Wikinativa/Parintintins

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Vinícius Fabiano Carvalho

Localização[editar | editar código-fonte]

Coordenadas -2.569939,-56.739349

Veja no mapa: [[1]]

Situação Territorial[editar | editar código-fonte]

Os Parintintins habitam terras indígenas no município de Humaitá, no Sudeste do estado do Amazonas, entre os rios rio Madeira e Marmelos, mais precisamente nas áreas indígenas Ipixuna e Nove de Janeiro.

População[editar | editar código-fonte]

De acordo com a FUNASA(2010) os Parintintins têm uma população de 418 indígenas.

História[editar | editar código-fonte]

Anteriormente à pacificação dos Parintintins em uma expedição liderada por Curt Nimuendají, entre os anos de 1922 e 1923 há poucos registros sobre a sua história, além de alguns relatos sobre alguns de seus ataques ao longo do rio Madeira.

A primeira referência histórica que se tem dos Kagwahiva(grupo indígena que originou os Parintins), foi datada do final do século XVIII, onde de acordo com Nimuendajú, eles se localizavam na confluência dos rios Arinos e Juruena, formadores do Tapajós. Os Kagwahiva foram expulsos de seu território por volta do século XIX, por portugueses e Mundunkuru, dispersando-se então na direção oeste rumo ao rio Madeira (Menenedez 1989), onde hoje se encontram os Parintintins, ao rio Machado, onde Lévi-Strauss, Rondon e Nimuendajú encontraram os “Tupí-Cawahíb” e também próximo à região central de Rondônia, no rio Machado, onde estão hoje os Urueu-wau-wau, Amondawa e Karipuna. Diversas rupturas entre o grupo Kagwahiva foram acontecendo ao longo da história, em consequência das diversas guerras e conflitos existentes entre seus subgrupos, assim originando, entre outras tribos, os Parintintins. Após a sua separação, os Parintintins tratava-se de um pequeno grupo guerreiro que ao longo do século XIX e início do século XX esteve em constantes conflitos com os seringueiros que se estabeleciam ao longo do rio Madeira.

Após a morte do provável chefe Parintintin da época, Byahú, os mesmos se dividiram então em outros subgrupos: Pyrehakatú, filho de Byahú, se dirigiu ao vale do Ipixuna e se tornou chefe daquele pequeno subgrupo, Diai’í liderou outro deslocamento que se dirigiu a região do alto Maici, local que Nimuendajú introduziu seu posto de pacificação e Uarino, liderou um terceiro subgrupo que se estabeleceu ao sul, na boca do rio Machado.

Depois de sua pacificação, diversos postos do SPI (Serviço de Proteção aos Índios, órgão precursor da FUNAI) foram instalados na região em que os Parintintins habitam, um deles foi instalado em um canavial no vale do Ipixuna e outro perto de Três Casas, no seringal de Manuel Lobo, o qual em 1922, requisitou esse serviço para que fosse iniciada a sua pacificação. Onde posteriormente, por volta de 1970, foi instalado sob gestão da FUNAI um outro posto indígena.

Hoje em dia os Parintintins habitam terras indígenas no município de Humaitá, no Sudeste do estado do Amazonas, entre os rios rio Madeira e Marmelos, mais precisamente nas áreas indígenas Ipixuna e Nove de Janeiro.

Língua[editar | editar código-fonte]

O idioma falado pelos Parintintins pertence à família linguística dos tupis-guaranis. A sua tribo possivelmente descende dos “Cabahyba”, tribo índigena que habitava o rio Tapajós no final do século XVIII e início do XIX e que faz parte de um dos grupos considerados os “Tupi Centrais”, os quais incluíam além dos Kagwahiva, os Kayabi e Apiaká.

A designação Kagwahiva, a qual os Parintintins e outros grupos indígenas se autodenominam, em uma tradução livre, significa “nossa gente”, em oposição à tapy’yn, “inimigo”. Dentre estes grupos indígenas para que possamos diferenciar a sua linguagem temos que dividi-los em dois dialetos: o falado mais ao norte, que recebe os Parintintins, Tenharim, Juma e os Jiahui e o que é falado mais ao sul, os Urueu-wau-wau, Amondawa e Karipuna, apesar de pouca, é muito significativa à diferença de vocabulário entre esses grupos, para que possamos, dessa forma, fazer essa distinção.

Aspectos Sociais[editar | editar código-fonte]

Aldeias[editar | editar código-fonte]

As aldeias Parintintins não possuem grande extensão, em decorrência de sua redução populacional após o contato com os colonizadores, normalmente suas aldeias contêm de três a cinco núcleos familiares, porém, na época anterior a sua pacificação, sob o então comando do chefe Pyrehakatú, era comum se encontrar aldeias com pouco de mais de duas a três vezes este tamanho.

As aldeias localizam-se à beira de igarapés (margem dos rios) para que assim seja facilitado o seu acesso através de canoas, tanto para transporte quanto para atividade pesqueira, um de seus meios de subsistência. A configuração tradicional de suas aldeias consiste em uma única Ongá (casa comunal), modo de vida, o qual após o contato com sociedades não-indígenas, foi substituído por diversas casas que abrigam somente uma determinada família, feitas de madeira, com dois quartos separados e um cômodo aberto à frente, uma aldeia em média contém atualmente três a quatro casas, a Ongá, como já fora dito, é uma grande casa comunal, onde as diversas famílias se estabeleciam entre os pilares centrais e suas paredes laterais, pendurando suas redes, seus pertences e ali convivendo. Ao redor da casa comunal ficava a Okará, praça a qual era mantida sempre limpa de mato e também ao redor destes, uma boa aldeia sempre possuía, algumas árvores frutíferas.

Nomeação Parintintin[editar | editar código-fonte]

Como os outros subgrupos pertencentes ao grupo dos Kagwahiva, os Parintintins são nomeados por espécies de passáros que possuam características evidentes, onde cada metade de seu nome corresponde a um grupo patrilinear exogâmico, onde os indíviduos pertencem a metade de seu pai e só podem se casar com alguém de uma metade oposta.

As metades patrilineares exogâmicas dos Parintintins recebem o nome dos seguintes pássaros: myt_m (mutum) e kwandú (harpia, gavião), onde a sua metade Kwandú é ainda associada à arara de cabeça vermelha, o taravé. Todos os Kagwahiva possuem o mutum como uma das metades de seus nomes, onde a outra é identificada por diferentes araras, taravés entre os Tenharim, Kanindé entre os Urueu-wau-wau e ainda outra arara diferente para os Karipuna. Entretando, além desses os Parintintins têm um terceiro grupo, os Gwyrai’gwára, considerados Kwandú, porém se casam indiscriminadamente com outros Kwandú ou Mutum, sendo identificados como Japú, um pássaro amarelo que constrói seu ninho em galhos sobre o rio e igarapés.

Inicialização Masculina e Feminina[editar | editar código-fonte]

Masculina:no momento de sua iniciação, o então menino recebe a sua primeira tatuagem facial “ka’á”, um estojo peniano de um dos irmãos de seu pai, o qual também o presenteia com um novo nome, associado a uma metade que substitua seu nome de nascimento. Novos nomes também podem ser assumidos ao longo da vida deste homem, de acordo com mudanças de status social, como casamento ou entrada em uma nova fase da vida, ou em alguns eventos especiais como quando há uma mulher no nascimento de seu primeiro filho.

Feminina:a sua iniciação ocorre no momento de sua primeira menarca (menstruação), onde a menina por dez dias é isolada e fica restrita a diversos tabus gestuais e alimentícios, após esse período de reclusão ela é levada por seu pai ou por um de seus irmãos até um rio para a realização de um ritual onde é banhada e tatuada em seu rosto, o seu casamento é realizado em seguida.

Casamento[editar | editar código-fonte]

O casamento Parintintin é realizado de uma maneira muito tradicional e definido, onde desde o nascimento de uma criança, uma série de arranjos é realizado para que seja feita a escolha de seu cônjuge, no momento em que se nasce uma criança, ela recebe o nome escolhido pelo irmão da mãe que também possua uma criança do sexo oposto, assim, quando acontece a primeira menstruação da sobrinha esta pode se casar com o seu primo, neste caso, filho de seu nomeador. No momento da cerimônia a irmã é levada ao seu cônjuge ou por dois de seus irmãos, ou primos paralelos, dessa maneira um desses irmãos recebe o direito de nomear um filho que ela venha a ter, garantindo um futuro casamento daquela criança com um filho seu, reiniciando esse ciclo. Após a realização desta cerimônia, o homem trabalha por cerca de cinco anos (no caso de uma primeira esposa e menos para uma subsequente) para o seu sogro (tutý), sendo considerado parte de seu núcleo familiar, assim, pendurando sua rede na parte da Ongá do pai de sua esposa, partilhando do mesmo fogo, ajudando a limpar o terreno de sua roça, entregando a sua caça para que o mesmo distribua entre todos os seus familiares e alguns outros serviços. Após todo esse processo enfim seu casamento considera-se realizado. A partir disso o casal pode se separar daquele núcleo familiar e formar o seu próprio núcleo, sendo livres para continuarem na aldeia construindo sua própria residência ou deixa-la.

A poligamia nunca foi muito realizada, por conta da complexidade das relações familiares que seriam envolvidas, porém algumas vezes eram realizadas. No momento em que um homem casava-se pela segunda vez, a sua primeira esposa tinha o direito de ser livre e deixa-lo, porém em alguns casos era a própria esposa que lhe pedia para se casar com uma de suas irmãs. Apesar de existir essa concepção e aceitação da poligamia um homem que se casava com muitas mulheres era ridicularizado, mostrando que apesar da aceitação deste tipo de prática, a mesma era realizada de uma maneira muito responsável e prudente.

Apesar de muitos casamentos ainda seguirem os antigos costumes, o seu sistema de relações sociais vem sendo alterado por conta da missão salesiana que uma vez por ano se dirige à aldeia para sacramentar os casamentos já realizados e pregando/sugestionando a pratica monogâmica.

Organização Política[editar | editar código-fonte]

A liderança nas sociedades Kagwahiva, assim como nos Parintintins, é feita pelo líder do grupo doméstico ou da aldeia, chamado mborerekwára’ga, que significa “aquele que nos mantêm unidos”, ñanderuviháv, “nosso co-residente”, ou ainda “a pessoa de nosso pai”, que vem do nome “ruv”- pai. Para atingir tal posição de liderança, um homem necessita casar suas filhas e possui um bom número de genros como seguidores, porém ainda assim a sua autoridade é reforçada dividindo-a com um irmão, ga-irúno. A esposa do líder também possui um enorme papel na aldeia, com obrigações como de hospitalidade e líder das mulheres na aldeia. A tradição faz com que um líder retire-se do cargo quando sua primeira esposa venha a falecer, sendo sucedido por um filho ou genro. Além deste líder, nos Parintintins também existe o líder regional (de um trecho do rio), o ñanderuvihavuhú ou mborerekwaruhú.

Para os Parintintins a melhor forma de controlar seus conflitos internos, é evita-los, porém o líder possuí um papel muito importante no momento em que certos conflitos não são tratados desta maneira, inicialmente ele utiliza da técnica de mediação e persuasão, porém em caso de conflitos que não possuí chances de serem mediados, um desses núcleos familiares, ou individuo é obrigado a deixar o grupo.

Importância da Guerra[editar | editar código-fonte]

A guerra era um importante aspecto cultural dos Parintintins antes do contato com os colonizadores e sua pacificação. Os seus ataques eram liderados por um organizador de ataques, ñimboipára’nga, posição defendida somente enquanto durava o combate.

O maior prestígio masculino durante esse perído de guerra era dado pelo momento da captura de uma cabeça inimiga, a qual era exibida em uma belíssima festa para comemorar o feito, akangwéra torýva, “dança da cabeça-prêmio”. Evidências mostram que existia o consumo de algumas partes do inimigo morto em um ritual como uma forma de adquirir suas qualidades, como força, astúcia, sabedoria, inteligência, além de que as mulheres possam ter um filho homem.

Após arrancar a cabeça de seu inimigo o guerreiro era obrigado a passar por um ritual de reclusão, similar ao que passava a mulher em sua primeira menstruação, e ao fim deste ele recebia um novo nome.

Cosmologia e Religiosidade[editar | editar código-fonte]

Cosmologia[editar | editar código-fonte]

A cosmologia parintintim tem como mito central o mito de Pindova'úmi'ga (ou Mbirova'úmi'ga), um poderoso ancestral xamã que criou a Gente do Céu (Yvága'nga), que aparecem para os xamãs em suas cerimônias.

Na história mítica, Pindova'úmi'gase dirige muitas vezes ao céu, ao rio, ao subsolo e no interior de uma árvore, encontrando-se sempre rodeados de muitos espíritos, peixes, fantasmas e abelhas. Ele então ergue sua casa em um trecho mais fértil da floresta, para o segundo nível do céu, onde ele e seu filho se tornam a Gente do Céu.

Acredita-se também que Pindova'úmi'ga descende Mbahíra (Maír em outras mitologias Tupi), o criador, o qual trouxe fogo aos homens e deu origem a muitos itens e práticas culturais, assim como deu forma as paisagens. Acredita-se também que um outro ancestral de Pindova'úmi'ga seja Ngwãiv (Mulher velha), que foi cremada por seus filhos e transformada em vários cultivos, como milho, mandioca e outros tubérculos.

Religiosidade[editar | editar código-fonte]

A cultura religiosa dos Parintintins é composta por tabus alimentares, sociais, rituais e crendices tradicionais em tribos indígenas. Os tabus alimentares, por exemplo, existem em razão de doenças infantis que podem estender-se aos próximos. Mel, carne e peixe, são os alimentos mais evitados.

Já os ritos religiosos eram caracterizados por serem cerimônias de cura e feitos por um Ipají (xamã). Tal cerimônia, que não é mais praticada por causa do índice de morte prematura de muitos xamãs, é também conhecida como “Caçada Negra”, pois é nesse cerimonial de cura que o Xamã leva de volta ao caçador paném a capacidade de matar certas espécies de animais. O ritual atualmente é substituído por viagens a Humaitá e Porto Velho, onde, utilizando o Sistema Público de Saúde, os Xamãs e os caçadores resolvem tal problema. Porém, ainda recorrem a curandeiros indígenas para tal solução.

Existem também alguns costumes sociais ligados a sua cosmologia e religiosidade, como o de que o sexo é proibido quando o timbó (associação ao sêmen) está sendo usado no envenenamento de peixes. Outro costume bastante aceito na tribo é de que o sexo entre primos é algo expressamente proibido e, havendo o descumprimento dessa “lei”, os filhos dos transgressores são mortos. ...

Fontes[editar | editar código-fonte]

http://pib.socioambiental.org/pt/povo/parintintin

http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADnguas_tupis-guaranis

http://pt.wikipedia.org/wiki/Parintintins

http://pt.wikiversity.org/w/index.php?title=Wikinativa/Juma&action=edit&redlink=1

http://pt.wikiversity.org/w/index.php?title=Wikinativa/Tenharins&action=edit&redlink=1

http://pt.wikiversity.org/w/index.php?title=Wikinativa/Jiahui&action=edit&redlink=1

http://hr.wikipedia.org/wiki/Cabahyba

http://en.wikipedia.org/wiki/Kagwahiva_language

http://pt.wikipedia.org/wiki/Caiabis

http://pt.wikipedia.org/wiki/Apiac%C3%A1s

NIMUENDAJÚ, Curt. Os índios Parintintin do rio Madeira In: Textos indigenistas. São Paulo : Loyola, 1982 [1ª ed. 1924]. p. 46-110.

MENENDEZ, Miguel. Os Kawahiwa. Uma contribuição para o estudo dos Tupi Centrais. São Paulo : Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 1989. (tese de doutorado em Antropologia Social).

LÉVI-STRAUSS, Claude. "The Tupí Cawahib". In: STEWARD, J. Handbook of South American Indians Vol. 3, The Tropical Forest Tribes. Washington, D.C.: Smithsonian Institution Press, 1948. pp. 299-305.

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