Wikinativa/Tuiúca

Fonte: Wikiversidade

Autor principal: João Armando

Localização[editar | editar código-fonte]

Coordenadas 0.115256, -67.0090o

Mapa interativo[editar | editar código-fonte]

Clique aqui para visualizar o mapa interativo com a localização dos Tuiúcas

História[editar | editar código-fonte]

Sabe-se que os tuiucas habitam a região do alto do rio negro muito antes da invasão europeia no Brasil em 1500, graças a registros humanos encontrados em pedras de diversas cachoeiras da região. Esses registros fazem referência a muita coisa da cultura da tribo, tais como a casa do Inambu-Rei e a casa do Macura, usada como esconderijo de alguns indígenas.

O primeiro contato da tribo com o homem branco se deu através do escambo no início da colonização européia. Depois disso, o contato se intensificou com expedições jesuítas e a escravização dos nativos.

Durante o século XIX, os tuiucas se uniram com outras tribos para criar uma resistência aos movimentos de catequese dos europeus, e eles obtiveram pequenos resultados temporários, vistos como verdadeiras vitórias. A partir daí a convivência com o homem branco se tornou cada vez mais comum. Em 1850, com o estabelecimento da Província do Amazonas, tuiucas foram enviados a Manaus para trabalhar na construção de casas. Em 1880, essas missões provocaram uma revolta por ridicularizarem as crenças da tribo, e a resistência ao homem branco ficou ainda maior. Eis que a partir dos anos 1900, salesianos intensificaram muito as missões, acabando com a tradição da tribo, educando as crianças da tribo de acordo com a cultura européia e os obrigando a aprender apenas português. Essas missões duraram até 1979, quando o governo decidiu cortar a verba destinada a elas.

Os tuiucas enfrentaram a construção de uma rodovia em seus territórios na década de 70 e conseguiram proteção graças a nova constituição dos direitos dos indígenas.

Nos dias de hoje, o pouco que sobrou da tribo vive em seu território de origem, com proteção da FUNAI e de outras instituições.

Língua[editar | editar código-fonte]

Os Tuiúcas possuem um idioma próprio, tuyuca, pertencente à raiz de línguas tucanas, que foi eleita a língua mais difícil do mundo.

Quanto a fonética, eles utilizam as vogais i,ɨ,u,e,a,o, e as consoantes p,t,k,b,d,ɡ,s,r,w,j,h. Eles também utilizam separação silábica e acentuação que se assemelha ao português.

Gramaticalmente falando, o tuyuca também mantém a estrutura básica de sujeito - verbo - objeto. Estima-se que o idioma possua entre 50 a 140 categorias nominais que agrupam sua grande variedade de subtantivos. Talvez seja por isso que ela foi eleita a língua mais díficil do mundo, segundo o jornal britânico The economist[1].

Educação[editar | editar código-fonte]

No Amazonas, escolas tuyuka usam métodos próprios para educar crianças onde Índios mais velhos passam experiência aos alunos e a língua portuguesa só é ensinada após a alfabetização. O ponto central da pedagogia tuyuka é a ideia de que a experiência deve ser sempre valorizada. Os alunos aprendem desde cedo que quem vive há mais tempo que eles merece ser ouvido e respeitado. Os velhos todos da comunidade participam das aulas como professores especiais.

A alfabetização é toda em tuyuka, com base numa constatação óbvia: a criança aprende melhor se for na língua que fala em casa. O aprendizado do português vem depois, quando elas já estão alfabetizadas.

Xamanismo[editar | editar código-fonte]

O xamanismo ou pajelança tuiúca envolve a crença de que os “pajés do universo” podem afligir os homens com doenças e trovão, seus espíritos são representados pelas lagartas. Uma cerimônia é necessária para apaziguá-los através de benzimentos. Realizam cerimônias rituais periódicos (ciclo anual) que assumem três formas básicas: caxiris (festas bebida fermentada - peyuru), dabukuris ou intercâmbio cerimonial, e os ritos de Yurupari envolvendo flautas sagrados do qual só participam os homens. PHILLIPS, 2011 (o.c.)

Utilizam diversas plantas psicoativas o caapi, Banisteriopsis caapi , que preparam em maceração a frio; munõ (cigarrão de tabaco – Nicotiana tabacum); o Ipadú – Erythroxylum coca que consomem comendo durante uma festa ritual (nascimento de crianças cerimônia Tõkowi , o “ritual de dar o nome” - “Yeriponá baseriwi” e outros) as folhas depois de secas e transformadas em um pó fino são misturadas com folhas de embaúba torrada.

A festa do Yurupari (Jurupari) é interpretada como de afirmação da identidade, um rito de renascimento, os meninos ficam na posição fetal, bebem ayahuasca ou caapi, são chicoteados pelos kumú - os pajés mais sábios - para serem fortes e, depois, banhados no rio para representar a chegada dos ancestrais pela Anaconda, o Deus da Transformação, Pamuri Koamaku. [2], PHILLIPS, 2011 (o.c.)

Cosmologia[editar | editar código-fonte]

Os tuiucas acreditam ser descendentes da Anaconda de Pedra. Segundo eles, o deus da transformação, Pamuri Komoaku transformou a Terra que era um ambiente melancólico e cheio de tristeza em um ambiente cheio de leite e mel, onde habitavam os primeiros homens.

Suas malocas representam a casa da Transformação, e elas - até hoje - são purificadas com breu e cera de abelha.

Aspectos Culturais[editar | editar código-fonte]

Os tuiucas adotaram um modo de vida composto de malocas e pequenas casas. As grandes malocas são utilizadas para cerimônias, e ficam localizadas nas regiões centrais das tribos. É lá que vivem os chefes da população. Ao redor das malocas, vive o restante da tribo, em pequenas cabanas, numa vila onde há também escola e posto de saúde.

Para sobreviver, eles cultivam a mandioca brava, batata doce, inhame, mangará, cacau, banana, avocado, pimentas, abacaxi, manga, pés de caju, limão e laranja. Caçam anta, queixada, paca e jacaré, além de claro, colher frutos da floresta. Quanto ao artesanato, constroem canoas, redes de fibras de buriti, cestos urupema e peneiras finas de talas de arumã para coar sumo de frutos.

Para as práticas religiosas, eles possuem todo um "arsenal" de instrumentos musicais próprios, a maioria parecida com flautas. Os rituais religiosos são compostos de sequências de músicas, cantos e consumo de bebidas preparadas ocasionalmente. Existem diversas cerimônias para agradecimento e comemoração, todas com muita música presente. Os tuiucas dão tanta importância para a música que até mesmo tomaram a iniciativa de eternizar suas canções através do lançamento de um CD, um álbum triplo chamado Utãpinopona Basamari.

Os pajés da tribo podem aflingir como forma de punição seus homens através de doenças e trovões, e seus espíritos são representados pela lagarta. O povo acredita no perdão e nas benção para purificação.

Medicina tradicional[editar | editar código-fonte]

O que se sabe sobre a medicina tradicional dos tuiucas não é totalmente certo. Registros mostram que na estrutura social da tribo, existiam grupos de homens nobres que ao atingir certa idade aprendiam com os mais velhos truques de medicina, tais como o manuseamento e a preparação de medicamentos através de frutos e ervas naturais. Essas pessoas, depois de experientes, ficavam responsáveis por cuidar dos doentes das tribos. Na estrutura atual da tribo dos tuiucas, existem pequenas casas que funcionam como postos de saúde para o tratamento dos doentes, mas existem registros de que aos poucos os nativos estão aceitando e utilizando pequenas doses de remédios do homem branco.

Situação territorial[editar | editar código-fonte]

Atualmente os Tuiucas habitam a fronteira, na região de Cachoeira Comprida, Açaí, São Pedro e nos igarapés Onça, Cabari e Abuyú, além de viverem pequenos grupos da tribo também nos rios Papuri e Inambu.

Fontes[editar | editar código-fonte]

http://pt.wikipedia.org/wiki/Tuiúcas

http://instituto.antropos.com.br/

CABALZAR Aloisio, 2000, “Descendência e aliança no espaço tuyuka. A noção de nexo regional no noroeste amazônico”. São Paulo: Revista de Antropologia, vol. 43. No. 1.

CABALZAR, Alosio, 2006, (redator) Povos Indígenas do Rio Negro, uma introdução à diversidade socioambietal do noroeste da Amazônia brasileira, São Gabriel da Cachoeira/ São Paulo: FIORN-ISA.

Referências[editar | editar código-fonte]

Referências externas[editar | editar código-fonte]

  1. http://en.wikipedia.org/wiki/The_Economist