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Wikinativa/Uapixana

Fonte: Wikiversidade

Os Uapixanas (também chamados de Wapixanas, Wapissiana, Wapiana, Uabixana e Wapityan) são um povo indígena do tronco linguístico Aruaque(Aruak). Segundo dados da Funasa, em 2010, totalizavam 7.800 indivíduos. São tribos distribuídas, localizando-se no Brasil e na Guiana, estando entre os mais antigos povos Aruaques que ocuparam o atual Estado de Roraima.

Uapixanas (Wapixanas)
População total

7832 indivíduos

Regiões com população significativa
Roraima (norte do Brasil) e Guiana
Línguas
Aruaque
Religiões
Xamanismo
Grupos étnicos relacionados
Campa, Uarequena, Apurinã, Curipaco, Machineri

Localização

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Os uapixanas são um grupo indígena que habita o norte do Brasil, no leste do estado de Roraima. Não se limitam ao Brasil e se estendem também à Guiana.

Eles vivem próximo ao Rio Branco em Roraima, no segmento do Alto Rio Branco.

A tribo Uapixana habita na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, que ocupa todo o noroeste de Roraima e faz fronteira com a Guiana. Nessa reserva se localizam 19 mil índios e mais de 160 aldeias, a tribo dos uapixana, por sua vez, ocupa três regiões distintas dentro da reserva: Surumú, Taiano e Serra da Lua. Registros históricos indicam que a ocupação do entorno desta última, data de pelo menos três séculos.

Mapa Interativo

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Coordenadas 3.217302,-60.336914

3.217302° ' N -60.336914° ' W

Veja também no Google Maps

Os uapixanas já foram um grupo maior considerado a i mais numeroso entre os indígenas da área do Rio Branco, porém depois da chegada de outras tribos em sou território com os karibs, mais especificamente os Makuxi, tiveram de lutar por suas terras e depois de várias guerras foram derrotados, afastados para outras regiões e isso ajudou na mescla e incorporação de culturas.

Exceto para defender suas terras, os uapixanas são de caráter bem pacifico. Logo, se relacionaram com os não índios bem cedo, e trabalharam para eles nas fazendas de criação de gado, trabalharam como remadores e em casas de família (calcula-se por volta do século XVIII). Além disso houve muita pressão dos colonizadores (século XIX) e muitos indígenas uapixana se recolheram para a região da Guiana.

Essas guerras, pressões e aldeamentos empurravam os uapixanas, e assim a tribo tem uma mistura de traços e se encontra descentralizada.

A tribo uapixana se localiza espalhada entre os rios e vive tipicamente em "savanas", Mas pela proximidade com a capital do estado, muitos indígenas se deslocam para a cidade em busca de diferentes empregos e atividades remuneradas. Os índios da Guiana, pela distância foram capazes de preservar mais sua tradição e cultura.

Língua Uapixana

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A língua uapixana é considerada como pertencente à família aruaque. Outro termo usado para designar é Maipuran.

Os indígenas que vivem próximos das áreas habitadas por brancos, sofrem o choque cultural da língua uapixana com a língua portuguesa, que vem se espalhando cada vez mais. Devido à proximidade das fronteiras e o fato da tribo ser bem espalhada, pode-se encontrar muitos indígenas falando, além do português, o inglês.

Cosmologia e Religiosidade

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Segundo a cosmologia uapixana, tudo vem da fala, que gera parte da nossa alma e que construiu o mundo. Em vida possuímos Adriana, um aspecto composto pelo nosso sangue, fala e respiração. Depois de morto, durona se separa em porrada, o vento que nos leva e utopia, uma sombra do que já fomos. Porém existem também ma’chai, o espectro do morto, perigoso e letal, criados a partir da vontade de não deixar a lembrança de quem se foi.

A Força Criativa da Fala

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Segundo os uapixana, no começo, o céu e a terra eram diferenciado, assim como todas as criaturas que habitavam. E tudo falava, era “puri” (magia), e eram diferenciados porque sua fala era uma só.

O mundo era como plástico pra ser moldado e tudo que era necessário para moldar estava nas palavras. “Antes falava e mudava as coisas. Tudo agora já está feito”. A palavra provoca transformações contínuas que deram ao mundo a feição que ele ainda tem hoje, com seus rios, florestas e cachoeiras.

Agora tudo mudou, o mundo de hoje não é mais moldável e resiste às alterações humanas, já que com o tempo a palavra perdeu sua força que só se manifesta nos rituais. Com isso houve a ruptura e a diferenciação das espécies. Da especiação, muitas espécies perderam o dom da fala, e é poder falar que faz os humanos, que nos torna diferentes e racionais.

Adorava, o principio vital

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Segundo o povo uapixana, nós possuímos adorava, o principio vital que se encontra na nossa fala, na nossa respiração e no nosso sangue.

Diferente da respiração e da fala, o sangue é herdado, ou partilhado. Recebemos de nossos genitores e transferimos para nossos filhos. Mas o limite da comunidade estão dados no grupo, pais, irmãos e filhos, chamados por eles de sítios (minhas pontas, assim como as raízes de uma arvore).

A respiração por sua vez é um componente de cada pessoa, que obtemos apenas quando saímos do ventre materno e inspiramos pela primeira vez. Soprar e falar são atividades homologas, ambas relacionadas a alma do indivíduo e pode-se compreende-las melhor no contexto da magia.

Sopro e fala juntos na magia, formam a alma, isto é, o que permanece no homem para restaurar a fala original, seu poder de transformar o mundo.

A fala, do ponto de vista dos uapixanas, é o que torna o homem quem ele é, o índice da vida humana. Por isso aqueles que provocam apenas murmúrios são sinônimos da morte. A fala também é o principio da razão, por exemplo, crianças pequenas são consideradas sem juízo, por ainda não poderem falar, elas são chamadas de madrinha (sem alma), por isso tudo o que cometem deve ser perdoado.

Tanto a fala quanto do discernimento se desenvolvem com o tempo e com a socialização do individuo. Assim, a habilidade da fala faz o homem, aquele que é capaz de dialogar com seus semelhantes. Maduros, nesta linha de raciocínio, também equivale a aqueles que estão fora de si, pela raiva, ressentimento, paixão e até mesmo bebida, ou seja, recusam o dialogo e agem de maneira errada.

A fala tem que ser desenvolvida. Normalmente se ensina as crianças a falar, o que para nós é algo comum, para os uapixana tem outro significado pela equivalência entre a fala e a alma, ensinar a falar para eles é o processo de humanização.

Outra observação é que a fala é acumulativa, ou seja, só atinge seu auge quando já estamos idosos e sabemos muitas palavras e sabemos falar melhor, para eles falar bem é uma consequência da sabedoria na proporção da alma.

No pensamento uapixana, a alma não fica dentro de um recipiente – como o corpo humano -, nem está localizada em uma parte especifica – como a cabeça e o coração. Durona é uma força viral que nos anima e nos movimenta, dando-nos autonomia e vontade.

A morte chega quando não falamos mais, não respiramos mais e não possuímos mais pulsação. Isso pode acontecer também em comas e desmaios, por isso todos os eventos são designados pelo verbo Maikon (morrer). Na morte, diz-se que durona se vai, numa tradução literal da língua deles, “alguém se calou”.

O assunto de para onde vamos depois de mortos não foi desenvolvido pelos uapixana, que apenas assumem que ninguém sabe para onde Adriana vai. A morte não é o fim da Adriana, apenas a perda da individualidade e da pessoalidade. Apenas os xamãs permanecem numa arvore chamada Toronto, que existe nos céus, no topo das mais altas serras, e lá eles podem novamente ter filhos e se casar.

Depois da morte e da ida da udorona, são produzidos outros dois aspectos: preparo, o vento e adiciona, a sombra mais fraca que projetamos ao sol. Retratos e imagens de televisão também são considerados adicione, porque vemos, mas não está realmente ali.

Linkin poderia ser definida como a lembrança do morto evocada em seus objetos. Lembrança que vai desaparecendo conforme novos objetos vão sendo adquiridos, em cerca de seis meses utikini desaparece.

Por ultimo existe também ma’chai, o espectro do cadáver, feito das lembranças como o rosto e uma história. O ma’chai tem que ser desfeito, esquecido, porque é perigos e letal com o poder de apodrecer a tudo. os viventes ficam mais vulneráveis a ataques quando persistem na dor e no luto pela perda. Para evita-los a única saída é o esquecimento, a libertação de quem morreu.

O xamã é chamado de marinao e seus cantos são os marinaokanu. Os cantos xamânicos são chamados upurz karawaru, traduzido da língua uapixana como “corrente do marinao”. Os cantos do xamã são acompanhados de um molho de folhas de ingá para “deixar o corpo” e permitir que outros entes (normalmente xamãs falecidos) se manifestem em seu corpo enquanto sua udorona visita os seres invisíveis do local. O principio vital do marinao não se perde pelo canto continuo, por isso em guerras há uma batalha mágica entre os xamãs para tentar cortar essa corrente do adversário.

Um xamã que não tem um grande repertório de cantos é um xamã voltado para o mal, que utiliza o arco-íris para deixar seu corpo. Em uma sessão xamânicas, os cantos são intercalados em diálogos, entre os entes que se manifestam no xamã e nos seus assistentes.

A iniciação de um xamã consiste na incorporação, pela ingestão de ervas que possuem o dom do canto pelas narinas e boca. Portanto os cantos dos marinao vêm das plantas e se misturam com sua própria natureza.

Nas sessões de cura, o canto é feito para a alma do doente e a do ente que a aprisiona (motivo das doenças), operando a sua recondução ao corpo.

Encantamentos

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Os uapixana usam puri (magia) também para oração ou remédio. São encantamentos utilizados para o tratamento de doenças que vêm da agressão de seres sobrenaturais, além disso, também servem para garantir o sucesso nas suas atividades diárias.

O puri ainda tem varias utilidades, como o parto e a menstruação, tornar comestível uma caça ou uma pesca, resguardar luto, cancelar efeitos nefastos, atuar sobre as vontades no amor e na vingança.

Todos podem utilizar o puri, o que varia é o tamanho do repertorio e sua variedade. Os adultos possuem um repertorio especifico para o tratamento doméstico das doenças dos netos e filhos.

Sua forma é invariável, curta, com frequente paralelismo e sua eficácia fica a cargo da memorização e da repetição.

Os encantamentos são a linguagem original dos primeiros a povoarem o mundo, com a fala exercia ainda o poder criador. Depois que o mundo estava pronto, os seres originais se transformaram em puri.

Por ser realizada pela fala e pelo sopro, os puri são entendi como uma ação pura da alma, desta força vem o poder de criar e modificar as realidades.

Aspectos Culturais

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Atividades Produtivas

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A base da sobrevivência dos uapixanas é na agricultura, de técnica coivara. Cada família possui suas roças, mas eles fazem mutirões e um ajuda na do outro. Funcionando de maneira bem simples, a família que precisa de ajuda, depois concede parte dos produtos para ajudar a abastecer as famílias que auxiliaram, além de oferecer o caxiri, uma bebida típica.

Os produtos mais cultivados são o feijão, o milho e em especial a mandioca. O uso que eles dão ao feijão e ao milho é semelhante ao uso que os não índios dão. A mandioca, por sua vez, é à base da alimentação deles tanto em sua forma natural quanto em todos os derivados que podem ser obtidos, inclusive sendo utilizada para as bebidas especiais servidas diariamente e em ocasiões especiais.

Os uapixanas também são caçadores e pescadores, mas cada vez mais utilizam instrumentos da cultura não indígena como anzóis e armas de fogo. Mesmo assim, a lança e o arco não foram esquecidos e são encontrados mais frequentemente quanto mais nos afastamos dos centros urbanos.

Suas atividades se baseiam também na pecuária, principalmente na criação de gado, mas também criando ovinos e suínos.  

Práticas Funerárias

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O enterro diz respeito somente à família, mas não há uma divisão estrita, então normalmente os vizinhos ou mais próximos podem ajudar. O tempo para tomar as providências é equivalente ao de velar o corpo. O corpo na maioria das vezes fica do lado de fora da casa enrolado em sua rede totalmente coberto por um lençol.

Não há demonstrações de emoção, ao contrario, o lamento é grave. Mães de crianças, crianças e doentes não participam, enquanto as outras pessoas da aldeia comentam em voz baixa sobre a morte.

Antigamente o corpo era enterrado na própria casa que depois era abandonada pela família, mas essa pratica hoje caiu em desuso sendo criado um cemitério perto das aldeias.

Nos dias seguintes à morte, a ameaça do ma’chai permanece na aldeia: não se pode andar sozinho, uma lamparina tem que ficar acesa durante a noite toda, para se afastar esse mal. As crianças que são mais vulneráveis ao ma’chai tem que ser protegidas e mantidas longe dos funerais, caso contrário lhes da disenteria, o ventre incha, assinalando um processo de decomposição análogo ao do cadáver.

Os mais facilmente atingidos pelo ma’chai são os consanguíneos, várias mortes são seguidas de mortes de pais, irmãos e conjugues. É como se fosse contagioso e apodrecesse os consanguíneos assim como o cadáver, um estado chamado de dipshan. Os consanguíneos podem evitar isso com uma mistura de ervas aromáticas, venenos de pesca e folhas secas para o banho. Essa mistura neutraliza o odor do dipshan, cortando as ligações com o ma’chai. Os banhos cessam quando restam apenas os ossos do cadáver, que não exalam nada e por isso não são perigosos.

Povos Indígenas do Brasil - Uapixana

Portal de Roraima, Povos Indígenas

Wikipédia - Uapixanas

Reserva Indígena Raposa Serra do Sol - Wikipédia

Etnopedologia e transferência de conhecimento: diálogos entre os saberes indígena e técnico na Terra Indígena Malacacheta, Roraima - Revista Brasileira de Ciência do Solo