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Latim/Índice/Lição 3

Fonte: Wikiversidade



Lição 3: Consilium in rem publicam.

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Catilina consilium in rem publicam habet. Exitium totae rei publicae cogitat, uitasque omnium Romanorum ferre vult.

No século I a.C., período em que viveram autores tidos como "clássicos" como Gaius Iulius Caesar (Júlio César) e Marcus Tullius Cicero (Cícero), houve grandes disputas dentro do Estado romano, que culminaram no fim da República e estabelecimento do Principado, comumente conhecido por Império. Nos anos 60 daquele século, aparentemente houve uma conspiração contra os cônsules, principais magistrados romanos, envolvendo o senador Lucius Sergius Catilina. Dois dos principais relatos dos eventos que sobreviveram até nossos dias são contrários a Catilina, o que não nos permite ter uma ideia mais imparcial do que realmente se passou. Trata-se das quatro Orationes in Catilinam ("Discursos contra Catilina" ou Catilinárias), de Cícero, e do Bellum Catilinae, de Gaius Sallustius Crispus (Salústio).

As frases acima, e as demais desta lição, são adaptadas ou livremente inspiradas no tema. Como veremos, há alguns tópicos a tratar.

Novo vocabulário

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Para começar, vejamos a tradução das frases acima.

  • Catilina consilium in rem publicam habet. Catilina tem um plano contra a República.
  • Exitium totae rei publicae cogitat. Elabora a destruição da República inteira.
  • Vitas omnium Romanorum ferre vult. Quer tomar a vida de todos os romanos.

Aqui temos uma nova preposição usada com acusativo, in; uma expressão bastante comum, res publica; e dois verbos irregulares, igualmente comuns. Aqui eles aparecem como "ferre" e "vult", mas, como vimos, a convenção é representar os verbos pela primeira pessoa do singular; você encontrará estes verbos no Vocabulário e num dicionário como fero e uolo, respectivamente.

Quarta e quinta declinações

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  • Catilina magnos exercitus in urbem ducit. Catilina conduz grandes exércitos contra a cidade.

Nesta lição, concluímos as cinco declinações do latim; as três primeiras abrangem todos os casos de todos os adjetivos, mas para os substantivos é preciso incluir a quarta e a quinta. Uma vez que você as tenha aprendido, poderá identificar a declinação de qualquer nome, e já estará familiarizado com a declinação dos pronomes quando formos estudá-los.

A palavra da quarta declinação que aparece nesta lição é exercitus, e a da quinta é res. Eis como se declinam:

4a. singular   4a. plural   5a. sing.   5a. plur.  
Nominativo exercitus exercitus  res res
Acusativo exercitum exercitus  rem res

O ponto gramatical mais relevante nesta lição é um novo caso do nome. Já víramos o nominativo, o caso do sujeito, e o acusativo, o caso do alvo, destino ou objeto de uma ação.

O genitivo é o terceiro caso que estudaremos. Seu nome, uma tradução do grego hê genikê ptôsis, está relacionado com as palavras da terceira declinação gens e genus. O genitivo estabelece entre duas palavras uma relação, que pode ser:

  • de parentesco: gentes Ciceronis, os familiares de Cícero
  • de posse ou domínio: exercitus Catilinae, os exércitos de Catilina
  • de localidade: incolae (nom.) Romae (gen.), os habitantes de Roma

Normalmente, a relação estabelecida pelo genitivo pode ser traduzida em português pela preposição DE, como você pode ver nos exemplos acima. A morfologia do genitivo, isto é, suas formas em todas as declinações, pode ser encontrada no Apêndice.

Adjetivos de segunda classe

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  • Omnes Romani ciues milites sunt. Todos os cidadãos romanos são soldados.

Os adjetivos que víramos até agora haviam sido magnus, nouus, paruus, sacer e taeter. Como foi dito, eles seguem a segunda declinação para o masculino (alguns em -VS e outros em -ER), a primeira (em -A) para o feminino e novamente a segunda (em -VM) para o neutro.

Além desses adjetivos de primeira classe, há os de segunda classe. Estes seguem apenas a terceira declinação. Os adjetivos de primeira classe são triformes, isto é, possuem uma forma masculina, uma feminina e uma neutra. Os de segunda classe, por outro lado, são, na maioria, biformes. Ao lado de uma forma neutra, há outra, comum ao masculino e ao feminino.

O adjetivo de segunda classe que vimos nesta lição é omnis. Esta é a forma masculina e feminina nominativa singular; seu plural é omnes. O neutro é omne, plural omnia, no nominativo e no acusativo. No genitivo, os três gêneros são iguais: omnis, omnium.

Vimos, nas frases desta lição, uma nova forma verbal. Trata-se do infinitivo. O infinitivo em latim é uma forma impessoal, isto é, não tem flexão de pessoa nem número. O significado do infinitivo é o da ação verbal em si, o fato de ela ocorrer. Contraste isto com o sentido do presente do indicativo, que enfatiza a ação realizada por alguém.

  • Exercitus in Romam ducere bellum est. Conduzir exércitos contra Roma é uma guerra.

Por este exemplo fica claro por que o infinitivo é classificado como uma das formas nominais do verbo. Ele funciona como um nome: o sujeito do verbo conjugado, est, é o infinitivo ducere, que faz as vezes de um nominativo na frase. Em outras palavras, o que se constitui em guerra, ou num ato de guerra, é conduzir os exércitos, a ação de os conduzir, não importa por quem seja praticada.

Mesmo sendo uma forma nominal, o infinitivo não deixa de ser um verbo. Assim, vem acompanhado de complementos, como uma forma conjugada do verbo viria; no caso, trata-se de exercitus e in Romam, dois complementos de acusativo ligados ao verbo ducere.

Observe, no alto da lição, a frase-exemplo Catilina uitas omnium Romanorum ferre vult. Antes de seguir com a leitura, considere: qual é o verbo conjugado desta frase? Ele está na terceira pessoa do singular, e tem portanto a desinência comum a toda terceira do singular. Há algum nominativo na frase? Se houver, ele será o sujeito do verbo que você identificou. Qual deve ser, portanto, a função do infinitivo ferre? A qual dos dois verbos, o que está na forma nominal ou o conjugado, se referem o acusativo e seus genitivos presentes na frase?

Após ter refletido, você pode ter chegado à conclusão de que o verbo conjugado é vult, que tem a desinência de terceira pessoa T. Seu sujeito, nominativo, é Catilina. Pela tradução dada, você pode ver que o objeto do verbo, a resposta à pergunta "o que Catilina quer?", é o infinitivo ferre, tomar. É a este infinitivo que estão ligados o acusativo (uitas) e seus genitivos (omnium Romanorum).

Tudo isto é para dizer que o infinitivo pode assumir as funções de um nominativo ou de um acusativo. Como declinar uma forma nominal de um verbo em outros casos será visto mais adiante.

Coordenação de orações

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Um aspecto muito importante do estudo do latim é a compreensão da sintaxe (lê-se "sintáksi"). Ela se ocupa da forma como se articulam as diversas orações.

Uma oração é um elemento básico de qualquer discurso, seja de um orador como Cícero, um poeta épico como Publius Vergilius Maro (Vergílio) ou um comediógrafo como Titus Macchius Plautus (Plauto). Uma oração consiste de um verbo conjugado e tudo o que a ele está direta ou indiretamente relacionado. O que está diretamente relacionado ao verbo é seu sujeito, seu objeto e seus complementos de lugar, de tempo etc. O que lhe está indiretamente associado são os complementos do sujeito e do objeto. Evidentemente, nem toda oração precisa ter todos estes termos; ocasionalmente, até o sujeito é dispensável ("Chove." -> isto é uma oração, em português). Mas o verbo, soberano, sempre está presente. Ele é tão central para o discurso que os gregos o chamavam rhêma, a unidade básica da fala.

Se uma oração consiste de um verbo e palavras relacionadas, uma frase, por sua vez, é o conjunto mínimo de sons dotados de significado. Sua representação gráfica é uma sequência de letras, começando com uma maiúscula e terminando com um sinal de pontuação. Por exemplo, "Psiu!" é uma frase em português.

Frases podem conter orações. Esta última que apresentamos não contém nenhuma, pois não possui verbo; "Chove.", que indicáramos acima, é uma frase que contém uma oração. Também é possível que frases agrupem mais de uma oração, neste caso, as orações relacionar-se-ão entre si. São estas relações, num sentido mais estrito, o objeto de estudo da sintaxe.

Até agora, vimos uma forma de relação entre orações chamada coordenação. As orações coordenadas se definem pelo fato de poderem ser separadas umas das outras e manter seu pleno sentido. Enquanto no começo da lição apresentáramos as orações unidas, mais adiante as separamos, e elas não perderam seu sentido por isto; assim, são coordenadas.

Os vínculos sintáticos entre orações são estabelecidos por palavras conhecidas como conjunções. Um tipo de vínculo de coordenação que pode ser estabelecido é a coordenação aditiva, operada por conjunções aditivas. Nelas, o sentido de uma oração é simplesmente acrescentado ao da outra:

  • Videmus urbem, et ad urbem imus. Vemos uma cidade, e vamos à cidade.

Além da conjunção aditiva et, que você já vira, aparece nesta lição a conjunção enclítica "-que". Uma palavra enclítica, como "-ne", se apoia no final de outra palavra, não existindo sozinha. Ao adicionar "-que" ao fim de uma palavra, ela passa a ser a primeira de um grupo de palavras em coordenação aditiva com as anteriores. Podemos dizer simplesmente:

  • Mulier puellaque, a mulher e a menina

Mas podemos também, como nas frases-exemplo desta lição, ligar duas orações inteiras com um simples "-que".

Como sempre, consulte o Vocabulário, faça os Exercícios e, após tê-los corrigido, estude o Apêndice.