Wikinativa/Andreza Ruiz Moreno Alves (vivencia Guarani 2019 - SMD - relato de experiência)

Fonte: Wikiversidade

Introdução[editar | editar código-fonte]

No dia 11 de outubro de 2018, partimos para uma vivência na tribo guarani Rio Silveira, que se encontra em São Sebastião - Boraceia. A vivência foi realizada graças a uma matéria optativa ministrada pelo Professor Jorge. Durante esta matéria aprendemos um pouco sobre a cultura indígena e entendemos um pouco sobre a luta pela demarcação de terras, principalmente na visita a tribo guarani no Jaraguá, onde tive meu primeiro contato, antes da ida a Rio Silveira. As aulas foram bem interativas, trazendo convidados, rodas de conversa e textos que nos prepararam para a vivência na tribo Rio Silveira.

Vivência no Jaraguá[editar | editar código-fonte]

A ida a aldeia do Jaraguá foi muito especial, pois foi onde tive meu primeiro contato com a cultura indígena. Nesta vivência, construímos uma casa de reza, como simbolo de resistência, em um território não demarcado.

Primeiro conhecemos alguns núcleos da tribo, e por fim, fomos ao quarto núcleo para a construção. Passamos a tarde construindo. Eu particularmente ajudei a construir o caminho até a casa de reza, além de ajudar na construção das paredes. Foi um trabalho árduo, mas muito gratificante! Me senti parte da luta deles, e consegui me conectar com a cerimônia no final do dia, dentro da casa que havíamos acabado de construir. Foi lindo!

Vivência na Rio Silveira[editar | editar código-fonte]

A vivência, não começou apenas na chegada, do dia 11 de outubro. Toda a preparação, já foi um aprendizado. Nos dividimos em grupos para montarmos atividades para eles durante a viagem, e meu grupo ficou responsável pelo lazer. Comprei bambolês e petecas para doarmos para as crianças. Montamos um cronograma de atividades, com várias brincadeiras voltadas para as crianças da tribo e também para o grupo. Este momento, antes da viagem, foi de muito aprendizado e conexão entre os integrantes do grupo, pois nos encontramos para alinhar as atividades e ficamos bem amigos. Então, mesmo antes de ir para a viagem, eu já estava amando.

A viagem até a tribo foi tranquila, mesmo com a forte chuva que caia. Logo na entrada do local onde íamos acampar, o meu carro atolou, e algumas pessoas vieram ajudar. Ali já me senti muito bem recebida. Infelizmente a chuva persistiu em ficar e todos os dia choveram, me deixando um pouco frustrada. Por conta da chuva, dormi dentro da antiga casa de reza, junto com minhas amigas. Foi muito gostoso e aconchegante.

Como já havia dito, estava no grupo de lazer, e estávamos muito animados com o cronograma desenvolvido, porém não conseguimos desenvolve-lo por inteiro devido a chuva, mas mesmo assim conseguimos brincar com as crianças no segundo dia, e nos divertimos muito. Acredito que foi um grande aprendizado ter que lidar com as expectativas frustradas, e saber lidar com imprevistos.

O tempo feio não nos impediu de fazer algumas atividades externas, como as caminhadas até duas cachoeiras, uma no primeiro dia e outra no segundo. E foi no segundo dia de cachoeira que tive a melhor experiência da minha vida. Além do lugar ser incrível, com aquela natureza maravilhosa que nos cercava, tivemos a oportunidade de experimentar o rapé. Houve uma explicação primeiro sobre o que é o rapé, o que ele significa na cultura e sobre seus benefícios. Após a explicação o professor convidou quem quisesse experimentar para ficar sentado em uma posição confortável. No início fiquei em dúvida se queria ou não participar, pois estava com medo dos efeitos colaterais, mas por fim, decidi me entregar a experiência e aceitar o convite. Quem fez a minha aplicação foi um índio que nos acompanhava, chamado Fabiano Kapaxy (que por sinal, toca flauta muito bem). Durante a minha experiência com o rapé, vi dois olhos vermelhos me olhando, de algum animal que não conseguia identificar. Depois de alguns minutos esses olhos sumiram e fiquei apenas desfrutando dos efeitos da aplicação. Senti como se fosse uma luta dentro do meu corpo, consegui sentir cada parte, cada órgão e consegui entender como eu funciono. Foi uma experiência muito agradável. Amei!! Depois, durante a caminhada de volta, fui conversar com o Fabiano para entender o que significava os olhos vermelhos que eu vi. E ele me disse que eram olhos de Jiboia, pois aquela aplicação que ele havia feito era da Jiboia, uma aplicação de força, que ao aplicar, a jiboia fica olhando no fundo dos seus olhos, depois ela desaparece e faz a limpeza do corpo e espiritual. Perguntei a ele porque só eu consegui ver aquilo, já que ele havia aplicado em várias pessoas e com todas que eu conversei, não viramo que eu vi. Ele me respondeu que nem todos estão preparados para ver e sentir isso, pois não conseguiram se conectar espiritualmente. Me senti privilegiada em ter conseguido ter essa conexão tão maravilhosa. Fiquei muito feliz e o Fabiano se mostrou feliz em fazer parte da minha experiência.

Mudanças referentes a vivência[editar | editar código-fonte]

Fazer parte desta experiência foi um grande privilégio! Conheci pessoas incríveis e pude me conectar mais com Deus durante a viagem. Pude me conectar com a luta desse povo incrível. Hoje sofro como se fosse um deles quando ouço alguém desrespeitando a cultura. Mudei meu jeito de olhar o mundo, dando importância para as pequenas coisas, sem me estressar muito. Mudei meus hábitos alimentares e desde que voltei da viagem não estou comendo mais carne. Fiz amigos indígenas fora da faculdade e da tribo e até comprei rapé para usar de forma medicinal, para a renite e sinusite. Agradeço muito todo o aprendizado, e aprendi a usar uma palavra: GRATIDÃO.