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Leitura e Produção de Textos/As relações entre a leitura e a escrita

Fonte: Wikiversidade
Olá, estudante!

Vamos estudar as relações existentes entre a leitura e a escrita. Nas aulas anteriores, estudamos as funções sociais da leitura e a escrita e também algumas concepções centrais sobre a linguagem humana. Nesta aula, vamos estudar o conceito fundamental que vigora em todos os estudos linguísticos atualmente, que é a função de discurso. Então se antes estudávamos na escola a palavra, ou mesmo o texto, vamos estudar como o texto se insere socialmente e quais são os elementos que compõem um discurso. Veremos que um discurso nunca é sem intenção, sempre a carrega junto de uma pretensão de quem o produz. Perceberemos que as palavras têm poder! O poder não é apenas exercido sob a estrutura ou as instituições que o carregam. Ele não vem somente pela coação física do nosso corpo. O poder vêm pelo modo de estruturação de palavras. Isso é que podemos chamar de discurso. Além deste conceito central para os estudos da linguagem, estudaremos também algumas estratégias de compreensão de texto. Ao depararmos com textos acadêmicos, utilizaremos determinadas estratégias para que este texto possa ser bem lido, compreendido e interpretado.

Habilidades e Competências

Ao final desta aula, você deve ser capaz de:

  • Estabelecer relações entre as práticas de leitura e de escrita;
  • Compreender o conceito de discurso;
  • Relacionar o discurso ao exercício do poder.



Desafio: Escolha um discurso, disponível na internet, de uma pessoa que ocupe uma alta posição de comando em uma empresa ou em uma instituição pública. Selecione cerca de 5 minutos dessa fala. Transcreva o texto, a mão ou no computador. Leia atentamente essa transcrição. Em seguida, destaque as estratégias linguísticas usadas no discurso. Verifique, por exemplo, os tempos verbais empregados, os elementos de junção de ideias, a ordem das sentenças, o vocabulário empregado etc. A partir dessa atividade, escreva um parágrafo que mostre sua reflexão sobre como a língua é utilizada no exercício do poder.


Revisitando Conhecimentos

Na última aula, apresentamos a você as grandes concepções sobre a linguagem humana. A linguagem pode ser compreendida como:

  • A expressão do pensamento;
  • Um instrumento de comunicação; e
  • Uma forma de interação.

Dependendo da concepção que tomamos por base, observamos o nosso objeto científico de estudo, que a língua, de pontos de vista diversos. Por isso, é tão importante termos clareza de nosso ponto de vista, ou teoria (palavra derivada do grego).

Vimos que, para a concepção sociointeracionista da linguagem, o discurso é fundamental. Sob essa teoria, não analisamos a palavra, ou mesmo o texto, descolada de seu contexto, mas sempre em relação estreita com o produtor do texto, seu interlocutor, com a esfera social de circulação e os valores ideológicos inerentes a qualquer discurso.

Estudamos também a importância de sabermos ler e interpretar textos que não são construídos apenas com palavras, mas com imagens, layouts, gráficos etc. São os chamados "textos multimodais", que surgem a partir da revolução tecnológica digital.

Daniella Zupo entrevista Mia Couto

Nesta aula, vamos estudar as relações entre leitura e escrita, com ênfase na noção de discurso. Iniciaremos esse estudo assistindo a esse vídeo, que é uma entrevista com o renomado autor Mia Couto. Ele discute como funciona a relação inescapável entre escrita e leitura.

Vida Maria

O outro vídeo é um curta de animação chamado "Vida Maria", que recebeu o 3° Prêmio Ceará de Cinema e Vídeo, concedido pelo Governo do Estado do Ceará. O curta conta a história de Maria José, uma menina de 5 anos de idade, que é levada a largar os estudos para trabalhar. Enquanto trabalha, ela cresce, casa, tem filhos, envelhece.

Orientação de Estudo


Como vimos, os objetivos desta aula são estabelecer relações entre as práticas de leitura e de escrita, compreender o conceito de discurso e relacionar o discurso ao exercício do poder. O vídeo da entrevista com o escritor Mia Couto mostrou como uma pessoa cujo ofício é lidar com as palavras concebe o ato de ler e o ato de escrever. O escritor reflete ainda sobre a relação existente entre esses dois atos. Para investigar um pouco mais esses objetivos, leremos alguns textos que vão discutir a noção de discurso e trazer algumas estratégias leitoras.


A leitura e a escrita como ferramentas de formação cidadã


A partir do curta de animação Vida Maria, a aula discute o papel central que a educação que forma leitores e escritores tem para a formação de cidadãos. A partir da leitura de trechos de nossa Constituição, percebemos como o conceito de cidadania é forjado e aplicado atualmente:

O que nos diz a Constituição

CAPÍTULO III

DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO
SEÇÃO I

DA EDUCAÇÃO

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; [...]

Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, [...] por meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas que conduzam a:
I - erradicação do analfabetismo;
II - universalização do atendimento escolar;
III - melhoria da qualidade de ensino;
IV - formação para o trabalho;
V - promoção humanística, científica e tecnológica do País. [...]

Cidadania

Condição de pessoa que, como membro de um Estado, se acha no gozo de direitos que lhe permitem participar da vida política (HOUAISS, 2001).

As estratégias leitoras


A aula apresenta as principais estratégias de leitura de textos acadêmicos, discutindo-as em detalhes:

Leitura, Decodificação, Decifração e Compreensão

"A ênfase conferida à compreensão leitora decorre do fato de que muitas pessoas, dentre elas alunos de Ensino Médio e Superior, não entendem o que leem. Em vista disso, os professores têm de estar cientes de que não basta ensinar a ler, é necessário que o aluno entenda a leitura feita e aprenda com o que lê, interpretando os conteúdos contidos no texto, atribuindo-lhes significado, para que a leitura - enquanto atividade cognitiva - cumpra o seu papel." (FLORES, 2016, p. 45).

Bons Leitores

"a) Classificam e organizam os problemas encontrados no texto [...];
b) Optam por critérios estáveis e coerentes de seleção dos detalhes a serem considerados;
c) Atingem nível de compreensão mais aprofundado e específico [...];
d) Dominam com maior qualidade e em maior quantidade os conceitos específicos de uma dada área de conhecimento;
e) Estabelecem relações adequadas (de ordem, dependência, causalidade...) entre conceitos específicos de um dado domínio." (FLORES, 2016, p. 47).

Estratégias de Leitura

Separação de ideias principais de secundárias

A clareza do conteúdo permite que criemos esquemas mentais. Esquemas < Hierarquia.

Relevância > Registro Mental > Proeminência > Consolidação na memória

Paráfrase

  • Implica a síntese de unidades textuais mais amplas (parágrafos, por exemplo).
  • Resultado: produção de um texto, embasado no texto proposto para leitura, em que é possível clarificar os conteúdos/ideias d texto original, bem como suas inter-relações.
  • Representação mental do texto original, de modo coerente e coeso. (FLORES, 2016, p. 49-50).

Produção de inferências

"[...] um tipo de cálculo mental do leitor, realizado para completar ou complementar as lacunas textuais, sendo essa estratégia mobilizada na leitura de qualquer texto. A necessidade de inferir decorre de não existir texto algum que contenha tudo aquilo que intenta transmitir/informar/argumentar, por isso é certo que o leitor, para entender o texto em profundidade, precisa completá-lo/complementá-lo com suas inferências." (FLORES, 2016, p. 50).

Elaboração que questões pertinentes sobre o texto

  • Avaliação feita pelo próprio leitor.
  • Responde à pergunta: o que o texto significou para mim?
  • Garante o aprofundamento da compreensão leitora.
  • Permite pensar sobre o que entendemos e o que não entendemos sobre o texto permite alterarmos a perspectiva a partir da qual o texto foi lido.

Monitoramento da leitura

  • Permite refletir sobre a própria leitura.
  • Permite assumir o controle do seu processo de entendimento.
  • "[...] tomada de consciência do leitor sobre a qualidade e o grau de compreensão atingido, significando, isso, ficar ele no controle/acompanhamento do entendimento obtido, o que demanda experiência leitora e envolvimento total com a tarefa." (FLORES, 2016, p. 50).

Aprofundando o tema

Para aprofundar o que discutimos, sugerimos que leia um texto fundamental de Antonio Candido chamado "O direito à literatura".

Material de Apoio - O direito à literatura | Antonio Candido

Em síntese

Ao final desta terceira aula, esperamos que você tenha percebido que os atos de ler e de escrever são interdependentes. Além disso, gostaríamos que você tivesse clareza sobre o poder do discurso e conhecesse seus elementos constitutivos.


Parabéns! Você chegou ao fim do conteúdo desta aula.

Vimos que existem algumas relações possíveis entre a leitura e a escrita e estudamos a noção de discurso. Constatamos que qualquer texto carrega uma intencionalidade e é fundamental que saibamos identificá-la. Esperamos que você tenha aproveitado esta aula e que sinta curiosidade para saber o que vem pela frente. Vamos dar uma dica: na próxima aula, vamos tratar sobre a coesão e a coerência textuais, que garantem a fluidez da leitura de um texto.


Referências

  1. FLÔRES, O. C. A inter-relação leitura & escrita: o papel do conhecimento prévio e das estratégias leitoras. Signo. Santa Cruz do Sul, p. 42-52, mar. 2016. ISSN 1982-2014.