Wikinativa/Julia Valle Silva (vivência Guarani 2019 - relato de experiência)
Introdução
Desde o início da disciplina estava muita animada para a vivência, no decorrer desta houveram apresentações de diversos conceitos, videos e convidados para nos aproximar do tema. Foram muito importantes para um primeiro contato e descolonização de preceitos existentes em mim e possivelmente em grande parte da nossa sociedade.
Vivência na Aldeia Rio Silveira
A vivência e convivência com os povos originários foi uma experiência intensa, onde me questionei sobre o nosso modo de vida em sociedade, as nossas diferenças em relação a eles, existentes por diversos motivos e resultando em uma sociedade individualista, totalmente oposta a deles, onde o bem estar e felicidade coletivo é o mais importante. Dentro disso está embarcado o tratamento com relação uns aos outros, onde o respeito, consideração e empatia não se restringem apenas ao núcleo familiar, composto por companheirx, filhxs e pais, como acontece em muitos casos na sociedade moderna, mas este passa a ser uma importância com todo o coletivo, em momentos bons e ruins, em momentos de resistência ou não. Admirei o sentimento de união e amor entre eles, o reflexo disso perante a resistência deste povo pelo seu território por direito, e em relação a criação dos filhos, esse ponto realmente me deslumbrou, me pareceu uma criação em conjunto, onde todos cuidavam de todos, independente de serem ou não mãe ou pai, percebi a reprodução direta disto no comportamento das crianças, sendo estas muito autônomas, muito abertas para novos aprendizados, sem medo do novo, um bom exemplo disso foi a oficina de mandala, eu como parte do grupo de Arte e Música ajudei e ensinei algumas crianças e fiquei encantada com o poder de concentração no agora e aprendizado, desbravando o novo sem medo, muitas com tesouras e palitos pontudos (nós até estávamos com receio no começo, mas elas superaram nossas visões), com muita responsabilidade e desenvolvimento artístico, piquititos e maiores fazendo coisas maravilhosas. Vi também muitas crianças indo sozinhas para a cachoeira ou trilhas no meio do mato, e uma cena que me surpreendeu: uma criança matando um lagartinho e dizendo ”veneno”, percebi que muitos ensinamentos que adultos detinham eram passados para eles e na nossa sociedade normalmente não são transmitidos aos mais jovens. Outro momento que me emocionou e tocou bastante foi a casa de reza, senti o quão importante era aquilo para eles, a intensidade e o poder da reza, o ritual de cura foi muito importante para mim pessoalmente, sai de lá mais leve e com percepções ainda mais profundas sobre estar ali, compreendi o modo de vida deles, onde buscam o simples e básico para a sua sobrevivência, e muitas vezes necessitam lutar bastante, até mesmo pela sua terra, e pelo seu reconhecimento. Entendi de perto a complexidade e importância da defesa deste ponto por toda a nossa sociedade, além de ter uma visão ampliada sobre nós estudantes da Universidade de São Paulo e nossa responsabilidade quanto à isso, ao investimento em pesquisas e estudos que ajudem e deem voz ao povo originário do nosso país. A recepção deles com relação a nós juruás foi muito boa, compreendi que estavam acanhados de início perante setenta estranhos da cidade, mas foi questão de tempo para os mais velhos e crianças interagirem e compartilharem seu dia-a-dia conosco. A comida estava excelente, sério, as meninas mandaram muito bem, amei ter à experiência de uma alimentação cem por cento vegana, que seria meu sonho todos os dias! Eu amei de verdade a experiência, recomendo e recomendarei a todos que puderem participar e agradeço de verdade a oportunidade aos envolvidos! E um agradecimento especial a eles, o povo originário pela recepção, experiência e aprendizados.