Wikinativa/Leandro de andrade teis (vivencia Guarani 2022 - SMD - relato de experiência)

A vigência realizada em Bertioga próximo da região de boracéia na aldeia indigita tupi-guarani me possibilitou uma experiência única, no qual pude ter contato com costumes e práticas diferentes das habituais, nesse relatório irei elencar alguns comentários empíricos que acho relevantes. A Estrutura da aldeia conta com um Líder religioso (Pajé) e um líder político (Cachique), no entanto, ali existem outros 5 núcleos indígenas (totalizando 6), nossa vigência residia no núcleo da porteira localizado próximo a entrada da reserva, o interessante a respeito da estrutura foi os banheiros espalhados pela tribo sendo todos eles comunitários, no qual era possível qualquer um ser utilizá-lo, para mim esse foi um contraste significante, em nossa sociedade estamos envolto de um capitalismo no qual nos emprega a propriedade privada em todas nossos planos, “Minha casa”, “Meu carro”, “Meu canto”, e na aldeia não funciona assim, o senso comunitário “isso é de todos” ou “isso é nosso” é forte e marcante, o que me mostrou ser uma realidade formidável, no qual se tem respeito ao próximo, ao cuidado e zelo, além do entendimento que tudo aquilo precisa ser cuidado por todos indiferentemente para que todos possam usufruir. Ainda sobre as casas, algumas mantinham padrões com folhagens e materiais de árvores, mas não se limitava a somente esse tipo, algum eram de alvenaria, o entendimento sobre essa diferença é que nem todos eles desejam uma casa de alvenaria, alguns apenas usam lonas para melhor a infraestrutura e manter os padrões de construções tradicionais deles.

Quando falamos de religião indigina entramos em uma diversidade muito ampla, os Tupi-guaranis tiveram contato com o sincretismo desde as expedições jesuíticas que de certa forma impactou e gerou modificações ao longo do tempo em suas crenças, alguns indígenas possuem imagens cristãs dependendo da região, mas irei aprofundar a crença tupi-guarani, eles acreditam em um Deus supremo denominado Nhanderu ao qual diariamente eles na casa de reza se reuniões para agradecer e purificar seus indivíduos, no ponto da purificação eles utilizam os cachimbos com tabaco e outras ervas para realizar os rituais, é bem presente quase que o tempo todo a fumaça, sendo ela que realiza a purificação dos pesares e tormentos para eles, o ambiente dentro da casa de reza fica inundado por essa fumaça em conjunto dos sons dos instrumentos de percussão simulando com um ritmo fixo, conduzindo o cerimonial, inicialmente eles começam a prestigiar pessoas antigas importantes para tribo, vale mencionar que diferente de outros povo, eles dançam somente em agradecimento aos acontecimentos (em agradecimento ao sol, chuva), eles possuem outros Deuses menores vinculados a natureza como o Raio sendo simbolizado por tupan. Para mim ter participado dos rituais foi uma experiência extremamente incrível, envolvente, pois podemos participar, pegar um instrumento e acompanhar o ritmo musical, além disso, todos os ensinamentos compartilhados da Pajé Pará a respeito de preservação do meio ambiente, e do homem por sua busca incessantemente de acúmulo de capital quando somente é necessário a conexão com a natureza, sendo esse afastamento o motivo do nosso caos humano, e todos os demais apontamentos sobre responsabilidade ecológica, além do dever de cuidar da natureza para que possamos viver bem e em harmonia foram cruciais.

Para os guaranis o uso do Rapé não é tradicional, no entanto, alguns deles utilizam em ritos com os pajés, tive a honra de experimentar, trata-se de um mistura de tabaco e algumas ervas que é assoprada nas narinas com auxilio de alguém, essa expriência para mim, foi realmente transdencetal, me conectei com o ambiente, com a mata, os pés na borda da cachoeira ouvindo tudo ao meu redor, o silêncio e cântigo de inúmeros bichos de um ambiente natural, sem o stress citadino que vivenciamos constamente, foi uma experiência de conexão ao ambiente natural, pé no chão, ar puro, sombra da ávore, um retiro de tudo que nós faz mal, sem essa necessidade compulsória de controlar o tempo a todo instante, lá apenas deixamos as coisas acontecer no seu devido tempo, sem um programa tão fixo, fechado ou planejado o que para alguns é uma tortura, para mim se descreveu em tranquilidade.

A cachoeira foi um ponto de descontração dos alunos e de alguns indígenas, fomos guiados por eles, andamos algo em torno de 1 hora, eu com os pés descalços estava livre para poder sentir o chão de forma nua, sem a necessidade de calçados fiz o percurso inteiro, e como é bom poder sentir as inúmeras texturas, desde a terra, lama e os pedregulhos do fundo da cachoeira e dos laguinhos que percorremos. A preservação é um ponto importante, todas as últimas aldeias desempenham um papel muito importante de preservação de fauna e flora, atualmente a região que a maioria das aldeias estão localizadas ficam próximas à matas ciliares ou áreas em ameaça constante de desmatamento e extinção de espécies. A água que bebemos durante a vivência era de uma nascente ali próxima, sem a necessidade de tratamentos como a nossa água encanada citadina.

Não menos importante para finalizar meu relatório, é dizer sobre meu antes, durante e após. Antes da disciplina ou vivência eu não tinha noção, o quão a política atual poderia impactar negativamente os povos indígenas, também não imagina a opressão e batalhas diárias que esses povos travam para manter suas terras seguras, protegidas de empresas oportunistas, donos de terra, entre outros fatores de perigo. Hoje mesmo sendo um aluno de marketing, mas falando como indivíduo passo a ter uma ótica mais aprimorada, e como eleitor posso carregar essa visão e votar em lideranças que façam sentido a preservação desses povos tão importantes, seja pela cultura que está cada vez menos ancestral aos seus consumos de origem ou pela importância de proteção às nossas matas. A respeito do durante, só tenho a agradecer a ponte que foi feita, me senti acolhido o tempo inteiro, como se fosse alguém próximo dos indígenas que nos receberam, ou as crianças extremamente receptivas e calorosas. No ponto do após a vigência, eu me sinto mais balanceado, dormindo melhor, com uma paz no espírito mesmo em momentos caóticos, o que eu aprendi e o que passei, me purificaram do corpo a mente e posteriormente o espírito.