Wikinativa/Potiguara

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Potiguaras
População total

16.095 (Funasa, 2009)

Regiões com população significativa
Paraíba
Línguas
Potiguara (Nativa) e Português
Religiões
Predominantemente cristã
Estados ou regiões do Brasil
Ceará, Paraíba
situação do território
Declarada

Os Potiguaras (nome proveniente do tupi que tem como significado "comedores de camarão") são um grupo indígena que habitava a faixa litorânea do Brasil nos estados do Ceará, Maranhão, Rio Grande do Norte e Paraíba em meados do século XVI[1]. São reconhecidos por serem um "Povo Guerreiro", termo utilizado em consequencia batalhas vencidas pela tribo em resistência aos estrangeiros no período colonial.

Desde o início do século XVI, inúmeros documentos fazem referência aos índios Potiguaras. Mas, muitos deles desconhecem a sua história e a existência destes documentos, os quais se encontram no Brasil e no exterior, mas nunca tiveram o acesso, sofrendo assim esta tribo uma violação ao direito de informação [2].

Em 2009, segundo dados da Funasa, os índios Potiguara totalizavam 16.095 indivíduos e sua localização nos estados do Ceará e Paraíba[3].

Localização[editar | editar código-fonte]

Terras Indígenas Potiguara e suas respectivas aldeias

Conforme a bibliografia e documentos da história atual do estado da Paraíba, se evidencia a presença dos índios potiguaras no litoral paraibano, predominantemente na Baía da Traição. Segundo artigo que estuda a jurema nos rituais potiguaras: "a população da etnia potiguara está distribuída nas 32 aldeias no Litoral Norte do Paraíba, nos municípios de Rio Tinto, Marcação e Baia da Traição"[4].

Veja o mapa

Mapa Interativo[editar | editar código-fonte]

6.690556° ' S 34.935º ' W

Área atual demarcada na Paraíba

História[editar | editar código-fonte]

Os índios Potiguaras têm pouco conhecimento sobre a sua história, mas como desde o século XVI houve relatos e documentos, boa parte da história que será citada a seguir irá se basear no Relatório Baumann, apresentado à FUNAI, em 11 de Julho de 1980, pela historiadora Thereza de Barcellos Baumann. Este relatório, teve como intenção, fazer o levantamento de documentos que pudessem comprovar a posse e a continuidade de ocupação, dos índios Potiguaras, na área que habitam atualmente[2].

Os Potiguaras e o Período Colonial[editar | editar código-fonte]

Começaremos com a história através dos documentos trazidos pela época colonial, onde os índios Potiguaras ficaram conhecidos pela sua luta e não aceitação da dominação pelos portugueses. Um dos principais fatos ocorridos na época colonial, foi o sucedido em Baía de Traição. O próprio nome da cidade (Baía de Traição) se dá através da batalha travada entre portugueses e os potiguaras[2].

Os Potiguaras, conforme a carta que Gonçalo Coelho enviou ao rei de Portugal em 1549, habitavam no território brasileiro cerca de 2600km (400 léguas) entre a Paraíba e o Maranhão, sendo a região denominada na época colonial pelos portugueses como Costa dos Potiguaras. Mas, com o passar do tempo notamos que a área ocupada pela tribo diminui, até chegar ao seu último reduto, Baía de Traição[2].

Apesar de toda a não-aceitação de colonizadores pelo povo Potiguara, foi encontrado em um mapa elaborado pelo espião francês, Jaques de Vaux Clay, com data de 1575, locais onde haviam tribos que ofereciam auxilio no comércio ilegal de pau-brasil e na luta contra os portugueses para conquista da terra[2]. Dentre as tribos assinaladas estavam os Potiguaras, demonstrando que esta possuía como um de seus focos ser contra os colonizadores de Portugal.

Os Potiguaras e as Lutas do Período Pós-Colonial[editar | editar código-fonte]

"Na década de 1970, dois fatos aprofundaram os conflitos pela posse territorial. O desmembramento administrativo e territorial do então distrito de Baía da Traição da cidade de Rio Tinto, significando a necessidade de garantir uma faixa de terras para assegurar a instalação do município e, por conseguinte, o desenvolvimento do perímetro urbano, o que implicou numa corrida imobiliária acentuada, haja vista a região ter despontado como lugar turístico."[5]

Os Potiguaras e sua relação com a Fundação Nacional do Índio[editar | editar código-fonte]

A mesma FUNAI que se diz total protetora dos índios, cedeu aval em 1978 para a instalação de uma Agroindústria (AGICAM) em terras que os Potiguaras diziam ser suas. Este fato, demonstrou o descaso da FUNAI com a tribo, permitindo até a expansão dos canaviais e o aumento no número de invasores de terras.[5]

Em consequência do ocorrido em 1978, os índios por sentirem-se ameaçados em relação as seguintes posses que estavam fazendo sob suas terras. Iniciaram um processo de mobilização para a total demarcação de seu território. Foi solicitado pelo grupo indígena ao reitor da UFPB (Universidade Federal da Paraíba) a entrega de materiais para auxiliar a demarcação da terra. Os "aparelhos" foram entregues mas a demarcação foi negada pela FUNAI, pois não havia sido consultada para tal realização.[5]

Este é apenas o começo de uma história de um incessante descaso da FUNAI com a tribo Potiguara. Apenas no final de 2007, pelo Ministro da Justiça Tarso Genro, a área dos indígenas é oficialmente demarcada, 7.487 hectares.[5]

Língua[editar | editar código-fonte]

Conforme documentos históricos, nunca houve um consenso que determinasse a língua/grafia dos potiguaras. Apesar disto, a tribo dos índios potiguaras fazem parte da família tupi-guarani. As poucas palavras documentadas por Paul Wagner em 1961 possivelmente demonstram que a língua desta tribo era distinta do Nheengatu:

Portuguese gloss

(original)

English gloss

(translated)

Potiguára
casa house ɔka
comida feita da mandioca food made from cassava patʰιšə
farinha de mandioca (mandioca mole) cassava flour (soft cassava) pisikʰa
mandioca numa bola para guardar cassava ball (for storage) kařimə
manipueira da mandioca cassava plant kənšikə
animal (teiú) animal (Tupinambis lizard) dzižuảsu
arma de pesca fishing weapon ləndʷa; šɔkʰI; phusa
ave (perdiz) bird (partridge) nʌmbu
bicho insect mʌʔmʌndʷa
bicho da lama type of insect lɔʰhɔřu
cama de pau wooden bed kảtảtảu
camarão (espécie) shrimp (species) ařatʰʌya
caracol snail masuñi
comida do mato bush food pokumə
frutinha small fruit křařwata
ostra oyster mařiskʰo

Palavras como ɔka e dzižuảsu são facilmente identificadas como palavras de origem Tupi e comparadas com a língua nheengatu (ɔka = oca e dzižu = teiú + uảsu = guaçu, resultando em teiú-grande ou teiú-guaçu no nheengatu), enquanto as outras demonstram ser palavras dialetais ou parte de um substrato nordestino desconhecido e atualmente extinto.

Ritual Toré, realizado também pelos índios Potiguaras

Cosmologia e Religiosidade[editar | editar código-fonte]

Muitos dos potiguaras seguem as seguintes regiões e práticas[2][4]:

  • Religião cristã (católicos, batistas, betéis e neopentecostais)
  • Prática espiritual (entre elas o catimbó e jurema)

Apesar desta diversidade na religiosidade dos índios potiguaras, boa parte ainda segue o catolicismo. Esta tendência, a de uma grande parte seguir o catolicismo, é justificado por ela ser a religião institucionalizada mais antiga entre a tribo, apresentada a eles desde o período colonial com a chegada dos jesuítas (Companhia de Jesus)[2].

Toré - Um importante ritual[editar | editar código-fonte]

Um dos mais importantes ritos para os Potiguaras, e inclusive outras tribos nordestinas, é o Toré. O Toré, para os Potiguaras, é expressado como a maior marca da sua etnia indígena, um ato que influencia na legitimidade e resgate da história e etnicidade[4] (principalmente pela perda cultural que tiveram com a vinda dos lusitanos). Dentro deste ritual, é necessário citar o uso da planta Jurema, esta que foi "proibida" durante o período colonial para a prática dos rituais, já que era considerada como um tipo de mandinga e um artefato que seria referente a magia (algo muito ruim para o pensamento católico implantado no período). A planta no ritual, era utilizada como artefato essencial para a comunicação com os ancestrais, harmonização e sintonia dos participantes do ritual, aonde é servida na forma de bebida[4]. A Jurema permaneceu, um bom tempo, apenas como uso medicinal entre os indígenas Potiguaras, até retornar ao ritual, como uma forma de relembrar a história da tribo[4].

Aspectos Culturais[editar | editar código-fonte]

Os Potiguaras possuem principalmente os seguintes hábitos[1]:

  • Pesca marítima e nos mangues (devido a sua localização);
  • Extrativismo vegetal (mangaba, dendê, caju e batiputá);
  • Agricultura de subsistência (milho, feijão, mandioca, macaxeira, inhame, frutas e etc);
  • Criação de animais em pequena escala (galinhas, patos, cabras, bovinos, mulas e cavalos);
  • Plantações de cana-de-açúcar;
  • Criação de camarões;
  • Assalariamento rural e urbano;
  • Funcionalismo público;

Medicina tradicional +[editar | editar código-fonte]

A tribo Potiguara utiliza como principal meio medicinal a Jurema Sagrada. Esta é uma planta medicinal, como fonte de energia e espiritualidade tendo como representação os quatro elementos: fogo,água,terra e ar[4]. Ela, além de ser tradição de diversas tribos do nordeste, é também utilizada no ritual toré, outra cultura trazida pelos indígenas da região Nordeste[6]. O uso da planta no ritual é melhor explicado no tópico Cosmologia e Religiosidade.

Situação territorial[editar | editar código-fonte]

"No dia 13 de dezembro de 2007, o Ministro da Justiça Tarso Genro finalmente assinou a Portaria Declaratória da TI Potiguara de Monte-mor durante a última reunião da CNPI (COMISSÃO NACIONAL DE POLÍTICA INDIGENISTA) em Brasília. A área demarcada conta com 7.487 hectares."[5]

No dia 18 de Agosto de 2011, Potiguaras ingressaram com representatividade frente ao Ministério Público, localizado no Rio Grande do Norte. Pediram a Funai (Fundação Nacional do Índio) recebesse recomendações de que a Terra Indígena Sagi, que pertence a tribo, instaurasse um Processo Administrativo para a demarcação da terra.Erro de citação: Parâmetro inválido na etiqueta <ref>

Fontes Externas[editar | editar código-fonte]

Referências