Wikinativa/Aticuns-umãs

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Atikum
População total

5183

Regiões com população significativa
Bahia/Pernambuco
Línguas
Língua portuguesa
Religiões
Toré

Os aticuns-umãs (também conhecido como Aticum, Atikim - Umã e Atikum-Umã) são um povo indígena brasileiro e falantes da língua portuguesa.

Localizado em Pernambuco, no ano de 1989 sua população estimada era de 2779 pessoas. Atualmente, tal grupo conta com 5000 indivíduos.

Os Aticus fazem parte de um pequeno conjunto de grupos indígenas nordestinos que, ao serem menosprezados pela etnologia clássica por serem considerados aculturados, só começaram a ganhar notoriedade a partir da segunda metade dos anos 80. Trata-se de grupos que eram vistos como restos de uma etnia ancestral, recebendo o rótulo de remanescentes indígenas.

A partir principalmente da virada dos anos 80 para os anos 90, antropólogos do paradigma da aculturação espalharam-se pelo Nordeste com a intenção de elaborar monografias entre os grupos, fato que os tornaram assim mais conhecidos e foco de diversos debates acadêmicos.

Língua[editar | editar código-fonte]

Os Aticuns são falantes apenas da língua portuguesa, não lembram sequer uma palavra de uma língua anterior - a não ser uma ou outra palavra que dá nome a certos elementos da natureza. Por exemplo: sarapó = cobra grande e comestível; toê = fogo. Se há uma referência com relação a Aticum (ou Araticum), como língua extinta, quanto a Umã, pelo tamanho do território pelo qual se deslocavam no século passado, pode-se dizer, com apoio na Introdução à Arqueologia Brasileira de Angyone Costa e em "Os Cariris do Nordeste" de Baptista Siqueira, que trata-se de um grupo que pertence à família Cariri, embora outros autores destaquem uma língua Umã como desconhecida.

Localização[editar | editar código-fonte]

Na Terra Indígena Aticum existem vinte aldeias, dentre elas se encontram: Alto do Umã, Olho d'Água do Padre, Casa de Telha, Jatobá, Samambaia, Sabonete, Lagoa Cercada, Oiticica, Areia dos Pedros, Serra da Lagoinha, Jacaré, Bom Jesus, Baixão, Estreito, Mulungu, Boa Vista e Angico. Conforme o "Memorial descritivo de delimitação (AI Atikum)" da FUNAI, em 1989, naquele ano contava com uma população de 3.582 indivíduos. Segundo cartografia oficial, a área localiza-se na região da serra das Crioulas e Umã, nos limites do atual município de Carnaubeira da Penha localizado no sertão de Pernambuco. Os índios, por outro lado, apontam a Serra do Umã como seu território indígena.

Com a emancipação de Carnaubeira, em outubro de 1991, do município de Floresta, foram discriminados dois distritos para o novo município de Carnaubeira da Penha: Barra do Silva e Olho d'Água do Padre, este é uma importante aldeia Atikum no interior da área indígena, onde, desde a fundação da reserva, funciona uma feira dominical frequentada por índios e não índios que lá estabelecem trocas comerciais e outros negócios, e além disso promovem atividade política em período eleitoral. Além disso tudo, cabe apontar a presença constante de posseiros e fazendeiros na área Aticum.

Religião e Costumes[editar | editar código-fonte]

Ao "aprenderem" o toré, os Atikum foram se especializando cada vez mais em tal prática ritual. Constituíram um corpo de saber denominado por eles de "ciência do índio", revestida por uma áurea de mistério, e que marcaria sua especificidade como grupo étnico. Esse corpo de saber é dinâmico e seus ingredientes, mutáveis, pois novos elementos surgem durante os rituais e são incorporados pelos seus praticantes. Mas se esse corpo de saber é fluido, deve existir algo para garantir o desempenho ritual que marca a sua indianidade, ou seja, que confirme periodicamente a sua condição de índios face às expectativas do Estado. É preciso, portanto, ter um "regime de índio". É preciso que os membros do grupo sejam "regimados no toré", independentemente de serem detentores de saberes mais profundos, para que o grupo se mostre, de forma essencialmente política, como a "comunidade indígena de Atikum-Umã". (cf: Grünewald, 1993). Isso leva à questão de quem realmente são considerados índios de Atikum-Umã pelos próprios Atikum. Consideram-se índios aqueles que participam da tradição do toré, sendo, preferencialmente "regimados" na mesma, detendo a "ciência do índio", aqui entendida como um corpo de saberes dinâmicos sobre o qual se fundamenta o "segredo da tribo" (cf: Grünewald, 1993). Em toda essa tradição ritual, destaca-se também como elemento fundamental a jurema (Mimosa hostilis Benth) - planta sagrada que, de domínio exclusivamente indígena, promove também uma separação entre índios e brancos, embora seu uso seja comum também a outros complexos rituais do sertão nordestino, como o catimbó, por exemplo. Os Atikum utilizam a casca da raiz da jurema macerada e misturada com água como bebida sagrada ("anjucá") que representa o sangue de Jesus e é consumida principalmente durante seus rituais (torés públicos ou privados, estes divididos em trabalhos de gentio, terreiro e ouricuri), quando os índios entram em contato - em larga medida pela via da possessão - com os "encantos de luz".

História e Formação[editar | editar código-fonte]

A partir da passagem do século XVII para o XVIII, essa região geográfica foi palco de muitos conflitos entre índios e brancos que penetravam cada vez mais nas terras dos primeiros, levando adiante a frente de expansão pastoril. Se não há notícias da existência de um grupo indígena com o nome Atikum antes dos anos 1940, existem diversas referências quanto a um grupo denominado Umã, que foi aldeado, juntamente com os grupos Xocó, Vouve e Pipipan, em 1802 por Frei Vital de Frescarolo, em lugar onde hoje é uma das aldeias da área indígena. Tal aldeiamento não durou muito e os citados grupos voltaram a migrar pelos sertões, do Ceará a Sergipe, sempre fugindo dos caminhos do gado. Além dos acima citados, vários foram os grupos que se entrecruzaram - inclusive negros quilombolas - nesses deslocamentos.

Sabe-se dos seguintes registros dos Umãs: por volta de 1696 andavam pelo vale do rio São Francisco; em 1713 estavam na ribeira do Pajeú; em 1746 em Alagoas, entre os rios Ipanema e São Francisco; em 1759 em Sergipe; em 1801 foram aldeados em Olho d'Água da Gameleira (onde hoje é a aldeia Olho d'Água do Padre na Serra do Umã) e de onde se dispersaram em 1819; em 1838 são encontrados nas proximidades de Jardim, no Ceará; em 1844 se encontram novamente próximos ao antigo aldeamento, mais especificamente em Baixa Verde. Ainda é bom lembrar que, quando aldeado, o grupo Umã - que recebia diversas denominações, tais como Huanoi, Huamoi, Huamães, Huamué, Humons, Umã, Umães, Uman, Umãos, Urumã, Woyana - foi obrigado a dividir o aldeamento com os grupos Xocó e os Vouvê, que todos estes três grupos sempre se mantiveram próximos aos Pipipãs e que em 1852 ainda existiam "índios bravios" na Serra do Umã ou nas suas vizinhanças. Em meados do século XIX cessam as informações quanto a esses índios, que em 1943 se apresentam no SPI buscando reconhecimento de suas terras. No início dos anos 1940, os membros da comunidade camponesa que habitavam a Serra se auto-identificavam como os caboclos da Serra do Umã. Nessa época andavam insatisfeitos com a cobrança pela prefeitura de Floresta de impostos sobre o uso do solo ali cultivado e com o fato de os fazendeiros vizinhos virem colocando o gado para pastar sobre suas roças.

Informados por índios Tuxá (do município de Rodelas, na Bahia) de que havia um órgão do governo que estava reconhecendo territórios indígenas no Nordeste, alguns caboclos procuram, em Recife, o Serviço de Proteção aos Índios (SPI), afirmando-se caboclos descendentes de índios e reivindicando a criação de uma reserva indígena. Como condição para tal reconhecimento, o SPI impôs a demonstração de um ritual de Toré, tradição que, aos olhos do inspetor do citado órgão no Nordeste, atestaria a "consciência étnica" dos caboclos. Despreparados para uma exibição dessa tradição ritual, os caboclos procuram os Tuxá, que enviam oito índios à Serra para "ensinar-lhes” o toré. Entre 1943 e 1945, deixam tudo pronto quanto ao serviço do índio e é nesta ocasião que se desloca para a Serra um fiscal do SPI, que assiste a um ritual de toré, atestando, conseqüentemente, a presença indígena ali. Em 1949 é fundado o posto indígena e os caboclos se elevam à categoria de índios oficialmente reconhecidos pelo Estado Nacional - e até os dias atuais o toré vem sendo usado como sinal diacrítico na manutenção da etnicidade Atikum, o que pragmaticamente lhes dá direito de acesso seguro à terra.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Povos Indígenas/O Índio/Etnias Indígenas/Atikum

Os Umãs e o povoamento da serra

Aticuns-umãs