IM - Conceitos Transversais

Fonte: Wikiversidade




Aula 1: Os conceitos básicos do pensamento económico.

Em princípio não deverão existir grandes dúvidas, todos estes conceitos baseiam-se em senso comum e lógica humana, é necessário apenas que tenha em mente que a tomada de decisão em economia ocorre baseada em conceitos tão simples como estes!

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Escassez, racionalidade, marginalismo e incentivos[editar | editar código-fonte]

A escassez é um conceito muito simples que se define "quando o que temos não dá para tudo". Ninguém tem tudo, e todos nós queremos sempre mais alguma coisa. Este é um dos princípios fundamentais da Economia, as nossas necessidades (desejos) são ilimitados e os recursos que temos para satisfazer esses mesmos desejos são limitados e escassos.

A existência de um limite aos nossos recursos leva-nos inevitavelmente ao conceito de ESCOLHA. Ou seja, o optarmos por determinada solução em vez de outra. Este conceito está muito ligado ao de Custo de oportunidade, de que falaremos já a seguir. Existe por isso a necessidade de fazer "Trade-Offs", ou seja de tomar uma decisão baseando-me numa análise custo-benefício.

Exemplo: tenho 10 euros e quero comprar chocolates e maçãs (1 euro cada). Posso comprar 10 chocolates, ou 10 maçãs, ou fazer combinações dos dois produtos. Estou limitado nos meus recursos mas vou agir com racionalidade, escolhendo aquilo que mais valorizo. Para tal respondo à seguinte questão "Quanto valorizo o consumo de mais um maçã?". Este raciocínio é apelidado de pensamento na margem. Ou seja a análise dos benefícios que o consumo de mais uma unidade de um bem me traz.

Agora que vimos que o agente económico toma a sua decisão de forma racional e baseado na valorização marginal (quanto valorizo o consumo de mais uma unidade), falta apenas termos noção que o ser humano reage a incentivos.

Estes incentivos provocam mudanças nos consumidores e levam-no a alterar a sua decisão. Se tivermos duas lojas ao lado uma da outra, em que ambas as lojas vendem maçãs por 1€, o agente económico (o consumidor) vai optar por qualquer da loja. Contudo se a loja A baixar os preços para metade, é lógico e racional que o consumidor passe a comprar maçãs nesta loja e não na outra. Todos nós reagimos a incentivos que alteram as nossas escolhas.

Mas como é que decidimos consumir mais uma maçã em vez de um chocolate? Que mecanismo está por trás desta tomada de decisão? Trata-se do conceito de custo de oportunidade que de seguida analisamos.


Custo de Oportunidade[editar | editar código-fonte]

O conceito de custo de Oportunidade está intrínsecamente ligado ao conceito de escolha. Regressando ao nosso exemplo inical, quando optamos por consumir uma maçã, perdemos a oportunidade de consumir um chocolate.

O custo de oportunidade analisa precisamente isto e é definido como "o valor da melhor alternativa sacrificada". Ou seja é um custo implícito no qual incorremos SEMPRE que tomamos uma decisão. Ao fazer uma escolha optamos por uma opção em detrimento de outra. o custo de oportunidade é precisamente o valor do produto que não escolhemos.

O conceito é simples e intuitivo contudo em algumas perguntas teóricas é difícil expressar e utilizar o conceito para explicar determinados factos. Como o conceito é bastante intuitivo seguem-se dois exemplos para sistematizar os conhecimentos.

  » Valorizo a ida ao cinema em 10€ e valorizo uma ida à praia em 5€. Opto por ir ao cinema. 
    O custo de oportunidade implícito a esta decisão é o valor da alternativa que sacrifiquei (ir à praia), ou seja 5€.
  » Tenho duas opções, como um gelado, ou compro chocolates. Valorizo ambas as opções e 1€. 
    Opto pelo chocolate. O custo de oportunidade é de 1€ (por não ter consumido o gelado).

Destes exemplos é importante reter que o custo de oportunidade reflecte a valorização que eu faço das minhas opções e não o custo efectivo dessas opções. Valorizo a ida ao cinema em 10€, ou seja estou disposto a pagar até dez euros. Contudo o preço do cinema não são 10€! O Custo de Oportunidade mede valorizações!

É importante compreender também que quando se fala em custos em economia contabiliza-se sempre o custo de oportunidade. Desta forma o custo económico é diferente do contabilístico. Quando dizemos que uma empresa tem lucro económico igual a 0, não significa que não tem lucro! Significa apenas que no mercado em que opera, a empresa está a ter a mesma valorização que teria num mercado alternativo. Este conceito pode parecer agora um pouco confuso mas será explicitado quando falarmos de concorrência perfeita.

A reter: "O custo oportunidade é o valor da melhor alternativa sacrificada". E ainda, "O custo económico é o custo contabilístico acrescido do custo de oportunidade".

Ganhos e Troca[editar | editar código-fonte]

O Conceito de ganhos e troca estão intimamente ligados e, à semelhança dos restantes conceitos abordados nesta aula, são bastantes inuitivos.

Imaginemos a seguinte situação hipotética:

  Vou à bomba de gasolina e quero encher o depósito com 10 litros. 
  Não existe preços definido e cabe-me a mim definir o preço com o gasolineiro.

De novo entramos com a questão das valorizações. Ou seja, imaginemos que eu precisava muito da gasolina e estava disposto a pagar 5€ por litro. O gasolineiro contudo estava disposto a receber 1€ por litro.

Temos por isso a seguinte situação:

  Preço mínimo por litro: 1€
  Preço máximo por litro: 5€

Qualquer valor entre 1€ e 5€ irá satisfazer ambos os agentes e motivar a transação. Se contudo o vendedor valorizar o bem num valor superior ao que o consumidor está no máximo disposto a pagar (por exemplo 7€), então não irão existir transações!

A definição do preço da transação vai depender da habilidade de negociação de ambos os agentes. Imaginemos que, após alguma negociação ficou acordado o pagamento de 2€ por litro. Então chegamos à seguinte situação: temos um equilíbrio, as unidades são transacionadas e tanto o consumidor como o vendedor ficam com um excedente! A diferença entre o preço máximo (5) e o preço pago (2) dá-nos o excedente do consumidor - a valorização que o consumidor obteve desta transação (além do que pagou). E a diferença entre o preço pago e o preço mínimo dá-nos o eexcedente do profutor - a valorização que o produtor obteve com esta transação.

Desta forma, quando existe uma transação existe sempre um valor criado (diferença entre o máximo disposto a pagar e o mínimo disposto a receber). Este valor é repartido pelos dois agentes de forma diferente dependendo do preço.

Este conceito será também sistematizado quando abordarmos o equilíbrio de mercado.

Eficiência Económica e redistribuição[editar | editar código-fonte]

"Quando existem transações voluntárias que não se realizam não existe eficiência, pois existe perda de valor".

O conceito de eficiência é também muito simples e por vezes colide com noções éticas e morais de redistribuição. Por essa razão quando falarmos de eficiência não nos vamos preocupar com a questão da redistribuição. O objectivo da economia é atingir a eficiência económica, algo explicado pelo modelo de concorrência perfeita. Contudo, o facto de estarmos em eficiência não implica que estejamos numa sociedade justa e equitativa. A questão da redistribuição não é passivo de análise nesta disciplina. Os governantes quando fazem e desenham polítcas económicas têm que ter em conta os impactos sociais que ocorrem. Desta forma tomam por vezes medidas que são negativas em termos de eficiência económica mas positivas em termos de redistribuição. Ao longo desta cadeira vamos nos deparar com inúmeros exemplos desta situação, como os impostos.


Regressemos ao exemplo da gasolina. Foi gerado valor resultante da diferença entre o valor máximo que o consumidor estava disposto a pagar e o valor mínimo que o produtor estava disposto a receber. Ou seja, todas as transações vão realizar-se. Assim este mercado está em efiêciência económica!

Contudo consideremos a seguinte situação irrealista: as pessoas estão impedidas por lei de comprar gasolina. Nesta situação existe ineficiência económica. uma vez que os agentes económicos estavam dispostos a fazer transações mas estão impedidos de o fazer! A situação pode parecer, e é, irrealista. Porém podemos analisar outras situações similares. O estado coloca impostos sobre as pessoas e sobre o rendimento. Imaginemos que o Estado decide colocar um imposto no mercado da gasolina. Se a taxa de imposto escolhida for superior à margem de negociação existente (valor máximo-valor mínimo), então não se irá realizar nenhuma transação! Originando assim mais uma ineficiência.

Sabemos que os impostos são necessários e, como iremos provar mais à frente, quase todos os impostos geram ineficiância. A questão será escolher os mercados sobre os quais os impostos devem incidir e a respectiva taxa. Sobre isto falaremos mais à frente no capítulo referente à Tributação.

A reter deste último conceito transversal: "Eficiência económica não implica redistribuição e justiça social" e "A ineficiência surge quando transações voluntárias não se realizam. Tal deve-se normalmente a questões legais, práticas ou tributárias".


Custo Afundado[editar | editar código-fonte]

O conceito de Custo Afundado (sank cost em inglês), resume-se a um custo que é FIXO e IRREVERSÍVEL. Estes custos, como nunca os poderemos recuperar, não devem ser tidos em conta no momento de uma decisão econômica. O exemplo secuinte ilustra este conceito.


"Um município decidiu aprovar a construção de uma escola. Os benefícios desta escola foram estimados em 100 e os seus custos em 90. Durante a construção os custos derraparam. Neste momento os custos acumulados são de 150. Um vereador da oposição propõem parar a obra por considerar que o projeto terá inevitavelmente prejuízo. Os custos estimados para terminar a obra são de 20."

Numa perspectiva de análise económica este argumento está errado! o custo acumulado de 150 são custos afundados. Não os podemos recuperar nunca! Por isso a questão é verificar se os custos de terminar a obra são menores que os benefícios que dela advém. Como os benefícios são 100 e os custos adicionais 20 então deve-se concluir a obra, pois o valor já pago é um custo afundado.


São estes os conceitos básicos e princípios que regulam a microeconomia. Nas próximas aulas vamos iniciar a análise de modelos económicos que nos irão permitir tirar conclusões mais complexas e interessantes!


Avançar para a próxima secção: 1.2 Fronteira de Possibilidades de Produção