Wicca
A Wicca é um conjunto de crenças, práticas e filosofia que dão origem a uma religião neopagã influenciada por crenças pré-cristãs da Europa ocidental. Dentro dos dogmas da Wicca está a crença na existência do poder sobrenatural ( mundo espiritual e magia ) e nos princípios regentes dos planos físico e espiritual - Deus masculino e feminino - que juntos formam o par sagrado e regente em toda a Natureza, celebrando assim os ciclos da vida por meio de festivais sazonais, conhecidos como Sabbats. Sendo predominantemente uma religião matriarcal de adoração à Deusa Mãe - força que mantém o equilíbrio da natureza - a Wicca abrange uma grande diversidade de cultos e práticas, sendo de modo geral uma religião politeísta, de culto basicamente dualista, que crê tradicionalmente na Deusa Mãe (ou Mãe Tríplice) e no Deus Sol (ou Deus Cornífero), sendo estas duas deidades muitas vezes vistas como faces de uma divindade Panteísta maior ou ainda manifestadas como várias divindades da natureza. Em seus ritos a Wicca também faz uso da prática ritual da magia, em grande parte influenciada pela magia cerimonial, Kabalah, astrologia entre outras ciências ocultas, dependendo da tradição que se fez escolha para seguir. É muitas vezes referida como Witchcraft (em português: "bruxaria") por seus seguidores, que são conhecidos como Wiccanos, Wiccans ou Bruxos. Suas origens contestadas residem na Inglaterra no início do século XX, mas foi popularizada nos anos 50 por Gerald Gardner, que na época chamava a religião de "Culto às Bruxas" ou "Bruxaria", e seus seguidores de "a Wica", termo que a partir dos anos 60 foi formalizado para "Wicca".
Tradições Wicca
As tradições da Wicca são de forma geral as diversas teorias, práticas e filosofias, oriundas das variações antropológicas de culto. Cada tradição tem sua própria estrutura, filosofia, concepções, ritos e mitos próprios que são transmitidos iniciaticamente a cada aprendiz, oferecendo inúmeros caminhos no que concerne à forma de cultuar os Deuses, onde cada um desses é significativo e viável para seus praticantes. A tradição a se seguir é uma escolha individual que deve ser feita com base na afinidade com o panteão a ser cultuado e principalmente com a sensação de familiaridade que ela inspira. As entidades ou grupos que praticam essas tradições são chamados Covens que são unidades de ensinamentos iniciáticos, onde cada qual ali presente está sendo preparado para se tornar mais um Sacerdote. Outros grupos conhecidos são os chamados Groves/Famílias ou Clãs - nome dado ao conjunto de Covens oriundos de um Coven original (de onde todos os sacerdotes dos demais grupos provieram), além dos chamados Círculos Wicca (grupos não hierarquizados, onde são dados cursos livres e celebrados rituais abertos ao público). Existem diversas tradições dentro da Wicca; algumas, como a Wicca Gardneriana e a Alexandrina, seguem a linhagem iniciática de Gardner; ambas são frequentemente denominadas de Wicca Tradicional Britânica e muitos dos seus praticantes consideram que o termo "Wicca" possa ser aplicado unicamente a elas. Outras, como o Cochranianismo, Feri e a Tradição Diânica, tomam como principal influência outras figuras e não insistem em qualquer tipo de linhagem iniciática. Algumas tradições não usam o termo "Wicca", preferindo apenas "Bruxaria", enquanto outros crêem que todas estas tradições podem ser consideradas Wiccanas. Entre as tradições das práticas Wicca mais conhecidas estão:
- Tradição Alexandrina
- Tradição Diânica
- Tradição das Fadas
A Fairy Wicca ou Tradição das Fadas tem, segundo seus membros, ritos e conhecimentos originários entre os antigos povos da Europa da Idade do Bronze, que ao migrarem para as colinas e altas montanhas, devido às guerras e invasões, ficaram conhecidos como Sides, Pictos, Duendes, Tuatha de Dannan ou 'Fadas'. Nesta Tradição é dada uma forte ênfase à expansão da consciência, sendo assim,uma 'Escola' voltada à exploração espiritual. Os Fairy Wiccans (como se denominam), respeitam profundamente a sabedoria da natureza e tudo o que a envolve. Os Deuses não são vistos como forças psicológicas, arquétipos ou manifestação do inconsciente coletivo, mas Seres reais, com um sistema de moralidade diferente do nosso e onde teríamos responsabilidade com cada um deles. Essa tradição enfatiza a pureza pessoal e uma prática constante, defendendo o uso dos utensílios mágicos somente como ferramentas secundárias de trabalho, uma vez que cada pessoa tem em si o 'poder'. Seus praticantes usam um corpo específico de cânticos e material litúrgico específicos a essa Tradição que se aproxima muito de uma concepção Xamânica ao lidar com Magia e Natureza. Para quem pratica a Fairy Wicca, qualquer encanto que o praticante lance atravessa primeiro ele mesmo, que é espelho de seu desejo, assim a magia é como qualquer outro trabalho. Para obter êxito em seu trabalho é preciso 'refinar as energias', entendendo que isso faz parte do seu próprio crescimento individual.
- Tradição Feri
- Tradição Gardneriana
Para muitos o uso do termo 'Wicca' nos tempos modernos deve-se a Gerald Gardner, autor do livro 'Gardnerian Wicca'(Wicca Gardneriana) e grande responsável pelo surgimento do tema que tornou-se o maior movimento dentro do neo-paganismo no século XX. De fato Gardner foi o primeiro autor contemporâneo, com destaque, a abordar o tema Bruxaria. Em seus trabalhos ele alega ter sido iniciado numa tradição de bruxaria religiosa que ele acreditava ser uma continuação do Paganismo Europeu. Muito se disse a esse respeito e alguns pesquisadores questionaram as alegações de Gardner sobre a bruxaria tradicional e o que ele chamou de 'Wicca Moderna' ou Bruxaria Moderna. De qualquer forma, a Wicca defendida por ele tornou-se uma das tradições mais representativas e populares entre os adeptos da bruxaria atual. Utilizando-se de elementos da magia cerimonial, símbolos da Ordem Rosacruz e rituais da Golden Dawn e difundidos pelo polêmico mago Aleister Crowley. "A Wicca Gardneriana é inegavelmente rica em simbolismo e cerimonial, muito embora desprovida de qualquer forma de Bruxaria, seja ela antiga ou moderna" - afirmam Leo Ruickbie e Ronald Hutton, renomados historiadores britânicos.
- Tradição Gaulesa
A Wicca Gaulesa ou Feitiçaria da Gália tem suas primeiras origens nos cultos tribais dos gauleses - populações celtas que habitavam a Gália (Itália setentrional, França, Suíça, Bélgica e Irlanda) bem como no misticismo Egeu-Mediterrâneo. Após as guerras da Gália a bruxaria gaulesa sofreu influência das crenças oriundas do Império Romano (pré-cristão). Depois das invasões bárbaras do início do século V, essa cultura persistiria particularmente nas áreas da Occitânia, Gália Cisalpina e em um grau menor na Aquitânia. Do norte da Gália, ocupado pelos Francos, veio a influência da cultura merovíngia e mais tarde o contato com a Igreja Cátara. Dessa forma pouco a pouco a bruxaria gaulesa foi adquirindo princípios do esoterismo cristão e do cristianismo cátaro, passando a ser praticada em Confrarias familiares e pequenos grupos de Iniciados. Porém foi metafísico, esoterista e filósofo francês René Guénon, um dos principais estudiosos e pesquisadores do esoterismo cristão atribuiu a Bruxaria Gaulesa o nome de Bruxaria Cristã.
- Tradição Nórdica
Os Covens Wicca que seguem a tradição nórdica são talvez o melhor exemplo de bruxaria moderna baseada nos preceitos de um culto pagão. De fato a tradição Nórdica resgata os costumes e crenças de uma religião antiga, rica em misticismo e com um panteão de Deuses muito bem estruturado. A mitologia nórdica está entre as mitologias mais procuradas por aqueles que buscam o caminho do neo-paganismo como forma alternativa de espiritualidade. Essa tradição lida com as forças mágicas utilizando-se da magia natural e com a adoração dos Deuses, onde as principais deidades a serem cultuadas são Njorddeus dos mares e da fertilidade e seus filhos Freya, deusa do amor e dos sortilégios, e de Freyr, o deus da fertilidade e juventude. A tradição Nórdica, no entanto, não é vista como bruxaria para a maioria dos autores, pois, embora politeísta, não se caracteriza como Panteísta, nem apresenta necessariamente um "Casal Divino". Alex Sanders, autor de o 'Rei das Feiticeiras', define essa tradição como: "uma nova versão para uma antiga religião, e é isso o que é, uma religião nórdica e não bruxaria nórdica".
- Tradição Stregha
Também chamada Stregheria ou Bruxaria Italiana é tida como a "Velha Religião", um culto neopagão italiano com origens nos velhos mistérios Egeu-Mediterrâneos. Muitos pesquisadores definem a Stregheria como uma religião iniciática cultuada por diversos clãs, na maioria hereditários e extremamente herméticos; para outros, a Stregha ou Stregoneria é simplesmente a prática da bruxaria de influências italianas - desvinculada de religião - já que para Bruxaria Tradicional a mesma não é considerada uma 'Religião', mas sim um Ofício; uma prática de feitiçaria independente da religiosidade.
- Tradição Witchcraft
Conhecida como Bruxaria Cochraniana ou Cochranianismo, a prática Cochrane (defendida por Robert Cochrane)gira em torno da veneração ao Deus Cornífero e à Deusa Mãe, juntamente com sete divindades politeístas que são vistos como filhos do Deus e da Deusa. Esta tradição tem várias características que a separam de outras escolas Wicca, tais como a sua ênfase no misticismo e filosofia de origem pagã, e no culto que invoca a ancestralidade da bruxaria - por assim dizer, a Feitiçaria.
Entre os pesquisadores e estudiosos do assunto existem algumas divergências sobre o tema 'Bruxaria X Feitiçaria': Alex Sanders, discípulo de Gerald Gardner e criador da tradição Alexandrina refere-se a Wicca como "a religião natural mais antiga do mundo, a bruxaria em essência"; Scott Cunninghann, no entanto, defende que a Wicca é apenas um ensaio sobre os verdadeiros mistérios do paganismo europeu e que a Feitiçaria possui uma ancestralidade muito maior e desprovida da maioria dos dogmas defendidos pela Wicca Moderna.