Saltar para o conteúdo

Leitura e Produção de Textos/As concepções de linguagem

Fonte: Wikiversidade
Olá, estudante!

Vamos estudar algumas concepções sobre a linguagem humana. Veremos duas principais teorias que tentam descrever a maneira pela qual a linguagem se desenvolveu na humanidade. Uma delas, diz que a linguagem vem do pensamento, que, na verdade, o nosso pensamento é moldado pela linguagem. Então, algumas línguas e modos de organização e estrutura da linguagem favoreceriam determinadas reflexões. A outra diz exatamente o oposto, que o pensamento viria antes da linguagem e que pensamos primeiro e desenvolvemos a linguagem depois para dar conta deste. Leremos alguns textos para dar conta deste conteúdo. A partir do desafio, vamos perceber o nosso processo de aprendizagem, refletindo sobre nossas próprias concepções de linguagem e suas teorias.

Habilidades e Competências

Ao final desta aula, você deve ser capaz de:

  • conhecer as diferentes concepções da linguagem humana;
  • identificar essas diferentes concepções em textos acadêmicos.



Desafio: Aprender uma língua estrangeira costuma ser um desafio, principalmente depois que já somos adultos. O convite deste desafio é que você reflita sobre o aprendizado de uma língua completamente diferente da sua. A sugestão é buscar e assistir à primeira aula de um curso de coreano para iniciantes. Durante ou após o vídeo por você selecionado, faça anotações sobre os conteúdos transmitidos na aula: comente as explicações que você absorveu facilmente; descreva, a seguir, as informações que não ficaram tão claras; e, finalmente, lista as palavras-chave relacionadas ao conteúdo que ficou bastante obscuro para você. Recomendamos a Aula de Coreano para Iniciantes, da Professora Aileen, do Coreano Online.


Revisitando Conhecimentos

Na ultima aula, apresentamos a você as principais funções sociais da leitura e da escrita. O desenvolvimento da escrita levou à acumulação de conhecimento e à preservação da cultura, possibilitando o surgimento de um verdadeiro arquivo da humanidade. A capacidade de ler e escrever deve ser desenvolvida na escola, mas também nas universidades. Vimos, no entanto, que a escrita na academia pode ser precária, resumindo-se à imitação de certos textos-modelo e à repetição de autores. Uma das maneiras de melhorar a escrita dos estudantes universitários é privilegiar a curiosidade criativa e incentivar a produção de conhecimento, o que exige ir além do que já foi dito e escrito sobre determinado tema.

Nesta aula, vamos conhecer algumas diferentes concepções sobre a linguagem humana. Iniciaremos esse estudo com a análise do vídeo Theories of language and cognition produzido pela Khan Academy, que explica de forma didática duas teorias sobre a linguagem e a cognição. A cognição pode ser definida como o processo ou a habilidade de arquirir um conhecimento. Perceba que a palavra é muito próxima de "conhecer": isso porque ambas derivam do mesmo verbo latino: cognoscĕre.

Teorias da Linguagem e Cognição

Se você já aprendeu outro idioma, então você sabe que algumas palavras não se traduzem exatamente. Por exemplo, há um idioma na Nova Guiné que só tem duas palavras para cor: mola, significando "brilhante" e mili, significando "escuro". Agora compare isso com o inglês. Temos muitas palavras para cor: azul, verde, verde-azulado, malva, todas essas coisas.

Mas o fato de termos palavras diferentes para cores significa que realmente pensamos na cor de maneira diferente? Sua resposta a essa pergunta coloca você em uma posição do grande debate sobre o pensamento da linguagem. Qual vem primeiro? Temos diferentes teorias que podem colocar mais ou menos um espectro.

Por um lado, temos algo chamado universalismo. Essa teoria diz que o pensamento vem antes da linguagem. Então seus pensamentos ditam a linguagem que se desenvolve. Então, voltando ao nosso exemplo da Nova Guiné, um universalista diria que esse grupo de pessoas só pensa em termos de claro e escuro, e se eles tivessem conceitos ou ideias sobre outras cores, então eles desenvolveriam palavras para poder expressar esses pensamentos. Com o universalismo, esse pensamento determina a linguagem completamente.

Essa ideia foi a qual Piaget atribuiu. Ele surgiu com uma teoria do desenvolvimento cognitivo em crianças, e foi por isso e por suas observações de crianças que ele acreditava que uma vez crianças foram capazes de pensar de certa maneira, então eles desenvolveram a linguagem para descrever esses pensamentos. Por exemplo, quando as crianças aprendem que os objetos continuam a existir mesmo que eles não possam vê-los, é quando eles começam a desenvolver palavras como "sumiu" e "desapareceu", ou "localizou". Portanto, o desenvolvimento da linguagem deles é influenciado pelo seu desenvolvimento cognitivo e sua recém-descoberta capacidade de entender que os objetos existem, mesmo quando eles não podem mais vê-los. Foi isso que Piaget pensou.

E agora, um pouco abaixo, em direção ao meio termo, nós temos Vygotsky. E Vygotsky pensou que linguagem e pensamento são independentes, mas convergem através do desenvolvimento. Então ele não disse realmente se a linguagem influenciava o pensamento ou se o pensamento influenciou a linguagem. Ele apenas disse que os dois estão lá, ambos são independentes, mas, eventualmente, você aprende a usá-los ao mesmo tempo. Porque Vygotsky acreditava que as crianças desenvolvem linguagem através da interação social com adultos que já conhecem o idioma. E através dessa interação, então eles aprendem a conectar seus pensamentos e a linguagem que eles eventualmente aprendem.

Atravessamos agora o meio termo para o mundo que acredita que a linguagem tem influência no pensamento. E nós temos algumas posições aqui, e ambos se enquadram na categoria do determinismo linguístico. Então, essas são chamadas hipóteses fracas e fortes. E esse não é um julgamento de valor de quão bom ou bem estabelecidos eles são. Apenas se refere a quanta influência eles acham que a linguagem possui.

O determinismo linguístico mais fraco diz que essa linguagem influencia o pensamento. Torna mais fácil ou mais comum para pensarmos de certas maneiras, dependendo sobre como a nossa linguagem está estruturada. Por exemplo, imagine vividamente esta frase: a garota empurra o garoto. Como você imaginou isso? Se imaginou a garota à esquerda empurrando o garoto para a direita, provavelmente a sua língua nativa lê da esquerda para a direita, como o inglês. Se você imaginou o oposto, com a garota à direita empurrando o garoto para a esquerda, então seu idioma nativo pode ser aquele de lê da direita para a esquerda, como o hebraico. Não é que você pode ou não ter uma imaginação correta ou incorreta. Só que, dependendo da estrutura do seu idioma, torna mais provável ou mais fácil para você pensar sobre essa ação em uma determinada direção.

O determinismo linguístico mais forte tem uma visão mais externa e diz que essa linguagem determina completamente o pensamento. Isso também é chamado de hipótese whorfiana, porque o cara que inventou esta teoria se chamava Whorf. Ele observou que existe uma tribo nativa americana chamada Hopi que não têm tempo gramatical na língua deles, e pensou que isso significava que eles não poderiam pensar sobre o tempo da mesma maneira que nós. Mais tarde, as pessoas estudando o idioma, descobriram que os Hopi têm uma maneira diferente de expressar passado, presente e futuro.

Portanto, ainda não temos uma resposta para qual dessas perspectivas é o correto, e as pessoas ainda estão pesquisando para tentar descobrir o que é mais preciso. Mas agora você está ciente das principais perspectivas na relação entre pensamento e linguagem. E agora, quando você está aprendendo uma língua estrangeira, você pode pensar em como o idioma que você está aprendendo está influenciando seus pensamentos, ou vice-versa, como seus pensamentos estão afetando sua interpretação da linguagem.

Orientação de Estudo


Os objetivos desta aula são, como vimos, conhecer as diferentes concepções de linguagem humana e identificar essas diferentes concepções em textos acadêmicos. O vídeo da Khan Academy apresentou duas concepções de linguagem: o universalismo, que defende que o pensamento vem antes da linguagem, ou seja, seus pensamentos ditam a linguagem, que então se desenvolve; e o determinismo linguístico, que argumenta a favor da influência da linguagem sobre o pensamento, ou seja, o modo pelo qual nossa língua é estruturada nos leva a pensar de determinadas maneiras. Para investigar um pouco mais esses objetivos, leremos alguns tópicos que vão discutir como se desenvolvem e se aplicam diferentes teorias sobre a linguagem.


A linguagem verbal e a linguagem não-verbal

Linguagem Verbal

Do latim verbum, que significa palavra. A linguagem que usa palavras.

Linguagem Não-Verbal

Não se usa o verbum, não se usa a palavra.

Gramática do Design Visual

As maneiras pelas quais as imagens comunicam significado. Ordenação do processo cognitivo, através das imagens.

O texto multimodal

Comunicam-se através de gráficos, figuras, técnicas de layout e lettering. Um texto com muitos meios diferentes de significação. Avançando as ideias de linguagem verbal e não-verbal.

[...] o texto multimodal consiste em uma construção textual calcada na conexão/união de elementos provenientes de diferenciados registros da linguagem. Os textos multimodais mais conhecidos são os que estão pautados na junção de elementos alfabéticos e magnéticos (leia-se linguagem verbal escrita e visual, respectivamente). Sobre tal conceituação, podemos mencionar a título de exemplificação: os anúncios, os cartuns, as charges, as histórias em quadrinhos, as propagandas, as tirinhas etc. Tais gêneros trazem consigo a materialização de signos alfabéticos (letras, palavras e frases) e signos semióticos (imagéticos e visuais). Ou seja, esses gêneros têm sua construção materializada mediante múltiplas e diferenciadas semioses. (PORFIRIO, SOUZA e CIPRIANO, 2015).

Google Books Ngram Viewer

Ferramenta da Google que pesquisa em um acervo de livros, a ocorrência de palavras, e apresenta um gráfico. Consegue captar dados publicados de um acerco com publicações que datam desde 1800.

A concepção sócio-interacionista da linguagem

Percurso Argumentativo

Língua natural como um objeto científico "escondido".

Analogia: linguistas e botânicos

  • Plantas: externas ao pesquisador.
  • Língua: interna ao pesquisador ("objeto guardado em sua mente").

O ponto de vista

  • Ferninand de Saussure: fundador da Linguística moderna;
  • " bem longe de dizer que objeto precede o ponto de vista, diríamos que é o ponto de vista que cria o objeto" (SAUSSURE, 1917/1972: 15).
  • Teorizar < Teoria: palavra grega = (aproximado) ponto de vista.
— Mas que droga, eu pensava que a gramática fosse uma coisa só!
— Pois é não poderia ser, visto que a língua é muito complexa. (CASTILHO, 2020, p. 42)

Inteirando-se disso tudo, você entenderá por que há afirmações conflitantes sobre uma mesma questão de gramática. Poderá desenvolver um raciocínio mais flexível, aceitando as diferenças de ponto de vista. E, sobretudo, poderá desenvolver suas próprias observações sobre um fenômeno tão importante para nossa identidade pessoal e social, a língua que falamos, e sua gramática. O objetivo maior é fazer pensar.

As quatro grandes Teorias Linguísticas

  1. A língua é um conjunto de produtos: Gramática Descritiva.
  2. A língua é um conjunto de processos mentais, estruturantes: Gramática funcionalista-cognitivista.
  3. A língua é um conjunto de processos e de produtos que mudam ao longo do tempo: Gramática Histórica.
  4. A língua é um conjunto de "usos bons": Gramática prescritivo-normativa.

Três Concepções de Linguagem

A linguagem como expressão do pensamento

  • Prevaleceu no ensino até o final da década de 60;
  • Fala organizada < Pensamento organizado;
  • Ênfase no psiquismo individual;
  • Escola deve ensinar a falar, escrita é relegada a um segundo plano;
  • Enfoque na gramática prescritivo-normativa.

A linguagem como instrumento de comunicação

  • Prevalece no ensino durante a década de 70 e adentra nos anos 80;
  • Língua como sistema fechado de regras e convenções;
  • Língua como estrutura concreta, um código passível de ser analisado internamente: estruturalismo;
  • Considera-se o caráter social da língua: surge o Funcionalismo.

A linguagem como forma de interação

  • Passa a ser difundida nos anos 80;
  • Bakhtin e Vygotsky;
  • Linguagem como social: resultado de uma construção coletiva e de processos de interação;
  • Vygotsky: a linguagem possibilita um contato com o mundo;
  • Bakhtin: olhar dialógico sobre a linguagem.

A noção de interação

Para Bakhtin (2004, p. 31):

A linguagem é um ato social que se realiza e se modifica nas relações sociais e é, ao mesmo tempo, meio para a interação humana e resultado dessa interação, já que seus sentidos não podem ser desvinculados do contexto de produção. A linguagem é, portanto, de natureza socioideológica e tudo "que é ideológico possui um significado e remete a algo situado fora de si mesmo" (GEDOZ e COSTA-HUBES, 2012, p. 130).

O discurso

  • Língua;
  • Falantes;
  • Atos de fala;
  • Esferas Sociais;
  • Valores Ideológicos.

A presença do outro

  • Perspectiva dialógica;
  • Perspectiva interacional.

Aprofundando o tema

Para aprofundar o que discutimos, sugerimos que assista a alguns vídeos, entre os quais o curta de animação Out of sight, de Ya-Ting Yu, Ya-Hsuan Yeh e Ling Chung.

Material de Apoio - A concepção de linguagem determina o que e como ensinar | Revista Nova Escola

Material de Apoio - Out of sight | Ya-Ting Yu, Ya-Hsuan Yeh e Ling Chung

Em síntese

Ao final desta segunda aula, esperamos que você tenha conhecido as principais teorias sobre a linguagem humana.


Parabéns! Você chegou ao fim do conteúdo desta aula.

Vimos que existem algumas teorias sobre a relação entre a linguagem e o pensamento. Essas diferentes concepções organizam nosso conhecimento sobre o desenvolvimento e a aquisição da linguagem pelos seres humanos. Esperamos que você tenha aproveitado esta aula e que sinta curiosidade para saber o que vem pela frente. Vamos dar uma dica: na próxima aula, vamos tratar as relações que se estabelecem entre a leitura e a escrita.


Referências

  1. CASTILHO, A. T. Nova gramática do português brasileiro. São Paulo.
  2. GEDOZ, S.; COSTA-HUBES, T. C. Concepção sociointeracionista de linguagem: percurso histórico e contribuições para um novo olhar sobre o texto. Trama, [S.l.], v. 8, n. 16, p. 139-152, ago. 2012. ISSN 1981-4674. Disponível em: http://saber.unioeste.br/index.php/trama/article/view/6953/5148 Acesso em: 6 mar. 2020.
  3. SUASSUNA, L. Ensino de análise linguística: situando a discussão. In: SILVA, A.; PESSOA, A. C.; LIMA, A. (Org.) Ensino de gramática: reflexões sobre a língua portuguesa na escola. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.