Introdução à Audiologia Básica/Mecanismos de Condução Óssea/Aspectos Fisiológicos do Som por Condução Óssea

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Aspectos Fisiológicos do Som por Condução Óssea

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=== Inércia da orelha média ===

Os ossículos da orelha média estão conectados à parede da cavidade da orelha média por diversos ligamentos, dois tendões do músculo (estapédio e tensor do tímpano), pela membrana timpânica e pelo ligamento anular, que envolve a platina do estribo na janela oval. Do ponto de vista mecânico, os ligamentos e os tendões agem como “molas”, segurando os ossículos no lugar. Na estimulação por condução óssea com sons de baixa freqüência, essas “molas” forçam os ossículos a vibrarem em fase com a vibração do crânio. No entanto, para os sons de freqüências mais altas, a força inercial da massa ossicular supera a rigidez dessas molas, ocorrendo uma diferença de fase e de amplitude de vibração dos ossículos quando comparada à vibração do crânio. Dessa forma, a movimentação da base do estribo na janela oval, decorrente da diferente vibração da cadeia ossicular, produz um deslocamento do líquido coclear que resulta na estimulação da orelha interna e na sua conseqüente sensação sonora, da mesma maneira que ocorre quando o som é transmitido por condução aérea pela cadeia ossicular. Assim, o efeito de inércia da orelha média pode influenciar na audição por condução óssea, principalmente em torno das freqüências de ressonância dos ossículos (1 - 3 kHz)[1].

Mudanças temporárias no limiar ósseo (10 dB ou menos), em alterações de orelha média, já foram amplamente descritas, como no caso da Otite Média Serosa[2].

Inércia dos líquidos labirínticos[editar | editar código-fonte]

O efeito de inércia dos líquidos labirínticos tem sido apresentado como o principal componente para a audição por condução óssea, em orelhas normais, predominantemente nas freqüencias abaixo de 1kHz, parecendo menos importante em freqüencias mais altas. Na cóclea, a movimentação dos líquidos labirínticos, a partir da vibração do crânio, só ocorre devido à existência de aberturas ou membranas, ou seja, a platina do estribo na janela oval e a membrana da janela redonda. Outro pré-requisito para anular o efeito de inércia dos líquidos labirínticos é a existência de um gradiente de pressão entre as duas janelas, o que gera uma movimentação dos líquidos entre as escalas vestibular e timpânica, provocando uma onda viajante na membrana basilar. Contudo, existem outras vias na cóclea que servem como entrada e saída para a movimentação dos líquidos, incluindo os aquedutos vestibular e coclear, assim como fibras do nervo, veias e micro-canais. O efeito complacente dessas estruturas é referido como uma terceira janela.

Compressão da parede coclear[editar | editar código-fonte]

A primeira explicação para a audição por condução óssea foi pautada na teoria da compressão e expansão da parede coclear. De acordo com a mesma, o crânio, quando submetido a um estímulo apresentado por condução óssea, expande-se e comprime-se, e como essa movimentação do osso envolve a cápsula ótica, há mudanças nos espaços do fluído coclear. Como conseqüência, o líquido coclear se movimenta, visto que o mesmo é incompressível, devido à presença das janelas oval e redonda e à diferença no volume e na área das escalas vestibular e timpânica.

A comprenssão desse mecanismo foi prosposta cientificamente ao apresentar, esquematicamente, a condução óssea por compressão dos espaços da cóclea. Contudo, estudos desenvolvidos posteriormente opõem-se à posição de que a compressão da orelha interna é o componente de maior contribuição na audição por condução óssea para as freqüências da faixa normal da audição, uma vez que demonstraram que seu papel é insignificante na faixa de freqüência até 4 kHz[3].

Importante destacar que a transmissão do som por condução óssea no crânio humano é linear, sem distorção ou harmônicos, até próximo à intensidade de 77 dB HL para as freqüências de 0.1 a 10 kHz [4]. Com relação ao modo de vibração do crânio para as freqüências baixas, 0,2 kHz, quando estimulado na fronte, o crânio conduz o primeiro modo de vibração como um corpo rígido. Em torno de 0,8 kHz inicia-se diferente modo de vibração, uma linha nodal aparece entre a testa e o osso occipital e as duas áreas passam a vibrar em fases opostas. Por outro lado, na freqüência de 1.6 kHz, o crânio vibra em quatro segmentos, nos quais as duas regiões temporais vibram em fases opostas, assim como a região da cabeça e do pescoço também vibram em oposição, ou seja, todos separados por linhas nodais. Com isso, quando um som por condução óssea é apresentado, o crânio vibra em todos os três planos, com movimento rotacional. Essa movimentação complexa do crânio reflete na movimentação da cóclea, que também se move nos três diferentes planos no espaço, mas sem qualquer direção dominante[5].

Meato acústico externo[editar | editar código-fonte]

Quando ocorre uma estimulação por condução óssea, a vibração do crânio causa deformações na parede do meato acústico externo, produzindo pressão sonora, no interior do mesmo, que faz vibrar a membrana e é transmitida para a cóclea por condução aérea.

Análises minuciosas desse processo demonstraram que, para as freqüências abaixo da freqüência de ressonância do crânio (0,8 - 1 kHz), o mesmo se move como um todo, não havendo irradiação de som na parte óssea do meato acústico externo. Dessa forma, o tecido cartilaginoso, por ser mais complacente, seria, provavelmente, o responsável pela pressão sonora gerada [6], ocorrendo redução, de 10 a 15 dB, na energia produzida no meato acústico externo com a remoção da cartilagem e do tecido mole do mesmo[7]. A energia sonora gerada no meato acústico externo pela estimulação por condução óssea apresenta freqüência entre 0,4 e 1,2 kHz[7] . Normalmente, a energia escapará pelo canal não ocluído e apenas uma pequena quantidade de pressão sonora irá vibrar a membrana timpânica e será transmitida para a cóclea por condução aérea. . Assim, a orelha externa não contribui de forma significativa na audição por condução óssea.

Mandíbula[editar | editar código-fonte]

A mandíbula é ligada ao crânio próxima ao canal auditivo externo, na junção temporomandibular, com freqüência de ressonância entre as estruturas de 110 e 180 Hz [8]. Conseqüentemente, acima dessa freqüência existe uma movimentação relativa entre a mandíbula e o crânio e, por estar próxima ao meato acústico externo, essa vibração poderia ser transmitida e resultaria em uma pressão no mesmo . No entanto a participação desse mecanismo na audição por condução óssea é insignificante[7][9]. Apesar de existir um ligamento entre o martelo e a articulação temporomandibular, seria improvável que este pudesse transmitir a vibração da mandíbula para a orelha externa e/ou média. Como descrito anteriormente, a audição por condução óssea é um fenômeno complexo que envolve os componentes das orelhas externa, média e interna, de acordo com as suas regiões de freqüência. De maneira geral, os achados demonstram que:

• a inércia do fluído é o fator que mais contribui na audição por condução óssea em orelhas saudáveis;

• a inércia da orelha média pode ter alguma influência na audição por condução óssea em freqüências médias;

• o som irradiado do meato acústico externo aberto, em função da estimulação por condução óssea, normalmente não contribui para a audição.

Por outro lado, quando o poro acústico externo é ocluído, o som passa a ter uma contribuição significativa na audição por condução óssea para freqüências abaixo de 1 kHz; • a compressão da parede coclear pode contribuir na audição por condução óssea somente nas freqüências mais altas[1]

Referências

  1. 1,0 1,1 Stenfelt, Stefan; Goode, Richard L. (novembro de 2005). «Bone-Conducted Sound: Physiological and Clinical Aspects». Otology & Neurotology (em inglês) (6). 1245 páginas. ISSN 1531-7129. doi:10.1097/01.mao.0000187236.10842.d5. Consultado em 3 de junho de 2023 
  2. Palva, Tauno; Ojala, Leo (janeiro de 1955). «Middle Ear Conduction Deafness and Bone Conduction». Acta Oto-Laryngologica (em inglês) (2): 137–152. ISSN 0001-6489. doi:10.3109/00016485509125411. Consultado em 3 de junho de 2023 
  3. Tonndorf, Juergen (agosto de 1962). «Compressional Bone Conduction in Cochlear Models». The Journal of the Acoustical Society of America (8): 1127–1131. ISSN 0001-4966. doi:10.1121/1.1918259. Consultado em 4 de junho de 2023 
  4. Tjellström, Anders; Håkansson, B. O.; Granström, Gösta (1 de abril de 2001). «Bone-anchored hearing aids: Current status in adults and children». Otolaryngologic Clinics of North America (em inglês) (2): 337–364. ISSN 0030-6665. doi:10.1016/S0030-6665(05)70335-2. Consultado em 4 de junho de 2023 
  5. v. Békésy, Georg (novembro de 1948). «Vibration of the Head in a Sound Field and Its Role in Hearing by Bone Conduction». The Journal of the Acoustical Society of America (em inglês) (6): 749–760. ISSN 0001-4966. doi:10.1121/1.1906433. Consultado em 4 de junho de 2023 
  6. {{{Título}}}.
  7. 7,0 7,1 7,2 Stenfelt, Stefan; Puria, Sunil; Hato, Naohito; Goode, Richard L. (1 de julho de 2003). «Basilar membrane and osseous spiral lamina motion in human cadavers with air and bone conduction stimuli». Hearing Research (em inglês) (1): 131–143. ISSN 0378-5955. doi:10.1016/S0378-5955(03)00183-7. Consultado em 6 de junho de 2023 
  8. Howell, Peter; Williams, Mark; Dix, Helena (janeiro de 1988). «Assessment of Sound in the Ear Canal Caused by Movement of the Jaw Relative to the Skull». Scandinavian Audiology (em inglês) (2): 93–98. ISSN 0105-0397. doi:10.3109/01050398809070697. Consultado em 6 de junho de 2023 
  9. Tonndorf, J. (1966). «Bone conduction. Studies in experimental animals». Acta Oto-Laryngologica: Suppl 213:1+. ISSN 0001-6489. PMID 5934763. Consultado em 6 de junho de 2023 

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Na condução óssea acontece também a estimulação dos sensores táteis, ocorrendo uma sensação não auditiva. Isso ocorre em:

Frequências baixas.
Frequências médias.
Frequências altas.

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