Wikinativa/Karina Nakamura Saito (vivencia Guarani 2018 - relato de experiência)

Fonte: Wikiversidade

É difícil definir em que momento se iniciou essa vivência de imersão. Terá sido ao pegar o ônibus com a turma, ao chegar na aldeia, ou já tivera começado em casa arrumando as malas, ou na classe planejando as atividades? Meu sentimento é de que começou um pouco em cada momento, para cada passo no sentido de me abrir para uma nova realidade foi antecedido e acompanhado por um esforço em deixar de lado as minhas considerações pré concebidas, e às vezes, automáticas.

As atividades da disciplina anteriores a viagem para Bertioga, foram muito importantes pra mim e construtivas também na preparação para a viagem. Recebemos a visita de alguns representantes indígenas nas aulas na faculdade, como a cacique Tanoné, da etnia Kariri-Xocó, que me impactou bastante com a força que representou e transmitiu para quem estava ali presente. E mesmo que os encontros tenham durado um menor tempo que uma imersão e tenham sido realizados em sala de aula, foi feita uma grande aproximação com a realidade daquelas pessoas, por meio dos seus relatos e de todo conhecimento que eles passaram para nós, alunos. Outra atividade da disciplina que foi muito importante pra mim, foi a saída de campo para às Aldeias Tenondé Porã e Yvy Porã, no Jaraguá. Como já havia visitado a aldeia Rio Silveiras e visto o seu modo de vida nas suas terras, liberdade e possibilidades, ver o espaço no qual as aldeias da capital estavam sujeitas, me chocou. Com certeza passei sempre a imaginar como seria benéfico, para as pessoas daquela comunidade e para natureza, que pudessem ocupar e viver em liberdade em sua terra sagrada.

A vivência de 11 a 14 de outubro foi a minha segunda na Aldeia Rio Silveiras, sendo que a primeira foi ainda nesse ano, no semestre anterior e sem ser aluna da disciplina. As duas experiências foram bem distintas, não só pela diferença de ter mais responsabilidades na segunda, mas por outros diversos fatores. É notável como a época do ano, o sol ou a chuva, as companhias e o próprio estado mental ou corporal individual, modifica toda a percepção sobre o lugar, o tempo e a relação com o que se está vivendo. Diferente da minha primeira vivência, em que os dias foram muito ensolarados, nesta, tivemos dias de muita chuva. Isso ocasionou algumas dificuldades, mas acredito que superadas com bastante energia pelo grupo. Era claro o entusiasmo e a abertura de todos para as experiências naquele presente, e as que ainda estavam por vir. Acredito ser esse um importante fator também na experiência individual.

Foi essa transmissão de tranquilidade e de força que aconteceu durante toda a viagem, entre os alunos e os indígenas, que se sobrepôs às dificuldades com a concretização das atividades e dos imprevistos com a chuva, e tornou a experiência ainda mais valiosa. Eu, que estava com a saúde bem abalada durante toda a viagem, me senti muito fortificada com as rezas, com as falas dos indígenas e dos colegas, e com a integração com a natureza. E tenho a impressão de que os colegas que também estavam bastante feridos com a constatação do momento histórico que estávamos e ainda estamos vivendo no país, foram todos acolhidos e reerguidos. As relações, as palavras e o exemplo de luta dos povos indígenas do Brasil podem ensinar muito, e tivemos um grande privilégio ao sermos recebidos em um de seus lares.