Wikinativa/Fulniô
Os Fulni-ô é um grupo indígena que habita a região localizada nos arredores do rio Ipanema, nos limites do município brasileiro de Águas Belas-PE, no estado de Pernambuco. O grupo surgiu a partir de um reagrupamento de diversos povos indígenas que habitavam a região, principalmente, os carnijós
Documentos indicam que desde a década de 1700, os indígenas daquela região enfrentaram problemas com a habitação não-indígena na cidade. A distribuição de terras no Brasil, a partir das capitanias hereditárias, serviu como um mecanismo de dispersão de populações nativas, assim ocorreu nas terras interioranas de Pernambuco. Contudo, os indígenas Fulni-ô resistem à dominação ocidental com muita honra em suas origens, assim, até hoje, cultuam o ritual do Ouricuri.
Fulniô | |||
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População total | |||
4.336 (Funasa, 2010) | |||
Regiões com população significativa | |||
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Línguas | |||
Ia-tê | |||
Religiões | |||
Localização
[editar | editar código-fonte]Os Fulni-ô atualmente habitam o município de Águas Belas, situado na zona fisiográfica do Sertão, a 273 quilômetros da capital do estado de Pernambuco. O município está compreendido no chamado polígono das secas. A região de Águas Belas é cortada de norte a sul pelo rio Ipanema, que desemboca no São Francisco. Em 1980, a população do município era de 37.057 habitantes, dos quais 11.714 viviam na área urbana, e 25.343 na área rural. Esta última cifra inclui a aldeia indígena. Coordenadas -9.109343,-37.12487
Mapa Interativo
[editar | editar código-fonte]História
[editar | editar código-fonte]Eram conhecidos antigamente como Carijó ou Carnijó e não se conhece o tempo da sua existência.
A origem do nome Fulni-ô é muito antiga. Significa "povo da beira do rio" e está relacionada com o rio ipanema que corre ao longo da cidade de Águas Belas.
Na região da Capitania de Pernambuco viviam numerosos grupos tribais que falavam a língua Tupi. Os índios que não falavam essa língua eram conhecidos como "Tapuios" ou "Tupuyaa". Na período colonial, os índios que habitavam o litoral foram forçados a seguir para o interior, cedendo seus antigos territórios a novas populações. Assim, pode-se dizer que o povoamento de grande parte do vale do São Francisco foi possível graças aos indígenas e às expedições missionárias.
A luta que, em meados do século XVII, sustentaram portugueses e holandeses na disputa pelo território brasileiro, também teve grande influência na definição de uma nova área territorial. Após a expulsão dos holandeses de Pernambuco, os portugueses resolveram que seria necessária a reorganização da administração dos grupos indígenas que ocupavam a região. É provável que, visando essa mudança administrativa, a coroa portuguesa tenha decidido reunir os indígenas em aldeias, buscando manter melhor controle sobre as tribos. Com isso, pode ser entendida sua insistência em dotar os índios de "uma légua de terra em quadra" para que aí fossem concentrados pelo menos 100 casais indígenas. Acredita-se que foi aproximadamente nessa época que os Fulniô foram aldeados.[1]
Língua
[editar | editar código-fonte]Os índios têm convívio diário com os não-índios, são todos bilíngües, se vestem como os brancos, mas não perderam sua identidade. São os únicos indígenas do Nordeste brasileiro que mantêm viva a sua língua nativa, a Yaathe (ou Yathê).
A língua Yaathe, que significa "nossa boca, nossa fala, nossa língua" é oral, não possui cartilha. É aprendida pelos índios em casa com os familiares, no convívio doméstico e, segundo a professora Alieta Rosa, por intermédio de uma escola bilíngue que a aldeia possui*. Inclusive, existe um livro com o registro gramatical da língua.
Cosmologia e Religiosidade
[editar | editar código-fonte]O ouricuri é uma região que integra as terras Fulni-ô em Águas Belas-PE, e onde os índios Fulni-ô praticam reclusão coletiva Durante três meses. Neste local, os não- Fulni-ô só podem adentrar com autorização do pajé, e nunca durante a prática do ritual. Os Fulni-ô mantém o conjunto de elementos que compõe a religião em segredo, pois acreditam que o segredo protege suas especificidades culturais.
No interior do Ouricuri, existe a separação de ambientes para homens e para as mulheres. Também é lá que habita o juazeiro sagrado, árvore que simboliza, para os indígenas, a maior imagem da natureza sagrada. Todos os índios devem participar da reclusão coletiva, pois isto é regra obrigatória para torna-se Fulni-ô. Quem não frequenta o Ouricuri não é considerado um Fulni-ô legítimo.
Aspectos Culturais
[editar | editar código-fonte]Suas manifestações culturais incluem a dança e a música. As danças dos Fulni-ô são inspiradas em vários animais e aves, sendo o toré a mais tradicional. Existem também a cafurna, uma dança cultural resultante da influência de outros grupos e uma conhecida como coco de roda, dançada com estilo próprio e que tem origem na cultura dos negros. As músicas das danças são cantadas em português e yaathe.
Usam como instrumentos musicais, o maracá, o toré e a flauta. Tocam também instrumentos dos brancos como clarinete, pistom, trombone, violão, guitarra. Possuem até conjuntos e bandas formadas.
Medicina tradicional
[editar | editar código-fonte]Os Fulni-ô utilizam para curar doenças muitas plantas que sobreviveram ao desmatamento. Possuem um Centro Fitoterápico de Reprodução de Mudas e Essências Medicinais, mantido com o apoio da Fundação Nacional da Saúde e da Unesco, onde são cultivadas várias plantas que servem como remédios populares distribuídos na aldeia.
Situação territorial
[editar | editar código-fonte]Em 1928, a área que era ocupada pela tribo foi dividida por representantes do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, que então incluía o Serviço de Proteção aos Índios. Da divisão resultaram 400 lotes de 550 x 550 metros (30,25 hectares) e mais outros 27 lotes de menor extensão com dimensões irregulares. Em 14 de maio de 1929 os Fulniô receberam títulos individuais da terra que possuíam, de caráter provisório, expedidos pelo mesmo Ministério.[2]
Esta situação levou ao tratamento da área como Dominial Indígena, embora não exista nenhum ato que formalize tal categoria nos termos do Estatuto do índio (Lei 6001 / 73).[3]
Apesar de em 1929 cada família Fulniô ter recebido um lote, na atualidade muitas delas carecem de terra.
Fontes
[editar | editar código-fonte]GASPAR, Lúcia. Índios Fulni-ô. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>
Instituto Socioambiental | Povos Indígenas no Brasil. Disponível em: <http://pib.socioambiental.org/pt/povo/fulni-o>
Povos Indígenas de Pernambuco. Fulni-ô. Disponível em: <http://www.ufpe.br/nepe/povosindigenas/fulnio.htm>