonte]Quando os limiares auditivos obtidos por condução aérea estiverem rebaixados nas frequências de 250 Hz, 6000 Hz, 8000 Hz, ou seja, frequências onde não se realiza a pesquisa do limiar auditivo por condução óssea, no parecer audiológico deverá constar:
Perda auditiva na(s) frequência(s) xxxxx à direita/à esquerda/bilateralmente.
Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ LOPES, A.C.; MUNHOZ, G.S.; BOZZA, A. Audiometria tonal liminar e de Altas Frequências. In: BOÉCHAT, E. M., et al., Tratado de audiologia. São Paulo: Santos. 2 ed. p. 57-67, 2015.
- ↑ Catalog of American National Standards on Acoustics, Catalog 9‐1990. The Journal of the Acoustical Society of America 88, 582 (1990); https://doi.org/10.1121/1.399903
- ↑ AMERICAN SPEECH-LANGUAGE ASSOCIATION (ASHA). Guidelines for audiometric symbols. Suppl 2, p. 25-30, 1990.
- ↑ SILMAN, S.; SILVERMAN, C. A. Basic audiologic testing. In SILMAN, S.; SILVERMAN, C. A. Auditory diagnosis: principles and applications. San Diego: Singular Publishing Group. p. 44-52, 1997.
- ↑ LLOYD, L. L.; KAPLAN, H. Audiometric interpretation: a manual of basic audiometry. Baltimore: University Park Press. 1978
- ↑ DAVIS, H. Hearing Handicap, Standards for Hearing, and Medicolegal Rules. In Hearing and Deafness. DAVIS, H. et al., 1970. p. 270.
- ↑ DAVIS, H. Hearing Handicap, Standards for Hearing, and Medicolegal Rules. In Hearing and Deafness. DAVIS, H. et al., 1978. p. 271.
- ↑ INTERNATIONAL BUREAU FOR AUDIOPHONOLOGY. 1996. BIAP. Recommendation 02/1: Audiometric Classification of Hearing Impairments. Disponível em: https://www.biap.org/en/recommandations/recommendations/tc-02-classification/213-rec-02-1-en-audiometric-classification-of-hearing-impairments/file
- ↑ ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS). Prevention of blindness and deafness. 2020. Disponível em: http://www.who.int/publications-detail/ basic-ear-and-hearing-care-resource.