DC-UFRPE/Licenciatura Plena em Computação/Psicologia II/Introdução aos fundamentos epistemológicos, psicológicos e pedagógicos da aprendizagem

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Fundamentos epistemológicos, psicológicos e pedagógicos da aprendizagem[editar | editar código-fonte]

A história das relações entre a Psicologia e a Educação segue a própria história do surgimento dessas ciências, ambas marcadas por grandes debates e diferentes enfoques teóricos. A Psicologia e a educação debatem diferentes perspectivas para melhor compreensão.Para poder compreender esses diferentes enfoques dentro da Psicologia Educacional, é interessante recuperar um pouco de suas bases na própria história do desenvolvimento da ciência de forma geral e, mais especificamente, da Psicologia Científica.

Na antiguidade, o início dessa história é marcado pelas especulações dos pré-socráticos – em um período denominado de Cosmológico – na tentativa de compreender o cosmos e o homem como sua parte integrante.É o início da racionalidade. Com a mudança de enfoque do cosmos para o Homem, inaugura-se o período antropocêntrico, trazendo importantes reflexões, que foram a base para as grandes questões da Psicologia. Os socráticos tentam entender como se dá o processo do conhecimento humano, uma questão que hoje encontramos na Psicologia Educacional. Esse tema perdurou por anos através de debates entre inatistas e ambientalistas:

  • Inatistas: defendiam que o conhecimento era inato, anterior ao nascimento.
  • Ambientalistas: defendiam que conhecimento é proveniente da experiência sensível. Questionava-se também a dissociação corpo e alma.

Com o passar da Idade Média e a libertação do homem do poderio da igreja em conjunto com o período das grandes navegações, o surgimento de uma nova classe social chamada burguesia e a ascensão do capitalismo, e pessoas como Descartes, que defendia o corpo como uma máquina e não um sagrado invólucro da alma e Copérnico que contribuiu com a perspectiva que a Terra não é centro do universo,alteraram o lugar do Homem no mundo, assim como suas relações com o mesmo e com Deus. Com isso o homem busca um porto seguro para suas ideias e surge o racionalismo e o empirismo:

  • Racionalismo: defendiam que fonte do conhecimento verdadeiro é a razão, que opera por si mesma, sem o auxílio da experiência sensível, controlando-a.
  • Empirismo: defendiam que a fonte de todo e qualquer conhecimento é a experiência sensível, que é responsável pelas ideias da razão e controla o seu trabalho.

Descartes foi um doa maiores representantes do racionalismo defendendo que a verdade só pode ser alcançada através da dúvida. Para a Psicologia, no entanto, sua maior contribuição foi ter desenvolvido pela primeira vez o conceito de consciência. Uma ideia muito importante retomada de Platão por Descartes foi o Inatismo – teoria também conhecida como Apriorismo:

  • Inatismo/Apriorismo: defende que, ao nascermos, trazemos conosco ideias que subsistem no nosso ser e que representam as essências verdadeiras, imutáveis e eternas.

Ao contrário dos racionalistas, os empiristas, como Bacon, valorizavam o papel da experiência na ciência e a necessidade de observação rigorosa e objetiva da natureza/ambiente (por isso também conhecidos como ambientalistas). Mais tarde, Locke (1632-1704) estabelece os fundamentos para uma nova Psicologia Empírica a partir da afirmação de que todo conhecimento humano tem sua origem na sensação. Isso nos faz perceber que essa corrente, absolutamente contrária ao Inatismo, defende que o homem nasce como uma “tabula rasa” (ou um papel em branco), isto é, nenhum conhecimento é anterior a sua experiência no mundo. Em suma, os empiristas defendiam que os fatores subjetivos, internos ou endógenos, não deveriam ser considerados e que o conhecimento só pode ser estudado e desenvolvido partindo-se da observação e experimentação.Esse posicionamento empirista constituiu-se nas bases para o Positivismo:

  • Positivismo: defendia a ideia de uma quantificação em detrimento de qualquer conhecimento qualitativo, subjetivo, não comprovável por meios experimentais. Só será ciência s os experimentos puderem ser comprovados em laboratório.

É nesse cenário que a Psicologia adquire seu estatuto científico. Afastando-se da Filosofia e aceitando-se dizer estudiosa do comportamento observável, daquilo que era público e comprovável, a Psicologia abre seus primeiros laboratórios. Além do Positivismo, outra teoria filosófica que teve seu berço na antiguidade e ganhou notoriedade na contemporaneidade, a partir de figuras como Hegel (1770-1831) e Marx (1818-1883), é a Dialética:

  • Dialética: Na concepção dialética, nada existe de forma isolada do todo e, portanto, todo fenômeno humano deve ser analisado “em relação” e também em movimento. Nada existe de forma “acabada”, encontrando-se sempre em vias de se transformar (devir), de se desenvolver, sendo esse desenvolvimento a partir de movimentos de oposições de contrários. Para essa corrente, o fim é sempre começo.

O que de fato nos interessa, com essa retomada, é levar à compreensão de que esses posicionamentos – Empirismo, Apriorismo e Dialética – podem ser entendidos como diferentes modelos epistemológicos que serviram de base para o desenvolvimento de diferentes teorias psicológicasBehaviorismo, Psicanálise, Abordagem Psicogenética, Teoria Sócio-histórica e a das Inteligências Múltiplas – cujas concepções trazem implicações para a compreensão da relação entre ensino e aprendizagem, dando origem a diferentes modelos pedagógicos – tais como a Pedagogia Diretiva, Não-Diretiva e Relacional (BECKER, 2001).

  • Pedagogia Diretiva: Empirista, defende que o sujeito é um "papel em branco". Objeto → Sujeito ; Professor → Aluno. Nesse modelo o aluno nada sabe e o professor é responsável pela transmissão do conhecimento. É base para o Behaviorismo.
  • Pedagogia Não-Diretiva: tem como pressuposto epistemológico o Inatismo ou Apriorismo. Apriorismo vem de a priori, que significa anterior. Assim, essa epistemologia defende que o sujeito já nasce com o conhecimento programado em sua herança genética, sendo a interferência do meio (físico e social) a mínima possível, já que tudo está previsto. Podemos representar essa relação da seguinte forma: Sujeito → Objeto. Seguindo esse raciocínio, do ponto de vista da sala de aula o que encontramos é Aluno → Professor. Uma vez que as ações espontâneas do aluno o farão se desenvolver, cabe ao professor interferir o mínimo possível. Sua difícil viabilização nos leva a pensar que esse modelo existe mais enquanto concepção teórica do que como prática de fato.
  • Pedagogia Relacional: tendo a Dialética em sua base epistemológica, traz uma concepção de sujeito como tendo uma história de conhecimento que deve ser levada em consideração. Nessa concepção, tanto a bagagem hereditária como o meio social devem ser reconhecidos como inter-relacionados no desenvolvimento desse sujeito, o que poderia ser representado como S — O. Do ponto de vista da relação entre aluno e professor, o que encontramos é uma relação de mútua constituição, A — P. Aquilo que o aluno já construiu é considerado como patamar para novas construções e os novos conhecimentos trazidos pelo professor produzirão um desequilíbrio nesses conhecimentos prévios dos alunos, levando-os a buscar novas respostas e a se desenvolverem. O professor além de ensinar, aprende com o que o aluno já construiu. Esse modelo epistemológico, relacionado a teorias psicológicas como a Psicologia Genética, a Sócio Interacionista, e outras, mostra a impossibilidade de conceber o desenvolvimento fora da relação entre os polos do ensino e da aprendizagem. Daí o modelo pedagógico advindo dessa base chamar-se Relacional (relação professor/aluno, ensino/aprendizagem).


Behaviorismo[editar | editar código-fonte]

Foi a partir do desenvolvimento dessa perspectiva teórica que a Psicologia ficou mais conhecida como um campo científico importante para a Educação. De uma maneira geral, pode-se dizer que a base epistemológica dos behavioristas foi o Empirismo, que enfatiza o papel da experiência, principalmente da percepção sensorial (através de sentidos como visão, audição, olfato, paladar e tato) como principal mecanismo de origem de conhecimento. De um modo particular, os métodos experimentais de pesquisa científica adquiriram um status de prestígio e influenciaram a Psicologia Behaviorista, uma vez que essa tinha como foco o comportamento observável. O fundador da Escola Behaviorista e, portanto, considerado o primeiro pesquisador behaviorista, foi John Watson, dos EUA, que defendia o estudo experimental dos comportamentos observáveis. Ele defendia que, ao nascer, nós não herdamos quaisquer capacidades, traços ou predisposições mentais. A herança genética seria restrita ao corpo e a alguns reflexos.Para Watson, a Psicologia deveria focar seus estudos no comportamento, que é real e objetivo, pois a consciência pertenceria ao reino da fantasia, portanto, não podia ser investigada pelo método experimental.

Perspectiva Neo-Behaviorista ou Behaviorista Radical[editar | editar código-fonte]

Skinner, dos E.U.A., inaugurou uma fase radical da teoria behaviorista porque enfatizava o comportamento como a raiz epistemológica pela qual se pode compreender, com transparência de dados e procedimentos replicáveis, alguns dos mais profundos enigmas humanos. Skinner também se opõe ao mentalismo porque não aceita que os comportamentos possam ser explicados pela subjetividade de eventos e estruturas, sejam de natureza mental, cognitiva ou de personalidade, tais como volição, traços e instinto. Enquanto Watson defende o Condicionamento Clássico, realçando apenas a dimensão respondente do comportamento do indivíduo, somente o estudo do observável(psicologia estímulo-resposta) ,Skinner desenvolve a ideia da aprendizagem por Condicionamento operante, na qual os indivíduos atuam na modificação de seu próprio comportamento em função das consequências das suas próprias respostas. Assim, um comportamento é dependente de um estímulo que vem imediatamente após a resposta dada pelo indivíduo, não do estímulo que dá origem àquela resposta.

Os behavioristas afirmam que os comportamentos podem ser adquiridos a partir de determinadas situações nas quais as chamadas contingências de reforço ocorrem:

  • Reforço Positivo: apresentação de um estímulo reforçador que acompanha um comportamento (uma resposta), fortalecendo-o (aumentando a probabilidade de sua ocorrência).Nós somos sensíveis as consequências do nosso comportamento. Nós agimos e a depender das consequências da nossa ação, iremos repetir ou não.Nem tudo que é reforçador positivo é prazeroso.
  • Reforço negativo: retirada de um estímulo (reforçador negativo), que comumente o indivíduo procura evitar.  Importante notar que Reforço negativo não é a mesma coisa que punição. O reforço negativo é o resultado da remoção de um estímulo aversivo, enquanto punição envolve a apresentação de um estímulo negativo.

Para Skinner o ser humano é produto de três histórias:

  • Filogenética: História da sua espécie. Muito do que fazemos é determinado pela espécie a qual pertencemos.
  • Ontogenética: História de vida individual de cada um. Como construímos nossas relações.
  • Cultura: envolve as práticas culturais a partir do comportamento verbal pela linguagem.

É comum os educadores associarem “ensino tradicional” ao Behaviorismo, mas Skinner não foi um tradicionalista. Muito pelo contrário, Skinner foi um propositor de inovações para a escola e até o final da sua vida ele filosofava antevendo como seria a escola do futuro. Ele pregou a eficiência do reforço positivo, sendo contrário a punições. Skinner escreveu vários livros sobre a aplicação de sua teoria para a Educação. Por exemplo, na obra intitulada Tecnologia do Ensino (1972), ele critica a escola tradicional por possuir apenas uma modalidade para ensinar, a aula expositiva.Para Skinner, dadas as condições adequadas, todo aluno aprende, há uma relação das condições de ensino que irão proporcionar o aprender. O ideal do aprender é que o aluno aprenda e tenha consequências naturais deste aprender. Por outro lado, Skinner afirmava que o controle é exercido pelas consequências do comportamento no ambiente, com o qual o indivíduo estabelece uma relação funcional. Skinner defendia que os usos de técnicas e tecnologias behavioristas seriam eficientes porque, dentre outros motivos, respeitariam o ritmo de aprendizagem de cada estudante, respeitando suas características individuais com reforçadores individuais. Assim, uma máquina de ensinar (ou um recurso contemporâneo equivalente) permitiria que o estudante aprendesse de acordo com suas disposições individuais na ocasião. Para ele, um ensino com muitos erros, gera consequências aversivas e diminui a probabilidade da resposta certa e a tradição judaico-cristã valoriza a dor, o caminho das pedras, mas Skinner prega que o aprender tem que ser gradual, prazeroso, modelado aos poucos. Skinner defendia que o aprender vai depender da interface da filogênese e das condições propiciadas pelo professor e pela escola. Por fim, para Skinner, a avaliação tem que ser contínua, com o professor acompanhando o aluno, passo a passo. Então a avaliação é uma etapa do processo de aprender e ensinar onde se verifica do modo mais natural possível se aquilo que foi ensinado, foi aprendido pelo aluno.

Materiais complementares[editar | editar código-fonte]