FRAGMENTO 1 – Parmênides (530 – 460 a. C.) e Heráclito (500 - 450 a. C.)
Fonte: PARMÊNIDES. Da natureza. Trad. Fernando Santoro. Primeira edição limitada ao I Seminário OUSIA de Estudos Clássicos dedicado ao Poema de Parmênides em outubro de 2006. Disponível em: http://www.uern.br/professor/arquivo_baixar.asp?arq_id=1723 Acesso em 28 nov. 2020.
O mesmo é o que é a pensar e o pensamento de que é.
Pois sem o ente, no qual está apalavrado,
não encontrarás o pensar. Pois nenhum outro nem é
nem será além do ente, pois que Partida (moira1) já o prendeu
para ser todo imóvel; assim será nome, tudo
quanto os mortais instituíram persuadidos de ser verdadeiro,
surgir e também sucumbir, ser e também não,
e alterar de lugar e variar pela superfície aparente.
(PARMÊNIDES, fragmentos 34 e 41 do fragmento 8)
conhecimento
O que são as coisas?
Fonte: HERÁCLITO. Sobre a natureza. Trad. de José Cavalcante de Souza. São Paulo: Nova Cultural, 1989. Coleção
“Os Pensadores”.
Nos mesmos rios entramos e não entramos, somos e não somos. (Frag. 49a).
Não é possível entrar duas vezes no mesmo rio (Frag. 91).
Transmutando-se, repousa (Frag. 84).
O mesmo é vivo e morto, acordado e adormecido, novo e velho: pois estes, modificando-se, são aqueles e, novamente, aqueles, modificando-se, são estes (Frag. 88).
As coisas frias esquentam-se, o quente esfria-se, o úmido seca, o seco umidifica-se (Frag.126)
FRAGMENTO 2 – Sócrates (469 – 399 a. C.) / Platão (427? – 347? a. C.)
Fonte: PLATÃO. Teeteto. In. Diálogos I: Teeteto (ou Do Conhecimento), Sofista (ou Do Ser), Protágoras (ou Sofistas).
São Paulo: Edipro, 2007. (Clássicos Edipro).
Sócrates — Assim, parece que, se indagado “o que é o conhecimento”, nosso guia responderia que é opinião correta acompanhada de um conhecimento da diferença, pois isso seria de acordo com ele a adição da explicação racional.
Teeteto — É o que parece.
Sócrates — E é inteiramente tolo, ao procurarmos uma definição para conhecimento, declarar que é opinião correta com conhecimento, seja da diferença ou de qualquer outra coisa. A conclusão é que nem a percepção, Teeteto, nem a opinião verdadeira, nem a explicação racional associada à opinião verdadeira poderiam ser conhecimento.
Teeteto — Aparentemente não.
Sócrates — Assim, meu amigo, continuamos nós grávidos e em trabalho de parto com pensamentos em torno do conhecimento, ou demos à luz todos? Teeteto — Sim, demos e, por Zeus, Sócrates, com teu auxílio eu já disse mais do que havia dentro de mim.
Sócrates — Com isso, nossa maiêutica nos declara que todos os rebentos que nasceram não passam de ovos sem gema e indignos de serem criados?
Teeteto — Decididamente.
Sócrates — Se, depois dessa experiência, no futuro te dispuseres a tentar conceber outros pensamentos, Teeteto, e realmente os conceba, estarás grávido de melhores pensamentos do que esses por causa da presente investigação; e se permaneceres estéril, te mostrarás menos duro e mais afável com teus companheiros, pois estarás munido da sabedoria de não pensar que sabes aquilo que não sabes. (PLATÃO, 2007, p. 168-169).
FRAGMENTO 3 – Francis Bacon (1561 – 1626) Fonte: BACON, F. Novum Organum. Trad. e notas de José Aluysio Reis de Andrade. SP: Nova Cultural, 2000.
(Coleção os Pensadores).
Todos aqueles que ousaram proclamar a natureza como assunto exaurido para o conhecimento, por convicção, por vezo professoral ou por ostentação, infligiram grande dano tanto à filosofia quanto às ciências. Pois, fazendo valer a sua opinião, concorreram para interromper e extinguir as investigações. [...]. Nosso método, contudo, é tão fácil de ser apresentado quanto difícil de se aplicar. Consiste no estabelecer os graus de certeza, determinar o alcance exato dos sentidos e rejeitar, na maior parte dos casos, o labor da mente, calcado muito de perto sobra aqueles, abrindo e promovendo, assim, a nova e certa via da mente, que, de resto, provém das próprias percepções sensíveis. Foi, sem dúvida, o que também divisaram os que tanto concederam à dialética. (BACON, 2000, p. 27-28).
[...] em primeiro lugar, estará, sem dúvida, interessado em um procedimento que não frustre a instituição, nem leve ao malogro o experimento. Em segundo lugar, estará igualmente interessado em um procedimento que não o constranja nem o force ao uso de certos meios e modos particulares de proceder. Pois pode ocorrer que não disponha de tais meios ou não tenha possibilidade ou condições de consegui-los. E se há outros meios ou modos para reproduzir a natureza desejada (além daqueles preceitos), eles poderiam estar ao alcance do operador. E este poderia, pela rigidez dos preceitos, anular os resultados. Em terceiro lugar, desejará que lhe seja indicado algo que não seja tão difícil quanto a própria operação investigada, mas que seja mais próximo da prática. (BACON, 2000, p.103).
FRAGMENTO 4 – Rene Descartes (1596 – 1650)
Fonte: DESCARTES, R. Discurso do Método. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2008.
Meu desígnio presente, então, é não o de ensinar o método que cada um deve seguir para a conduta certa da sua razão, mas somente descrever o modo pelo qual tentei dirigir a minha própria. (DESCARTES, 2008, p. 14).
O primeiro era de nunca aceitar qualquer coisa como verdadeira que eu não percebesse evidentemente ser tal; isto é, cuidadosamente evitar a precipitação e o preconceito, e não incluir nada mais em meu juízo que os apresentados tão evidentemente e distintamente à minha mente, de modo a excluir toda base de dúvida. O segundo era de dividir cada uma das dificuldades sob exame em tantas partes quanto possíveis, como necessárias à sua solução adequada. O terceiro, orientar meus pensamentos em tal ordem que, começando com objetos os mais simples e de mais fácil conhecimento, poderia ascender aos poucos e, como se fosse passo a passo, ao conhecimento do mais complexo; nomeando até mesmo em pensamento uma ordem certa para objetos os quais, por sua própria natureza, não sugerem relação de antecedência e sequência. E o último, fazer em todos os casos enumerações tão completas, e as revisões tão gerais, que possa ser assegurado que nada foi omitido. (DESCARTES, 2008, p. 25-26).
[...] investiguei o que é geralmente essencial para a verdade e certeza de uma proposição; pois de vez que tinha descoberto uma que sabia ser verdadeira, pensei que poderia igualmente descobrir a base desta certeza. E como observei isso nas palavras que penso, logo existo, não há nada que me dá garantia de sua verdade além disto, vejo muito evidentemente que para pensar é necessário existir, concluí que poderia tomar, como regra geral, o princípio de que todas as coisas que concebemos muito evidente e distintamente são verdades e só ressalvado, porém, que há alguma dificuldade em justamente determinar os objetos que concebemos distintamente. (DESCARTES, 2008, p. 37).
FRAGMENTO 5 – Immanuel Kant (1724 – 1804)
Fonte: KANT, I. Resposta à Pergunta: ‘O Que é Esclarecimento?’. In. KANT, I. Textos Seletos. (org. Carneiro Leão,
E.). 3ª. Ed. Petrópolis: Vozes, 2005.
Esclarecimento [Aufklärung] é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado.
A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo.
O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de
entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem.
Sapere aude! Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do
esclarecimento [Aufklärung]. (KANT, 2005, p. 63-64).
ser humano
FRAGMENTO 6 – T. Adorno (1903 – 1969) e M. Horkheimer (1895 – 1973)
Fonte: ADORNO, T.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Tradução de Guido
Antônio de Almeida. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
No sentido mais amplo do progresso do pensamento, o esclarecimento tem perseguido sempre o
objetivo de livrar os homens do medo e de investi-los na posição de senhores. Mas a terra
totalmente esclarecida resplandece sob o signo de uma calamidade triunfal. O programa do
esclarecimento era o desencantamento do mundo. Sua meta era dissolver os mitos e substituir a
imaginação pelo saber. Bacon, “o pai da filosofia experimental”, já reunira seus diferentes temas.
Ele prezava os adeptos da tradição, que “primeiro acreditam que os outros sabem o que eles não
sabem; e depois que eles próprios sabem o que não sabem. [...]”. (ADORNO, HORKHEIMER,
1985, p. 17).
O mito converte-se em esclarecimento, e a natureza em mera objetividade. O preço que os homens
pagam pelo aumento de seu poder é a alienação daquilo sobre o que exercem poder. O
esclarecimento comporta-se com as coisas como o ditador se comporta com os homens. Este
conhece-os na medida em que pode manipulá-los. O homem de ciência conhece as coisas na medida
em que pode fazê-las. É assim que seu em-si torna para-ele. Nessa metamorfose, a essência das
coisas revela-se como sempre a mesma, como substrato da dominação. (ADORNO,
HORKHEIMER, 1985, p. 21).
O Esclarecimento se consuma e se supera quando os fins práticos mais próximos se revelam como o
objetivo mais distante finalmente atingido [...] a saber, a natureza ignorada pela ciência dominadora.
(ADORNO, HORKHEIMER, 1985, p. 46).
Como o esclarecimento converte o mito?
FRAGMENTO 7 – R. Carnap (1891-1970), O. Neurath (1882-1945) e H. Hahn (1879 – 1934)
Fonte: HAHN, H.; NEURATH, O.; CARNAP, R. Wissenschaftliche Weltauffassung: der Wiener Kreis. [The Scientific Conception of the World: The Vienna Circle]. [1929], p. 1-16.
Disponível em:
https://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.477.4758&rep=rep1&type=pdf Acesso em 28 nov. 2020.
Objetivo dos pilares do Círculo de Viena em obter uma Ciência Unificada associada ao fisicalismo, uma concepção de mundo científica: “a tônica dada ao trabalho coletivo; daí também a ênfase no intersubjetivamente apreensível; e isso dá origem a uma busca por um sistema formal neutro, por um simbolismo libertado dos escombros das linguagens históricas; e vem daí também a busca por um sistema comum de conceitos” (HAHN; NEURATH; CARNAP, 1979 [1929], p. 5).
Concepção de mundo científica.
Obtenção de uma Ciência Unificada associada ao fisicalismo por meio pilares do Círculo de Viena.
O fragmento busca justificar uma ciência verdadeira(Unificada), evidenciada pela neutralidade, apreensão da realidade pela intersubjetividade observada pelo trabalho coletivo e sem preocupação com o domínio histórico dos conceitos pois o verdadeiro sistema conceitual seria comum à essa Ciência Unificada.
FRAGMENTO 8 – T. Kuhn (1922 - 1996)
Fonte: KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. 5. ed. São Paulo: Editora Perspectiva S.A, 1997.
[...] a História da Ciência torna-se a disciplina que registra tanto esses aumentos sucessivos como os obstáculos que inibiram sua acumulação. Preocupados com o desenvolvimento científico, o historiador parece então ter duas tarefas principais. De um lado deve determinar quando e por quem cada fato, teoria ou lei cientifica contemporânea foi descoberta ou inventada. De outro lado, deve descrever e explicar os amontoados de erros, mitos e superstições que inibiram a acumulação mais rápida dos elementos constituintes do moderno texto científico. (KUHN, 1997, p. 20).
ciência
FRAGMENTO 9 – G. Bachelard (1844 - 1962) Fonte: BACHELARD, G. A epistemologia. Tradução de Fátima Lourenço Godinho e Mário Carmino Oliveira. Lisboa, Portugal: Edições 70, 2006.
Quando se procuram as condições psicológicas dos progressos da ciência, em breve se chega à convicção de que é em termos de obstáculos que se deve pôr o problema do conhecimento científico. E não se trata de considerar obstáculos externos como a complexidade e a fugacidade dos fenômenos, nem tão-pouco de incriminar a fraqueza dos sentidos e do espírito humano: é no próprio acto de conhecer, intimamente, que aparecem, por uma espécie de necessidade funcional, lentidões e perturbações. É aqui que residem causas de estagnação e mesmo de regressão, é aqui que iremos descobrir causas de inércia a que chamaremos obstáculos epistemológicos. O conhecimento do real é uma luz que sempre projecta algures umas sombras. Nunca é imediato e pleno. As revelações do real são sempre recorrentes. O real nunca é “aquilo que se poderia crer”, mas é sempre aquilo que se deveria ter pensado. O pensamento empírico é claro, fora de tempo, quando o aparelho das razões já foi afinado. Ao desdizer um passado de erros, encontramos a verdade num autêntico arrependimento intelectual. Com efeito, nós conhecemos contra um conhecimento anterior, destruindo conhecimentos mal feitos, ultrapassando aquilo que, no próprio espírito, constitui um obstáculo à espiritualização. (BACHELARD, 2006, p. 165).