Wikinativa/Gislaine Cruz (vivencia Guarani 2016 - relato de experiência)

Fonte: Wikiversidade

Através da disciplina ACH3707 - Seminários de Políticas Públicas Setoriais 2 – Multiculturalismo e Direitos tive a oportunidade de participar do processo de imersão na Reserva Indígena Guarani Rio Silveiras nos dias 28, 29 e 30 de Outubro de 2016, em São Sebastião no litoral de São Paulo.

Durante três dias convivemos, vivenciamos e aprendemos muito com a tribo dos Silveiras que é composta por cerca de tem cerca de 90 famílias aproximadamente 400 pessoas, onde a maior parte da população é criança. Para isso, realizamos durante alguns uma preparação em sala de aula por meio de rodas de conversas, compartilhamento de experiências, questionamentos e estudos.

Segundo, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE o território brasileiro tem cerca de 900 mil indígenas. Onde, 817,9 mil se autodeclararam índios no quesito cor ou raça, mas é uma parcela mínima dessa população que segue os costumes e tradições indígenas. Das 896.917 mil indígenas existentes no território nacional, 324.834 vivem nos centros urbanos e 572.083 em áreas rurais. Além disso, percebe que existe uma maior concentração populacional na faixa litorânea, mas as maiores comunidades estão nas região norte do país.

No caso do Estado de São Paulo, boa parcela da população indígena vive no espaço urbano, porém os que não vivem nas cidades são amparados por leis de conservação ambiental, da diversidade biológica e cultural do bioma. No entanto, muitas dessas comunidade enfrentam dificuldades no processo de demarcação de território.

O Censo 2010, revela dados alarmante quando se trata da questão de saneamento básico, pois 36,1% dos domicílios indígenas não têm banheiro. De acordo, com o censo esse número é ainda maior nas áreas, pois apenas 31,2% das casas tinham um ou mais banheiros e 68,8% eram não possuíam banheiro; 65,7% têm fossa rudimentar como sistema de esgoto. Enquanto 82, 9% da população tem abastecimento de água a penas 60,3% dos domicílios indígenas contam com rede geral de abastecimento de água.

Cientes das dificuldades e limitações do povo indígena, e principalmente a sua luta diária por preservar seu território e cultura nós dirigimos a Bertioga.

Logo que chegamos à aldeia fomos recebidos por todos os membros com muita alegria e carinho, com as crianças esse carinho foi ainda mais intenso, elas se mostraram extremamente amorosas e solicitas.

Após, estarmos devidamente instalados em nossas barracas, no dirigimos ao rio onde algumas pessoas se tomaram banho, regressamos jantamos e fomos para a casa de reza.

A casa de reza é um local sagrado e de extrema importância para população indígena, além disso, é um instrumento de fortalecimento e preservação da cultura, onde uma parcela da comunidade se reúne, para realizarem os seus rituais.

A princípio meu foco era fazer parte do grupo que visava compreender a mulher indígena, mas acabei me dedicando maior parte do meu tempo ao grupo de Brincadeiras e Gincanas, onde realizamos algumas atividades interativas com crianças, brincando, pulando corda, fazendo alguns desenhos com tinta guache, pinturas artísticas e acompanhando esse processo.

No primeiro dia, realizamos algumas atividades artísticas, e ao observar as brincadeiras delas percebi que elas não gritam umas com as outras, compartilhavam as coisas e os mais velhos cuidavam e protegiam os mais novos. Além disso, são muito criativos e carinhosos.

No segundo dia fizemos uma trilha a princípio até a cachoeira, mas em virtude de alguns contratempos ficamos apenas no rio.

Ao retornarmos para a aldeia tive a chance de conversar brevemente com a esposa do Pajé que se chama Ivanilde ela tem, 40 anos, 5 filhos e nunca saiu da tribo. A mesma disse que atualmente eles tem como fonte de renda complementar o artesanato que estão expostos na aldeia e também elas levam pro meio da rodovia, mas nem sempre conseguem vender as coisas. Mas todas as doações recebidas são compartilhadas com todos, ao meu ver eles tem um senso de união e companheirismo muito forte, deste modo uma boa parcela das refeições que realizamos com eles havia muitas crianças e adultos presentes Pude falar a com outros membros da aldeia compreendi a importância do pajé que é o líder religioso e o cacique o líder político, como a tecnologia ajuda para que haja uma articulação política entre diferentes tribos e desse modo eles ganhem mais força.

Na roda de conversa que buscava compreender melhor a mulher indígena, contamos com a participação do cacique Mariano, o mesmo relatou que outras mulheres da tribo são vistas como sendo a mãe dos filhos deles, ou seja, a maternidade e procriação são tidas como, além disso, todas as mulheres da tribo realizam o pré natal no SUS, uma vez que, a figura da parteira foi extinta.

Durante a conversa também realizamos um levantamento das plantas medicinais que as mulheres Guaranis utilizam com maior frequência e também questionamos o que necessitam.

Pois, atualmente não existe uma preocupação com as políticas públicas para as mulheres indígenas nem políticas diferenciadas para os índios na área da saúde, a ausência de políticas públicas mais específicas para essa população reflete o descaso por parte das instituições públicas. Deste modo, eles lutam para que suas demandas sejam atendidas e os direitos existem sejam assegurados e intensificados.

Durante as nossas discussões em sala, pesquisas e conversas com colegas tínhamos apenas suposições e ideias limitadas em como realmente seria essa experiência.

A princípio existia uma certa resistência e medo em deixar de lado a zona de conforto e viver com diversas limitações.Reconheço nós vivemos de maneiras diferentes o conforto faz parte da sociedade moderna, fomos moldados e obrigados a incorporar em nossas vidas normas sociais, e convivendo com os membros da aldeia dos Silveira descobri uma outra forma de ver o mundo sem tantas influências sociais.

No entanto, acredito que essa foi uma experiência acadêmica na qual acreditava que poderia alguma maneira realizar uma troca de conhecimento intensa, mas fui surpreendida pelos aprendizados e ensinamentos que conquistei, sem dúvida foi um dos maiores da minha vida.

Compreendi o sentido e a importância do companheirismo, a solidariedade, a garra e carinho de um povo que sofre o esquecimento das instituições públicas que apenas são lembrados quando são objeto de especulação imobiliária.

A população indígena sofre esse esquecimento na miséria, a grande maioria das famílias vivem em situações precárias sem saneamento e assistências medica e sociais.

E apesar de todas as dificuldades, esta foi uma das maiores experiências que tive dentro da universidade, pois conheci dentro do meu próprio país uma cultura totalmente oposta a minha, com idioma e valores totalmente distintos dos meus, lutamos por reconhecimento, igualdade e garantia dos nossos direitos.