Wikinativa/Júlia Franco (vivencia Guarani 2018 - relato de experiência)

Fonte: Wikiversidade

Introdução[editar | editar código-fonte]

Existem experiências e momentos em nossas vidas que definitivamente nos marcam e geram mudanças profundas, mesmo que a princípio não se perceba. E participar dessa disciplina voltada para o fortalecimento dos povos originários com toda certeza foi um desses momentos, onde eu pude conhecer outra cultura, aprender um novo modo de vida e interagir com pessoas que possuem uma visão de mundo completamente diferente. A disciplina contou com duas vivência que foram muito especiais e significativas para mim.

Vivência - Pico do Jaraguá[editar | editar código-fonte]

A primeira vivência tinha o propósito de finalizar a construção da casa de Reza em uma área que os indígenas ainda não tem permissão para ocupar, constituindo assim um ato de resistência do povo originário.

Poder participar do processo, mesmo que apenas na última etapa, foi muito gratificante, eu ajudei a limpar o caminho principalmente. É difícil descrever o que eu senti, ao ver no final do dia a Casa De Reza pronto e linda,isso nos mostra que quando trabalhamos juntos podemos fazer coisas incríveis, afinal JUNTOS SOMOS MAIS FORTES.

Durante a reza pude perceber o quão significativa a construção da Casa foi para esse povo, eles estavam muito emocionados durante suas falas em agradecimento e esse dia foi muito importante para a luta e resistência desse povo. Além disso, durante a reza eu experimentei o fumo, sendo essa a primeira vez que eu fumei que faz parte do ritual da comunidade para se conectarem com o seu Deus e se purificarem dos maus espíritos, e essa foi a primeira vez que eu fumei.

Vivência - Aldeia Rio Silveiras[editar | editar código-fonte]

A vivência na rio Silveiras ocorreu no feriado dos dias das crianças e foi uma experiência maravilhosa que me ensinou muito, principalmente sobre desapego, contato com a natureza e resistência e eu posso dizer que apesar da chuva que nos testou todos os dias, nos resistimos e conseguimos ter uma experiência inesquecível.

Durante a viagem nós fizemos duas trilhas uma para uma cachoeira e outra para um rio e infelizmente a chuva não permitiu que fossemos à praia. A trilha para a cachoeira era bem longa e devido a chuva havia muita lama pelo caminho, então ficar com o pé limpo foi um desafio que ao longo da viagem foi decididamente abortado, banho de cachoeira é sempre fenomenal e mesmo com o tempo não colaborando foi ótimo.

A trilha para o rio foi um tanto quanto desafiadora, composta por uma parte na estrada de terra, uma no meio da floresta, outra atravessando um riacho cheio de pedrinhas e ao alcançar o rio ainda era necessário atravessar diversas pedras para poder nadar, mas quem persevera sempre colhe as recompensas e nadar nesse rio foi revigorador e muito divertido, valendo a pena todo o esforço para alcançá-lo. No dia da trilha para o rio fiz mais uma coisa inédita ao usar rapé, eu não senti muitos efeitos emocionais, a erva afetou mais o meu corpo, mas eu me senti muito relaxada após o uso e depois dos momentos iniciais que são bem intensos e com certeza usarei o rapé novamente em oportunidades futuras.

Toda esse contato com a natureza foi muito bom e eu voltei bem mais relaxada para casa do que tinha ido, mostrando o quão importante é essa ligação com a natureza que nós que moramos em cidades como São Paulo não temos muitas oportunidades de aproveitar no nosso dia a dia.

A maior parte do contato com a cultura e comunidade indígena ocorreu dentro da casa de reza, onde todas as noites a comunidade se reuni para rezar, dançar, realizar curas e conversar. Os seus cantos e danças são contagiantes é impossível não se contagiar pela energia transmitida dentro da casa. No segundo dia da viagem, o momento na casa de reza foi bem longo, pois os indígenas estavam discutindo sobre as eleições e o significado disso para os povos indígenas e eles deixaram claro que independente de quem assumisse a presidência os povos originários continuariam lutando e resistindo como eles vêm fazendo há mais de 500, eles não temem o futuro, pois sabem que seu Deus Nhanderú sempre olhará por seu povo e os protegerá.

Conclusão[editar | editar código-fonte]

Poder realizar essa disciplina foi muito gratificante pessoalmente, eu pude perceber o quão importante é a luta dos povos originários, as viagens me possibilitaram novas experiências e principalmente me desafiaram a sair da minha zona de conforto para poder realmente desfrutar do que está ao meu redor e me conhecer melhor. Entretanto não tive tanto contato com os indígenas nas vivências como inicialmente imaginava, pois sempre haviam muitas coisas há fazer e os espaços para conversas informais foram limitados, mas espero ter novas oportunidades para me aprofundar mais nessa cultura tão rica e contribuir para a luta deste povo.