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Wikinativa/Mundurucu

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Mundurucus em aquarela de 1828 de Hércules Florence
Líder mundurucu no Amazonas

Os Mundurucus, também chamados Weidyenye, Paiquize, Pari e Caras-Pretas, são um povo que habita as áreas indígenas Cayabi, Mundurucu, Mundurucu II, Praia do Índio, Praia do Mangue e Sai-Cinza, no sudoeste do estado do Pará; as terras indígenas Coatá-Laranjal e São José do Cipó, no leste do estado do Amazonas e a Indígena Apiaká-Kayabi Reserva Indígena Apiaká-Kayabi, no oeste do estado do Mato Grosso, no Brasil. Em 2010, sua população era de 11 630 (Fundação Nacional de Saúde, 2010[1]) indivíduos, distribuídos em cerca de trinta aldeias. Falam a língua mundurucu, a qual pertence ao grupo linguístico macro-tupi.

Localização

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O povo Munduruku está distribuído em regiões e territórios diferentes nos estados do Pará: sudoeste, ao redor do rio Tapajós e seus afluentes, além dos municípios de Santarém, Itaituba, Jacareacanga. No Estado do Amazonas estão ao leste, nas imediações do Rio Canumã, cercanias do município de Nova Olinda; também próximo a Transamazônica, na altura do município de Borba. Já no Mato Grosso, estão mais ao norte, na região do rio dos Peixes, próximo ao município de Juara.

Os Mundukurus preferem habitar regiões de florestas, próximo às margens de rios navegáveis. No entanto, as aldeias tradicionais da região de origem ficam nos chamados “campos do Tapajós”, identificados geograficamente entre as áreas de savana no interior da floresta amazônica.

A maioria de suas aldeias está localizada no rio Cururu, afluente do Tapajós.

Seu território mais tradicional é os campos interiores do alto Tapajós. Segundo seus ancestrais, Karosakaybo criou os Munduruku na aldeia Wakopadi, situada nos campos centrais, próxima às cabeceiras do rio Krepori, local hoje situado nas proximidades do limite leste da terra demarcada em 2001[1].

Os primeiros contatos registrados das frentes colonizadoras com os Munduruku datam da segunda metade do século XVIII. A primeira referência vem do vigário José Monteiro de Noronha, quando ao avistá-los às margens do rio Maués (afluente do rio Madeira, atual estado do Amazonas), em 1768, os denominou de “Maturucu”. Na região, existem ainda comunidades desta etnia cuja história de contato e relações com os invasores brancos apresentam aspectos distintos das comunidades Munduruku situadas na região do alto Tapajós. Atualmente, a maioria da população Munduruku da bacia do Madeira habita a Terra Indígena Coatá-Laranjal, que teve sua demarcação física concluída em 2001. Há registros também de comunidades fora dos territórios demarcados, próximas ao município de Humaitá, no Amazonas, ao longo da rodovia Transamazônica.

Na região do baixo rio Tapajós, próximo a Santarém, nos últimos anos há comunidades em processo de afirmação de identidade étnica ligadas aos Munduruku.

Os deslocamentos territoriais dos mundukurus ocasionaram diferentes histórias de contato. Na historiografia, são apresentados como uma nação audaciosamente guerreira, que realizava grandes excursões do Madeira ao Tocantins, cujo um dos objetivos era o de obter troféus de cabeças de inimigos que eram mumificadas e as quais se atribuíam poderes mágicos. Os Munduruku dominaram bélica e culturalmente o Vale do Tapajós desde o final do séc. XVIII, na região conhecida secularmente como Mundurukânia. Ainda permanecem na região até os dias de hoje, seja em terras reconhecidas oficialmente, seja vivendo em pequenas comunidades ribeirinhas como Mamãeanã, São Luís e Pimental, relativamente próximas ao município de Itaituba[1].

Resistência aos colonizadores

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Os colonizadores portugueses só conseguiram dominar os mundukurus, após o envio de várias expedições e tropas de resgate organizadas para acabar com à insistência resistência de seus guerreiros indígenas. Os mundukurus, realizavam ataques aos povoados dos arredores que só terminaram ao final do século XVIII com a adoção de acordos de paz entre chefes Munduruku e autoridades coloniais estabelecidas na região do baixo Madeira/Tapajós.

Desde a pacificação, surgiram os aldeamentos missionários, inseridos na exploração do cumaru, cacau e outros produtos. Mesmo assim, alguns grupos continuaram guerreando contra etnias rivais.

Em decorrência das vastas áreas que ocupavam e em que perambulavam, os contatos dos Munduruku com as frentes de expansão variaram de acordo com a proximidade e facilidades de acesso aos seus territórios, o que resultou no surgimento de aspectos diferenciados da cultura entre os indígenas localizados nas margens do rio Tapajós, rio Madeira, Cururú e na área de cerrado conhecida como Campos do Tapajós, região onde encontram-se as aldeias mais tradicionais, e que é cenário de boa parte da mitologia deste povo.[1]

Os Mundurucus possuem um sistema numérico particular. Pierre Pica, juntamente com Stanislas Dehaene e Elizabeth Spelke desenvolveram um trabalho seminal com os Mundurucus, revelando as propriedades psicofísicas e linguísticas do sistema de contagem Mundurucu. Os Mundurucus só possuem palavras para números até cinco. Apesar disso, eles são capazes realizar diversas operações aritméticas de forma aproximada com acuidade similar a de indivíduos ocidentais que receberam educação formal em matemática. [2]

Cosmologia e religiosidade

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Aspectos tradicionais

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Os mundukurus pertencem à família lingüística Munduruku, do tronco Tupi. Sua autodenominação é Wuy jugu. Segundo o conhecimento oral entre os anciãos, a designação Munduruku, como são conhecidos desde fins do século XVIII, está associada ao modo como eram denominados pelos Parintintins, povo rival que estava localizado na região entre a margem direita do rio Tapajós e o rio Madeira. O significado seria “formigas vermelhas”, em alusão aos guerreiros Munduruku que atacavam em massa os territórios rivais.

A organização social do povo Munduruku está baseada na existência de duas metades exogâmicas, identificadas como a metade vermelha e a metade branca. Existem cerca de 38 clãs mais conhecidos, divididos entre as duas metades, de onde se originam não apenas as relações de parentesco, como também os significados na relação com o cotidiano da aldeia, relacionados com o mundo da natureza e o sagrado.

Como os clãs são exogâmicos, uma pessoa pertencente a uma determinada metade só pode contrair casamento com uma pessoa da metade oposta. Assim, uma pessoa do clã Bõrõ, um dos muitos clãs da metade branca, só poderá casar-se com alguém de um clã pertencente à metade vermelha, como Karo. As possibilidades são variadas, sendo que entre os da metade branca estão: Kirixi, Akai, Saw e outros; na metade vermelha: Kabá, Tawé, Wako e outros. Os nomes dos clãs correspondem a diferentes elementos da natureza, como árvores, pássaros e mamíferos, que fazem parte da rica cosmologia dos Munduruku, estando muitas vezes presentes nas narrações e canções tradicionais que explicam o mundo e as relações dos homens dentro dele.

O casamento preferencial é realizado com primos cruzados, o que significa que o rapaz ou a moça tendem a casar com a filha do irmão da mãe ou o filho da irmã do pai, respectivamente. O casamento é uma esfera das relações sociais muito importante no equilíbrio da sociedade, essencial para o bom relacionamento das famílias, para relações de troca e solidariedade e para a organização política da comunidade. Também são aceitas as separações.

A descendência é patrilinear, ou seja, os filhos herdam o clã do pai. Já a regra de moradia é matrilocal, o que faz que o homem recém casado passe a morar na casa do sogro, a quem deve prestar sua colaboração nas tarefas de subsitência, como preparar roças, pescar, caçar além da manutenção da casa, incluindo acompanhar a família nos trabalhos de extração e coleta nos seringais e castanhais. Geralmente este período de moradia corresponde aos primeiros anos de casamento, até o nascimento do segundo filho; depois desta fase o marido providencia a construção da casa para sua família.[1]

Medicina tradicional

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Situação territorial

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No início de 2012, a imprensa teve acesso a um contrato que representantes da tribo teriam firmado com uma empresa estrangeira, em que "os índios se comprometem a não plantar ou extrair madeira das terras nos 30 anos de duranção do acordo"[3]. Em troca, a empresa irlandesa Celestial Green Ventures, que se apresenta como líder no mercado mundial de créditos de carbono, pagaria 30 parcelas anuais de 4 000 000 de dólares estadunidenses de 2012 até 2041. O contrato teria sido assinado pelo presidente da Associação Indígena Pusuru, em desacordo com a vontade da maioria, segundo o vice-prefeito (índio) do município de Jacareacanga. Além da preservação da vegetação nativa, o contrato daria à empresa "a totalidade dos direitos sobre créditos de carbono e todos os direitos de créditos de certificados ou benefícios que se venha a obter por meio da biodiversidade dessa área"[3]. O que abriria uma brecha para a biopirataria.

A discussão exemplifica casos em que contratos firmados por indígenas incluem cláusulas abusivas e, de acordo com parecer da Advocacia-Geral da União[3], devem sofrer intervenção direta da União - o que também é sintomático da insegurança jurídica desse tipo de contrato no Brasil.

Ligações externas

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Referências

  1. 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 Munduruku. Em Povos Indígenas no Brasil, editado por Instituto Socioambiental (ISA). Acesso em 12 de maio de 2013.
  2. Riley, Alex Bellos; illustrations by Andy. Alex's adventures in numberland, 2010. Bloomsbury, London. ISBN:9781408809594
  3. 3,0 3,1 3,2 O ESTADO DE S. PAULO, Por milhões de dólares, índios vendem direitos sobre terras na Amazônia. Edição de domingo, 11 de março de 2012. Página A22.[1]