Wikinativa/Jenipapos-canindés
|
Responsável.: Felipe Grecov
O povo indígena Jenipapo-Canindé ou Jenipapo-Kanindé, descendente do povo indígena Payaku, tem cerca de 304 indivíduos situados na comunidade Lagoa da Encantada, no município cearense de Aquiraz.
Jenipapo-Canindé | |||
---|---|---|---|
Municipio de Aquiraz no Mapa | |||
População total | |||
304(Funai/Fortaleza,2011) | |||
Regiões com população significativa | |||
| |||
Línguas | |||
Português | |||
Religiões | |||
Grupos étnicos relacionados | |||
Payaku, Tarariú |
Localização
[editar | editar código-fonte]Habitam a Lagoa da Encantada, no município cearense de Aquiraz. De acordo com os relatos, havia várias comunidades no Município de Aquiraz, como a Lagoa do Tapuio, o Córrego de Galinhas e o Córrego de Bacias, entre outras. Os antigos relatam que no século XIX houve a chegada de seus ancestrais à Lagoa, sendo esse evento chamado de 'Seca dos três Oitos' ou dos 'Três Oitavos'.
Mapa Interativo
[editar | editar código-fonte]Neste link, é possível observar a área demarcada atual dos Jenipapos-Kanindés: Área demarcada atual
Neste link, é possível visualizar o município de Aquiraz de várias opções cartográficas: Município de Aquiraz
História
[editar | editar código-fonte]Até o século XVIII, os Payaku habitavam os rios Açu, Apodi, Jaguaribe, Banabuiú e Choró. Por sua vez, os Jenipapo-Kanindé, semelhantes aos Tarairiú em língua e cultura, tal como os Payaku, viviam nas várzeas do Apodi, Jaguaribe e Choró. Como outros povos não-Tupi, eles ficaram conhecidos pela denominação de "tapuias do Nordeste".
Fontes históricas registram que, no Ceará, os primeiros contatos dos portugueses com os povos ocorreram entre 1603 e 1608. Resistentes à colonização, eles foram escravizados e perderam progressivamente suas terras. Rebelaram-se seguidamente até serem quase dizimados, no decorrer da chamada "Guerra dos Bárbaros", entre 1680 e 1730.
Em 1707 os Payaku foram aldeados por missionários jesuítas no rio Choró, em Aquiraz, próximo de onde vivem hoje. Em 1764 a Aldeia dos Payakus passou a chamar-se Monte-Mor-o-Velho, nome que ficou até 1890. Na sede da aldeia criou-se a vila de Guarani(1890-1943), hoje município de Pacajus. Os Jenipapo e os Canindé foram aldeados entre 1731 e 1739 no rio Banabuiú, reunidos na Aldeia da Palma e depois em Monte-Mor-o-Novo-d'América (1764-1858), atual município de Baturité.
Língua
[editar | editar código-fonte]A língua principal não é definida entre a tribo, porém com a influência do período colonial e de outras tribos do nordeste, utilizam predominantemente a língua portuguesa.
Cosmologia e Religiosidade
[editar | editar código-fonte]Os Jenipapo-Kanindé desenvolveram um modo de vida próprio e estão em íntima interação com o lugar onde vivem — que é de singela beleza —, entre as dunas, a mata e a sagrada Lagoa da Encantada. Entre os seus lugares sagrados, estão a Barreira, o Morro do Urubu, o Riacho da Encantada e a própria Lagoa. O ambiente ecológico em que é formado a Lagoa e toda a mata, possui toda um significado na cosmologia da tribo, para eles neste ambiente a memória dos antepassados sofrem uma evocação.[1]
Praticam também como muitas tribos do Nordeste, o importante ritual Toré. Este, para eles representa parte de sua espiritualidade, com a orientação dos mais antigos entre a tribo, tendo como significado/objetivo de trazer boas plantações, ajudar em necessidades familiares e da comunidade indígena.[2]
Aspectos Culturais
[editar | editar código-fonte]Os Jenipapo-Kanindé mantêm um ritmo de trabalho próprio. Plantam mandioca o ano todo e seguem um calendário da colheita de frutos e legumes por épocas do ano: milho, feijão, batata-doce, castanha de caju e outros itens.
De cultura intimamente ligada à pesca, realizam esta atividade preferencialmente à noite, praticamente o ano todo, havendo várias formas de praticá-la, tanto com as mãos como com armadilhas que os próprios índios confeccionam, como a caçoeira, o jequi e a tarrafa.
Trabalham o artesanato com cipó, e as mulheres da etnia tecem rendas e fazem louças de barro. A partir de setembro inicia-se a safra do caju, que tem especial significado na comunidade, pois que dele fazem doces e sucos, além do mocororó, bebida usada em festividades e durante a realização do ritual do Toré.
Atualmente estão no Conselho Indígena Jenipapo-Kanindé, instância deliberativa para questões internas e na AMIJK-Associação das Mulheres Indígenas Jenipapo-Kanindé.
A tribo Jenipapo-Kanindé teve o primeiro cacique do sexo feminino do Brasil - Maria de Lourdes da Conceição Alves que foi escolhida para liderar a tribo, em 1995(PDDU,1999). A tribo que antes estivera sem cacique, com a morte do anterior, e com vários conflitos de terra quase foi dizimada, entregou seu destino à Pequena, como ela é mais conhecida. Pequena, com muita luta, conseguiu reduzir o isolamento da tribo em relação à sociedade e aos próprios integrantes de outros povos indígenas(LOPES, J. L. S.).
Os Jeninapo-Kanindé, basicamente possuem os seguintes hábitos[2]:
- Coleta de Frutas (caju, manga, seriguela, goiaba, murici, maracujá, mamão, banana, coco, melancia e meluite);
- Criação de Animais de pequeno porte (galinha, porco, cabra, bode, carneiro e ovelha);
- Pesca em Lagoa, feita com caçoeira, tarrafa, landuá, giqui e anzol;
- Caça guiando-se pelo faro e uso de cachorros (técnica difundida pelos mais velhos da tribo e mantida até a atualidade);
- Farinhadas, realizadas na casa da farinha da tribo. Um momento para conversas e prosas para celebração com alegria e fartura.
Medicina Tradicional
[editar | editar código-fonte]A medicina tradicional da tribo Jenipapo-Kanindé, tem base no conhecimento dos mais velhos da tribo. Com a utilização de ervas produzem "remédios" para curar física e espiritualmente. Sendo as mulheres que preparam os remédios tradicionais.[2]
Situação territorial
[editar | editar código-fonte]A etnia Jenipapo-Kanindé está entre as que primeiro lutou pelo direito de terra no Ceará, ainda na década de 80, junto aos Tapeba, Pitaguary e Tremembé. Conhecidos há décadas pela população circundante como 'os cabeludos da Encantada', o que demonstra a percepção da 'diferença' pela sociedade envolvente, vivem na Terra Indígena Lagoa da Encantada, no município de Aquiraz — espaço sagrado de onde tiram seus mitos, cosmologia, história e a própria sobrevivência. Depois de 31 anos de luta, a etnia finalmente conquistou, em fevereiro de 2011, a posse definitiva de suas terras, conforme a portaria publicada pelo Ministério da Justiça.
A Portaria nº 184 do Ministério da Justiça no Diário Oficial da União (DOU), de 24 de fevereiro de 2011, declarou o que esperavam os índios desde sempre, mais insistentemente a partir de 1980: "de posse permanente do grupo indígena Jenipapo-Kanindé a Terra Indígena ´Lagoa Encantada´, com superfície aproximada de 1.731 hectares e perímetro também aproximado de 20 quilômetros". E mais: "julgando improcedentes as contestações opostas à identificação e delimitação da terra indígena".