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Preparação para as Olimpíadas Brasileiras de Educação Midiática (OBEM)/Valorização da ciência

Fonte: Wikiversidade
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Contribuições dos parceiros do Observatório da Desinformação

Notícia falsa relaciona doença MPOX com vacina contra a Covid-19

Eixo: “Valorização da ciência”

Descrição do caso:

É setembro de 2024 e estes tem sido dias muito quentes e secos em Belo Horizonte (e em quase todo o Brasil). Hoje, 26 de setembro, é mais um dia seco e faz cerca de 160 dias que não chove na cidade, com a umidade relativa do ar chegando a níveis de deserto em alguns dias, o que eleva o número de doenças respiratórias.

Há alguns dias eu conversava com um colega sobre isso, destacando o papel do ser humano nas alterações climáticas [e na proliferação de queimadas/incêndios criminosos] quando fui surpreendido com uma afirmação do meu interlocutor. “O ser humano é danado mesmo, agora já criaram mais uma doença nova, essa tal de MPOX”. “Como assim?”, indaguei. “Sim, você não sabe? Essa doença nova, MPOX, está relacionada com a vacina da Covid. Você previne de uma doença e já fica exposto outra”, respondeu. Perguntei a meu interlocutor onde foi que ele viu isso, e ele me respondeu apenas que “já tem vários estudos comprovando essa relação”, e se esquivou de dar mais detalhes sobre o tema, dando a entender que não sabia dizer mais nada sobre o tema além do que já havia dito e não querendo revelar a fonte – possivelmente alguma mensagem recebida em grupo de mensagens.

Como foi a solução:

Mais tarde, naquele mesmo dia, pesquisei sobre o tema na web e descobri que está circulando uma série de conteúdos de desinformação que associam a MPOX com a vacina da Covid-19, sendo a doença um efeito colateral da vacina, em especial a vacina produzida pela Astrazêneca. O fato de eu não ter tido contato anteriormente com essa desinformação, a despeito de utilizar regularmente redes sociais e variados sites de notícias, sugere que essas peças parecem circular em uma “bolha” ou “câmara de eco” que não condiz com meu perfil algorítmico.

Felizmente, nessa mesma pesquisa, também identifiquei que já havia diversos posts de governos e serviços de checagem de informações indicando que essa narrativa constitui inequivocamente uma campanha de desinformação destinada a descredibilizar a ciência e as vacinas.

O site do Ministério da Saúde (ver matéria no link abaixo) explica que “a mpox é uma doença viral zoonótica transmitida aos seres humanos por meio de contato com pessoas infectadas ou materiais contaminados. Ela é causada pelo vírus MPXV, pertencente ao gênero Orthopoxvirus e à família Poxviridae. Ela não é um efeito colateral das vacinas contra a covid-19 ou de qualquer outra vacina.”

Algumas pessoas, inadvertidamente, repassam a “notícia” acreditando estarem realizando uma ação de utilidade pública quando, na verdade, estão ingenuamente propagando desinformação elaborada por agentes mal-intencionados.

Breve análise:

O caráter enganoso da tese que associa a doença a uma vacina é inequívoco. Entretanto, as campanhas massificadas de informação orientadas a esclarecer a população sobre o tema devem ser cuidadosamente desenhadas para não produzir efeitos contrários. Com efeito, a literatura sobre desinformação está repleta de trabalhos que alertam sobre a possibilidade de esse tipo de campanha realmente “piorar a situação”! Há várias formas de se piorar a situação – destaco algumas aqui:

Alguns estudos sugerem que anexar avisos sobre a correção a alguns artigos pode fazer com que os leitores presumam que os artigos sem quaisquer avisos anexados são precisos;

Alguns estudos indicam que as correções funcionam bem para destinatários motivados, em contextos controlados como a sala de aula. Sob outras condições, contudo, como campanhas massivas pela televisão ou pela web, repetir informações falsas para corrigi-las pode, paradoxalmente, ter sucesso em espalhar as informações falsas para destinatários “desinteressados” que, de outra forma, nunca as teriam encontrado;

Alguns estudos sugerem o fortalecimento da “câmara de eco” de usuários que interagem com a desinformação e suas correções. Ou seja, ver uma mensagem sobre o mesmo tema duas ou mais vezes tende a fazer com que os algoritmos apresentem ainda mais conteúdos sobre o mesmo tema àquele usuário, o que pode provocar um endurecimento de suas crenças iniciais (o chamado efeito de “tiro pela culatra” - backfire effects), especialmente em face da cognição politicamente motivada. Para evitar esses efeitos de tiro pela culatra, geralmente será mais seguro abster-se de qualquer reiteração de informações falsas e concentrar-se apenas nos fatos. Quanto mais os fatos se tornam familiares e fluentes, mais provável é que sejam aceitos como verdadeiros e sirvam como base para julgamentos e decisões.

Notícias relacionadas:

https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2024/setembro/atencao-mpox-nao-e-efeito-colateral-da-vacina-contra-covid-19

https://jornal.usp.br/podcast/fake-news-nao-pod-97-mpox-e-transmitido-por-contato-intimo-ou-direto-com-qualquer-pessoa-infectada/

https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2024/08/informacoes-falsas-sobre-mpox-crescem-apos-alerta-de-emergencia-global-da-oms.shtml

https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2024/09/e-falso-que-vacina-astrazeneca-transmita-mpox.shtml

(Relatos de desinformação - Minas Gerais - Setembro 2024

Max Melquiades da Silva - FJP)