Ocorrência de rajadas descendentes no Pajeú

Fonte: Wikiversidade

As rajadas descendentes convectivas são fenômenos meteorológicos que consistem em correntes de ar descendentes, de alta velocidade e curta duração, que se originam em nuvens cumulonimbus e atingem a superfície terrestre, podendo causar danos materiais e humanos. Uma vez que atingem uma velocidade acima de 50 km/h, podem ser classificadas como microburst ou macroburst. Caso o valor seja menor do que 50 km/h, são chamadas apenas de rajadas de vento. O Pajeú é uma região do sertão de Pernambuco, no nordeste do Brasil, que possui um clima semiárido, com baixa pluviosidade e alta variabilidade temporal e espacial das chuvas. As épocas de chuva e de seca (estiagem) são bem definidas. O objetivo deste texto é apresentar um estudo sobre a probabilidade de ocorrência de rajadas descendentes convectivas no Pajeú, utilizando dados de notícias sobre temporais que ocorreram na região.

Meteorologia do Pajeú[editar | editar código-fonte]

Mapa da microrregião do Pajeú, em Pernambuco.

O Pajeú é uma microrregião localizada no norte do estado de Pernambuco, abrangendo o ponto mais setentrional do estado no continente: o sítio Lagoa de Dentro, em Itapetim. É composta por 17 municípios: Afogados da Ingazeira, Brejinho, Calumbi, Carnaíba, Flores, Iguaracy, Ingazeira, Itapetim, Quixabá, Santa Cruz da Baixa Verde, Santa Terezinha, São José do Egito, Serra Talhada, Solidão, Tabira, Triunfo e Tuparetama.

O local possui épocas de chuva e estiagem bem definidas: a época de chuvas começa em janeiro a março (dependendo do ano) e dura até junho, com a maior parte concentrada nos meses de março e abril, quando há maior probabilidade de ocorrência de temporais, chuvas intensas e aguaceiros, principalmente devido à ação da zona de convergência intertropical. O resto do ano é quando predomina a época de estiagem.

Análise das rajadas descendentes convectivas no Pajeú[editar | editar código-fonte]

No começo do ano, as chuvas no Pajeú costumam ser intensas, podendo resultar em aguaceiros ou rajadas descendentes convectivas (downbursts). Os downbursts são mais raros, mas podem ocorrer ocasionalmente.

O período com maior chance de ocorrência de rajadas descendentes convectivas no Pajeú é entre dezembro a março, principalmente porque a probabilidade de ocorrência de chuvas intensas é alta. A precipitação durante esse período pode ultrapassar os 40 mm facilmente. Além disso, as rajadas descendentes convectivas podem ocorrer e alcançar os 70 km/h em alguns casos, principalmente nas áreas serranas.

Casos de rajadas descendentes convectivas no Pajeú[editar | editar código-fonte]

Alguns casos de rajadas descendentes convectivas no Pajeú. As rajadas de vento foram estimadas exclusivamente pelo estudo com base na Escala de Beaufort, que classifica a intensidade dos ventos sem a necessidade de instrumentos.

17 de janeiro de 2023 (São José do Egito)[editar | editar código-fonte]

Na tarde do dia 17 de janeiro de 2023, uma chuva acompanhada de um microburst provocou estragos na cidade de São José do Egito. Rajadas de vento estimadas em até 72 km/h. Um forro de PVC de uma escola desabou em decorrência da ventania.

23 de abril de 2022 (Itapetim)[editar | editar código-fonte]

Chuva forte acompanhada de um microburst em Itapetim na tarde de 23 de abril de 2022. A precipitação ultrapassou 20 mm e as rajadas de vento foram estimadas em mais de 60 km/h. Houve queda de granizo.

12 de fevereiro de 2022 (São José do Egito)[editar | editar código-fonte]

Na tarde do dia 12 de fevereiro de 2022, um aguaceiro acompanhado de um microburst causou estragos e alagamentos no distrito de Riacho do Meio, em São José do Egito. Não há informações sobre a precipitação. Rajadas de vento estimadas em até 75 km/h. O microburst durou 10 minutos.

A cobertura de um posto de gasolina, que fica no trecho para Santa Terezinha, foi derrubada pela força do vento. A rua da Praça Central do distrito virou um riacho. Casas e uma lanchonete tiveram telhas arrancadas com a ventania. Não houve relatos de feridos, apenas danos materiais.

10 de fevereiro de 2022 (Flores e Carnaíba)[editar | editar código-fonte]

Aguaceiro acompanhado de microburst nos municípios de Flores e Carnaíba, em Pernambuco, no dia 10 de fevereiro de 2022. Rajadas de vento estimadas em mais de 60 km/h. Foram 26 milímetros de chuva acumulados em poucos minutos. Houve registro de granizo.

14 de outubro de 2021 (Flores)[editar | editar código-fonte]

Por volta das 16h30 do dia 14 de outubro de 2021, a zona rural de Flores foi atingida por um microburst de 5 minutos. Houve destelhamentos de residências e a queda da parede de uma quadra esportiva. As rajadas de vento alcançaram a casa dos 60 km/h.

18 de março de 2021 (Tabira)[editar | editar código-fonte]

Na noite do dia 18 de março de 2021, uma chuva forte acompanhada de microburst e granizo causou estragos na cidade de Tabira, resultando em queda de árvores e paredes. Rajadas de vento estimadas em mais de 70 km/h. Choveu mais de 30 milímetros na cidade.

13 de março de 2021 (Tabira e Afogados da Ingazeira)[editar | editar código-fonte]

Chuva forte acompanhada de um microburst em Tabira e Afogados da Ingazeira por volta das 16h da tarde do dia 13 de março de 2021. Houve destelhamentos de residências e comércios, além de queda de árvores. Rajadas de vento estimadas em até 65 km/h.

8 de janeiro de 2020 (Itapetim)[editar | editar código-fonte]

Aguaceiro de até 81 milímetros acompanhado de microburst em Itapetim na tarde do dia 8 de janeiro de 2020. As rajadas de vento foram estimadas em mais de 60 km/h, fazendo com que o Cruzeiro de Itapetim, símbolo da cidade, perdesse uma parte da sua estrutura.

28 de janeiro de 2019 (Afogados da Ingazeira)[editar | editar código-fonte]

No dia 28 de janeiro de 2019, uma série de downbursts úmidos e secos atingiram cidades do sertão da Paraíba e de Pernambuco, incluindo Afogados da Ingazeira, no sertão do Pajeú. Em Afogados, houve registro de destelhamentos de residências e comércios, antenas carregadas pelo vento, além de árvores e estruturas metálicas derrubadas. Rajadas de vento estimadas em até 117 km/h.

22 de janeiro de 2017 (Afogados da Ingazeira)[editar | editar código-fonte]

Aguaceiro de meia-hora acompanhado de downburst em Afogados da Ingazeira, no dia 22 de janeiro de 2017. O evento provocou o destelhamento de uma escola e algumas residências, além de queda de árvores e alagamentos. Rajadas de vento estimadas em mais de 60 km/h. A precipitação ultrapassou 30 milímetros.

17 de dezembro de 2016 (Tabira)[editar | editar código-fonte]

Aguaceiro (chuva forte) acompanhado de downburst intenso em Tabira, PE, na noite do dia 17 de dezembro de 2016. Rajadas de vento estimadas em até 95 km/h. A precipitação alcançou 103 milímetros.

Houve muitos estragos na cidade: casas destelhadas, árvores, barracas e placas derrubadas, entre outros. Talvez esse tenha sido o maior temporal registrado na cidade.

24 de dezembro de 2015[editar | editar código-fonte]

Série de downbursts úmidos e secos por praticamente todo o Pajeú no dia 24 de dezembro de 2015. Em Ingazeira, as rajadas de vento foram estimadas pela mídia em até 110 km/h, mas há desconfiança em relação a esse valor. Os danos condizem com rajadas de vento acima de 80 km/h. Houve levantamento de poeira. Ainda na Ingazeira, uma torre caiu em cima de uma sala de aula da escola Argemiro Pereira Veras. Em Itapetim, os ventos fortes derrubaram a torre de uma empresa de internet instalada ao lado da Igreja Matriz de São Pedro.

Conclusão[editar | editar código-fonte]

De acordo com os dados e análises, conclui-se que as rajadas descendentes convectivas (downburst / microburst / macroburst) são eventos não tão comuns no Pajeú, em Pernambuco, mas que também não são raros e podem ocorrer ocasionalmente na região.

Até o momento, não há informações sobre downbursts que alcançaram valores acima de 100 km/h na área.