Utilizador:Lbiazon/A computação em nuvem e as "bolhas filtrantes"

Fonte: Wikiversidade

Muito já foi escrito sobre o problema de não saber quais os algoritmos/procedimentos que estão sendo usados por progamas proprietários para processar as informações que fornecemos a eles. Entretanto, em muitas discussões sobre o assunto surgem argumentos do tipo "Mas a maneira como o processamento é realizado é um detalhe técnico. Qual a diferença de um usuário ter ou não acesso a essa informação?". Num primeiro momento esse argumento parece fazer sentido, afinal é preciso saber como o Word ou o Google Docs criam o índice remissivo do meu documento?

O perigo desse argumento está em considerar a computação 'amoral'. Imaginar que como computadores são "máquinas lógicas", os programas também o seriam, sem espaço para julgamentos, preconceitos e desinformação. Mas há alguns exemplos claros de que a situação não é bem essa.

O ativista Eli Pariser em sua palestra no TED no começo desse ano conta uma história muito interessante. Na época da revolução do Egito de 2011, ele pediu para dois amigos, em locais diferentes, procurarem por 'Egito' no Google. Nosso senso comum espera que as páginas de resultados sejam idênticas, não é? Na página de um deles, diversas notícias sobre os acontecimentos locais. Na do outro, apenas informações turísticas. Seria o Google um defensor das ditaduras do Oriente Médio? O que aconteceu com o "Não faça o mal"?

Pariser usa esse caso para ilustrar o que ele chama de "bolhas filtrantes". Serviços de Computação em Nuvem como a busca do Google, os murais do Facebook, os resultados do Netflix, etc., usam diversos parâmetros para filtrar os conteúdos que nos são repassados. Dados como em que local estamos, que sistema operacional ou navegador usamos, quais são as buscas que fazemos com mais frequência entre diversos outros são usados para gerar resultados sobre os quais temos maior chance de nos interessar. O problema inerente desses algoritmos é que passamos grande parte do nosso tempo procurando coisas que nos entretenham na Internet: jogos, vídeos de gatos, etc. E mesmo que tenhamos outros interesses, ou precisemos receber informações sobre coisas importantes acontecendo a nossa volta, a maioria dos conteúdos filtrados automaticamente que nos são fornecidos devolvem coisas baseadas no que nos diverte.

O código fechado dos algoritmos que nos rodeiam na computação em nuvem definem a informação à qual temos acesso. Num momento em que usamos o navegador como janela para o mundo, não ter controle sobre eles, ou ao menos saber suas características e limitações, pode nos alienar do que está acontecendo bem ao nosso lado.

  • Lbiazon 16h48min de 24 de Agosto de 2011 (UTC)