Wikinativa/Willian Gomes da Silva (vivencia Guarani 2019 - SMD - relato de experiência)

Fonte: Wikiversidade

Introdução

Este é um relato feito a partir da vivência de três dias na aldeia Rio Silveiras, que faz parte da disciplina seminários de políticas públicas VII. Esta disciplina nos proporcionou, através da vivência, entender a realidade dos povos originários e aprender sobre a cultura e estilo de vida deles. A aldeia Rio Silveiras se encontra no município de Bertioga, no litoral norte de São Paulo; estima-se que nos 5 núcleos da aldeia vivam cerca de 600 famílias.

Vivência na Aldeia Rio Silveiras

Nos encontramos bem cedo na EACH para a saída para a aldeia, por volta das 8 da manhã. Era um dia chuvoso e frio mas nos aquecemos carregando as frutas e os utensílios no ônibus para levarmos até a aldeia. Partimos por volta das 10 da manhã e depois de horas preso no trânsito, finalmente chegamos à aldeia Rio Silveiras. A recepção foi humilde, havia poucas pessoas lá, mas com o tempo começaram a chegar mais pessoas para nos ver, principalmente as crianças. Foi o tempo de montarmos as barracas e arrumar nossas coisas e quando percebemos já era hora da reza. O primeiro impacto foi marcante, já sabia como era a reza devido a primeira experiência na aldeia do jaraguá, mas sempre é um impacto muito marcante. Principalmente dessa vez que tive a oportunidade de dançar junto a eles, de mão dadas, sentindo a energia que passava por todas aquelas pessoas. Guiados pelo Pajé e desfrutando de toda aquele sentimento de união, finalizamos a reza. O Pajé nos contou um pouco da história da aldeia, destacando sempre as lutas e como foi o processo de abertura para nós, os juruás. Jantamos e fomos descansar, pois o dia seguinte seria longo. No dia seguinte, após o café, rumamos para a trilha da cachoeira. No caminho conhecemos a escola que foi construída para atender ao povo da aldeia, muito bem estruturada inclusive. Antes de pegar a trilha propriamente dita, paramos no outro núcleo da aldeia, onde tivemos a oportunidade de ouvir o cacique Adolfo, que nos falou um pouco da luta, sempre frequente na vida dos indígenas, não só na questão territorial mas também cultural. Nos explicou sobre o modo de construção deles e também de plantio. Durante a trilha pudemos conhecer o local exato da antiga aldeia, agora tomada pela natureza. Antes disso, recebemos uma muda de árvore frutífera para plantarmos. Infelizmente a minha estava sem etiqueta e não soube dizer a especie, mas foi plantada e deixada na la com muito carinho. Chegando na cachoeira desfrutamos muito da água cristalina e refrescante, da paisagem calma e tranquila ao som dos pássaros e da forte correnteza das águas. Sai de lá revigorado e muito satisfeito. Retornamos à aldeia para iniciar a oficina de mandalas. Foi tudo muito divertido, todas as crianças tinham uma habilidade artesanal inata e aprendiam bem rápido. Nos entrosamos com o grupo das brincadeiras e foi formado uma grande brincadeira com todas as crianças. Mais tarde naquele dia, fomos mais uma vez à casa de reza para presenciar o ritual de cura, muito introspectivo e energizado, que exigiu muito do Pajé e lhe deixou exausto. Foi muito interessante presenciar aquela cena tão intensa e dançar mais uma vez, todos juntos. Depois disso jantamos e fizemos uma roda de música à beira da fogueira que nos descontraiu e nos uniu como turma e acolheu todos aqueles que quisessem se aproximar e cantar conosco. No último dia ainda tivemos um tempinho para visitar a praia, tiramos fotos com a turma la e também na aldeia quando voltamos. Nos despedimos com o coração partido, pois o desejo era de continuar por lá por tempo indeterminado. Mas fui embora com o coração enorme, um aprendizado gigante que não dá para mensurar.

Conclusão

Com certeza esta experiência me fez enxergar o mundo de outra forma, além de me despertar para um estilo de vida mais conectado à natureza e às pessoas que convivem em comunidade conosco, ensinamento que eles passam de geração em geração desde muito jovens. Eu agradeço à aldeia e os povos originários que lutam diariamente para conquistar seus direitos, ao professor, os monitores e toda o pessoal da AUPI e a toda a turma que abriu sua mente para essa experiência de união e aprendizado.