Saltar para o conteúdo

Introdução ao Jornalismo Científico/Metodologia e Filosofia da Ciência/Atividade/Sallescarolina

Fonte: Wikiversidade

Username: Sallescarolina 1. Coloque o título, a autoria, a data de publicação e o link da matéria selecionada.

Título: A primeira conexão Autoria: Ricardo Zorzeto Data de publicação: junho de 2021 Link da matéria: https://revistapesquisa.fapesp.br/a-primeira-conexao/

2. Resuma a matéria em até 300 caracteres.

A matéria divulga os resultados do projeto Primeiros Laços, que avalia o impacto da orientação em saúde sobre adolescentes grávidas em situação de vulnerabilidade. Após o acompanhamento longitudinal de mães e filhos, foi evidenciado que a intervenção resultou em bebês mais seguros e expressivos.

3. Identifique e analise a partir da matéria: o objeto e a metodologia (observação, hipótese, experimentação, análise e publicação) da pesquisa.

A matéria em questão relata um projeto de pesquisa que tem como objeto de estudo o comportamento humano, a partir de uma tríade de saberes formada pela neurociência, psicologia e psiquiatria. Ao considerar a metodologia, pode-se dizer que a observação ganha status científico pela criação de um protocolo que inclui, de acordo com a matéria, visitas domiciliares regulares feitas por profissional da enfermagem; acompanhamento periódico realizado por psicólogo, englobando a realização de entrevistas e a aplicação de testes que pudessem acompanhar de forma sistemática o desenvolvimento da criança. Além disso, a pesquisa também propôs, ao fim do programa, a realização de um exame de eletroencefalografia, com o intuito de mensurar, quantitativamente, um aspecto, de certo modo, bastante subjetivo: a qualidade do vínculo entre mãe e filho. Pelas informações apresentadas na matéria, a importância desse último exame é respaldada pela teoria que dá suporte à pesquisa: a “Teoria do Apego”. Proposta por John Bowlby, ainda na década de 60, ela ressalta a importância de se desenvolver vínculos seguros entre os bebês e os principais cuidadores no começo da vida. Já a hipótese a ser averiguada é se a orientação continuada realizada pela enfermagem no ambiente domiciliar, a partir do protocolo proposto, seria mais benéfica do que apenas o acompanhamento usualmente oferecido pela Unidade Básica de Saúde de referência da participante. A partir do conteúdo da aula sobre metodologia científica, é interessante notar que o estudo proposto seguiu as premissas apresentadas na teoria, incluindo a comparabilidade (relatada no caso do escorbuto), ao separar dois grupos de grávidas, sendo que as adolescentes acompanhadas apenas nas UBSs seriam o chamado grupo-controle e serviriam como parâmetro para entender o real impacto da intervenção proposta. Pela matéria, também fica evidente que foi selecionado um grupo homogêneo (mulheres grávidas pela primeira vez, pertencentes a uma determinada faixa etária e em situação de vulnerabilidade social, embora os critérios que pautaram esse último requisito não tenham sido explicitados no texto jornalístico). Também fica evidente na matéria a questão da aleatorização, já que a decisão de quem iria receber a intervenção estudada não teve nenhuma intencionalidade. Já ao analisar a questão da anonimação, acredito que seja mais fácil delimitá-la de forma eficiente ao se analisar um ensaio clínico sobre remédios ou vacinas, já que ambos os grupos estudados pelo projeto foram alvo de cuidado e de uma intervenção terapêutica, ainda que distintas. Ainda assim, o fato de que a análise tenha sido feita por uma psicóloga que não sabia de antemão a que grupo cada mãe pertencia tenha sido um cuidado extra no desenho da pesquisa. Por fim, a publicação dos resultados não só é um feedback necessário para a sociedade, mas também permite que outros cientistas e atores importantes na vida pública possam ter acesso ao trabalho. Nesse sentido, o interesse que algumas prefeituras já demonstraram pelo projeto e o vislumbre de que ele possa ser ajustado ao Programa Criança Feliz já são informações que reiteram a importância de comunicar os resultados obtidos, considerando que, eventualmente, podem pautar a formulação de políticas públicas.

4. Acesse a(s) pesquisa(s) de origem, de base para o artigo na Pesquisa FAPESP, identifique e analise a seção metodológica. Em especial, explique em que medida o processo de pesquisa foi bem documentado no artigo que você selecionou.

Embora seja possível delinear o percurso do estudo lendo a matéria, apenas ao ler tanto o “resumo” quanto a “metodologia” e a “intervenção”, descritos em um dos artigos científicos citados no material jornalístico (https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/desc.13113), consegui sanar as minhas dúvidas. Reli a matéria para entender quantos sujeitos participaram de fato do estudo (uma variação que pode ser explicada por recortes que diferentes pesquisadores fizeram do estudo) e fiquei sem saber exatamente quais testes ou entrevistas foram aplicados em cada etapa, considerando que a própria estrutura da matéria – escrita a partir das intervenções de uma criança ao fim do programa – acabou por privilegiar essa etapa final. Por vezes, alguma informação foi dada sem que se pudesse entender exatamente o significado. Por exemplo, ao se enumerar os resultados, apontou-se que as crianças que passaram pela intervenção mostraram-se mais seguras para enfrentar adversidades. Nesse caso, como avaliarem essa capacidade numa criança de 2 anos? De qualquer forma, ao ler o artigo científico pude entender como o critério de vulnerabilidade foi delimitado de forma objetiva e como o passo-a-passo do processo foi sendo realizado, o que inclui tanto o tratamento recebido nas UBSs, como a rotina de visitas da enfermagem, englobando tanto a informação sobre a periodicidade como também o detalhamento das intervenções individuais, já que na matéria foi privilegiada a informação sobre temas que pautaram os atendimentos.

5. Reveja o conteúdo da aula sobre "A metáfora científica". No artigo da Pesquisa FAPESP selecionado, identifique quais foram as metáforas científicas ou cientificamente inspiradas utilizadas e justifique esse uso a partir das indicações da aula. Analise em que medida contribuem ou dificultam o entendimento da ciência.

Não encontrei nenhuma metáfora na matéria ou, quem sabe, já se tornaram invisíveis ao ponto de não provocarem nenhum choque semântico consciente em mim. Reli com atenção os parágrafos que citam o exame de eletroencefalografia e que detalham uma pesquisa experimental realizada com ratos. Nesses casos, termos técnicos foram descritos sem o uso de metáforas e algumas expressões não foram explicadas (“receptores para hormônios”, por exemplo), talvez, pela revista presumir que esses termos já façam parte do repertório dos leitores.

6. Reveja o conteúdo da aula sobre "Ciência e Filosofia". Discorra sobre em que medida o artigo da Pesquisa FAPESP que você selecionou coloca questões filosóficas e apresente exemplos extraídos do texto.

Resgato o trecho do texto da aula que cita a normalidade, que trataria do avanço do conhecimento mantendo paradigmas já estabelecidos. Nesse contexto, entendo que a proposta da pesquisa relatada foi feita no intuito de buscar o consenso e, de alguma forma, reiterar resultados de pesquisas similares já realizadas em outros países, mas considerando as particularidades brasileiras, como fica evidente na fala do psiquiatra responsável pela pesquisa. “Tínhamos evidências de que projetos semelhantes haviam sido eficazes em outros países. Faltavam dados avaliando a nossa realidade e, em especial, com gestantes adolescentes”. Pode-se, também, entender que um estudo longitudinal dessa envergadura venha elucidar perguntas ou hipóteses, que surgiram em outras pesquisas com resultados mais limitados ou menos ambiciosas. A própria matéria cita um estudo com ratos, o que nos leva ao questionamento se seria possível fazer um paralelo com a realidade humana. Num outro trecho a matéria diz: “Estudos sugerem que mães adolescentes costumam ser menos atentas às necessidades do bebê e os estimulam menos, o que aumenta a possibilidade de que seus filhos se transformem em crianças mais inseguras, dependentes e ansiosas”. Nesse caso, a pesquisa em questão poderia vir justamente responder a uma constatação científica que, imediatamente, nos leva a perguntar: “o que fazer diante dessa realidade?” ou “como reverter esse quadro?”. De qualquer forma, esses aspectos reiteram a leitura de que a ciência é uma linguagem compartilhada e que avança justamente porque os pesquisadores dialogam e podem avançar a partir do que já foi produzido, respeitando os parâmetros aceitos por um determinado grupo, em uma dada época. Ao citar um experimento feito com ratos, a matéria em questão traz outra questão que esbarra na filosofia ou, pelo menos, nas visões de mundo ou de homem que coexistem na Psicologia, dialogando com o texto de referência que traz o impacto do darwinismo na filosofia da biologia (aula 2). Pode-se, a partir desse conteúdo, fazer um paralelo com a própria história da Psicologia, que precisou se afastar da Filosofia, seu primeiro alicerce, e aproximar-se das ciências naturais para conquistar o status de ciência. Ao fazer um sobrevoo histórico sucinto, pode-se dizer que uma psicologia dita “estruturalista” tinha o intuito de reduzir os processos mentais conscientes nos seus mínimos componentes, com o objetivo de determinar quais as leis de associação desses elementos que regiam a consciência, tendo como parâmetro a fisiologia e as ciências naturais. Um objetivo que muito se aproxima da leitura positivista que retrata o homem como máquina (SHULTZ, D.P & SHUTZ, S.E, 2010) Com o avanço do movimento funcionalista e a influência de Darwin, houve um deslocamento dos questionamentos dentro da Psicologia: ao invés de buscar a estrutura ou o conteúdo da mente passou-se a buscar e investigar as funções da consciência (O que a mente faz? Como faz? E como poderia ajudar na nossa sobrevivência?). Pode-se dizer que o trabalho de Darwin influenciou a psicologia ao dar enfoque e importância à psicologia animal, formando a base da psicologia comparativa que parte da premissa de que há uma continuidade no funcionamento mental entre humanos e animais inferiores. (SHULTZ, D.P & SHUTZ, S.E, 2010) Uma proposição que contradiz a ideia de separação entre o mundo animal e humano, proposta por Descartes há alguns séculos, e pelo Catolicismo desde a sua origem. Depois de observar um orangotango que comia com talheres no zoológico londrino, em 1838, Darwin teria escrito em seu caderno: “Deixe o homem ver o orangotango domesticado e sua inteligência...e depois deixe que se vanglorie de sua superioridade orgulhosa [...]. O homem, na sua arrogância, pensa que é o resultado de um grande trabalho, digno da intervenção de uma divindade. Mais humilde e, creio, verdadeiro, seria considerá-lo descendente dos animais” (SHULTZ, D.P & SHUTZ, S.E, 2010, pág. 103).

Referência bibliográfica: SCHUTZ, D.P & SHUTZ, S.E. História da Psicologia Moderna. 1ª ed. São Paulo: Cengage Laerning, 2010.