Wikinativa/Luan carlos Martins da Silva (vivencia Guarani 2022 - SMD - relato de experiência)

Fonte: Wikiversidade

Nome: Luan Carlos Martins da Silva N°11352143

Relatório sobre a experiência na Aldeia Rio Silveiras:


Introdução

A disciplina ACH3707 - Seminários de Políticas Públicas Setoriais II (2022), ministrada pelo professor Jorge Alberto Silva Machado, proporcionou uma experiência inesquecível e revigorante. Com o início da disciplina feita no dia 19 de Agosto de 2022, foi promovido encontros quinzenais, onde foi contextualizado e debatido problemáticas sobre a questão indígena, assim trazendo e promovendo vozes de diferentes etnias e grupos que compartilharam suas vivências e conhecimentos através de rodas de conversa. Paralelamente, em todos os encontros sempre foi destacado a importância da organização e estudo prévio sobre a Aldeia Rio Silveiras, desta forma sendo organizado grupos distintos para a recreação, registro, infraestrutura e alimentação e discussões sobre sobre os mais diversos tópicos de organização.


A vivência do dia 04/11

A ida para a aldeia se deu em uma sexta-feira, mais precisamente no dia 04/11, onde foi definida a saída da EACH no horário das 15h30 e a especulação da chegada sendo de 1h30 depois. Com o acontecimento de alguns imprevistos como o de um trânsito inesperado, acabamos chegando um pouco mais tarde, quando após um dia de muita chuva pela tarde, estava anoitecendo e com algumas poças pelo caminho, o que dificultava um pouco o trajeto. O primeiro contato com o lugar foi de uma sensação de muita conexão, pois ao chegarmos, nós nos deparamos com um lugar simples, acolhedor e repleto de natureza e vida, lá era um espaço aberto onde estava disposto especialmente para instalarmos o acampamento e nos mantermos para os próximos dias. O local era o início de um dos 6 núcleos da reserva indígina Rio Silveiras, chamado de núcleo da porteira, lá contava com um espaço para a cozinha, alguns banheiros ao redor do acampamento e uma grande construção de madeira e com características de construção Guarani, que era a casa de reza. No local tivemos a primeira interação com os moradores da região através de uma cerimônia na casa de reza, onde era organizada Lucimara, a filha do Pajé responsável pela liderança do núcleo da porteira, que por motivos de saúde não conseguiu estar presente. Na cerimônia, foi dividido o espaço entre dois bancos, nos quais do lado esquerdo sentavam apenas mulheres e no lado direito apenas homens, neste espaço sagrado foram feitos ritos exclusivos para indígenas presentes e posteriormente uma apresentação e uma sessão de perguntas. Durante a apresentação na casa de reza foi destacado a felicidade e o acolhimento por parte do povo guarani em receber o grupo da disciplina da EACH. Nesta ocasião foram explicados a definição étnica da aldeia e sua organização, assim destacando que a maioria dos moradores se identificam como guarani e se organizam através de 6 núcleos que compartilham a mesma cultura e costume. A aldeia guarani rio silveiras se localiza entre as cidades de São Sebastião e Bertioga e possui o seu território demarcado desde o ano de 1987, lá existem mais de 900 indígenas que se organizam financeiramente através do comércio e do turismo, no território também existe uma unidade básica de saúde e uma escola que promove desde o ensino infantil ao ensino médio.


A vivência do dia 05/11

O segundo dia de vivência foi o mais produtivo do três por conta da oportunidade de termos 24 horas para aproveitar todas as atividades. Neste sábado de muito sol, começamos o dia com um espetacular café da manhã exclusivamente vegetariano e com muitos produtos naturais, logo após isso, tivemos nosso primeiro contato efetivo com as crianças da região, que eram os indígenas mais presentes conosco durante toda vivência. Com elas me senti como uma criança novamente, promovemos juntos várias brincadeiras, conversas e afeto. Após este começo muito especial do dia, fomos guiados para uma trilha que cruzava o território e adentrava na mata atlântica preservada da região, durante o trajeto que demora em média 2 horas para ser feito, nos deparamos com vegetações exuberantes, nascentes de águas cristalinas e o exuberante rio silveiras, que mesmo com sua água bem gelada, proporciona uma remoção do corpo e espírito. Ao chegar no destino final da trilha, vislumbramos uma cachoeira dita como sagrada pelos guarani, nela tivemos um momento de muita diversão, renovação e conexão com o meio natural e espiritual. Ao voltarmos da trilha feita para visitar a cachoeira da região, almoçamos novamente uma deliciosa comida preparada pelos membros da equipe da vivência e moradores locais, após esse deleite, começamos a promover novamente interações com as crianças e outros indígenas através dos cronogramas feitos pela equipe da recriação, na qual eu fazia parte. Assim, durante essa interação promovemos atividades como brincadeiras de pular corda, bambolê, pique bandeira, corrida, cabo de força e etc, o que fez ficarmos cada vez mais próximos das crianças e criar laços muito fortes. As crianças guarani presentes em nossa vivência eram muito acessíveis, meigas e extremamente enérgicas, todas possuíam um senso de comunidade e de muita generosidade. Depois de passarmos horas e horas com as crianças durante a tarde e chegar o anoitecer, me vi em um estado de espírito muito leve e revigorado, mesmo estando extremamente cansado depois de tantas brincadeiras e atividades. Assim, uma vez um pouco debilitado por conta do cansaço e uma dor de cabeça, me permiti descansar um pouco em minha cabana, o que infelizmente fez com que eu perdesse a última cerimônia feita na casa de reza. Após me restabelecer, jantei novamente um excelente prato e segui para mais interações, mas desta vez com os integrantes da equipe, o que me permitiu criar laços profundos com o grupo da viagem tal qual com os guarani.


A vivência do dia 06/11

No último dia da vivência na aldeia rio silveiras tivemos um dia um pouco atípico, durante a manhã apreciamos um ótimo café da manhã e logo seguimos para interagir com as crianças novamente, assim promovendo várias brincadeiras e conversas com os guarani. Após esse início maravilhoso, foi nos permitido aproveitar a praia próxima a aldeia, que ficava a poucos minutos de caminhada de onde estávamos, assim vivemos novamente uma excelente experiência de conexão com o meio natural e com as pessoas presentes. Posteriormente a ida para praia, voltamos ao local do nosso acampamento, onde demos o início ao processo de desmontar o acampamento, almoçar e guardar tudo no ônibus para a volta. Paralelamente a isso, estava presente um caminhão diferenciado, pertencente à USP, no qual promovia vídeos educativos e suporte para consultas feitas por estudantes de odontologia que estavam no grupo e prestavam atendimento no local. Após um último adeus carregado de sentimento à todos que nos proporcionaram uma excelente estadia, conhecimentos e experiências marcantes, voltamos para a universidade e posteriormente para as nossas casas com um sentimento indescritível de gratidão por ter vivido tantos momentos inesquecíveis e ter o privilégio de conhecer e vivenciar um pouco da magnitude que a cultura guarani, a aldeia rio silveiras e seus moradores poderiam proporcionar.


Conclusão

Toda a experiência vivida na viagem à aldeia guarani rio silveiras proporcionou as mais diversas reflexões sobre a forma que vivemos, fazemos políticas públicas e interagimos com o natural. A cultura vivida pelos guarani da região nos permite enxergar, que mesmo com problemas como a da constante ameaça por território, estrutura básica de saneamento e problemas de saúde como os odontológicos e psíquicos, é possível vivenciar uma uma rotina de muita leveza, senso de comunidade e de conexão com o meio natural e espiritual. A vivência no território guarani me transformou e me marcou de forma sem igual, consegui adquirir maiores conexões com o natural e minhas crenças no espiritual. Assim tendo vários momentos marcantes e me afeiçoando pelo detalhe mais básico vivido, desta forma também me vejo com um olhar muito mais assertivo e humanizado sobre como construir políticas públicas e viver o meu dia a dia.