Utilizador:SílviaSS/aulas de 08-08-10 e 10-08-11
Ao longo da história, diversos veículos de comunicação surgem "abertos" e decentralizados, permitindo ao usuário atuar tanto como emissor quanto como receptor de informação, ao menos durante um breve período de tempo.
Entretanto, por razões políticas, a maior parte destes veículos sofre modificações no sentido de permitirem apenas comunicação de mão única: passam a existir alguns poucos emissores autorizados, enquanto todos os demais usuários tornam-se receptores passivos. Como exemplo desse fato temos o rádio, que surgiu como um meio de comunicação entre dois pontos quaisquer, mas tornou-se extremamente centralizado, admitindo apenas transmissão do tipo broadcast, sendo que a operação de transmissores de rádio pelo público em geral (rádio amador) tornou-se crime, qual fosse conduta prejudicial à sociedade.
Diversas são as justificativas dadas para a restrição do uso dos meios de comunicação: desde escassez de recursos (como a limitação do espectro eletromagnético) até a prevenção de crimes (tráfico de drogas, pedofilia), passando por razões de segurança (divulgação de segredos de Estado, interferência em aviões). Entretanto, verifica-se que estas justificativas são normalmente um disfarce para escolhas puramente políticas, motivadas pelo fato de que a livre comunicação entre cidadãos permite graus de articulação política capazes de ameaçar regimes autoritários, ou mesmo a manutenção do status quo nos regimes ditos democráticos.
A Internet, como outros meios de comunicação que a precederam, surgiu sem restrições de emissão de informação, até em função de haver surgido num contexto bastante peculiar, a partir de uma confluência de três fatores importantes:
- interesse acadêmico/científico no compartilhamento de dados e de processamento;
- interesse militar no desenvolvimento de formas de comunicação resiliente e distribuída;
- interesses sociais e econômicos em novas formas e veículos para a produção cultural (Contra Cultura).
Desses fatores, a Internet herdou o espírito do compartilhamento de informação da comunidade acadêmica, o ânimo de questionamento da produção cultural próprio da Contra Cultura, e teve a possibilidade de desenvolver-se como um meio de comunicação decentralizado em função da necessidade que existia de se promover comunicação resiliente e distribuída, como estratégia militar. Este fator garantiu a liberdade na rede por tempo suficiente para que milhares de pessoas no mundo todo tomassem gosto pelo compartilhamento de informações e pela produção de conteúdo. No entanto, não se pode assumir que isto bastará para garantir um futuro aberto para a rede, cuja neutralidade já está ameaçada nos dias de hoje.