DC-UFRPE/Licenciatura Plena em Computação/AspectosHumanose Soc. naComputaçãoDC (60) EAD/Redes sociais e seus impactos comportamentais

Fonte: Wikiversidade

PRODUÇÃO TEXTUAL[editar | editar código-fonte]

Esta a seguir foi uma produção de texto acerca do tema Redes sociais e seus impactos comportamentais.

MAIS TRELA, MENOS TELA[editar | editar código-fonte]

POR: WELLINGTON PEREIRA

Qualquer pessoa acima dos 30 anos, quando era criança, já deve ter ouvido, de algum parente aquela frase batida de sempre: “aproveite enquanto é criança, o tempo passa muito rápido”. E é bem verdade, o tempo passa bastante rápido! Porém, nessa época, não havia internet no Brasil, pouquíssimas pessoas tinham computadores, celular, tablet ou smartphone era um sonho de ficção científica, e o grande “vilão”, naquela época, eram os videogames, porém eram caros e nem todos podiam ter um. Deste modo, as crianças de 30 anos atrás tiveram tempo de ser criança, e no lugar da tela, havia muita trela.

Hoje os polos se inverteram, e a criançada está, cada dia mais, esquecendo de ser criança e trocando a trela pela tela. Em um estudo realizado entre outubro de 2018 a setembro de 2019, foi constatado que cerca de 30% da molecada entre 4 a 6 anos já usavam smartphones no Brasil. Em 2020, a empresa Kaspersky e a consultora de pesquisa CORPA fizeram um levantamento e constataram que 73% das crianças brasileiras, antes dos 10 anos de idade, ganharam seu primeiro smartphone ou tablet próprio.

É comum ouvir entre os pais da garotada que os smartphones e tablets são seus aliados, pois “acalmam” os pequenos, deixando-as quietinhas num canto. Porém, deixar a molecada grudada na tela por horas a fio pode trazer consequências graves. Uma pesquisa realizada pela Universidade de Toronto, no Canadá, associou o uso prolongado dos smartphones e tablets ao retardo na fala da criançada, prejudicando as habilidades de comunicação, principalmente nas crianças muito novas, sendo até desestimulado o uso de jogos e vídeos educativos para os pequenos em idade muito inicial, recomendando-se a leitura de livros educacionais.

Em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou um guia, até então inédito, com orientações para crianças com menos de 5 anos de idade. Segundo o guia, os pequenos com menos de 2 anos não devem ter nenhum contato com telas, enquanto os que estão na faixa entre os 2 e 5 anos podem assistir televisão por apenas uma hora diária. O uso excessivo da telona, ou da telinha, pode trazer dificuldade de concentração nas atividades diárias da criançada, sono superficial ou dificuldade para dormir, além de um risco de desenvolver obesidade infantil por causa do sedentarismo.

Nos Estados Unidos, pesquisas avaliaram os hábitos de mais de 4000 crianças entre 8 e 11 anos. Pouco mais de 30% da garotada usava tablets ou smartphones pelo limite de até duas horas, sendo constatado que aqueles que obedeciam aos limites apresentaram um desempenho cognitivo melhor do que aqueles que desobedeciam a marca de duas horas diárias. Além disso, dentre aqueles que ficavam nas telinhas até tarde da noite, houve comprometimento do desempenho na escola e problemas de comportamento, como depressão e mudanças repentinas no humor.

Vale salientar que os riscos do uso excessivo de tablets ou smartphones pelas crianças não se restringe apenas a problemas de saúde ou de cognição. Em um mundo totalmente conectado, os pequenos acabam sendo expostos a todo tipo de conteúdo, e caso não haja a supervisão de um adulto, a molecada acaba na mira das ameaças virtuais, principalmente com as redes sociais. Em entrevista realizada pela Kaspersky e a consultora de pesquisa CORPA com os pais e tutores de crianças de alguns países da América Latina, o Brasil é o país onde os pais menos sabem as senhas do perfil das mídias sociais de seus filhos, enquanto no México os pais são os mais preocupados com esse tipo de informação.

O perigo para as crianças nas redes sociais é grande, ainda mais com “jogos” como baleia azul e boneca momo. Ainda de acordo com a entrevista da Kaspersky e a consultora de pesquisa CORPA, metade dos pais entrevistados afirmam que seus filhos tem ao menos um perfil em alguma rede social, e dessas crianças, 40% acessam sem nenhuma supervisão por um adulto. O perigo se agrava quando pensamos que qualquer pessoa pode estar por trás de um perfil “amigo” da garotada nas mídias sociais, podendo ser bandidos, pedófilos, sequestradores, ou qualquer tipo de criminoso. Não haver uma vigilância dos pais para o que os pequenos fazem nas redes sociais é perturbador, ainda mais se considerarmos que 15% dos entrevistados pela Kaspersky e a CORPA admitem não ter noção do que os filhos fazem ou publicam.

É bem verdade que as redes sociais, os games e a interação pelos dispositivos eletrônicos acabam fazendo com que as crianças fiquem quietas no seu canto, não trazendo dores de cabeças para os pais, pelo menos não de imediato. Os estudos que existem sob as reais consequências do uso excessivo de tablets e smartphones pelas crianças ainda não podem ser dados como conclusivo, pois não existe um estudo a longo prazo. Porém, também é verdade que a maioria de nossas crianças está a deriva num mundo tecnológico e cada vez mais conectado, e se não houver uma supervisão rígida dos pais, os pequenos acabam indefesos.

É impossível ignorar que o mundo mudou, e que a tecnologia é parte do nosso dia-a-dia, porém, uma alternativa muito válida para tirar a molecada do mundo virtual e trazer para o mundo real é buscar na nossa infância o que fazíamos para nos divertir, e trazer, ensinar, mostrar para nossos filhos e filhas como brincávamos na nossa época. É resgatar a criança que existe em nós, que não precisava de muito para nos entreter. É mostrar para nossos pequenos que o que eles precisam é de mais trela e menos tela.

Referências:[editar | editar código-fonte]