Wikinativa/Tayna Suemy Vitor (vivencia Guarani 2022 - SMD - relato de experiência)

Fonte: Wikiversidade

Vivência na Aldeia Rio Silveiras | Relato Individual

Desde 2019, quando ingressei no curso de Gestão de Políticas Públicas, ouvi muito a respeito da disciplina “Seminários de Políticas Públicas II”, lecionada pelo Profº Jorge Machado. Essa matéria tem como objetivo principal aprofundar os conhecimentos sobre multiculturalismo e diversidade através do estudo dos direitos dos povos indígenas e suas práticas tradicionais, mas para além do estudo teórico, o diferencial dessa disciplina é proporcionar uma imersão na cultura do povo originário guarani durante um final de semana inteiro. Nesse ano de 2022, sem as restrições impostas pela covid-19, felizmente pude realizar essa optativa disponível pelo curso.

Me interesso muito pela temática e tive um primeiro contato mais aprofundado em relação aos direitos dos povos indígenas durante as Olimpíadas de História do Brasil (ONHB) realizado pela UNICAMP, em que participei nos anos de 2016, 2017 e 2018. No primeiro semestre da faculdade, na aula de “Introdução à Sociologia", também ministrada pelo Prof º Jorge Machado, durante um dos encontros tivemos a participação de alguns indígenas do povo Fulni-ô e Kariri-Xocós e foi extraordinário aprender diretamente com eles. Em “Seminários de Políticas Públicas II” ampliamos ainda mais esse contato durante as aulas com debate dos temas, rodas de conversa e até uma visita à "Casa das Culturas Indígenas”, localizada no Instituto de Psicologia da USP. No entanto, uma das partes mais significativas e com os maiores aprendizados, não só no que diz respeito à disciplina, mas também da minha vida pessoal, foi a vivência na Aldeia Rio Silveiras.

A aldeia está localizada no município de Bertioga - SP, próximo a praia de Boracéia. Embarcamos no ônibus no dia 4 de novembro por volta das 15h e chegamos logo após o pôr do sol. Na chegada, nós fomos recebidos pelas crianças com muita alegria, procuramos um lugar pra instalar nossas barracas e depois fomos para a Casa de Reza, que particularmente eu estava muito animada para conhecer. Inicialmente ouvimos as crianças cantarem e os adultos tocarem instrumentos, depois tivemos mais uma roda de conversa com a filha do Pajé, que nos esclareceu muitas dúvidas importantes. Me encantei também com as crianças brincando livremente pela Casa de Reza enquanto conversávamos. Após essa recepção, jantamos ao lado de uma fogueira por conta do clima frio.

Contrariando a previsão do tempo, o dia seguinte amanhaceu com o céu limpo e muito sol. Como eu estava no grupo que cuidava da alimentação, de vez em quando ia até a cozinha para auxiliar em alguma preparação. Fiquei muito feliz pelo cardápio montado que teve como base uma alimentação 100% vegana, ou seja, sem ingredientes de origem animal, mostrando que a comida pode ser saborosa mesmo sem qualquer tipo de carne, ovos ou leite. O café da manhã foi bem farto e pude provar um pão típico guarani chamado “tipá”, feito a base de trigo, água e sal, super fácil de fazer e muito gostoso. Após a refeição passamos parte da manhã brincando com as crianças e se divertindo muito junto delas, senti uma nostalgia muito boa de poder correr, brincar, se sujar e de alguma forma também voltar a ser um pouco criança. Depois disso, para aproveitar o clima, fomos fazer trilha para conhecer uma cachoeira que ficava ali pela região, andamos por volta de uma hora e meia e atravessamos um rio pra poder chegar até o local. Chegamos na cachoeira e a água era extremamente fria, mas entrei mesmo assim para poder aproveitar tudo e foi muito bom. Na volta o grupo da alimentação teve que voltar um pouco mais cedo pra poder auxiliar no preparo do almoço, mas nada muito discrepante do restante do pessoal. Após almoçarmos, brincamos ainda mais com as crianças e quando escureceu fomos novamente a Casa de Reza.

No terceiro e último dia acordamos bem cedo para poder aproveitar o dia antes de partir. Pela manhã fomos visitar a praia que ficava uma meia hora da aldeia, ficamos um tempo por lá e depois voltamos para almoçar e arrumar nossas coisas. Dessa vez preparei o prato principal, um strogonoff de grão de bico com creme de castanha de caju, gosto muito de cozinhar mas nunca tinha feito comida para tanta gente, fiquei muito feliz com o resultado. No final, tiramos muitas fotos em grupo para registrar a viagem e o coração já estava apertado de ter que ir embora.

Viver no tempo guarani foi de um aprendizado muito grande, as coisas acontecem quando precisam acontecer, não há pressa nem atraso. Estar fora do ritmo frenético da cidade é um suspiro para o corpo e alma. Outra coisa que sempre me chamou atenção é o senso de comunidade, união e integração entre as pessoas da aldeia, em contraposição a uma realidade muito individualista da cidade. Foi um momento incrível para me conectar com os colegas de classe, conversando, brincando, aprendendo e aproveitando o dia juntos. Um pedacinho do meu coração ficou na Aldeia Rio Silveiras e com certeza levo um pedacinho dela aqui comigo agora em diante.