Introdução ao Jornalismo Científico/Mídias, Linguagens e Prática do Jornalismo Científico/Podcasts e ciência
Podcasts e ciência
A origem do podcast
[editar | editar código-fonte]O artigo intitulado “Audible Revolution”, de Ben Hammersley, publicado na edição de 12 de fevereiro de 2004, do jornal britânico The Guardian, foi o primeiro a sugerir o termo “podcasting”[1]. Utilizado para descrever a produção doméstica de áudios e distribuição pela internet, o termo foi elaborado em um contexto de popularização dos tocadores de MP3 e iPods, softwares de produção de áudio acessíveis e o fenômeno dos blogs.
A denominação proposta por Hammersley, como junção das palavras iPod e Broadcast, referia-se a uma ideia geral desse novo formato que começava a surgir. A produção pioneira de podcast é conferida ao ex-VJ da MTV norte-americana Adam Curry, que criou ainda em 2004 o Daily Source Code. A inovação no projeto de Curry não consistia no fato de ser programa diário de entrevistas combinado com músicas e relatos pessoais, mas sim na distribuição do áudio. Em colaboração com Dave Winer, ele desenvolveu o software Real Simple Syndication (RSS), que permitiu que o arquivo de áudio fosse agregado em seu blog. Mais do que isso, o RSS facilitava a distribuição dos episódios, pois permitia que os ouvintes fizessem uma espécie de assinatura pelo iTunes e recebessem o arquivo pronto para ser escutado e baixado sem a necessidade de acessar o site onde ele era disponibilizado. Nesse sentido, o podcasting é uma prática associada à assinatura de mídia por meio do RSS para posterior download.
A publicação de “Audible Revolution” aconteceu no momento ainda embrionário dos smartphones - o primeiro iPhone seria lançado apenas em 2007. A produção de áudios referida nessa revolução abarcava o trabalho da empresa norte-americana Audible, criada em 1995 para produzir audiobooks e que começava a produzir programas radiofônicos para download e outras emissoras que também disponibilizavam seus programas, sejam eles atuais ou de arquivo. Além desse tipo de arquivo de áudio, Hammersley cita gravações em voz feitas por bloggers, os chamados “audiobloggins”.
Em 2006, Richard Berry definiu o podcast como “conteúdo de mídia enviado automaticamente a um assinante através da internet”. A partir dessa definição, tem-se a ideia de que o podcast não estaria somente atrelado ao áudio já que qualquer outro formato, tais como vídeo, texto e foto, poderia ser distribuído por RSS. No entanto, a própria organização da internet acabou por segmentar os conteúdos, tornando o podcast o formato adotado para áudios, o YouTube para vídeos e o Instagram para fotos.
Dados sobre o consumo de podcast
[editar | editar código-fonte]Ao analisar o quadro atual de consumo de podcast, percebe-se uma mudança significativa na base tecnológica desse formato. O que antes era caracterizado pelo consumo por download, hoje é associado ao consumo por streaming. Os ouvintes acessam os áudios por meio de diversas plataformas e os escutam online. O caráter exclusivo da Apple também foi substituído. Ainda que o iTunes mantenha sua posição como um importante espaço de distribuição de conteúdo de mídia, como citado anteriormente, há, no cenário atual, diversos outros espaços semelhantes.
Plataformas como o Spotify e a mais recente Orelo trabalham com esse critério de exclusividade. No caso da primeira, não acontece no sentido de beneficiar os assinantes, já que até mesmo aqueles ouvintes que não pagam pelo serviço de streaming conseguem acessar todos os conteúdos. A exclusividade é mantida em relação ao produtor de conteúdo, o podcast Café da Manhã, do Jornal Folha de S. Paulo, por exemplo, um dos mais escutados atualmente, é uma produção exclusiva da plataforma. Já no caso da plataforma Orelo, o conteúdo em si é exclusivo e só pode ser acessado por assinantes. O repasse do valor das assinaturas, segundo as diretrizes da empresa, é feito de maneira mais justa para os criadores. O ouvinte pode escolher um criador específico para receber parte de sua assinatura mensal. A plataforma também funciona por recursos captados por financiamento coletivo, uma forma de captação bastante recorrente no planejamento do modelo de negócio de podcasts.
A pesquisa Podcast Stats Soundbites, realizada pelo servidor Blubrry - uma comunidade de podcasting que oferece um sistema de estatísticas e possibilita a hospedagem de áudio - apontou que, em fevereiro de 2019, o Brasil ocupava o segundo lugar no ranking de consumo de podcasts. Com 110 milhões de downloads, apresentou um crescimento de 33% em relação ao ano anterior, ficando apenas atrás dos Estados Unidos, que totaliza 660 milhões de downloads. A seguir, a lista com os 10 podcasts mais ouvidos pelo Spotify no Brasil indica uma preferência do público brasileiro por podcasts não-ficcionais, de entrevistas e debate:
Top 10 podcasts mais ouvidos do Brasil |
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NerdCast |
Mamilos |
Um Milkshake Chamado Wanda |
Café da Manhã |
Pretinho Básico |
Filhos da Grávida de Taubaté |
PrimoCast |
Não Ouvo Podcasts |
POUCAS |
Projeto Humanos |
Podcasts narrativos
[editar | editar código-fonte]Nos anos 2000, o podcast estava ligado à produção de conteúdo para sites pessoais, como no caso dos relatos gravados por Adam Curry. Apesar dessa ligação, ao explorar diferentes estéticas e aperfeiçoar sua técnica, o formato sobreviveu ao declínio dos blogs que se deu nos anos seguintes. Dentre as variadas linguagens adotadas por podcasts, a narrativa é uma delas.
Os podcats narrativos, em certa medida, aproximam-se da tradição do radiodocumentário - gênero, hoje, praticamente ausente nas rádios comerciais. O suporte, o consumo e o modelo de negócio, no entanto, diferenciam esses dois tipos de áudio. A popularização de podcasts se deve, em grande parte, por causa da popularização de smartphones. A Pesquisa Ibope (2019) indica que 75% dos consumidores de podcast escutam esse tipo de conteúdo pelo celular[2].
A preferência por esse suporte impacta na maneira como os programas são produzidos. Ao compreenderem que seu discurso possivelmente será escutado por fones de ouvido, apresentadores modulam o tom de voz para algo mais ameno do que o que seria esperado de um apresentador de rádio, por exemplo. Além disso, frequentemente recorrem a uma fala mais informal.
A possibilidade de ouvir episódios em qualquer momento do dia e o alargamento do alcance desses conteúdos, são os grandes diferenciais do consumo de podcasts. This American Life, um programa de rádio norte-americano criado em 1995, alcança um público de 2,2 milhões de ouvintes pelo rádio, enquanto cada episódio distribuído como podcast tem, em média, 2,5 milhões de downloads. O programa jornalístico é, majoritariamente, conduzido em primeira pessoa e se apropria de muitas técnicas da ficção. Segundo uma pesquisa da Edison Research, o podcast é o terceiro mais escutado nos Estados Unidos.
Como já apontado anteriormente, muitos podcasts sobrevivem por meio de campanhas de financiamento coletivo. Não diferente seria no caso dos podcasts narrativos. Esse modelo de negócio é bastante recorrente na captação de recursos para produção de conteúdos online. Mas totalmente estranho aos conteúdos do rádio.
Podcasts de divulgação científica
[editar | editar código-fonte]Alguns podcasts têm se dedicado a ciência e à divulgação de conhecimento. Alguns exemplos que podem ser conferidos são:
Podcasts de ciência no Brasil | Link |
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O Som da ciência | [1] |
A Matemática do Cérebro | [2] |
Sopa Wiki | [3] |
SciCast | [4] |
Dragões de Garagem | [5] |
Ciência Sem Fim | [6] |
Ciência Suja | [7] |
Naruhodo | [8] |
Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ VICENTE, Eduardo. Do rádio ao podcast: as novas práticas de produção e consumo de áudio. In: Emergências periféricas em práticas midiáticas [S.l: s.n.], 2018.
- ↑ A era de ouro dos podcasts. Gente, 14 de abr de 2020. Infográfico. Disponível em: <https://gente.globo.com/a-era-de-ouro-dos-podcasts/>. Acesso em 11 de nov. de 2020.