Wikinativa/Thayná Nascimento dos Santos(vivencia Guarani 2019 - SMD - relato de experiência)
Introdução
A expectativa estava grande, desde o início da matéria. Lembro que a exposição de vídeos no primeiro dia de aula me emocionou e eu chorei. Fim de semana todos em casa estavam assistindo também para mostrar como nós, pessoas tão instruídas, não tínhamos tido acesso àqueles materiais e a realidade dos povos originários.
Vivência Aldeia do Jaraguá
A visita feita em 21 de setembro à aldeia do Jaraguá me fez, mais uma vez, perceber como a ideia colonizada que um cidadão comum tem de aldeia se distancia brutalmente da realidade. Talvez pelo desconhecimento pessoal, a expectativa fosse outra em relação a alguns pontos, mas a primeira surpresa é a curta distância do meio urbano e o território indígena. Quando menciono a distância, me refiro tanto física, quanto socioeconômica.
A aldeia se localiza há pouquíssimos quilômetros do centro urbano de Osasco, região metropolitana de São Paulo, e uma das expectativas divergentes são sobre as condições de vida que remetem muito às de periferia. Muitas casas são de palafitas ou não rebocadas, com banheiros externos e sem saneamento básico adequado, com problemas como a superpopulação de cães, por exemplo. Uma realidade diferente da ideia de aldeia que temos, deixando nítido o esforço que tem sido preciso fazer para a manutenção da cultura indígena com uma aldeia tão inserida no contexto urbano capitalista.
Outro ponto de destaque se dá nas falas presenciadas, pela líder indígena da aldeia, quanto na casa de reza - que concentra muita energia, momento super especial -, o tema mais discutido é a luta pelo território, o que torna evidente o quanto esse tema exige esforços dos indígenas. O quanto a preocupação é constante e desgastante pela aplicação de um direito. A palavra "resistência" foi repetida seguidamente, o que traz tristeza, tendo em vista que a cultura indígena tem outras concepções em relação à terra e esta não devia estar em disputa se todos, em especial o governo, a entendessem da mesma forma.
As conversas mostraram também que a luta indígena pela garantia de direitos vêm de décadas, em governos de todas as ordens. Apesar de o atual governo declaradamente assumir um papel de exploração ambiental e o desrespeito aos direitos dos povos originários, em governos populares a luta também se fazia necessária.
O que eu presenciei foi um esforço grande pela manutenção de uma cultura e fé simplesmente incrível, valorizando a Mãe Terra, a espiritualidade, o modo de vida, a língua, dentre tantas verdadeiras riquezas que não as monetárias. Foi uma experiência e aprendizado indescritível, e me deixou ainda mais ansiosa pela maior imersão na Rio Silveiras.
Vivência Aldeia Rio Silveiras
O fim de semana do feriado chegou e lá estávamos nós enfrentando o trânsito 6 horas de trânsito, com lanchinhos muito bem servidos, diga-se de passagem. Confesso que achava que assim que chegássemos os indígenas já estariam "reunidos" e prontos para interagir. Obviamente não seria assim, e é completamente compreensível que seja, inclusive as próprias crianças da aldeia precisavam de tempo para se sentirem à vontade com a presença dos juruás.
A partir do almoço, tudo foi perfeito, inclusive este. Mas o momento mais marcante, de fato, foi a casa de reza. Com sinceridade, o que mais me encantou foi a forma de vida que ali eu estava presenciando na sua totalidade. Os conhecimentos passados foram diversos e de todos os temas, medicinais, psicológicos, históricos, governamentais, de relação com a natureza, de luta, de força, de cidadania, de fé… Ficaria horas elencando os temas que me foram agregados, mas o verdadeiro sentido pra mim, é como todos aqueles ensinamentos são vividos verdadeiramente de forma que resulta num estilo de vida e convivência inacreditável.
Todos os detalhes continham algum ensinamento, desde o supracitado à coisas simples, como a forma que as crianças o tempo todo caíam nas pedras da cachoeira ou no campo e se levantavam sem rapidamente sem expressão de dor, enquanto nós, alunos, ficávamos com o coração na mão com receio de ter machucado. Inclusive, importante não deixar de falar: que cachoeira! Que contato com a natureza sem intervenções capitalistas.
Conclusão
No geral, a todo momento me sentia em uma oportunidade única, feliz em poder estar ali e viver um pouquinho de tudo aquilo, daquelas conversas, com os colegas que me rodeavam. De todas as aulas nesses 4 anos, poucas me ensinaram tanto, mas, sem dúvida, ajudaram a me construir ao ponto de conseguir absorver com maior profundidade tudo que estava exposto a mim durante toda a matéria e na Aldeia do Jaraguá e Rio Silveiras.