Wikinativa/Cambeba

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Os Cambebas são um grupo indígena que habita o médio rio Solimões, no estado brasileiro do Amazonas, mais precisamente nas Áreas Indígenas Barreira da Missão, Igarapé Grande, Jaquiri e Kokama. Seriam os supostos omáguas que os cronistas do século XVI encontraram na região. Sua principal característica era a deformação craniana, tornando-a em um formato de cone.

O território dos Omagua era muito grande, com mais ou menos 700 quilômetros de comprimento ao longo do rio. Antigamente a terra deste povo começava lá no Peru e ia até São Paulo de Olivença, no Alto Solimões. Depois eles vieram descendo o rio e em 1 600 a região do Alti-Paranã ficava dentro da terra dos Omagua.

Cambebas
População total

780 (Funasa, 2010); 3.500 (Benedito Maciel, 1994)

Regiões com população significativa
Médio Solimões; Baixo Rio Negro
Línguas
Tupi-guarani
Religiões
Grupos étnicos relacionados
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Localização[editar | editar código-fonte]

No Peru, os Omágua habitam terras próximas à capital, Lima, e na periferia da capital que em 1994 chegavam a 3.500 indivíduos, segundo uma liderança Kambeba que visitou o país nesse período.

Hoje os Kambeba em território brasileiro estão localizados em cinco aldeias: quatro na região do médio Solimões e uma no baixo rio Negro, precisamente, na desembocadura do rio Cuieiras. Há também algumas famílias na cidade de Manaus e várias outras no alto Solimões em terras Ticuna.


Mapa Interativo[editar | editar código-fonte]

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História[editar | editar código-fonte]

As primeiras notícias mais importantes sobre esses índios foram dadas por Gaspar de Carvajal, que deixou relatos sobre sua cultura, alimentação, moradia, padrão de povoamento e ocupação territorial. O poder político em Aparia “parecia estar centralizado na figura do ‘grande senhor Aparia’, chefe do povoado principal; sua autoridade era reconhecida rio acima, até os confins ocidentais da província...” (Porro, 1995:48).

O expansionismo mercantil europeu via a Amazônia como uma das áreas de exploração econômica. O objetivo dos colonizadores era transformar a região em colônia de exploração comercial e de extração de matérias-primas e produtos naturais. Embora, a política portuguesa tenha, num primeiro momento, retardado esse processo, uma vez que desenvolveu uma política prioritariamente de segurança militar (Santos, 1999), a coleta das “drogas do sertão” foi uma das primeiras atividades de exploração da região, que utilizou basicamente a mão-de-obra indígena na forma de trabalho compulsório. Mais tarde, com a fundação dos povoados, missões e vilas, torna-se necessário o trabalho indígena para a agricultura, transporte de mercadorias, construções de feitorias e para a guerra.

Em meados do século XVIII muitos povos já haviam desaparecido por completo, parte de outros havia fugido para as matas e cabeceiras dos rios ou estava dispersa e incorporada à população das vilas, povoados e nas pequenas aldeias ao longo da calha dos principais rios. Os Kambeba eram um destes casos.

La Condamine (1992) passou pelo alto Amazonas no ano de 1743. Estando em San Joaquín dos Omágua, entre os rios Napo e Tigre, noticia a presença desses índios entre a população local, mas que em comparação àquela poderosa nação que ocupava outrora um trecho de 200 léguas abaixo do Napo, “não passam por originários da terra”. La Condamine diz que das 30 aldeias Omágua marcadas no mapa de Fritz, não viu mais que “ruínas”. E acrescenta que “todos os habitantes, atemorizados com as incursões de alguns bandidos do Pará, que vinham escravizá-los em suas próprias terras, dispersaram-se na floresta e nas missões espanholas e portuguesas”. Contudo, La Condamine fala de “alguns indícios” da presença de uma “nação que leva o mesmo nome de Omágua” e que “vive perto da nascente de um desses rios e usa vestimentas só encontradas entre os Omágua, em meio às nações que povoam as margens do Amazonas, bem como alguns vestígios da cerimônia do batismo e algumas tradições desfiguradas”.

Fatores como guerras, descimentos, catequese, associados às mortes por epidemias e as fugas, levaram os Kambeba num período de dois séculos a uma violenta depopulação e quase à sua completa extinção. Aliás, autores como Meggers (1987) e Porro (1995) chegaram a concluir que estes índios haviam sido extintos até meados do século XVIII. Porro, ao falar das particularidades dos Omágua e das condições geográficas e históricas para o estudo do padrão de povoamento da região, trata-os como “... uma tribo já extinta da floresta tropical...”. Mais adiante afirma que “os Omágua constituíam, junto com os Cocama, que ainda habitam a bacia do Ucayali, grupos tupi-guarani, deslocados para o alto Amazonas” (1995: 92. Grifo do autor).

Assim, durante o período colonial, os Kambeba sofreram, além de perdas populacionais e territoriais, bruscas transformações sociais e culturais. Os grupos sobreviventes desse verdadeiro massacre, e que vão ser noticiados mesmo no século XIX, são certamente muito diferentes dos Kambeba dos séculos XVI e XVII.

língua[editar | editar código-fonte]

O termo “Tupi” não quer dizer uma outra língua falada pelos Omagua – até porque sua língua pertence ao tronco Tupi, como mais tarde será demonstrado pelos lingüistas – mas, a Língua Geral criada pelos missionários para evangelização dos índios e que era falada fluentemente em todo o Solimões no século XIX. Feito está rrobservação, a seqüência de Marvoy nos perece correta: Os Kambeba no século XIX falavam sua língua materna no cotidiano de suas casas e aldeias, a Língua Geral para comunicação regional e o português em momentos oficiais.

Religião e Casamento[editar | editar código-fonte]

Em relação à religião, hoje os Kambeba configuram dois grupos: os católicos (aldeias Jaquiri, Igarapé Grande e Nossa Senhora da Saúde) e os pentecostais (aldeia Betel). Entre os católicos, os Kambeba, além de terem a única escola o posto de Saúde do baixo rio Cuieiras, também têm os “rezadores”, sabem rezar em latim, uma língua desconhecida dos demais grupos. Isso lhes dá um certo status diante dos Baré e de outras comunidades ribeirinhas, assumindo também uma característica de liderança, o que é canalizado na luta pela terra que pretendem.

A aldeia Nossa Senhora da Saúde também é visitada pela “vizinhança” em datas especiais como Semana Santa, festa de São Tomé e Natal. Nesses momentos os Kambeba realizam celebrações especiais, além de festas e brincadeiras no terreiro da aldeia. São momentos importantes para realizar alianças matrimonias e políticas.

Os Kambeba se organizam em famílias patriarcais (pais, filhos, netos). Ao casar, o casal logo faz sua própria casa, mas mantêm estreita ligação e obediência aos pais e sogros até que estes morram. Por isso, a autoridade do tuxaua é reconhecida e aceita por longos períodos. A família Cruz exerce o poder nas aldeias Jaquiri, Igarapé Grande e Nossa Senhora da Saúde. Na aldeia Betel o tuxaua é da família Marinho. O patriarca dos Kambeba, Valdomiro Cruz, tem sua autoridade reconhecida em todas as aldeias e até mesmo entre as famílias residentes em Manaus. Foi Valdomiro que conduziu o grupo para o médio Solimões, tendo sido tuxaua de Jaquiri, de Igarapé Grande e Nossa Senhora da Saúde. Hoje essas aldeias têm outros tuxauas, mas da mesma família.

Os Kambeba não proíbem o casamento para fora do grupo. Pelo contrário, observa-se que as alianças matrimoniais com outros grupos indígenas e com outros ribeirinhos têm sido um recurso constante do grupo para manter um equilíbrio populacional, mas também para realizar alianças políticas interétnicas. Contudo, trabalham para que o casamento não signifique a retirada da pessoa de aldeia e da convivência do grupo. Assim, observamos que o critério de pertença ao grupo é relativamente flexível, sendo mais político que sangüíneo. O homem ou a mulher casado com Kambeba é aceito no grupo desde que siga as regras estabelecidas e obedeça às autoridades constituídas. Seus filhos são considerados como Kambeba se cumprirem as mesmas regras.

Aspectos Culturais[editar | editar código-fonte]

Os Kambeba têm suas casas construídas em madeira, estilo palafita, coberta com palha e mais recentemente com telhas de alumínio ou de amianto. Na sua forma arquitetônica, as casas não diferenciam de outras casas regionais.

As casas são todas perfiladas, uma ao lado da outra, acompanhado a margem do rio ou igarapé. Internamente possuem três divisões:

a) uma sala, onde recebem as visitas, põem o rádio e ou aparelho de som, fotos de membros da família, de um político local ou de um artista famoso e também imagens de santo, quando a família é católica;

b) um quarto, onde dormem o casal, os filhos menores de idade e as moças antes do casamento;

c) uma cozinha, onde fica o fogão à gás e ou à lenha e onde servem as refeições diárias. Diferentemente do quarto e até mesmo da sala, a cozinha é geralmente aberta, só tendo paredes para o lado aonde o vento sopra mais forte.

Situação territorial[editar | editar código-fonte]

A partir de 1989, lideranças Kambeba foram eleitas para ocupar os principais cargos na Uni-Tefé e desde então continuam ocupando esses cargos na direção do movimento. A emergência dos Kambeba como um dos principais grupos étnicos do Solimões, a partir do final dos anos de 1980, está relacionada à forma como estes índios se articularam com os atores sociais regionais, como a igreja e outras instâncias da sociedade nacional, e com outros índios, especialmente com os Miranha, Cocama, Ticuna e Mayoruna.

Referências externas[editar | editar código-fonte]

Povos Indígenas no Brasil

Blogspot

Wikipedia

Ministério da Justiça

Referências