Saltar para o conteúdo

Foucault e as relações de poder

Fonte: Wikiversidade

Texto didático elaborado durante as atividades avaliativas da disciplina de Estágio II (2021), ministrada pela Prof. Dr. Sueli Guadelupe de Lima Mendonça, no curso de Ciências Sociais da Unesp de Marília. O texto foi redigido como material didático-pedagógico para a Situação de Aprendizagem 3 , reformulada pelas estudantes de Licenciatura em Ciências Sociais.

Autoras: Amanda de Barros Manequini, Maria Eduarda de Moraes Torres e Victória Monteiro Amêndola.

Michel Foucault e as relações de poder

[editar | editar código-fonte]

No Brasil, cotidianamente, nos telejornais e redes sociais nos deparamos com notícias que mencionam o poder executivo, legislativo ou judiciário. Essa divisão de poderes, idealizada por Montesquieu, é tradicional na Ciência Política e seus adeptos argumentam que com ela há menores chances de abuso de poder, uma vez que cada uma das instâncias observa o cumprimento (ou não) das funções das outras. Entretanto, diferentemente dessa divisão tripartite, que enxerga o poder como atributo do Estado, dos contratos jurídicos e sentenças da lei, Michel Foucault (1926-1984), filósofo francês, aponta que o poder é uma espécie de rede que se estende por toda a sociedade, necessária para garantir a governamentalidade, ou seja, a sustentação das autoridades que controlam os corpos, os espaços e as informações.

Maquiavel, um filósofo político do século XVI, uma vez disse: "Dê o poder ao homem e descobrirá quem ele realmente é". Podemos entender, a partir dessa frase, que o poder era considerado como um objeto, uma coisa que pode ser dada a alguém ou que algumas pessoas possuem e outras não. Assim, a formulação de Maquiavel, frequentemente reproduzida no cotidiano, também poderia ser questionada pela noção de poder formulada por Foucault.

O poder, segundo Foucault, seria uma relação presente em toda a sociedade e em todas as pessoas, não seria "uma coisa" a ser possuída e nem estaria apenas no nível macro da sociedade. O poder está em nosso cotidiano, nas pequenas/micro ações que realizamos e que recebemos e, por isso, se cunhou o termo "microfísica do poder", para se referir especificamente a essa esfera das relações sociais que por vezes deixamos de lado.

Um outro fato importante é que a ordem social é mantida pelo exercício do poder. Antigamente, esse poder era exercido pelo Estado principalmente por meio de punições físicas, mas Foucault analisa que o meio de manutenção da ordem mudou. Hoje em dia, são os discursos e as instituições as principais ferramentas de controle do Estado. As prisões, os hospícios, os hospitais e também as escolas, são as principais instituições que prescrevem condutas para os indivíduos, para que estes tenham seus corpos e também seus pensamentos disciplinados e padronizados.

Por fim, não dá para esquecer de uma célebre frase de Foucault: "Onde há poder, há resistência". Segundo o filósofo, quando o poder é exercido, ele se revela e assim, produz margens para a resistência. O que você pensa sobre isso? Existem limites para o exercício do poder? Que tipo de poderes são exercidos sobre você em seu cotidiano?

Referências Bibliográficas

AFRANIO, et all. Sociedade disciplinar. In: AFRANIO, et all. SOCIOLOGIA EM MOVIMENTO. 2ª ed. São Paulo: Ed. Moderna, p. 102, 2016.

BODART, Cristiano das Neves. O poder em Foucault. Blog Café com Sociologia. set. 2021. Disponível em: <https://cafecomsociologia.com/o-poder-em-michael-foucault/>.

Vários autores. O LIVRO DA SOCIOLOGIA. Ilustração James Graham; tradução Rafael Longo. 1 ed. São Paulo: Globo Livros, p. 52-55, 2015. GALLO, Sílvio. Repensar a educação: Foucault. Educação e Realidade. v. 29, n. 1, p. 79-97, jan/jun 2004. Disponível em: https://www.seer.ufrgs.br/educacaoerealidade/article/view/25420


Nota:

Para a construção do texto didático, em específico, partiu-se de experiências do cotidiano do aluno - a organização política do Brasil e as informações presentes em telejornais, por exemplo - caminhando para teorias do campo da ciência política. Introduziu-se algumas questões sobre a divisão em três poderes e qual seria sua importância para evitar o abuso de poder. Analisou-se que concepção de poder seria essa à qual Montesquieu se referiu juntamente com a concepção de Maquiavel, que é consonante à de Montesquieu. Em contraposição, foi introduzido o filósofo Foucault e explicou-se alguns de seus principais conceitos na ciência política (poder, governamentalidade, etc). Por fim, foram formuladas algumas perguntas que recolocavam a teoria explicada em contato com as experiências dos alunos a fim de gerar reflexões e debates que introduziriam as próximas aulas. Há, ainda, nos slides, os seguintes tópicos principais para se abordar em sala após a leitura do texto:

  • Por que falar sobre poder?
  • Onde está o poder na sociedade?
  • Quais as diferenças entre a concepção topológica de poder (exemplos: Montesquieu e Maquiavel) e a concepção microfísica do poder (Foucault).
  • O poder enquanto relação, rede e exercício/ação.
  • A importância da frase "Onde há poder, há resistência".
  • Que experiências cotidianas poderiam ser analisadas por meio desses conceitos de "poder"? (na escola, no shopping, em casa, etc)