DC-UFRPE/Licenciatura Plena em Computação/AspectosHumanose Soc. naComputaçãoDC (60) EAD/Mulheres na Computação
PRODUÇÃO TEXTUAL
[editar | editar código-fonte]Esta é uma produção textual produzida sobre o tema Mulheres na Computação produzida durante a realização da disciplina.
A IMPORTÂNCIA DAS MULHERES NAS ÁREAS DA CIÊNCIA E DA COMPUTAÇÃO
[editar | editar código-fonte]POR: WELLINGTON PEREIRA
No dia 10 de abril de 2019 o mundo foi pego de surpresa com algo que só era possível visualizar nos filmes de ficção científica, ou na imaginação. Uma foto simples, bem desfocada, e que num primeiro olhar poderia parecer algo pequeno, mas que na verdade causou um impacto gigantesco na comunidade científica e no mundo todo. A foto, que segundo os cientistas era uma coisa que só poderia ser contemplada em sonhos, era a primeira imagem, na história, dos arredores de um buraco negro, situado na galáxia Messier 87, há 55 milhões de anos-luz do nosso Sistema Solar. A responsável pelo desenvolvimento do algoritmo que possibilitou tal feito extraordinário foi Katie Bouman, uma mulher de 29 anos que conseguiu, segundo os cientistas, fotografar o invisível.
Nos últimos anos, a relação de mulheres na área de tecnologia vem sofrendo uma queda vertiginosa no Brasil e no mundo. Levantamentos apontados em 2020 mostram que, dos mais de 580 mil profissionais que atuam na área da Tecnologia da Informação no país, apenas 20% são mulheres, um pouco abaixo dos Estados Unidos, onde 25% dos profissionais da área de TI são do sexo feminino. São dados impressionantes, e que vão na contramão do cenário que era apresentado na década de 1970, quando o curso de Bacharelado em Ciências da Computação do Instituto de Matemática e Estatística (IME), por exemplo, contava com 70% dos seus alunos sendo do sexo feminino, contra 30% do sexo masculino. Já em 2016, apenas 6% do total de alunos do mesmo curso eram mulheres.
Mas afinal, o que aconteceu para as mulheres terem sumido da área das ciências e da TI? Numa pesquisa realizada em 2017 em mais de 12 países da Europa, a Microsoft entrevistou 11.500 mulheres, de idade entre 11 e 30 anos, sobre o interesse na área de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática, e o resultado foi que apenas 42% das entrevistadas consideravam uma carreira na área de tecnologia, enquanto mais de 60% admitiram que a falta de modelos femininos na área as distanciava do campo da ciência e tecnologia. Além disso, um dado interessantíssimo coletado pela a Microsoft afirma que, para 57% das entrevistadas, a probabilidade de seguir numa carreira na esfera da ciência e tecnologia aumentaria se houvessem professores que as encorajassem a buscar e seguir nesse campo.
É interessante notar que as mulheres estão sim inseridas no mundo da ciência e tecnologia de forma bastante expressiva, mas nem sempre a mídia lhes da o devido valor, fazendo com que elas acabem sendo esquecidas. Um bom exemplo disso é Karen Jones, que trabalhou durante 30 anos no laboratório de computação da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, e foi uma das criadoras do conceito que hoje serve de base para os sistemas de busca da internet, como o Google, por exemplo. No mundo dos games, Carol Shaw aparece como a primeira mulher a trabalhar no setor, tendo em seu currículo o desenvolvimento de jogos como River Raid, para o Atari. E, na área da engenharia e da matemática, pode-se Katherine Johnson (responsável por calcular a trajetória do Projeto Mercury, o primeiro projeto tripulado de exploração espacial da NASA), Dorothy Vaughan (a primeira mulher negra a ser promovida chefe de departamento na agência espacial americana) e Mary Jackson (primeira engenheira aeroespacial da NASA), três mulheres negras que trabalharam na NASA, nas décadas de 1950 e 1960, durante a corrida espacial.
No Brasil, na década de 1970, Edith Ranzine foi uma das quatro mulheres que ajudaram no projeto do primeiro computador totalmente brasileiro, o “Patinho Feito”, da USP. Além do computador, Edith também foi a responsável pela implantação, na Poli, do curso de Engenharia Elétrica com ênfase na Computação.
Poderíamos citar várias outras figuras femininas que entraram para a história da ciência e tecnologia, mas o que parece afastar as mulheres da área hoje é que, além da forte resistência dos homens em aceitá-las, existe um conjunto histórico e cultural de que o campo da ciência e tecnologia é de dominação masculina. Segundo o artigo de Lima (2013) “A computação geralmente é associada à ambição, tenacidade, obstinação, exibindo perfeita combinação com as características androcêntricas da ciência: objetividade, racionalidade, distância emocional (neutralidade) do objeto. As mulheres e sua subjetividade possuem um estilo considerado diferente pela ciência, separando-se dos homens pela sua forma de pensar e trabalhar.”
Fica claro que as mulheres tem um papel importantíssimo na história da ciência e tecnologia mundial, porém, parece que o número de pessoas do sexo feminino na área era maior no passado do que no presente. Essa estranha inversão, puxada por um contexto histórico e cultural de que a área é de domínio masculino, acabou chamando a atenção de vários estudiosos, e movimentos para trazer as mulheres de volta ao mundo da ciência e tecnologia começaram a surgir. Iniciativas como o PrograMaria, Manas Digitais, Women Up Games e o PyLadies procuram renovar o interesse de meninas e mulheres na área da computação, e no campo da ciência, projetos como o “Meninas com Ciência” e o “Mulheres na Ciência e Inovação” trazem a possibilidade de que, no futuro, as mulheres voltem para a área, trazendo consigo a grandeza que lhes é peculiar.
Referências:
[editar | editar código-fonte]- SILVA, Ana Vitória B. M. et al. Manas Digitais: um relato sobre Ensino de Programação em Escolas Públicas no Estado do Pará. Anais dos Workshops do Congresso Brasileiro de Informática na Educação, [S.l.], p. 367, nov. 2019. ISSN 2316-8889. Disponível em: <https://www.br-ie.org/pub/index.php/wcbie/article/view/8978/6527>. Acesso em: 11 jan. 2021. doi:http://dx.doi.org/10.5753/cbie.wcbie.2019.367.
- LIMA, Michelle Pinto. As mulheres na Ciência da Computação. Rev. Estud. Fem. Florianópolis, v. 21, n. 3, p. 793-816, Dec. 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2013000300003&lng=en&nrm=iso>. Accesso em 11 Jan. 2021. doi:https://doi.org/10.1590/S0104-026X2013000300003.
- ANDRADE, Rodrigo de Oliveira. A Retomada do Espaço da Mulher na Computação. Pesquisa Fapesp, 2019. Disponível em: <https://revistapesquisa.fapesp.br/a-retomada-do-espaco-da-mulher-na-computacao/>. Acesso em: 11 jan. 2021.
- SANTOS, Carolinda Marins. Por que as mulheres “desapareceram” dos cursos de computação? Jornal da USP, 2018. Disponível em: <https://jornal.usp.br/universidade/por-que-as-mulheres-desapareceram-dos-cursos-de-computacao/>. Acesso em: 11 jan. 2021.
- A difícil missão de ser mulher no mercado de TI. UOL Meu Negócio, 2020. Disponível em: <https://meunegocio.uol.com.br/blog/a-dificil-missao-de-ser-mulher-no-mercado-de-ti/#rmcl>. Acesso em: 11 jan. 2021.