Wikinativa/Ianomâmi

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O etnônimo "Yanomami" foi produzido pelos antropólogos a partir da palavra yanõmami que, na expressão yanõmami thëpë (língua Yanomami occidental), significa os "seres humanos" (yanomae thëpë em Yanomami oriental). Essa expressão se opõe às categorias yaropë (animais de caça) e yai thëpë (seres invisíveis ou sem nome), mas também a napëpë (inimigo, estrangeiro, "branco").

Os Ianomâmi/Yanomami são uma das maiores tribos relativamente isoladas da América do Sul. Vivem em florestas tropicais e em montanhas no norte do Brasil e no sul da Venezuela. Na Venezuela, o povo ianomâmi vive em uma região de 8,2 milhões de hectares no Alto Orinoco. Juntas, as duas regiões onde os ianomâmis se localizam no Brasil e na Venezuela, formam o maior território indígena do mundo. A própria Venezuela conta com cerca de 15 mil indígena ianomâmi no Estado do Amazonas e outra parte no Estado de Bolívar. Distribuídos ao longo de 200 comunidades, eles manteêm práticas tradicionais de caça, pesca, coleta, ritos fúnebres, mitos e cosmologia.

Ianomâmi
Ianomâmi girl at Xidea, Brazil, August 1997.
População total

Brasil15 mil Brasil12 mil

Regiões com população significativa
BrasilBrasil
BrasilVenezuela
Línguas
Família linguística Ianomami Ianomami Ninan ou Ianan Sanumá YanomameYanam
Religiões
Xamanismo
Estados ou regiões do Brasil
Localização Ianomâmi
Roraima, Amazonas e Venezuela
situação do território
identificada


Língua[editar | editar código-fonte]

Os Ianomâmis falam quatro línguas: a Yanomam, Sanumá, Yanomame e Yanam. Há muitas variações e dialetos da língua, de tal forma que as pessoas de diferentes aldeias nem sempre pode entender um ao outro. Linguistas acreditam que a linguagem Ianomâmi não tenha relação com todas as outras línguas indígenas sul-americanos. As origens da língua são desconhecidas.

Localização[editar | editar código-fonte]

Localização (Brasil): Roraima e Amazonas

O território pertencente a esta tribo foi oficializado pelo então Presidente Fernando Collor de Mello, no dia 25 de maio de 1992. Trata-se de um terreno com altos e baixos, sob um teto constituído por espessa floresta tropical úmida, perto das serras Parima e Pacaraíma. Infelizmente eles não podem aproveitar este solo para atividades agrícolas intensivas, pois ele é muito carente de recursos. Mas o povo mantém uma interação avançada entre os membros das aldeias, organizando-se economicamente sem dificuldades. Além disso, preservam ligações matrimoniais, rituais ou de adversidade.

De acordo com as histórias ianomâmis e textos muito antigos sobre este povo, o núcleo histórico de sua morada localiza-se na Serra Parima, a mais intensamente povoada.

História[editar | editar código-fonte]

Os Ianomâmis eram vistos como os representantes de um estado prístino, próximos ontologicamente dos japoneses, que teriam se espalhado a partir da Ásia para as Américas pelo estreito de Bering. Essa visão foi reforçada pela informação da alta incidência de sangue tipo O entre os povos ameríndios. No Japão, aparentemente é muito importante no estabelecimento de relações saber de antemão o tipo de sangue, de acordo com um horóscopo de sangue (Ketsueki Gatá Uranai); o tipo O remete ao mais antigo, sendo os demais, A, B e AB correspondentes aos diferentes estágios da evolução humana (sociedade agrária, migração para o norte e miscigenação modernas de grupos, respectivamente).

Situação territorial[editar | editar código-fonte]

A atual disposição geográfica destes índios Ianomâmis nasceu dos vários trajetos migratórios que eles desenvolveram a partir do início do século XIX. Estão situados no interior das terras ianomâmis o Pico da Neblina e o Parque Nacional do Pico da Neblina, bem na fronteira entre o Brasil e a Venezuela, área mais visada pelos garimpeiros.

O limite leste da Terra Indígena Yanomami (TIY) começou a ser invadido na década de 70 com a construção de um trecho da estrada perimetral norte (1973-76) e com programas de colonização pública (1978-79). Desde então, fazendeiros se instalam dentro da Terra Indígena com títulos expedidos pelo INCRA, sendo alguns deles residentes até os dias de hoje mesmo já tendo perdido os direitos sobre aquelas terras em todas as instâncias jurídicas. Além disso, os projetos de colonização implementados, nas décadas de 1970 e 1980, criaram uma frente de povoamento que tende a expandir-se para dentro da área indígena devido ao fluxo migratório direcionado para Roraima. Esta tendência, que poderá ser ampliada no futuro próximo, em conseqüência do apagamento dos limites da demarcação por um mega-incêndio que atingiu Roraima no começo de 1998. Quanto ao garimpo, entre as décadas de 80 e 90 o limite leste foi amplamente invadido por garimpeiros, tanto a pé quanto de barco e avião. A intensidade dessa corrida do ouro diminuiu muito a partir do começo dos anos 1990, mas até hoje núcleos de garimpagem continuam encravados na terra yanomami, de onde seguem espalhando violência, problemas sanitários e sociais.

"Olhar Ianômami[editar | editar código-fonte]

"brancos" (napëpë), categoria de estrangeiros ou inimigos potenciais próximos, diante dosquais teme-se epidemias (xawara), muitas vezes associadas à fumaça produzida por suas "máquinas" (maquinários de garimpo, motores de aviões e helicópteros) e à queima de suas possessões (mercúrio e ouro, papéis, lonas e lixo).[editar | editar código-fonte]

"outros" (yaiyo thëpë)

  • visitantes (hwamapë), que, nas grandes cerimônias funerárias e de aliança intercomunitária reahu, podem causar doenças usando de feitiçaria para se vingar de insultos, avareza ou ciúme sexual;
  • inimigos (napë thëpë), que podem matar, atacando a aldeia com foice envergada.
  • gente desconhecida e longínqua (tanomai thëpë), que pode provocar doenças letais mandando espíritos xamânicos predadores ou caçar o duplo animal rixi das pessoas (os rixi vivem nas matas remotas, longe de seu duplo humano);

Cosmologia e Religiosidade[editar | editar código-fonte]

Os xapiripë são vistos sob a forma de miniaturas humanóides enfeitadas de ornamentos cerimoniais coloridos e brilhantes. São, sobretudo, "imagens" xamânicas (utupë) de entes da floresta (mamíferos, pássaros, peixes, batráquios, répteis, lagartos, quelônios, crustáceos e insetos), mas existem também espíritos de diversas árvores, folhas, espíritos dos cipós, dos méis silvestres, da água, das pedras, das cachoeiras, entre outros.Muitos são também "imagens" de personagens mitológicas.

Os pajés podem chamar até si os xapiripë, para que estes atuem como espíritos auxiliares. Esse poder de conhecimento, visão e de comunicação faz dos pajés os pilares da sociedade Ianomâmi. Controlam a fúria dos trovões e dos ventos de tempestade, a regularidade e a alternância do dia e noite, secas e chuvas, a abundância da caça, a fertilidade das plantações, afastam os predadores sobrenaturais da floresta, contra-atacam as investidas de espíritos agressivos de pajés inimigos e, principalmente, curam os doentes.

Aspectos Culturais[editar | editar código-fonte]

Moradia[editar | editar código-fonte]

Os Ianomâmis compartilham de uma casa plurifamiliar, chamadas de "malocas". A maloca possui uma forma cônica, pode ter até 40 metros de diâmetro e 14 metros de altura, com sua estrutura de madeira roliça amarrada com cipó- titica ou ambé- coroa; e é coberta com folhas de ubim. Não tem paredes divisórias, com duas a três entradas principais e outras menores para o uso familiar, além de dentro das malocas existirem jiraus, os quais são utilizados para guardar pertences e produtos da roça e podem abrigar de dez a quinze famílias.

Cada casa coletiva ou aldeia considera-se autônoma ("co-residentes") e seus membros optam preferencialmente por casamentos entre pertencentes da mesma comunidade. Esse tipo de casamento, entre parentes com um(a) primo(a) "cruzado(a)", ou seja, o(a) filho(a) de um tio materno e uma tia paterna, faz da casa coletiva ou aldeia yanomami um denso e confortável emaranhado de laços de consanguinidade e familiaridade.

Relações entre as aldeias[editar | editar código-fonte]

Apesar da separação por aldeias, todos grupos locais mantêm uma rede de relações de troca matrimonial, cerimonial e econômica, considerados aliados, ligam a totalidade das casas coletivas e aldeias ianomâmi de um lado ao outro do território indígena.

As áreas entre as malocas são interligadas por trilhas, acampamento de caça ou de viagem, ou ainda por velhas roças. Todos os caminhos são largamente utilizados, possuem nomes e fazem parte do universo histórico e mitológico Ianomâmi.

Adornos Corporais[editar | editar código-fonte]

Os adornos corporais são um ponto importante dos costumes Yanomami. O homem possui somente uma vestimenta, a qual constitui-se por um fio ao redor dos quadris e atado ao prepúcio para levantar o pênis. As mulheres ficam nuas, com um cordão ao redor dos quadris, onde penduram alguns tipos de adornos. Tanto homens quanto mulheres cortam o cabelo de forma circular no alto da cabeça. Realizam pintura corporal e facial, a qual consiste em desenhos geométricos ou circulares, geralmente vermelhos ou pretos. Utilizam ainda penas de diversas aves para enfeitar os cabelos e outras partes do corpo. São produzidos como artesanato: cestarias, colares, cocares, adornos de braço e brincos de penas ou hastes.

Rituais[editar | editar código-fonte]

As fases da vida são marcadas por diversas restrições e rituais. As festas são tidas como muito importantes e são marcadas por diversas atuações. O grupo convidado para a festa se desloca por vários dias para outra maloca.

Maternidade[editar | editar código-fonte]

A criança deve nascer fora da maloca, no mato ou no pátio central; mama até os quatro anos de idade, quando então dá lugar ao irmão mais novo. Entre os dois e quatro anos tem o lóbulo da orelha furado. As meninas, quando chegam aos 8 ou 9 anos, tem o septo nasal furado, assim como as comissuras da boca, onde levam adornos de plumas ou hastes fins confeccionados com cana.

Noivado[editar | editar código-fonte]

O noivado entre os Ianomâmis é selado a partir dos presentes dados pelo pretendente. Porém, as moças só podem ser cortejadas se ainda não forem prometidas. Após o casamento, o genro deve preparar a roça dos sogros. O contato do genro com a sogra é extremamente restrito e portanto ele não pode olhar diretamente para ela e tão pouco lhe dirigir a palavra. Ele ajuda as pessoas, porque fortifica contra as doenças, contra o espírito mau", diz líder, chamado pela tribo de tuxaua. Ao chegar da noite, as mulheres ainda

Reahu, a cerimônia dos mortos[editar | editar código-fonte]

O ritual começa com um contato com os espíritos. Para isso, eles cheiram o Paricá, um pó alucinógeno feito da casca de uma árvore e que é soprado direto no nariz de cada um deles e em poucos minutos, os índios se transformam, abrindo o caminho do além para um companheiro que morreu. Mas na aldeia dos ianomâmis, ninguém é enterrado.

Sempre que um ianomâmi morre, o corpo dele é cremado, e as cinzas são colocadas dentro de uma cabaça que se chama rixi. Depois disso, as cinzas são misturadas em um mingau de banana chamado ripu. A mistura sagrada é distribuída entre os integrantes da aldeia. Ela só pode ser consumida durante o ritual. "O sentido do uso é para que o espírito do finado volte para nós.

Referências[editar | editar código-fonte]

G1 - g1.globo.br http://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/08/venezuela-investiga-suposto-massacre-de-80-ianomamis-por-garimpeiros-brasileiros.html http://g1.globo.com/globoreporter/0,,MUL1242490-16619,00.html

Pro-Yanomami - proyanomami.org.br http://www.proyanomami.org.br/v0904/index.asp?pag=htm&url=http://www.proyanomami.org.br/base_ini.htm

“Traduz quem viveu: reflexões sobre modos yanomami de tradução” - Luis Fernando Pereira Núcleo de História Indígena e do Indigenismo da Universidade de São Paulo (USP)

InfoEscola http://www.infoescola.com/sociedade/ianomamis/

BrasilEscola http://www.brasilescola.com/cultura/cultura-indigena.htm

POVOS INDÍGENAS - Fundação Nacional do Indio http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJA63EBC0EITEMIDC2D8A964399D46C5BC4792027C14F73APTBRNN.htm

HUTUKARA http://www.hutukara.org/