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Utilizador:JaquelineOSantos01

Fonte: Wikiversidade

Unesp        

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA CÂMPUS DE MARÍLIA

Faculdade de Filosofia e Ciências

CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

(Fundado em 1963)

TRABALHO SOBRE MEMÓRIAS

Disciplina: História do Brasil I

Prof. Paulo Eduardo Teixeira

Nome do/a Aluno/a: JAQUELINE DE OLIVEIRA DOS SANTOS

Turma 2024 ( ) Manhã (x) Noite

O impeachment de Collor e as Manifestações dos Caras-Pintadas: Uma análise dos movimentos que marcou a política do Brasil.

INTRODUÇÃO:

Este trabalho procura trazer uma ampla análise sobre o governo do ex-presidente Fernando Collor De Melo (focando principalmente nas manifestações e no processo de impeachment do então presidente), desta forma, este trabalho contará com algumas referências bibliográficas que ajudem a contar o período citado.

As memórias de cunho individual ou coletiva são de suma importância para compreendermos a nossa existência, no caso tratado aqui o uso das memórias coletivas e individuais servem de reflexão para entendermos como a nossa política se formulou desde aquele momento até chegar nos dias de hoje. É de suma importância a reflexão dos momentos colocados aqui neste trabalho, o presente momento em que iremos nos dirigir a atenção nos transporta para um passado não tão distante, por isso para nos ajudar em nossa análise, o trabalho foi dividido em duas partes, a primeira parte contará os momentos marcantes do governo Collor, já a segunda irá contar sobre as manifestações contra o governo e o impeachment, partindo da perspectiva das memórias empresas no artigo “De estudantes a cidadãos: “Rede de Jovens e Participação Política”, e no documentário “Era Uma Vez Um Presidente: Collor, o impeachment e os Caras-Pintadas”, o documentário e o artigo ajudam a reforçar as memórias do período Collor, desta forma podemos ter uma ampla visão de como foram os acontecimentos daquele período.

OBJETIVOS CENTRAIS:

Este artigo tem o objetivo de trazer relatos e memórias das manifestações anti-collor e do processo de impeachment, ressaltando que o uso de artigos e documentários que contam sobre a época citada são importantes para que possamos resgatar as memórias que nelas foram registradas.

Contudo é importante colocarmos que o período “Collor” trouxe marcas para o nosso país que até nos dias de hoje são notáveis, por isso a importância do artigo para que possamos nos referir corretamente a este período que passamos. Segue abaixo a primeira parte do artigo.

A REDEMOCRATIZAÇÃO E O FIM DA DITADURA:

Após mais de duas décadas de regime militar (1964-1985), o Brasil passou por um intenso processo de redemocratização. Em 1984, a campanha das “Diretas já” mobilizou milhões de brasileiros que pediam o retorno das eleições diretas para presidente. A proposta de eleições diretas na época não foi aceita pelo Congresso, mas a pressão popular contribuiu para o fim do regime militar e a escolha de um presidente civil, Tancredo Neves, eleito pelo Congresso. Porém, Tancredo faleceu antes de tomar posse, seu vice, José Sarney, assumiu a presidência. Sarney governou o país entre 1985 e 1990, seu mandato sofreu com uma grave crise econômica, hiperinflação e desafios de estabilização econômica.

O período Sarney que foi marcado por inflação descontrolada e várias tentativas fracassadas de estabilização, como o Plano Cruzado, que acabou resultando em alta de preços e em frustrações generalizadas. Assim, este contexto abriu espaço para uma forte demanda por mudança no país.

A PRIMEIRA ELEIÇÃO DIRETA PÓS-REDEMOCRATIZAÇÃO:

A constituição de 1988, chamada de “Constituição cidadã”, trouxe vários direitos sociais e políticos e identificou uma estrutura democrática que marcou o novo período no Brasil. Desta forma o Brasil se preparou para a primeira eleição direta para presidente em quase três décadas.

Nesse cenário de redemocratização e busca por renovação, Collor apareceu como uma alternativa política. Em um campo eleitoral fragmentado, ele se destacou como um candidato independente, jovem e aparentemente desvinculado das antigas elites políticas, no qual se diferenciava dos outros políticos da época. A eleição de 1989 teve dois turnos, o primeiro realizado em uma quarta-feira 15 de novembro e o segundo turno em 17 de dezembro, no qual contou com Collor e Luiz Inácio Lula da Silva, que disputaram a presidência.

Collor em sua campanha usou táticas agressivas, focando na ideia de que Lula representava uma ameaça ao país devido a sua política voltada aos trabalhadores e seu histórico sindical. Ele explorou o medo e a insegurança da classe média e dos setores conservadores quanto às mudanças que Lula poderia representar. Nos debates presidenciais, Collor se apresentava como uma figura articulada e jovem, fazendo assim um contraste com a imagem de Lula, que era o candidato das classes populares, e ainda inexperiente. Assim, em um dos últimos debates políticos, Collor atacou a imagem pessoal de Lula, o que o ocasionou, no que muitos acreditam na vitória de Collor.

Outro fator importante para a vitória de Collor foi o apoio explícito e implícito de setores da mídia brasileira. A rede Globo, por exemplo, foi muitas vezes acusada de favorecer Collor em reportagens e na cobertura dos debates, uma questão que até hoje é lembrada como uma das polêmicas dessa eleição. Desta forma, ajudou a influenciar a percepção pública de Collor como um “salvador da pátria” capaz de solucionar os problemas econômicos e morais do país.

Com isso, Collor venceu o segundo turno com uma vantagem de um pouco mais de 5% dos votos válidos, tornando-se o primeiro presidente eleito pelo voto popular depois da Ditadura militar. Sua vitória representou o desejo de grande parte da população por renovação, mudança e combate à corrupção, no qual não se concretizou.

OS PRIMEIROS ANOS DE MANDATO DE COLLOR:

O primeiro ano do governo do então presidente Fernando Collor de Mello, empossado em março de 1990, foi marcado por mudanças profundas e medidas polêmicas que impactaram a sociedade e a economia brasileira de forma intensa e imediata. Collor assumiu o poder em um momento de grande expectativa por renovação e prometeu combater o que ele chamava de “Marajás” do serviço público, reduzir o tamanho do estado e implementar uma política econômica de choque para combater a hiperinflação, um problema que assolava o Brasil a décadas.

Logo nos primeiros dias de governo Collor lançou o Plano Brasil Novo, conhecido popularmente como “Plano Collor”. Além do congelamento dos investimentos financeiros, o plano incluía uma série de medidas de ajuste fiscal, como a extinção dos órgãos públicos e a demissão de funcionários, reduzindo o déficit e o tamanho do estado. O impacto do plano Collor foi imediato, mas a inflação, apesar de uma queda inicial, voltou a crescer nos meses seguintes. A confiança da população e dos setores produtivos no governo foi abalada pelo confisco das poupanças, o que levou a uma retração do consumo e da atividade econômica.

No seu primeiro ano, Collor também iniciou uma série de reformas administrativas voltadas para o combate à corrupção e a redução de burocracia, tentando colocar em prática o discurso de “Caçador de Marajás”. O governo Collor promoveu auditorias em empresas públicas e tentou mostrar uma postura de combate à corrupção, embora denúncias de irregularidades e favoritismo logo começaram a aparecer, comprometendo o seu mandato como presidente da república.

O primeiro ano de governo Collor também foi marcado pela abertura econômica e a tentativa de reposicionar o Brasil no cenário internacional. O então presidente tentou alinhar o Brasil com os países desenvolvidos e iniciou um processo de abertura ao comércio exterior, enfraquecendo as barreiras protecionistas e incentivando a entrada de produtos importados no país. A lógica do então governo era que a concorrência internacional pudesse ajudar a modernizar a indústria nacional e torná-la mais competitiva.

Na política externa, Collor também quis marcar o governo com uma postura inovadora, trazendo o Brasil para o centro das discussões ambientais globais, ao querer trazer a realização da “CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS” sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento no Rio De Janeiro em 1992 (ECO-92).

O “Plano Collor” não conseguiu controlar a inflação de forma sustentável, e a economia estagnada, o que afetou tanto a classe média quanto os trabalhadores em geral. A combinação de inflação alta, desemprego e descrédito levou a um desgaste político significativo para Collor, e sua imagem de “salvador da pátria” começou a se desintegrar. Enquanto tentava sustentar as medidas de austeridade e abrir o país para o mercado internacional.

O governo de Fernando Collor foi marcado por uma tentativa de reformar a economia e o Estado, mas suas medidas conseguiram ter um impacto social e econômico altamente controverso. O confisco das poupanças e a austeridade fiscal acabaram por enfraquecer sua imagem diante da população brasileira, enquanto a abertura econômica enfrentava resistência e trazia consequências para a indústria nacional. O descontentamento da população com o governo cresceu rapidamente, pavimentando o caminho para crises mais intensas nos anos seguintes, que culminaram com seu processo de impeachment em 1992. Dito isto, aqui se encerra a primeira parte deste trabalho, agora começaremos a analisar as memórias das manifestações anti-Collor e o processo de impeachment de Collor.

PARTE 2 DO TRABALHO:

Na parte dois deste trabalho, vão ser colocados relatos diretos e indiretamente de pessoas que viveram o período Collor, aqui o intuito é conseguirmos chegar a uma reflexão do período, por meio do artigo:

De Estudantes a Cidadãos: Redes de Jovens e participação Política. E o documentário: Era Uma Vez Um Presidente: Collor, Impeachment e os Caras Pintadas. Iremos começar por uma análise do movimento dos Caras-Pintadas, pois é crucial entendermos o movimento e as manifestações, para assim compreendermos o processo de impeachment do ex-presidente, e que assim possamos entrar na análise do artigo e do documentário, fazendo a exposição das memórias e criando uma reflexão a partir delas.

AS MANIFESTAÇÕES ANTI-COLLOR: O movimento dos Caras-Pintadas.

As manifestações anti-Collor, que ganharam força em 1992, representam um marco na história política brasileira e um símbolo da participação ativa da sociedade civil na defesa da ética e da justiça. O movimento dos Caras-pintadas foi impulsionado por estudantes, especialmente membros da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), que se organizaram para protestar contra a corrupção.

“No dia 13 de agosto o então presidente fez um pronunciamento em rede nacional de televisão, pedindo apoio à nação. O presidente convocou a população a vestir as cores nacionais (verde e amarelo) e sair pelas ruas no domingo (dia 16), em resposta aos que o acusavam”. Assim, milhares de jovens tomaram as ruas das capitais do país incluindo: São Paulo, Rio De Janeiro e Brasília, vestindo inicialmente roupas negras, e com o rosto pintado da mesma cor, em sinal de luto pela corrupção do país.

Um movimento ainda maior marcado no dia 25 de agosto chamou a atenção da mídia nacional e internacional. O “Movimento Pela Ética Na Política” necessitava de maior engajamento da população nas manifestações. Porém cada vez mais foi crescendo o número de pessoas nas manifestações, então na manhã do dia 25 de agosto, cerca de 400 mil jovens tomaram o Vale Do Anhangabaú (São Paulo), Recife (100mil) e Salvador (80mil). Armados com faixas, cartazes e palavras de ordem, esses manifestantes adotaram um visual único, pintando os rostos em verde e amarelo, uma marca visual que logo se tornou um símbolo do movimento.

A ideia de pintar os rostos em verde e amarelo surgiu como uma forma de demonstrar o patriotismo e a luta pelo Brasil, além de um desejo de que o governo fosse limpo e representativo dos interesses do povo. As palavras “Fora Collor” e “Basta De Corrupção” ecoavam pelas ruas, e slogans como “Eu te amo, meu Brasil, mas não suporto essa corrupção”, expressavam a insatisfação com a falta de ética do governo.

Por outro lado, a mídia desempenhou um papel crucial durante as manifestações. Diferente das épocas anteriores, quando os meios de comunicação puderam abafar denúncias contra o governo, as reportagens e as coberturas televisivas foram fundamentais para ampliar o alcance das denúncias e para mobilizar a sociedade. Jornais, revistas e redes de televisão transmitiram imagens das manifestações, e muitos veículos de comunicação passaram a fazer campanhas diretas pelo impeachment de Collor.

Figuras públicas, intelectuais e artistas começaram a se posicionar contra o governo, unindo forças com os jovens e ampliando ainda mais a pressão sobre o Congresso para que Collor estivesse afastado do poder. A indignação coletiva, amplificada pela mídia, ajudou a transformar as manifestações estudantis em um movimento.

As manifestações anti-Collor permaneceram até hoje na memória coletiva como um momento de forte participação política e de cidadania. O movimento dos Caras-Pintadas simbolizou a força e a união do povo brasileiro, especialmente da juventude, na luta contra a corrupção e em defesa da democracia. O movimento mostrou que a mobilização popular pode influenciar as decisões políticas e que o descontentamento coletivo pode levar a mudanças.

Além disso, o episódio evidenciou a importância da liberdade de expressão e de uma mídia independente para uma democracia saudável. Essa experiência marcou uma geração e se tornou uma referência de mobilização social para futuras gerações, fortalecendo a confiança do povo na sua capacidade de influenciar determinados assuntos políticos.

REFLEXÃO E ANÁLISE SOBRE O ARTIGO: DE ESTUDANTES A CIDADÃOS: REDES DE JOVENS E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA.

O artigo “De Estudantes a Cidadãos: Redes de jovens e Participação Política”, traz uma análise crítica dos movimentos anti-Collor e dos movimentos que pediam o fim da ditadura militar, a análise trazida pelo o autor é com base em relatos, documentos e jornais da época que contam um pouco das manifestações, o artigo seguiu um tom analitco serio. Assim, o artigo traz a caracterização da juventude que participou das manifestações como “geração shopping center”, pois muitos viam nessa nova geração pouco apego com a importância de se manter engajado na política do país, como fica claro no trecho abaixo, originalmente chamado como “Batalha das interpretações".

“A BATALHA DAS INTERPRETAÇÕES":

Quando milhares de jovens brasileiros — a maior parte de classe média — saíram às ruas para protestar contra a corrupção no governo do presidente Fernando Collor de Mello, eles pegaram a maioria dos brasileiros (incluindo os próprios jovens) de surpresa. Reportagens na grande imprensa retratavam o ceticismo e desinteresse político da “geração shopping

center”, nascida durante a ditadura e criada entre as expectativas crescentes e desilusões sucessivas da lenta e conservadora transição à democracia”.

O trecho acima mostra uma crítica a geração de 1992, porém a surpresa pelo posicionamento político daquela geração que no qual muitos não enxergavam como um expoente no futuro político, mas a surpresa de muitos foi pelo fato de que os jovens que estavam nas manifestações eram de em sua maioria de classe média. O estigma de que a geração dos anos 90 não eram em sua maioria, comprometida com a política do país, começou depois de uma pesquisa da “folha de São Paulo”, no qual chamava atenção de que os jovens embora fossem a favor da “liberdade” e “participação”, muitos jovens não acreditavam que as instituições brasileiras eram o melhor meio para obter esses fins, segue um trecho do artigo:

“Quando a constituição de 1988 estendeu o voto para jovens de 16 anos, só a metade dos jovens esperados tirou o título de eleitor. Uma pesquisa na Folha de São Paulo, alguns meses antes das eleições de 1989, indicou que embora a maioria dos jovens aprovassem ideais como “liberdade” e “participação”, muitos duvidaram se as instituições democráticas brasileiras constituem os melhores meios para realizar esses fins”.

Neste trecho, retirado de um artigo da Folha de São Paulo, é possível ver que a descrença dos jovens com a nova política brasileira já era grande, algo que só foi aumentando cada vez mais. Em contrapartida, o artigo tem o intuito de fazer uma análise do período, criticando as manifestações (não diretamente) e fazendo um balanço e um contraponto das manifestações e dos manifestantes dos anos 60. Desta forma como veremos abaixo o artigo começa a seguir uma linha crítica, especialmente quando usa outras reflexões para fazer um contraponto sobre as manifestações, segue abaixo um pedaço do artigo:

“Em 1991, uma pesquisa da agência de publicidade McCann Erickson declarou que, em contraste com seus pais, que queriam mudar o mundo, a próxima geração está mais interessada em melhorar a própria vida… Os jovens de hoje não se interessam por qualquer tipo de manifestação social. Vivem para resolver seus projetos pessoais.”

Neste relato, o artigo situa a geração dos pais dos manifestantes de 1992 (onde muitos foram jovens que viveram a ditadura militar, e lutaram pela redemocratização do país).  Essa crítica a nova geração embora tenha certos pontos que são verdadeiros não definiu a geração dos anos 90 por completo, mas foi um gatilho, pois essa nova geração e as outras que sucederam a dos anos 90, estão a todo momento preocupados com o futuro que almejam. Mas naquele ano a nova geração mostrou que também estavam preocupados com o futuro e os rumos que o país estava tomando.

Um jornalista chamado Marcelo Rubens Paiva, que publicou um artigo na Folha de São Paulo, daquele mesmo ano, fez uma análise crítica do assunto, comparando com as manifestações dos anos 60, usando um tom de ironia para as pessoas que participaram das manifestações dos anos 90, os “jovens”.

Nos anos 60, as passeatas eram na hora do “rush”, para chamar atenção e buscar adesão do povo: “Você é explorado, não fique aí parado” (…) Saldo do dia: estudantes mortos, policiais feridos e quebra-quebra nas ruas. À noite, o Repórter Esso falava do clima de guerra civil no centro da cidade, mas não mostrava imagens (…) Nos anos 90, a liderança sobe nos palanques montados pela prefeitura e pelo governo do Estado, a repressão ajuda a interromper o trânsito, as palavras de ordem viram jingles, os rostos estão pintados, e, à noite, o “Globo Repórter” dedica uma hora, em horário nobre, para nova “onda teen”.

(Marcelo Rubens Paiva, Folha de São Paulo, 19/9/92).

O trecho acima foi retirado do jornal Folha de São Paulo, escrito por Marcelo Rubens Paiva, nesta parte podemos ver a reflexão e a comparação que o jornalista coloca ao citar duas gerações distintas, nas falas de Marcelo, sobre a geração dos anos 60, comparando a geração dos anos 90, os dois temas trazem uma discrepância entre duas gerações, tanto na forma que se organizavam para se manifestar quanto os destaques que cada um ganhavam faziam um contraste paralelo entre as duas. Na crítica de Marcelo é possível perceber um certo ceticismo com cada manifestação descrita, também é possível perceber a forma no qual ele trata cada manifestação, podemos dizer que o jornalista, que provavelmente vivenciou os dois períodos de manifestações, deixa a sua crítica na forma de comparação de ambos os períodos.  

O artigo que durante boa parte dele é focado nas comparações e semelhanças entre as gerações dos anos 60 e 90, também traz uma abordagem e análise sobre “cidadania” no artigo é colocado vários pontos de vista sobre este assunto. Como podemos ver logo abaixo um trecho do texto, na visão do autor.

“Nesse sentido, os jovens estavam participando — pelo menos em teoria — não como radicais ou conservadores, socialistas ou liberais, membros de grupos políticos, ou até como “estudantes”, mas como “cidadãos-em formação”, tentando resgatar “democracia-em formação” da herança de corrupção e impunidade pública”.

O termo “cidadão”, é utilizado para se referir a estes jovens como pessoas que estavam nas manifestações dispostas a buscar um país melhor. Este termo como colocado acima, causou olhar de reflexão em várias áreas do poder político do país tanto de direita quanto de esquerda. Assim, como é mostrado nas citações abaixo.

1- A primeira citação foi tirada da revista veja: “Na verdade, a quase totalidade dos estudantes que tomaram a Paulista não pertence a nenhum partido e jamais participou de uma reunião política na vida. Eles marcharam, e continuarão marchando, porque simplesmente não aceitam que seu país seja assaltado impunemente por corruptos”. (Veja, 9/9/92)

2- A segunda citação é de cunho político, o deputado José Dirceu, e presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo, quis deixar sua opinião de cunho político: “A CPI do PC desvendou para a juventude um quadro cruel: o estado de decomposição moral de nossas elites e os sinais de desagregação social que nosso país enfrenta. A juventude reage com indignação e exige punição, apoia o impeachment e pode ser o estopim da mobilização contra Collor (…). Em sintonia com a juventude, jogando um papel importante nas mobilizações a favor do impeachment, o movimento estudantil pode se reorganizar e assumir seu papel político institucional. (Folha de São Paulo, 15/8/92).

Como mostrado acima as manifestações causaram grande comoção política, mostrando pontos diferentes de reflexão, uns faziam crítica (como o caso da Revista Veja), focando em que muitos jovens que estavam ali, não tinham relação partidária, porém acreditavam que as manifestações eram um caminho para um país melhor, já do ponto de vista do deputado José Dirceu, ele vê apoio político nas manifestações, e reitera que os jovens cansados da corrupção buscavam um novo futuro, e que o movimento estudantil, tem que se reorganizar para buscar um papel político institucional que precisam.

Essas, e outras manifestações políticas e até mesmo da imprensa, formam um conjunto de análise memorial daquela época no qual podemos fazer uma ótima reflexão sobre o movimento, reiterando que o assunto do artigo que foi utilizado como fonte de dados, para a montagem deste trabalho, é a discrepância entre a geração dos anos 60 e 90, entretanto, é abordado as diferenças entre as gerações. A utilização das falas trazidas no artigo, foram retiradas de jornais da época, e hoje podemos criar uma análise textual a partir do que elas nos revelam, pegando algo que pode ser caracterizado como uma opinião, mas que pode guardar traços de memórias do indivíduo. Assim, reitero a necessidade de se falar e conhecer mais dos movimento/manifestações que já ocorreram no nosso país.

DOCUMENTÁRIO: “ERA UMA VEZ UM PRESIDENTE: COLLOR, O IMPEACHMENT E OS CARAS PINTADAS”.

O documentário: “Era uma vez um presidente: Collor, o impeachment e os caras-pintadas”. Feito, pelo centro de graduação e letras da universidade presbiteriana Mackenzie, é um trabalho do curso de jornalismo. Este documentário, traz relatos de jornalistas e ex-caras-pintadas, no qual ajudam a contar do ponto de vista dos entrevistados o período de manifestações e o impeachment do ex-presidente Collor.

Visando trazer apenas as memórias daqueles que viveram o período, o documentário passa desde seu início até o final, com as lembranças e recordações dessas pessoas. A utilização de fotos das manifestações, as recordações que eles (os ex caras-pintadas) trazem e enriquecem o documentário tornando o fácil para a compreensão do tema e de muita informação.

As imagens de arquivos mostram a efervescência dos protestos, com jovens ocupando as ruas de todo o país em um movimento pacífico, mas impactante. Para muitos entrevistados, os caras-pintadas representam a consolidação da democracia brasileira, ao mostrar que a população tinha voz ativa e capacidade de influenciar os rumos da política do país. Podemos dizer que a importância social do documentário é reviver as memórias coletivas de uma época que no qual teve sua importância para o país.

Ao analisar o documentário, podemos perceber que a utilização das memórias tem um tom simbólico de representação para aqueles que assistem, e que tiveram ligação com as manifestações. Lembrar que os relatos de cunho histórico, para o nosso país tem grande importância e é fonte de recordações memoráveis, nos transmite a essência dos acontecimentos. Entretanto no documentário trata de trazer aversão das pessoas que viveram o período Collor, deixando com que suas memórias possam ser as principais geradoras da construção do documentário, pois seguindo a proposta do vídeo, é através dessas memórias que conseguimos entender pontos importantes para a história do Brasil.

PRINCIPAIS PONTOS DO DOCUMENTÁRIO:

No documentário os relatos coletados servem como ponto de partida para compreendermos as manifestações e os movimentos contra o governo. No início do documentário é trazida a visão de um jornalista (José Roberto Toledo) sobre o que pode ter causado as primeiras manifestações, segue abaixo a fala do jornalista:  

“E aí aconteceu o seguinte, Collor tinha uma manifestação de taxista dentro do palácio do planalto, para dar apoio a ele uma coisa meio fabricada, ele ia anunciar algum ato que eu não me lembro exatamente, qual que beneficia os taxistas, e no meio desse pequeno comício interno ali ele fez uma convocação a nação ele falou para as pessoas que estavam tentando derruba-lo, que havia uma conspiração contra ele e que as pessoas saíssem no dia seguinte nas ruas vestidas de verde e amarelo isso foi em uma sexta-feira”.

Este primeiro parágrafo retirado do documentário, traz uma lembrança da época, onde podemos ver a explicação, do ponto de vista do entrevistado, para a causa das manifestações que ocorreram dias depois. Outro ponto interessante que é levantado no documentário, é a recordação do dia das manifestações, como segue abaixo, um depoimento de uma ex caras-pintadas (Cecília Lotufo):

“Você não via ninguém de verde e amarelo, você via o mundo de preto, mas era o mundo de preto foi assim foi um dia incrível, porque sabe você via nos ônibus, você via nos carros, você via em todo lugar e todo mundo tava de preto, as pessoas passavam e falavam: é isso aí, fora Collor! Tinha uma questão muito forte”.

Este relato remonta, como foi a experiência de viver as manifestações e como era o sentimento das pessoas que em sua maioria eram jovens e estavam presentes lá. Outra memória que é colocada no documentário é de uma ex-estudante (Elcem Cristiane Paes), ela conta como foi motivada a participar das manifestações:

“Especificamente a passeata da qual eu participei, eu fui motivada por um professor da faculdade e eu me lembro que ele entrou com um terno gravata e com uma tarja preta no braço e mostrando em sinal de luto pela situação do país pelo enorme escândalo que o presidente tinha se envolvido e motivou os alunos disse que não iria dar aula que quem tivesse interesse que poderia ir à passeata que iria acontecer na Avenida Paulista”.

Este é outro relato no qual podemos perceber que em muitas vezes os jovens estudantes tiveram a motivação dos professores para participar das manifestações. Outra memória que podemos destacar é da ex-estudante (Cecília Lotufo/ex-caras-pintadas), onde ela destaca que participou das manifestações, porém não tinha ligação com movimentos estudantis, mas estava lá pela a causa:

“Eu era uma pessoa, que não estava conectada a nenhuma dessas estruturas, eu era uma estudante normal, sem nenhuma articulação prévia né eu só tinha aquela vontade de fazer alguma coisa pelo mundo, é aquela vivência de que dentro de um coletivo as coisas ficam mais fáceis”.

Este, relato nos mostram que o sentimento de coletividade e de esperança por um país melhor, era presente em muitos que estavam ali, outras pessoas também falaram, que conheciam jovens de classe média, e que estes jovens também participaram das manifestações, outros entrevistados contaram sobre as músicas e palavras de ordem que falavam nas manifestações e da diversidade que existia dentro das passeatas, que contavam desde jovens, adultos, idosos e crianças, mostrando que a união que eles buscavam era presente em cada um que estava-la.

O PROCESSO DE IMPEACHMENT:

O processo de impeachment que também é citado no documentário foi um marco para aquela juventude, que estava nas manifestações. Porém, algo importante de ser destacado é que o apoio da imprensa foi fundamental para ocorrer as investigações e o impeachment do então presidente. Como mostra o depoimento da historiadora (Maria Aparecida Aquino)

“Da mesma maneira que ele (o ex-presidente) foi feito ele foi desfeito, nunca vou esquecer da Manchete e da Revista Veja, falarem do irmão Pedro Collor contando as falcatruas do irmão”.

Nesta frase está exposto o começo de uma queda política para o ex-presidente. Após várias denúncias de corrupção que ele mantinha no seu governo como: O empresário Paulo César Farias, que durante o governo de Collor era o tesoureiro. A Investigação do esquema PC Farias, mostrou que o artifício inlegal usado pelos envolvidos arrecadou cerca de 15 milhões de reais durante o governo Fernando Collor. Assim, o escândalo de corrupção e a crise econômica que o país passava ajudaram a culminar no processo de impeachment do ex-presidente. Por fim, colocaremos aqui, duas das mais importantes memórias coletadas no documentário, uma é do dia em que a câmara dos deputados aprovou o afastamento do ex-presidente (quem conta esta memória é: Randolfe Rodrigues, ex-cara-pintada) e a outra memória é do dia em que Fernando Collor saiu do Planalto depois de ter renunciado (quem conta esta memória é: Alexandre Sayad, ex-cara-pintada). Assim, segue abaixo as memórias:

“Nós acompanhamos a votação do impeachment no 29 de setembro de 92 é uma data que nós não esqueceremos, nós acompanhamos, montamos um telão na praça pública em Macapá no centro de Macapá e era orientação Nacional da UNI fazer grandes mobilizações e terminar acompanhando a votação que estava ocorrendo aqui na câmara dos deputados, então nós acompanhamos a votação em praça e quando concluiu a votação, quando ocorreu o 36 voto o quórum necessário para o afastamento do presidente aí a praça explodiu né quando nos 10 últimos votos que faltavam começou a contagem regressiva na praça”.  (memória sobre o afastamento de Collor)

“Uma imagem, que me tocou muito foi quando eu vi ao vivo, eu estava na frente da TV, provavelmente porque eu assisti ao vivo e em algum lugar, não recordo se foi na minha casa ou na casa de um amigo, mas quando ele (o ex-presidente) deixa o palácio do planalto e entra no carro já não mais como presidente, e ele podia ter saído pelas portas dos fundos e ter sumido mas ele fez questão de sair pela porta da frente ele passou por toda a imprensa e por toda a guarda do Palácio pelo pessoal que protestava e fazendo aquela pose de pombo que ele tinha, assim né com o peito estufado ele passou daquele jeito com a cabeça erguida”. (memória sobre a saída de Collor do Palácio do Planalto

É possível ver nas declarações acima, como a memória do momento foi tão importante. Podemos ver que a celebração e comemoração com a saída e a renúncia trouxeram comoções diferentes, mas com o mesmo desejo, essas memórias são importantes para fazermos um resguardamento de dois momentos mais importantes, creio que não há memórias tão melhores para descrever estes dois dias. É de fato nítido que o movimento dos caras-pintadas não foram os causadores do processo de impeachment sofrido por Collor, como também é citado no documentário por outros ex-caras-pintadas, porém eles entendem que o movimento ajudou aprisionar os políticos para que votassem a favor do impeachment de Collor. Por fim, vale ressaltar que Fernando Collor, depois de ter seu processo de afastamento aprovado pela câmara, renunciou ao cargo de então presidente da república. Assim, podemos dizer que seu governo trouxe marca histórica para o Brasil, uma delas é ser o primeiro presidente eleito depois da redemocratização e ser o primeiro a sofrer um processo de impeachment, lembrando que as manifestações como dos caras-pintadas também marcaram o seu governo.          

CONCLUSÃO:

Por fim, podemos dizer que a luta por um país melhor começou com pequenos atos que logo tomaram o país, é notável que o sentimento de coletividade por muitos era grande, podemos concluir dizendo que as memórias colocadas no documentário: Era uma vez um presidente: Collor, impeachment e os caras pintadas, são de suma importância para a compreensão social do tema.

Assim, este trabalho teve intuito de resgatar memórias de um período no qual muitos lembram pois foi um marco para a política do Brasil. Desta forma, remontar assuntos que são de nosso interesse, se faz presente para a compreensão de nossa história, aqui neste trabalho foi colocado reflexão e análise de documentário e artigos, enfatizando que o intuito é trazer luz a memórias coletivas, podemos, por meio deste fazer um amplo entendimento das memórias resgatadas através dos artigos e documentários citados aqui, contudo creio que a necessidade de entendermos o amanhã começa na compreensão do passado.      


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

LOPES, Dawisson Belém. A política externa brasileira e a" circunstância democrática": do silêncio respeitoso à politização ruidosa. Revista Brasileira de Política Internacional, 2011, 54: 67-86.

MISCHE, Ann. De estudantes a cidadãos: redes de jovens e participação política. Rev. Bras. Educ. [online]. 1997, n.05-06, pp.134-150. ISSN 1413-2478.

DOCUMENTÁRIO: ERA UMA VEZ UM PRESIDENTE: COLLOR, O IMPEACHMENT E OS CARAS-PINTADAS.