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Curiaú
População total

60000000

Regiões com população significativa
Bairros do Ipê e Novo Horizonte, Mocambo, Canteiro Central, Curiaú de Fora e Curiaú de Dentro
Línguas
Religiões
Bahai
Estados ou regiões do Brasil
Macapá
situação do território
Registrada
Grupos étnicos relacionados
Porto dos Pilões, Pedro Cubas, São Pedro, Ivaporunduva

O Quilombo Curiaú agrega seis vilas: Extremas dos bairros do Ipê e Novo Horizonte, Mocambo, Canteiro Central, Curiaú de Fora e Curiaú de Dentro – onde residem famílias ligadas entre si por laços de sangue e afinidade. Em seu interior vivem cerca de 600 pessoas, em uma área de 3600 hectares, situado dentro da APA (Área de proteção ambiental) do Rio Curiaú, com área 23 mil hectares, onde residem 3.500 pessoas distribuidas entre as seis Comunidades: Quilombo do Curiaú, Casa Grande, Curralinho, Pescada, Pirativa e Fugido.

Segundo narrativas, a área do Curiaú já foi muito maior, e atualmente corresponde a uma superfície de 16.000 alqueires, visto que alguns familiares do grupo venderam a pequenos e médios fazendeiros seus direitos de posse. No entorno observam-se as cercas das fazendas e residências de luxo de empresários, funcionários e autoridades públicas, além de áreas com conjuntos habitacionais (Brasil Novo), bairros (Novo Horizonte) e “invasões” como a conhecida Capilândia.

Consta também que já houve muitos problemas com a ‘invasão da cidade’, que se expande para a periferia, sobre as terras do quilombo. Talvez o maior evento foi quando os moradores do Curiaú recorreram ao poder público/ polícia para a desocupação de 300 moradias irregulares de habitantes da cidade. E as áreas de fronteiras foram finalmente ocupadas por moradias dos filhos dos quilombolas.

A entrada pela via principal (BR) que corta o espaço e foi construída em 1988, dando acesso assim à população da cidade provoca varias questões e surpresas: grande desigualdade entre as casas e posses – casas enormes, de alvenaria, bem aparelhadas, e casebres de madeira pequenos e pobres. Por outro lado essa estrada “que transforma Curiaú em lazer dos habitantes de Macapá, seu balneário, o lugar cobiçado para especulação imobiliária da cidade e de concretização de uma política oficial de marketing” (MARIN, 1998, p.39), tem constante movimento de carros e motos, velozes e barulhentos o que provoca enorme descontentamento na população local pelo barulho, que é acrescido pela existência por vários bares, construidos nas margens, com alto falantes possantes, onde se realizam ‘as festas noturnas que são proibidas na cidade’, que varam as madrugadas, e ainda ameaçam a segurança das pessoas, com inúmeros casos de acidentes com pessoas e animais, inclusive com roubos às propriedades.

A Associação dos Moradores do Quilombo, cuja sede foi construida em mutirão, tem como presidente atual Sra. Josineide Araújo, que tem encaminhado diversos processos e demandas para melhorias no quilombo, e nos informou de projetos culturais e ambientais.

Dentro do quilombo há: um posto médico, um posto policial, dois postos de guarda, um museu/centro cultural, duas igrejas, uma escola que vai até a 8ªsérie, o Conselho Comunidades Quilombolas – CECADA , Associação de Mulheres, o grupo cultural Raízes do Bolão, de músicas regionais, e há projetos como de Orquestra, Ponto de Cultura, Esportes e Ponto de Leitura.

Localização[editar | editar código-fonte]

Situado ao norte da cidade de Macapá, município do Amapá, as terras do Curiaú estão localizada entre os paralelos 00º 00' N e 00º 15' N, cortado pelo meridiano 51º 00' W.

Seus limites são: À leste, rio Amazonas; À norte/nordeste, o igarapé Pescada e o ramal que liga a EAP-070 a BR-210; À oeste, a estrada de ferro do Amapá, e ao sul, uma linha de latitude 00º 06' N.

Coordenadas aproximadas 0.166666666667,-51

Veja no mapa

História[editar | editar código-fonte]

Em 1998, o quilombo foi regularizado, pela Fundação Palmares, órgão ligado ao Ministério da Cultura. Segundo consta foi o primeiro título de quilombo no país, e em 03 de novembro de 1999, Curiaú recebeu oficialmente o título de “comunidade remanescente de quilombo”. Essa titulação garante direitos constitucionais e políticos, sobretudo no que se refere à demarcação de suas terras.

A iniciativa para a titulação das terras a partir da afirmativa de que “a terra é de todos” apresentada pelo grupo, no sentido de garantir o uso comum do território pelas famílias, tem existência legal em certidões, a primeira de 1892, por meio do registro de posse das terras denominadas “São Joaquim do Curiaú” realizado naquele ano, por Domingas Francisca do Espírito Santo, viúva de Francisco José Ramos (Almeida:2010, 175), e constando o nome de outros como vizinhos em comum no mesmo terreno, João Ignácio de Miranda, Francisco Ignacio dos Santos, Domiciana do Rosario e os herdeiros dos finados Pedro Antonio da Silva e Manoel Ignacio.

Resistência a fazendeiros[editar | editar código-fonte]

O atual Curiaú corresponde restritivamente a uma superfície de 16.000 ha. Familiares do grupo que viviam na casa grande venderam a pequenos e médios fazendeiros seus direitos de posse. No trajeto da denominada Caduforno até São Francisco da Casa Grande observam-se as cercas das fazendas. As terras do Curiaú estão rodeadas por conjuntos (Brasil Novo), bairros (Novo Horizonte) e “invasões” como a conhecida Capilândia. De outro lado, encontram-se muito próximas as “bonitas fazendas” e residências de luxo de empresários, funcionários e autoridades públicas. Oito fazendeiros algum tempo atrás adquiriram direitos nas extremas do Curiaú, conforme informado pelo presidente da associação dos moradores que esperam receber indenização, no ato de proceder-se à titulação solicitada pelo grupo.

Cosmologia e Religiosidade[editar | editar código-fonte]

Aspectos Culturais[editar | editar código-fonte]

No quilombo Curiaú se define o Marabaixo e o Batuque como ritmos e danças locais que animam as muitas festas que se distribuem pelo ano. Eles se compõe com os ritmos de caixas e tambores e com os improvisos, que são versos criados pelos cantadores, os “ladrão” – versos descritivos de situações que vão observando, muitas vezes irônicos, com fala e a resposta (uma espécie de desafio). Quando acontece algum evento, criam uma série de ladrão.

O batuque é uma batida com os pandeiros (grandes pandeiros de couro) e os tambores – batidas muito ritmadas e alegres e as danças também. No marabaixo os instrumentos são a caixa e os tambores, mas a batida e a dança são mais lentas. (em uma demonstração é uma dança arrastando os pés e a simulação que está amarrado).

O quilombo possui um calendário de festas em quase todos os meses – algumas são no espaço principal – igreja e galpões de São Joaquim; a principal a de São Joaquim, definido como padroeiro do quilombo, que dura uma semana e ocorre no mês de agosto. Outras são de alguma das famílias que elegeu um santo, e tem geralmente uma área construída com um galpão ou um terraço grande e la fazem a festa. Atualmente a festa é patrocinada pelo governo.

Um exemplo de escritor nascido no Curiau, é o Sebastião Menezes da Silva que possui dois livros onde publica suas pesquisas e memórias sobre a formação do quilombo. Sebastião publica o Jornal do Quilombo, com noticias do que ocorre na comunidade, e mantem a CECADA, entidade para suporte de comunidades da região.

Conhecimento tradicional[editar | editar código-fonte]

A comunidade possui conhecimentos valiosos relacionado ao uso e manejo de plantas alimentícias, mas a expansão urbana de Macapá e o processo migratório estão acarretando um aumento desordenado da população e da ocupação de espaços e muito dessa cultura está se perdendo, desta forma, o conhecimento tradicional do quilombo em muito tem se perdido.

Situação territorial[editar | editar código-fonte]

O território quilombola do Curiaú já haveria compreendido uma área de aproximadamente 16.000 ha, o que corresponde a um tamanho cinco vezes maior do que seu tamanho atual de 3.321.89 ha. A diferença entre as duas áreas representa 12.679 ha, que teriam sido palco das perdas territoriais que estes sofreram pelo menos nos últimos vinte anos. Existindo até hoje dúvidas a respeito do real tamanho do território.

As recorrentes perdas territoriais teriam iniciado efetivamente segundo as próprias famílias do Curiaú na década de 1980, em função, de uma “negociação” realizada entre algumas lideranças locais e o governo municipal de Macapá sem que todas as famílias fossem consultadas a respeito. No acordo, seria realizada a pavimentação da atual rodovia do Curiaú. A área dada em troca da negociação de aproximadamente 3.000 ha foi destinada ao loteamento para a construção de casas populares, nos atuais Jardim Felicidade I e II, bairros instituídos como de fronteira no Curiaú.

As perdas territoriais ocorridas no Curiaú comprometem os recursos naturais necessários para a sobrevivência das famílias. As áreas de ocupação no entorno do quilombo (Mapa 4) comprometem também o modo de viver das famílias que passam a conviver com a ameaça de perdas matérias e simbólicas no seu território. Além da precariedade dos bairros formados sem a implementação das políticas públicas necessárias.

As terras nomeadas por Francisco Inácio, como do Curiaú, compunham uma extensão de aproximadamente 6.000,00 ha, comprometidas com as perdas territoriais. Segundo o que se sabe é que destes 6.000 ha só restariam 3.321.89.31 ha após a titulação das terras como de quilombo, cujo limite seria ao norte com as glebas Matapi, Curiaú e Vila Nova; ao sul com a área urbana da cidade de Macapá; ao leste com a margem direita do rio Curiaú; e a oeste com a comunidade de Curralinho (SILVA, 2004). Esta dinâmica ocorre no final da década de 1980 conforme mencionado quando o território amapaense passa a ser estado da epública Federativa do Brasil. A transformação do Amapá em estado, a partir da Constituição de 1988, provocou mudanças na dinâmica espacial da região com uma significativa migração interna que levariam instituições a fazerem imposições concretas e simbólicas sobre o território do quilombo juntamente a uma especulação sobre o solo urbano, que se produz neste caso, segundo Marin (1997), na forma defasada de um plano diretor urbano.

Referências

  • A escrita da história paraense. Belém: NAEA/UFPA, 1998. p. 53-91

Ligações externas[editar | editar código-fonte]